No silêncio de um quarto iluminado pela luz azulada por uma tela ou na agitação barulhenta das vozes juvenis em locadoras de videogame, dedos ágeis dançam sobre botões, orquestrando jogadas e criando memórias que vão além do ambiente virtual.
Entre a década de 1990 e os dias atuais, essa coreografia evoluiu de lazer a profissão para inúmeros jogadores espalhados pelo mundo. Também se tornou reflexo de um impacto maior, que une pais, filhos e milhões de apaixonados: a força da PlayStation como criadora de memórias marcantes.
A histórica série de consoles da Sony completou 30 anos em 3 de dezembro de 2024, transcendendo gerações ao ditar novas experiências e mostrando resiliência para se manter viva no gosto e no desejo de seus fãs, mesmo após três décadas de seu primeiro lançamento. No Ceará, as diversas atualizações da franquia aproximaram jovens de universos digitais que, em muitos casos, representaram suas primeiras experiências com tecnologia de ponta.
A paixão pelos jogos que rodavam nos consoles da empresa japonesa, inclusive, atravessou gerações, permitindo que memórias fossem compartilhadas entre uma geração e outra. Um exemplo disso é a história de Clemilson Maciel Lopes e seu filho, João Victor Lopes. Incentivado pelo pai, que já era um entusiasta dos jogos eletrônicos, João Victor teve seu primeiro contato com um controle de PlayStation aos sete anos – e nunca mais largou.
Aficionado por jogos de futebol virtual, como o eFootball, João Victor logo demonstrou um talento excepcional, destacando-se em campeonatos locais e superando adversários de todas as idades. “Notei algo diferente quando ele começou a jogar competitivamente”, relembra Clemilson, emocionado.
Esse “algo diferente” levou a família a apostar no jovem, que se profissionalizou nos games, assinou contratos com grandes equipes e começou a conhecer o mundo por meio de sua habilidade.
“Eu fico muito feliz que o João Victor tenha conseguido uma profissão com algo que para muitos é só lazer e diversão”, completa Clemilson, que hoje vê o potencial dos jogos como um horizonte em expansão.
Com um currículo extenso, recheado de títulos nacionais e internacionais, João Victor Lopes considera a PlayStation como “muito importante” no seu processo de evolução e construção de carreira. “A qualidade dos consoles é surreal, permitindo que eu entregue o meu melhor em performance. Sem dúvida, são videogames que ajudam os players profissionais com sua alta qualidade”, afirma.
Essa capacidade de transcender gerações e contextos é uma das marcas registradas do PlayStation, como apontam especialistas ouvidos pelo O POVO+. Pesquisador de jogos e CEO do Instituto Bojogá, Daniel Gularte contextualiza o momento de criação do PlayStation em um mercado já muito competitivo. Segundo ele, a desenvolvedora Sony se aproveitou “da hegemonia japonesa no mercado de games a partir do Crash de 1983”, polarizada pelas disputas entre Sega e Nintendo.
“Não demorou muito para que outras empresas japonesas que possuíam alcance mundial tentassem seus voos no mundo dos games, e a Sony foi uma delas”, comenta, informando sobre um movimento já inciado pela própria Nintendo com pretenção de lançar um console protótipo com CD, no final dos anos 1980. Até então, a maioria dos consoles funcionavam apenas por fichas.
Esse contexto foi fundamental para que a Sony lançasse seu primeiro console, a um preço inferior ao dos concorrentes, com processamento mais rápido e capacidade de armazenamento de memória. Além do mais, diversas estratégias de marketing fez com que a PlayStation deixasse para traz as protagonistas da “Guerra dos Consoles”.
“Após esse desmonte polarizado entre Sega e Nintendo até meados dos anos 1990, a Sony decidiu investir tudo o que tinha no Playstation 2 (lançado em 2000). Para mim, esse foi o real diferencial da franquia e que marcou a história da indústria de jogos para sempre”, relembra Gularte, que também é autor do livro “Jogos eletrônicos: 50 anos de interação e diversão”.
Já Izequiel Norões, presidente da União Cearense de Games (Uceg), ressalta o impacto cultural do console. Segundo ele, a maior qualidade gráfica e de áudio dos jogos, em um momento da forte cultura de frequentar locadoras fez com que o PlayStation se destacasse ao trazer títulos e personagens icônicos para seus jogadores. “Sem falar de uma identidade com sua comunidade que foi criada e que dura até hoje”, afirma.
