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Fotógrafa reflete sobre etarismo em ensaio com mulheres acima de 50 anos
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Fotógrafa reflete sobre etarismo em ensaio com mulheres acima de 50 anos

Em ensaios protagonizados por mulheres acima de 50 anos, fotógrafa Carolina Vianna propõe debates sobre etarismo e envelhecimento
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Adriana Moreira é uma das retratadas no projeto
Foto: Carolina Vianna/Reprodução Adriana Moreira é uma das retratadas no projeto "Pro-Age", de Carolina Vianna

O exercício de olhar para a idade permite alcançar diferentes sentidos e análises. É possível refletir sobre as conquistas ao longo do tempo vivido e a sabedoria adquirida a partir dos anos. Mas, acima de tudo, a reflexão aprofundada sobre o tempo possibilita compreender que as etapas que passam não significam a interrupção de novos sonhos a serem construídos.

Para discutir novos olhares sobre o modo como a sociedade lida com a idade — principalmente de mulheres —, a fotógrafa paulista Carolina Vianna desenvolve a série "Pro-Age". No projeto, a profissional de 38 anos destaca mulheres com mais de 50 anos com o objetivo tanto de reforçar a autoestima das retratadas quanto de ressignificar o modo como o público apreende esse período, lutando, assim, contra a discriminação vista no etarismo.

A ideia para a criação do Pro-Age amadureceu e tomou forma depois do período de restrição da pandemia, mas acompanha a fotógrafa desde tempos anteriores ao da crise sanitária. "A mulher, desde muito cedo, tem uma pressão muito grande sobre a idade. Sempre perguntam: 'Quando você vai ter filho?'. Falam sobre nosso peso. Isso sempre me incomodou muito. Com o passar dos anos, comecei a pensar em fazer um ensaio com mulheres mais velhas", revela.

Assim, em julho deste ano, deu início à série de fotografias. Carolina busca convidar para o projeto mulheres que tenham histórias de vida "interessantes", a exemplo de pessoas que trocaram de carreira ou decidiram fazer "algo diferente" depois dos 50 anos. "Tenho chamado essas pessoas para mostrar também que a vida não acaba nessa idade. Existe esse estigma de que, depois dos 35 anos, 'a vida acabou' e você não vai fazer mais nada. Uma das fotografadas começou a trabalhar como atriz depois dos 65 anos e virou modelo sênior", exemplifica.

Até a publicação desta matéria, 15 mulheres participaram da iniciativa, mas algumas fotos ainda não foram publicadas. É possível conferir a exposição digital da série no site de Carolina. O interesse da profissional é de que o número de mulheres retratadas no projeto chegue a 100. Ela também planeja enveredar para o lado impresso do Pro-Age em um futuro próximo e tem a expectativa é seguir com o projeto até o fim de 2023, a depender do orçamento disponível para a realização.

Além de apresentarem mulheres com mais de 50 anos, as fotos são guiadas por um fundo que ambienta os retratos. Uma escolha simples, mas que potencializa e conecta as histórias das fotografadas. "Eu tento deixá-las soltas, confortáveis, de forma a encontrar uma posição em que elas se sintam bem. Eu tento deixar simples. Acho que a beleza vem muito disso, da pessoa estar confortável", opina Carolina Vianna.

Carolina compartilha que, ao longo dos ensaios, ouvia das fotografadas seus pensamentos e percebia as peculiaridades de cada uma. Algumas mais tímidas, outras mais "envergonhadas" com o próprio corpo, mas a tensão inicial se transformava em uma abertura maior a partir de trocas com a fotógrafa.

Confira registros da série "Pro-Age":

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"A gente vai conversando, toma um café, tem todo um processo. Assim, elas vão se soltando e o ensaio vai rolando", relata. Ela acrescenta: "O fotógrafo precisa ter muito a noção de conversar, ter paciência e entender os limites de cada pessoa. Nem todo mundo eu posso tratar da mesma maneira. Tem gente que é mais tímida e gente que é mais extrovertida".

Para além de elevar a autoestima das participantes, o projeto tem o objetivo de propor renovações para os olhares sobre a idade. "Eu acho que a importância do Pro-Age é tentar trazer uma ressignificação do nosso olhar, sabe? As nossas referências são baseadas naquilo a que somos expostos. Se a gente só olha fotos de mulheres jovens, magras e brancas, a gente vai começar que a referência é só aquela, e eu acho que a gente precisa se expor a outro tipo de imagem para mudar nosso olhar sobre a beleza e começar a vê-la em outras coisas, lugares e pessoas", explica.

A fotógrafa expande sua análise para o público masculino: "Acho que isso é importante não só para os fotografados, mas para todo mundo. Não é só para as mulheres, é para os homens também. É preciso ter esse novo olhar e a gente só muda nossa referência quando se expõe a outros tipos de imagens".

O projeto não restringe suas mensagens ao público mais velho. Existe a intenção de atingir a juventude a partir das discussões propostas pelos ensaios - e de mostrar que a vida não se resume às duas ou três primeiras décadas de existência. "A gente é muito ensinado que a nossa vida é a juventude, e na realidade não é isso. A cada geração que passa a gente vive cada vez mais. Então, a gente precisa entender que não vai viver com 20 ou 30 anos para sempre. Acho que o projeto também traz essa mensagem pros mais jovens de ver que envelhecer não é um bicho de sete cabeças. Faz parte da vida", enfatiza Carolina.

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A fotógrafa Carolina Vianna desenvolve a série
A fotógrafa Carolina Vianna desenvolve a série "Pro-Age", que propõe novos olhares para a idade em ensaios com mulheres de mais de 50 anos

Acompanhe a artista

Site: carolinavianna.com/pro-age/

Instagram: @_carolinavianna

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