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"O entorno", o eterno dilema do Dragão do Mar
Reportagem Seriada

"O entorno", o eterno dilema do Dragão do Mar

No segundo episódio da reportagem sobre o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que compõe a série Raio-X dos Equipamentos Culturais, OP+ se rebruça sobre o entorno do espaço cultural. Desde a inauguração do Dragão do Mar há 24 anos, as comunidades em redor e as condições de atuação comercial do entorno são relevantes no debate sobre o presente e o passado do equipamento
Episódio 4

"O entorno", o eterno dilema do Dragão do Mar

No segundo episódio da reportagem sobre o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que compõe a série Raio-X dos Equipamentos Culturais, OP+ se rebruça sobre o entorno do espaço cultural. Desde a inauguração do Dragão do Mar há 24 anos, as comunidades em redor e as condições de atuação comercial do entorno são relevantes no debate sobre o presente e o passado do equipamento
Episódio 4
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“No entorno do Centro de Arte e Cultura Dragão do Mar, a desordem urbana soma-se à violência. Pequenos furtos, roubo de carros, brigas de gangue”, anunciou a matéria “Território sem lei”, publicada no O POVO em 2007.

Sete anos depois, reportagem especial sobre os 15 anos do CDMAC registrou “certo vazio urbano” ao redor do Centro Cultural. “Ruas mal iluminadas, imóveis desocupados, calçadas mal cuidadas e paradas de ônibus isoladas são algumas das marcas do entorno. Esses problemas têm como consequência a falta de integração entre o Dragão do Mar e outros equipamentos (Estoril, por exemplo), concentração de usuários de drogas, entre tantos outros reveses”, caracterizou O POVO em 2014.

Ao longo da história do Dragão do Mar, a Praça Almirante Saldanha ficou marcada pelos constantes relatos de deterioração em bancos e pisos; situação foi constatada também em julho de 2023(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ao longo da história do Dragão do Mar, a Praça Almirante Saldanha ficou marcada pelos constantes relatos de deterioração em bancos e pisos; situação foi constatada também em julho de 2023

Voltando no tempo, em 2006, a socióloga Linda Gondim indicou “êxito” no CDMAC enquanto equipamento cultural, sendo capaz de atrair população heterogênea para seus espaços, mas também pontuou que ele “pecou” como “instrumento de preservação do patrimônio”. Na matéria, ela afirmou que os transtornos da requalificação envolviam “insegurança, poluição sonora, especulação imobiliária e congestionamento do trânsito”. “Os benefícios do centro cultural não se irradiaram para seu entorno, não repercutiram no cotidiano do Centro da cidade, por exemplo”, enfatizou a socióloga ao O POVO à época.

Em janeiro de 2001, pouco menos de dois anos após a inauguração oficial do equipamento, O POVO registrava a realização do Pacto pela Requalificação Urbana e Dinamização do Entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O evento reuniu 73 pessoas de diversas entidades para discutir o tipo de ocupação urbana e entretenimento que estava sendo praticado na área circunvizinha ao Dragão do Mar.

Praça Almirante Saldanha também é ocupada por food trucks(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Praça Almirante Saldanha também é ocupada por food trucks

No período, Fausto Nilo já relatava a necessidade de políticas urbanas que pudessem "dirimir a flagrante poluição sonora, a falta de estacionamento e de segurança na área". "Só assim a convivência se tornará harmônica", pronunciou há mais de 20 anos.

De fato, a “harmonia” citada pelo arquiteto nunca deixou de estar em pauta ao longo de mais de duas décadas de funcionamento do Dragão do Mar. As passagens temporais elencadas acima não são desconectadas entre si. Afinal, os anos mudaram, mas um assunto perdura quando se trata do centro cultural: o seu entorno.

Essa “eterna entidade” abriga discussões complexas que se mantêm até hoje. O Dragão do Mar não se encerra no equipamento em si, pois afeta a área ao seu redor, incluindo bares, a Praça Almirante Saldanha e as comunidades vizinhas, como a do Poço da Draga.