Professor de Ciência da Computação na Universidade de Fortaleza (Unifor), ele destaca como o PlayStation moldou a cultura gamer, oferecendo experiências imersivas e um catálogo diversificado que atravessa gerações. “O PlayStation sempre se manteve na vanguarda da inovação, desde o uso de CDs até a introdução de gráficos 3D. Essa capacidade de inovar e se adaptar às mudanças tecnológicas ajudou a marca a permanecer relevante e atrativa para novos jogadores”, evidencia.
“A ‘tradição’ de soprar fitas deu lugar às mídias digitais e jogos online, e os grupos de jogadores hoje estão não mais com somente a turma do bairro, mas com a possibilidade de jogar com amigos do mundo todo”, ressalta.
Esse cenário, inclusive, vai além da ideia de que os jogos são apenas entretenimento. Para Clemilson Maciel Lopes, os consoles tiveram um papel essencial no desenvolvimento de sua família. Enquanto crescia jogando títulos como Alex Kidd e Super Star Soccer, ele viu João Victor brilhar com o controle de PS em mãos, representando o Ceará e competindo internacionalmente. “Foi uma virada de mesa na nossa história”, confirma o pai orgulhoso.
Desde o lançamento de seu primeiro console, em 1994, o PlayStation se colocou como uma das marcas mais relevantes da indústria mundial dos games, liderando vendas e transformando o ato de jogar em experiências únicas. Não por acaso, a plataforma tem seis de seus consoles entre os mais vendidos da história, conforme revelam dados de diferentes levantamentos.
O PlayStation 2, por exemplo, lidera todos os rankings com mais de 155,1 milhões de unidades vendidas. Mais atrás, vem o PlayStation 4 na quinta posição com 117,2 milhões de vendas. O PlayStation original (PS1) e o PlayStation 3 também figuram entre os dez mais vendidos, enquanto o PlayStation 5 já aparece na 13º colocação.
Os consoles mais vendidos da história
No Brasil, o sucesso do PlayStation pode ser explicado por diversas razões. Para o especialista em cultura digital Daniel Gularte, um deles está em uma movimentação que poderia ser considerada ruim para a marca em um primeiro momento, mas que se provou positiva ao longo dos anos: a pirataria.
“O sucesso do PlayStation não pode deixar de ser visto junto com a cultura da pirataria no Brasil. A Sony não tinha suporte e fabricação de consoles Playstation até então, mas os caminhos do contrabando e desbloqueio de aparelhos ajudaram a construir a marca no nosso País de forma transversal”, menciona.
Além disso, ele conta que a Sony foi assertiva ao apostar em públicos que tiveram contato com videogames durante os anos 1970 e 1980, os quais já carregavam a percepção de que o console não era mais só um brinquedo, “coisa que a Nintendo nunca deixou de defender”. “Assim, o ambiente de locadora trouxe ainda mais competitividade, objetividade e disputa para o ambiente do videogame”, aponta.
O professor Izequiel Norões, por sua vez, destaca o impacto emocional da marca. “O PlayStation conquistou seu lugar especial no mercado de games por uma combinação de fatores que a transformaram em uma marca de destaque e um ícone da indústria”, diz. Estratégias de exclusividade de jogos, como God of War e The last of us, e inovações no hardware e no software foram essenciais nessa equação.
Prova disso está a busca por elevar o padrão de seus produtos a cada lançamento. O PlayStation 4, por exemplo, consolidou a popularidade dos jogos online e a integração com plataformas de streaming, enquanto o PlayStation 5, lançado em 2020, trouxe gráficos de última geração com a tecnologia de ray tracing "Ray tracing é uma tecnologia de renderização gráfica que usa traçados de raios para criar efeitos de luz mais realistas" e tempos de carregamento praticamente inexistentes, graças ao uso de SSDs de alta velocidade.
Essas inovações garantiram à marca uma base de fãs leal, mesmo diante da concorrência acirrada de empresas como Nintendo e Microsoft. Além disso, o PlayStation aposta fortemente em títulos exclusivos, um diferencial que atrai milhões de jogadores ao redor do mundo. A qualidade dos jogos desenvolvidos ou publicados pela Sony é frequentemente citada como um dos motivos pelos quais os consumidores escolhem a plataforma.
