"Comemorar 10 anos de uma política de formação em artes já é, por si só, um motivo de celebração, considerando a tradição de descontinuidades que caracteriza as políticas públicas no Brasil", sustenta Bete Jaguaribe, diretora da escola Porto Iracema das Artes. A instituição completa o marco de uma década, sendo referência de formação artística no País frente a um contexto desfavorável.
Os últimos quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro foram longos e sombrios para o cenário cultural brasileiro. O primeiro golpe veio logo após a posse, em janeiro de 2019, com o rebaixamento do Ministério da Cultura (MinC) a uma Secretaria Especial vinculada ao Ministério do Turismo. A partir daí, esvaziamentos e desmontes de órgãos ligados ao setor marcaram uma gestão que teve sete secretários diferentes, polêmicas envolvendo esses gestores e restrições orçamentárias.
Paralelamente a essa conjuntura, o Ceará mantinha ativo seu incentivo na área com políticas culturais, entre elas a escola Porto Iracema das Artes, em Fortaleza. A instituição oferece ações formativas gratuitas em diversas linguagens artísticas: música, dança, teatro, cinema e artes visuais, divididas entre seus três pilares: formação básica, técnica e laboratórios de criação.
Fundada em 2013, a escola cultural comemora seus 10 anos de atuação nesta terça-feira, 29 de agosto. Para celebrar o marco, começa neste mesmo dia o Ciclo Poéticas do Tempo Presente, seguindo uma temática para refletir sobre o atual cenário do campo político cultural, arte e democracia brasileira, com sessões abertas ao público.
A primeira noite do evento será marcada pelo debate sobre “Arte, educação e ancestralidade”. Mediado pela escritora Nina Rizzi, terá a participação do pesquisador Luiz Rufino e do secretário de Formação Cultural, Livro e Literatura do MinC, Fabiano Piúba. Este último, aliás, esteve à frente da Secretaria de Cultura do Ceará nos últimos 7 anos (2016–2022).
Em entrevista ao Vida&Arte, ele pontua a importância do Porto Iracema para a educação artística no Estado e no Brasil, e ressalta que, ao trazer essa temática na primeira sessão de debate, a escola “se expande em uma perspectiva de formação muito mais ampla, diversa e democrática”.
“Pensar em uma formação artística nos dias de hoje é compreender as cosmovisões, a cosmologia. As cosmovisões, sobretudo as afro-brasileiras e indígenas, são fundamentais para a formação histórica e cultural”, afirma Piúba, citando o livro “A terra dá, a terra quer”, de Antônio Bispo dos Santos.
Para o secretário, educação e cultura “caminham juntas”, porém, elas devem agora trabalhar em conjunto como políticas públicas. “Cultura e educação são frutos de uma mesma árvore de conhecimento”, justifica sua afirmação anterior.
A presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte), Maria Marighella, também é uma das convidadas para o Ciclo, dividindo a mesa com o jornalista Mário Magalhães, sob mediação da secretária de cultura do Estado, Luisa Cela, para debater sobre “Arte e democracia”. Assim como Piúba, ela enaltece o trabalho desenvolvido pela instituição e a temática escolhida para o seminário, pois “é no diálogo coletivo que as políticas podem se aperfeiçoar e fortalecer”.
“Como artista, gestora pública e cidadã, acredito sempre na importância fundamental dos espaços de escuta, diálogo e participação social”, começa. “Por isso, criar instâncias de diálogo e comprometimento coletivo com essa pauta tão importante é muito bem vindo, como o Porto Iracema está fazendo”, sustenta a presidente da Funarte.
Marighella também descreve como “valiosa” a contribuição das políticas culturais fomentadas no Ceará para o cenário nacional e que enxerga no trabalho do Porto Iracema “um rico entrelaçamento entre eixos que a Funarte considera de fundamental importância para uma Política Nacional das Artes”.
“Nesse sentido, a escola já materializa uma política com a qual nos interessa dialogar e somar forças, a partir dessa experiência, para contribuir naquilo que hoje se mostra como foco da minha gestão e compromisso do MinC”, explica Marighella.
O caminho trilhado pela instituição a tornou referência para o cenário de políticas formativas no setor artístico, como afirma Bete Jaguaribe, a diretora do espaço. A presidente da Funarte corrobora com essa fala ao dizer que a experiência da escola faz parte da contribuição que o Estado pode oferecer para sua gestação na Fundação.
Esse conhecimento de anos de atuação poderá ser acessado a partir do livro que será lançado também na celebração, revela a diretora. “Pedagogias da Porto Iracema: poéticas e políticas de formação em artes no Ceará”, pretende trazer reflexões sobre o percurso do espaço cultural.
A escola cultural também já planeja passos para seu futuro: pretende “radicalizar a expansão das ofertas para territórios periféricos na capital e para o interior do Estado”. Bete descreve eles como “principais e mais urgentes planos”.
“Certamente esse marco dos 10 anos é um modo de celebrar toda a potência que esta escola produziu e também dialogar sobre o seu vir-a-ser, o seu futuro, aquilo que o acúmulo e os novos contextos convidam a aprimorar, inovar e ampliar horizontes”, finaliza Maria Marighella.
Dados sobre Porto Iracema das Artes
O setor cultural no Ceará teve nos últimos, uma ampliação em sua verba orçamentária, o que contribuiu para seu crescimento. “Não basta ter as diretrizes políticas, também tem que estar ali com o orçamento adequado”, explica Fabiano Piúba.
Essa ampliação pode ser vista em dados fornecidos pela a instituição sobre seus cursos. Em sua trajetória de 10 anos, foram consolidadas 18.941 matrículas, considerando para essa quantidade que uma pessoa pode ter se matriculado em mais de uma ação formativa, porque, para a escola, os módulos dos cursos são independentes e os estudantes são livres para construir o próprio processo formativo.
Entre 2013 a 2023, o Porto Iracema das Artes também ofertou mais de 800 turmas de formação básica e teve 221 projetos realizados nos laboratórios de criação. Só o curso técnico de dança já certificou 180 estudantes.
10 anos do Porto Iracema das Artes
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