Atual área de restaurantes da Praça Almirante Saldanha, no entorno do Dragão do Mar(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Atual área de restaurantes da Praça Almirante Saldanha, no entorno do Dragão do Mar

Ao longo dos anos, os relatos sobre o entorno envolveram questões como especulação imobiliária, falta de policiamento, insegurança, presença massiva de ambulantes, poluição sonora, sujeira, mau cheiro, iluminação e falta de diálogo com bares e restaurantes. Um dos reflexos dessas problemáticas foi, por exemplo, o fechamento de estabelecimentos do entorno que ajudaram a consolidar a aura boêmia do local.

Os problemas relatados contribuíram para a sensação de esvaziamento do Dragão do Mar, contrastando com a continuidade de programações oferecidas pelo próprio equipamento. As demandas também exigem ações de outras partes. “O Dragão é um centro cultural, não é responsável pela política de ocupação do bairro onde está situado”, disse em 2007 ao O POVO o então secretário da Cultura do Estado, Auto Filho. Um trabalho conjunto, portanto, deve ser capaz de auxiliar o CDMAC na relação com seu entorno.

No segundo episódio da reportagem sobre o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, que compõe a série Raio-X dos Equipamentos Culturais, OP+ se rebruça sobre o entorno do espaço cultural.

 

 

Olhares e ouvidos para o agora

 

Feita a navegação pelas situações registradas no histórico do Dragão do Mar, quais são os principais desafios resgatados sobre o entorno do centro cultural em 2023? Para identificar esses pontos, a atual gestão conta com um Núcleo de Articulação Territorial (NAT) "A equipe atual do NAT é formada por Andreza Magalhães (graduada em Serviço Social e cursando especialização em Legislação Social, Políticas Públicas e o Trabalho Social), Izabel Cristina (graduada em Pedagogia e pós-graduada em Arte e Educação e Cultura Popular) e Carlos Gallo (rapper e educador social, com experiência na promoção para cidadania e direitos humanos atuando na redução de danos).
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, elaborado para estruturar e conduzir planos de cuidados para o CDMAC e seu entorno.

Um dos pontos é sobre a acessibilidade no entorno. Após visita técnica com a vice-prefeitura e com pessoas com deficiência que compõem a equipe do Dragão do Mar, foram mapeados os pontos de acesso ao equipamento que precisam de intervenções. Um dos aspectos é a necessidade de dispositivos sonoros que guiem essas pessoas quando o sinal estiver verde, além de o piso da calçada estar no mesmo nível da faixa de pedestre.

As ações do NAT incluem mapeamentos, reflexões e estratégias para “sanar necessidades que o território demanda”, em um trabalho desenvolvido de forma integrada à programação cultural. Em março, por exemplo, o IDM e o CDMAC, em parceria com a rede Iracema Território Vivo, realizaram o primeiro encontro com a população em situação de rua no entorno do complexo.

O objetivo é promover uma “escuta ativa” e se aproximar dos agentes que compõem o centro. Foi realizado um mapeamento sobre as pessoas em situação de vulnerabilidade social do entorno para identificar perfis de gênero e faixa etária de modo a avançar na relação do equipamento cultural com esses indivíduos.

Uma das ações é uma parceria do NAT com o Cinema do Dragão, a partir do programa “Se Achegue!”, que realiza sessões do Cinema da Praça, com exibições gratuitas de filmes. Outro exemplo é de quando um jovem que mora em um dos bancos da praça foi convidado para assistir ao show do rapper carioca BK, realizado em julho no Anfiteatro Dragão do Mar.

Planetário Rubens de Azevedo, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMac)(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Planetário Rubens de Azevedo, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMac)

“Vem esse movimento: como a gente borra essa fronteira para que as pessoas se sintam à vontade para estar aqui?, afirma Helena Barbosa. “Há esse questionamento de como a gente cria conexões com cada esfera desse território. Já foi feito um mapeamento, avançamos em algumas coisas e agora queremos avançar de forma mais estruturada e mais efetiva em outras”, complementa.

Em maio, profissionais de saúde do Instituto Cysne e do programa Consultório Na Rua da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realizaram atendimentos na Praça Almirante Saldanha. Após triagem, as pessoas atendidas foram cadastradas para acompanhamento e, em seguida, encaminhadas para atendimento médico, psicológico e/ou assistencial social, de acordo com avaliações individuais.