"A cada nova geração de consoles, a PlayStation trouxe melhorias significativas, mantendo-se relevante e atraente para novas gerações de jogadores"Izequiel Norões, presidente da Uceg, sobre a popularização a PlayStation
O sucesso do PlayStation também é refletido na cultura pop. Jogos lançados para seus consoles inspiram adaptações para o cinema, séries de TV e até músicas, expandindo a influência da marca para além do universo dos games. Jogos como “The Last of Us” e “Gran Turismo”, por exemplo, ganharam vida própria em outras mídias, demonstrando o poder de influência no ambiente digital.
Além de ser sinônimo de qualidade e inovação, o PlayStation consolidou-se como um dos alicerces no desenvolvimento do cenário competitivo dos esportes eletrônicos (esports). Consoles como o PlayStation 4 e o PlayStation 5, com desempenho técnico e gráficos de alta qualidade, tornaram-se indispensáveis para garantir partidas justas e visualmente impactantes, consolidando-se ainda como plataformas confiáveis para competições locais e internacionais.
Marcos Guerra, CEO do Team Solid, uma das principais equipes de esports da América Latina, ressalta a importância da marca no cenário competitivo. “O PlayStation oferece a estabilidade e a performance que buscamos em plataformas competitivas. Isso nos permite não só treinar com a mais alta qualidade, mas também conectar nossos atletas com uma audiência global. Os recursos de compartilhamento e transmissão dos consoles aproximam espectadores e jogadores profissionais, fortalecendo ainda mais a comunidade de esports”, afirma.
A relevância do PlayStation nesse universo também aparece nos títulos que hospeda. Jogos como EFootball, Fifa, Call of Duty e Gran Turismo são parte de alguns dos maiores campeonatos internacionais, proporcionando a jogadores de todo o mundo a chance de demonstrar suas habilidades em palcos globais.
Com um mercado de jogos em ascenção, porém, a marca hoje disputa a atenção dos jogadores (casuais e profissionais) com as mais diversas plataformas, como PC e mobile. “Atualmente o mercado tem se tornado cada vez mais competitivo e temos cada vez mais segmentos. A disputa entre plataformas vem crescendo”, aleta Izequiel Norões, mencionando que Google tentou sem sucesso com seu Stadia, "mas a Netflix vem crescendo e muitas outras empresas têm mostrado interesse em abocanhar parte desse mercado multimilionário".
> Por Rayanne Reveg*
O PlayStation marcou profundamente a infância de muitos brasileiros, inclusive a minha nos anos 2000. Tenho memórias vívidas de quando tinha apenas 6 anos e vi meu padrinho Haroldo jogar God of War no PS2 pela primeira vez.
Aquilo era mágico! Eu ficava tão fascinada que trocava minha diversão favorita, momentos na piscina, só para sentar ao lado dele, assistindo às épicas batalhas e sonhando com o dia em que poderia enfrentar aqueles monstros. Porém, ter um console da época era um luxo distante, como ainda é para muitas famílias brasileiras.
Minha jornada como jogadora começou anos depois, quando minhas primas, Sabrynna e Isabelle, ganharam um PS1. Passávamos noites, às vezes burlando o horário de dormir, mergulhadas em aventuras. Nas pistas com Tony Hawk's Pro Skater, explorando o mundo colorido de Crash Bandicoot e, claro, nos assustando com o clima tenso de Resident Evil. Para mim, esses momentos não eram só sobre os jogos, mas sobre conexão, risadas e o tempo que passava com minha família.
Somente aos 14 anos ganhei meu primeiro console: o tão sonhado PS2. Foi emocionante finalmente jogar God of War, o jogo que me encantou na infância. Importante citar o Guitar Hero, o qual se tornou meu grande companheiro, sendo mais que um passatempo; mas uma porta para descobrir músicas que marcaram minha vida.
PlayStation, para mim, é uma máquina para construção de memórias inesquecíveis, repleta de nostalgia e momentos de diversão ao lado da família e amigos. Essas experiências não apenas me divertem, mas continuam a moldar a minha história.
> Rayanne Reveg é cearense, game business developer, Formada em Jogos Digitais (Centro Universitário Estácio de Sá) e pós-graduada em Comunicação e Semiótica (Faculdade Dom Alberto)
>> Quer ler mais sobre games? Acesse nossos colunistas Miguel Pontes e Wanderson Trindade
"Olá, aqui é o Wanderson Trindade, repórter do OP+! Você tem alguma memória com o PlayStation? Compartilha com a gente nos comentários :)"
Consoles mais vendidos da história
Desde o lançamento de seu primeiro console, em 1994, o PlayStation se colocou como uma das marcas mais relevantes da indústria mundial dos games, liderando vendas e transformando o ato de jogar em experiências únicas. Não por acaso, a plataforma tem seis de seus consoles entre os mais vendidos da história, conforme revelam dados de diferentes levantamentos.
