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Cearense Letícia Bailante aproxima poesia e prosa no livro "Rio-Mulher"
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Cearense Letícia Bailante aproxima poesia e prosa no livro "Rio-Mulher"

Escritora cearense Letícia Bailante alia poesia e prosa com narrativas cotidianas e oníricas em "Rio-mulher"; publicação será lançada na Bece nesta quinta-feira, 6
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Foto: Uli Batista / divulgação Destacando elementos da natureza e do cotidiano, "Rio-mulher" ecoa vozes de mulheres e pessoas dissidentes

"Rio-mulher", segundo livro da escritora e jornalista cearense Letícia Bailante, une elementos distintos que podem à primeira vista até parecer contraditórios entre si, mas guardam, na verdade, uma bem-vinda ambivalência: a poesia e a prosa, o cotidiano e o onírico, o corpo d'água e o corpo humano. Formada por seis espécies de poemas narrativos, a obra ganha lançamento na Biblioteca Estadual do Ceará nesta quinta-feira, 6, a partir das 18 horas.

"Escritora de diários e de cartas" desde menina, Letícia seguiu enveredando pela escrita por diferentes caminhos ao longo dos anos, de blogs adolescentes à formação superior em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará. Apesar da constante prática, o lado literário acabou ficando distante neste percurso.

"A pandemia, no entanto, me trouxe de volta a essa expressão tão íntima. Foi quando decidi investir na carreira de escritora", remonta em entrevista ao Vida&Arte. Participando de formações e inscrições para antologias, publicou o primeiro livro, "Aprendi a gostar de estar em casa", em 2021. No mesmo ano, após publicar a obra de estreia, fez uma pós-graduação em Escrita e Criação a partir da qual surgiu a gênese da concretização de "Rio-mulher".

"Ao longo da pós, escrevi inúmeros textos literários de gêneros diversos. Sempre que revisitava o acervo que estava construindo, notava a prevalência de vozes de mulheres e pessoas dissidentes. Passei, então, a selecionar esses textos cujas vozes ecoavam as histórias de muitas de nós", contextualiza a autora.

Da descrição de uma consulta médica à ambientação de um trajeto de ônibus, passando pela atenção ao tapioqueiro da rua e ao programa de rádio, "Rio-mulher" traz narrativas do cotidiano, investidas em detalhes. Ao mesmo tempo, alia o caráter corriqueiro a elementos de magia e sonho, dispostos em especial em relatos de conexão com a natureza e aspectos ancestrais.

"Tem muito do meu próprio caminhar em 'Rio-mulher', assim como do que meus ouvidos captam, meus olhos veem e meu coração sente quando encontro com outras pessoas. Escrevo com a minha história, mas também com a de outras que se abrem para mim nas levezas ou cruezas cotidianas", compreende a escritora.

"Busco ativar os meus sentidos no encontro com a vida, e tudo o que desliza para mim, que me salta a consciência e aguça a minha imaginação se torna matéria para a minha escrita", segue. É a partir desta abertura de Letícia que o onírico e o "real" se interligam na publicação.

"É nesse estado meio sonhador, meio enraizada no concreto - e para além dele - que busco conviver em sociedade, como forma de sobrevivência e manifestação do porvir. O livro reflete essa forma de habitar, de pisar nessa terra e de olhar para o meu tempo histórico", reflete a autora.

Destacando elementos da natureza e do cotidiano, "Rio-mulher" ecoa vozes de mulheres e pessoas dissidentes(Foto: Uli Batista)
Foto: Uli Batista Destacando elementos da natureza e do cotidiano, "Rio-mulher" ecoa vozes de mulheres e pessoas dissidentes

Essa conexão entre o ordinário e o extraordinário se expande por diferentes fluxos em "Rio-mulher", que desvela as narrativas de maneira poética não somente no conteúdo, mas também na forma. Cada texto do livro tem qualidades de crônica ou conto, ao passo que, na página, são dispostos em versos.

"A poesia mora em mim, é por meio dela que me expresso melhor. Porém, os exercícios de escrita da pós me incentivaram a criar em outros formatos. Todos os textos do livro, em suas primeiras versões, eram em prosa, mas eu não me sentia totalmente satisfeita com a disposição das histórias nas páginas", compartilha Letícia.

Para fugir do texto "blocado" e "rígido", ela decidiu dar outra forma aos escritos, lapidando-os em busca não somente de outra proposta estética, mas também conceitual. "Criei o ritmo e construí a versificação buscando entrelaçar a lírica e a visualidade, desenhando as 'curvas do rio' pelas páginas", define.

A estruturação visual vinda da poesia é, em si, diversa, com versos que variam de tamanho e são, por vezes, deslocados na página por caracteres como colchetes. As escolhas, em conjunto, propõem um fluxo específico de leitura.

"As histórias precisavam ser contadas de outro jeito, como um fluxo de águas que, por vezes, são atravessadas por pedras ou galhos e tomam nova forma ou novo caminho. Daí a ideia de trazer outros elementos gráficos para a escrita. Fui tomada por curiosidade e necessidade de inventar, de provocar questionamentos e alimentar a imaginação dos leitores", convida a escritora.

Referências

As escolhas formais e de conteúdo feitas por Letícia Almeida em "Rio-Mulher" são frutos de inspirações, diretas ou indiretas, que a artista teve em obras de diferentes linguagens. A "criação libertária" de Nina Rizzi e Tatiana Nascimento são destacadas por Letícia. Outra autora referencial é Aline Bei, que estimulou a cearense a "inovar na disposição dos textos nas páginas". Indo além da literatura, a escritora compartilha que a capa do livro — criada por ela a partir de fotografia que tirou em Baturité — teve inspiração na artista visual cearense Amorfas.

Capa de
Capa de "Rio-mulher", de Letícia Bailante

Rio-mulher, de Letícia Bailante

70 páginas. Editora Penalux

Lançamento

  • Quando: 6 de julho, às 18 horas
  • Onde: Biblioteca Estadual do Ceará (av. Pres. Castelo Branco, 255, Moura Brasil)
  • Gratuito

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