O desejo é também ter uma relação mais próxima com as comunidades circunvizinhas. Em abril, houve um encontro com representantes das comunidades Poço da Draga, Graviola, Goiabeiras e Moura Brasil. A ideia é promover integração com as ações culturais do CDMAC, incluindo ter ao menos uma pessoa de cada comunidade enquanto pesquisadora no centro.

 

 

Uma praça, muitas demandas

 

Inevitavelmente, é preciso abordar a praça na qual se insere o Dragão do Mar, visto que são diversas as queixas relatadas ao longo do tempo sobre sua manutenção. Em abril, o NAT realizou um encontro com representantes da Regional XII da Prefeitura de Fortaleza para tratar sobre necessidades de melhorias em questões como iluminação, ordenamento de ocupação, limpeza e manutenção na Praça Almirante Saldanha. O local é alvo de constantes críticas sobre sua estrutura.

De acordo com Helena Barbosa, houve, sim, um movimento de limpeza, de cuidados e de lavagem nos últimos meses, mas, para a superintendente, é necessário tornar essas ações “uma frequência”, e não apenas realizá-las nos dias dos eventos. Com o passar dos anos, tornou-se comum observar bancos quebrados na praça, bem como pedras soltas no piso.

Questionada pelo O POVO se há um plano por parte da Prefeitura de Fortaleza para realizar permanentemente os cuidados no entorno do CDMAC, incluindo praça e ruas, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) informou que mantém um cronograma regular de serviços de zeladoria na Praça Almirante Saldanha e na região do entorno.

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“De segunda a sábado, uma turma de garis faz a limpeza diária da praça. Nos domingos e feriados, o efetivo de garis é triplicado, considerando o aumento de movimento na região. O local dispõe, ainda, de um ecoponto de coleta seletiva composto por lixeira subterrânea, ilha ecológica e contêineres para descarte de entulho e de material volumoso”, disse a Seger.

A secretaria também anunciou um mutirão de serviços na Praça Almirante Saldanha desde 24 de julho. As obras incluíam intervenções como poda nas árvores, varrição, capina, pintura de meio-fio, reforço da iluminação pública e reparos na praça. As ações serão executadas pela Seger, em parceria com a Secretaria Executiva Regional 12, a Secretaria da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) e a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor).

Quanto à iluminação pública, foi informado que a SCSP registrou manutenções em cinco estruturas da região entre janeiro e julho. A secretaria também reforçou que os serviços de manutenção da iluminação pública são executados por demanda em toda a Cidade e as solicitações devem ser feitas pela central de atendimento da Prefeitura por meio do número 156.

 

 

Um lar para a boemia

 

Os arredores do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura são casas também para bares, restaurantes e boates. Entretanto, com o decorrer do tempo passaram a ser vistos como resistentes aqueles estabelecimentos que conseguiam permanecer. Afinal, não foram poucos os empreendimentos que encerraram suas atividades no entorno do centro.

O mais recente deles foi o Chopp do Bixiga, na própria Praça Almirante Saldanha, que fechou as portas em 30 de abril. Um dos bares mais populares do entorno do Dragão, o estabelecimento funcionou durante 25 anos. Antes dele, o Órbita Bar havia finalizado sua trajetória em 2021.

Em um tempo não tão distante, em 2017, o Amici's Bar e o Buoni Amici's Pizzeria também haviam anunciado os seus fechamentos. Espaços como o Hey Ho Rock Bar, Bar da Esquina, Ritz Café, Acervo Imaginário Bar Cultural, Domínio Público e N0is3d Club também não resistiram.

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Na época do término das atividades do Amici’s Bar, o O POVO noticiou como frequentadores e empresários apontaram a criminalidade, a falta de segurança, a má conservação e a desordem do ambiente como empecilhos à ocupação desses espaços. Somavam-se às queixas questões como movimento de feirantes na rua José Avelino, bem como presença massiva de ambulantes.

O problema pode não ser de hoje, mas como agir para evitar que ele se prolongue? Para Helena Barbosa, um dos primeiros passos é conversar com quem forma esses ambientes. Ela relata ter tido aproximação com empresários de casas de show, bares e restaurantes para construir juntos as melhorias necessárias. Um dos pontos levantados, por exemplo, foi a segurança nos arredores do Dragão do Mar.