O PlayStation 2, por exemplo, lidera todos os rankings com mais de 155,1 milhões de unidades vendidas. Mais atrás, vem o PlayStation 4 na quinta posição com 117,2 milhões de vendas. O PlayStation original (PS1) e o PlayStation 3 também figuram entre os dez mais vendidos, enquanto o PlayStation 5 já aparece na 13º colocação.
No Brasil, o sucesso do PlayStation pode ser explicado por diversas razões. Para o especialista em cultura digital Daniel Gularte, um deles está em uma movimentação que poderia ser considerada ruim para a marca em um primeiro momento, mas que se provou positiva ao longo dos anos: a pirataria.
"O sucesso do PlayStation não pode deixar de ser visto junto com a cultura da pirataria no Brasil. A Sony não tinha suporte e fabricação de consoles Playstation até então, mas os caminhos do contrabando e desbloqueio de aparelhos ajudaram a construir a marca no nosso País de forma transversal", menciona.
Além disso, ele conta que a Sony foi assertiva ao apostar em públicos que tiveram contato com videogames durante os anos 1970 e 1980, os quais já carregavam a percepção de que o console não era mais só um brinquedo, "coisa que a Nintendo nunca deixou de defender". "Assim, o ambiente de locadora trouxe ainda mais competitividade, objetividade e disputa para o ambiente do videogame", aponta.
O professor Izequiel Norões, por sua vez, destaca o impacto emocional da marca. "O PlayStation conquistou seu lugar especial no mercado de games por uma combinação de fatores que a transformaram em uma marca de destaque e um ícone da indústria", diz. Estratégias de exclusividade de jogos, como God of War, e inovações no hardware e no software foram essenciais nessa equação.
Prova disso está a busca por elevar o padrão de seus produtos a cada lançamento. O PlayStation 4, por exemplo, consolidou a popularidade dos jogos on-line e a integração com plataformas de streaming, enquanto o PlayStation 5, lançado em 2020, trouxe gráficos de última geração.
Essas inovações garantiram à marca uma base de fãs leal, mesmo diante da concorrência acirrada de empresas como Nintendo e Microsoft. Além disso, o PlayStation aposta fortemente em títulos exclusivos, um diferencial que atrai milhões de jogadores ao redor do mundo.
O sucesso do PlayStation também é refletido na cultura pop. Jogos lançados para seus consoles inspiram adaptações para o cinema, séries de TV e até músicas, expandindo a influência para além do universo dos games.
O PlayStation como pilar dos e-sports
Além de ser sinônimo de qualidade e inovação, o PlayStation consolidou-se como um dos alicerces no desenvolvimento do cenário competitivo dos esportes eletrônicos (e-sports). Consoles como o PlayStation 4 e o PlayStation 5, com desempenho técnico e gráficos de alta qualidade, tornaram-se indispensáveis para garantir partidas justas e visualmente impactantes, consolidando-se ainda como plataformas confiáveis para competições locais e internacionais.
Marcos Guerra, CEO do Team Solid, uma das principais equipes de e-sports da América Latina, ressalta a importância da marca no cenário competitivo. "O PlayStation oferece a estabilidade e a performance que buscamos em plataformas competitivas. Isso nos permite não só treinar com a mais alta qualidade, mas também conectar nossos atletas com uma audiência global. Os recursos de compartilhamento e transmissão dos consoles aproximam espectadores e jogadores profissionais, fortalecendo ainda mais a comunidade de e-sports", afirma.
A relevância do PlayStation nesse universo também aparece nos títulos que hospeda. Jogos como EFootball, Fifa, Call of Duty e Gran Turismo são parte de alguns dos maiores campeonatos internacionais, proporcionando a jogadores de todo o mundo a chance de demonstrar suas habilidades em palcos globais.
Com um mercado de jogos em ascenção, porém, a marca hoje disputa a atenção dos jogadores (casuais e profissionais) com as mais diversas plataformas, como PC e mobile. "Atualmente o mercado tem se tornado cada vez mais competitivo e temos cada vez mais segmentos. A disputa entre plataformas vem crescendo", aleta Izequiel Norões, mencionando que Google tentou sem sucesso com seu Stadia, "mas a Netflix vem crescendo e muitas outras empresas têm mostrado interesse em abocanhar parte desse mercado multimilionário".