“Perguntaram se a rota de policiais não poderia estar mais próxima da parada de ônibus para quando os funcionários saíssem. Com o nosso capital político, dá para articular para que as demandas do território sejam atendidas basicamente. Nós vamos fazendo esse circuito, escutando os empresários, para saber como podemos nos conectar”, assinala a superintendente.

 

 

Onde hoje habita um Dragão, moravam artistas

Na linha do tempo do Dragão do Mar, é importante destacar um assunto relacionado à sua gênese. Nos idos de 1990, a região era cada vez mais habitada por artistas. O movimento teve como um de seus iniciantes o pintor, artista intermídia, gravador e escultor cearense Zé Tarcísio, que se instalou, por volta de 1982, no casarão deixado pelo artista plástico Hélio Rôla.

Diversos outros profissionais da arte passaram a ocupar a área e a montar ateliês. Nomes como Júlio Silveira, Mestre Pedrinho, Kazane, Tota e Sérgio Pinheiro foram alguns dos notáveis a se estabelecerem. Na época, a região não era tão explorada, e o aluguel era mais barato para permanecer.

Outro ponto de interesse para os artistas era a promessa de impulsão da arte a partir da construção do Dragão do Mar. Em 1993, quando Paulo Linhares começou a idealizar o centro cultural, um dos planos era desapropriar os galpões da primeira área portuária de Fortaleza e transformá-los em ateliês, deixando os artistas morando próximos ao CDMAC.

Zé Tarcisio, ex-vizinho do Dragão do Mar de Arte e Cultura em sua casa, na Cidade 2000 com o painel de 1964 restaurado(Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira Zé Tarcisio, ex-vizinho do Dragão do Mar de Arte e Cultura em sua casa, na Cidade 2000 com o painel de 1964 restaurado

Entretanto, o sonho não se tornou realidade e o “polo cultural” que envolveria os artistas não foi concretizado. Em matéria publicada pelo Vida&Arte em 2010, intitulada “Para onde foi a arte?”, foi registrado como Zé Tarcísio foi o último dos artistas a permanecer instalado no entorno do Dragão do Mar após a saída da Galeria do Tota. A especulação imobiliária era uma das causas para a “debandada dos ateliês e galerias”.

Em 2021, matéria do Vida&Arte sobre os 80 anos de Zé Tarcísio contou que o Atelier Zé Tarcísio não seria mais ateliê. A ideia era transformar o espaço em um equipamento cultural para realização de cursos e palestras.

 


Um centro cultural e as comunidades

 

Quando se discute sobre o entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, muito se debate a respeito das vias urbanas que circundam o equipamento e das estruturas físicas que o acompanham - já citamos questões ligadas à praça e à iluminação pública, por exemplo.

Entretanto, é necessário abordar também as vias simbólicas e de pertencimento que preenchem o espaço. Em uma caminhada de poucos minutos do CDMAC em direção à Praia de Iracema é possível encontrar a comunidade do Poço da Draga, que há 117 anos preserva uma memória coletiva de resistência.

Originada após a inauguração do primeiro porto de Fortaleza, a comunidade tem seus habitantes conectados em grande parte por relações parentais. A história do Poço da Draga é marcada pela resistência em meio a períodos de falta de assistência em pontos de infraestrutura e de saúde, além das requisições por espaços culturais.

Sérgio Rocha, geógrafo, nascido e criado na comunidade do Poço da Draga(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Sérgio Rocha, geógrafo, nascido e criado na comunidade do Poço da Draga

Há 24 anos surgiu na região o maior equipamento voltado à Cultura. Como conta o geógrafo Sérgio Rocha, morador do Poço da Draga, a comunidade estava em um contexto de política habitacional de impacto direto sobre as moradias quando o CDMAC foi inaugurado. Ele lembra que existiam propostas de intervenções na região “com a suposta leitura de um centro de eventos que correspondia à área do Poço da Draga”.

Segundo Serginho (como também é chamado), houve até maquete de um conjunto habitacional a ser construído nos arredores, alcançando os quarteirões entre as ruas Dragão do Mar, Senador Almino, Almirante Barroso e Almirante Jaceguai. A estrutura teria blocos de apartamentos, creche e posto de saúde.

Acontece que entre 1998 e 1999 o Poço da Draga estava “em um contexto singular de mudança de paradigma”: “Estávamos já consolidados em se tratando de melhorias estruturais das casas, as quais estavam quase na sua totalidade em alvenaria com reboco. A maior parcela de chefes de família estava trabalhando tanto formal como informalmente”.

Poço da Draga: comunidade conta 117 na Praia de Iracema (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Poço da Draga: comunidade conta 117 na Praia de Iracema

Ele relata que muitos moradores trabalharam nas etapas de limpeza e finalização dos detalhes de acabamento do CDMAC, mas não houve “assimilação de corpo massivo para integrar o equipamento” na época.

Atualmente, há moradores trabalhando em atividades de recepção, gestão, como técnicos de som e de iluminação, estagiários e na parte administrativa. Quanto ao lado informal, Sérgio relata vários moradores trabalhando com venda de bebidas e alimentos na praça.

 

 

A Draga, o Dragão e a vizinhança

 

Nos últimos meses, o complexo cultural tem agido de modo a se aproximar mais das comunidades circunvizinhas ao CDMAC. Em abril, foi realizada apresentação da nova gestão e do Núcleo de Articulação Territorial (NAT) com as comunidades Graviola, Goiabeiras e Moura Brasil, além do Poço da Draga.

No mesmo mês, houve contato mais próximo do centro com a comunidade de pescadores do Mucuripe. Foi realizada uma homenagem aos trabalhadores do mar por meio da exposição Retrato de Mestre, tanto com ida na comunidade para o registro das fotos quanto com a recepção dos pescadores no CDMAC.

Em maio, foi promovida a exposição “Poço de Operários”. A mostra reuniu 30 lambes com o objetivo de retratar residentes do Poço da Draga. A abertura foi marcada por um circuito guiado entre as vias e ruelas da região com Sérgio Rocha.

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Em junho, também foi organizado um encontro entre as lideranças, os equipamentos do CDMAC e outras estruturas da Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (Rece). Tais movimentos exemplificam o gesto do complexo de buscar o fortalecimento das relações com as comunidades.

De acordo com Sérgio Rocha, as principais demandas do Poço da Draga atualmente em relação ao Dragão do Mar envolvem a criação de um espaço dedicado à história da região, com ênfase na própria comunidade e também no antigo porto. “Temos também inquietação sobre a área de serviços que poderiam ser estruturadas e padronizadas ao passo de serem oferecidas aos empreendedores da comunidade, como o comércio de alimentos e bebidas e artesanato”.

O geógrafo também indica como pontos a serem melhorados na relação do CDMAC com as comunidades do entorno “ a formação de profissionais nas áreas da Arte e da Cultura”, a assimilação de atividades periódicas da cultura local como manutenção da cultura popular (reisado, quadrilha, Carnaval, tertúlias, brincadeiras e jogos) e “destinação de orçamento para o fomento de jovens artistas”.

Questionado sobre o que representa ter um equipamento cultural próximo à comunidade, Sérgio afirma: “Para mim, significa uma forma de integrar equitativamente a cidade com um segmento que muitas vezes é chamado de precário, quando na verdade é desassistido e estigmatizado através do estereótipo de lugar perigoso”.

“No que tange a minha postura em relação à significação do equipamento como uma forma de gerar entusiasmo, de pertencimento, de interação e atuação direta no campo das artes (para contribuir com a cidade em termos de civilidade e respeito às mais diversas formas de expressão humana), não consigo ver como problema. Porém, em se tratando de vontade política e políticas públicas voltadas à inclusão cultural e voltada exclusivamente para o segmento mais abastado e o segmento econômico do turismo, torna-se um equipamento que segrega através da postura de seus gestores”, opina.

Com o retrospecto sobre o entorno do Dragão do Mar, é hora de discutir também a arquitetura desse gigante cultural. O próximo episódio desta reportagem especial contemplará as ideias envolvidas no projeto de construção do CDMAC, além de repercutir se o equipamento conseguiu cumprir seus objetivos iniciais.

 

Dragão e o entorno pelas páginas d´O POVO

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