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Herança de Suassuna, Movimento Armorial segue celebrando a cultura popular
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Herança de Suassuna, Movimento Armorial segue celebrando a cultura popular

Prestes a completar 55 anos, Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, celebra a cultura popular e segue pulsante na produção de novos artistas
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Exposição Armorial 50 em Recife (Foto: Daniela Nader/Divulgação )
Foto: Daniela Nader/Divulgação Exposição Armorial 50 em Recife

Armorial: conjunto de brasões e heráldicas. O termo foi escolhido para dar nome ao movimento fundado pelo pernambucano Ariano Suassuna em 18 de outubro de 1970 e que completa 55 anos em 2025. A efeméride é celebrada com a exposição Armorial 50, adiada em decorrência da pandemia de Covid-19, e disponível para visitação no Espaço Cultural Unifor.

Apesar de ser uma corrente com décadas de existência e que ficou marcada pela presença de seu fundador, o Armorial segue atuante por meio de artistas que o mantém ativo através de diversas linguagens. "Ariano foi o fundador, mas ele sempre se preocupou em compartilhar com os artistas armoriais e com o povo", detalha o pesquisador Rodrigo Passolargo, que teve contato com o Armorial na infância, em Quixeramobim.

"O Movimento Armorial não se ancora somente numa expressão artística: literatura, música, teatro, dança, artes plásticas e até cinema você encontra a arte armorial", diz Rodrigo, que se autodenomina nordestino armorial. A escritora Julie Oliveira afirma que, mesmo com a partida de Ariano, em 2014, "a semente que ele plantou continua florescendo".

"O movimento vive em novas roupagens, se misturando com outras linguagens e sendo ressignificado por quem acredita na força da nossa cultura popular. É como se cada acorde de rabeca, cada verso de cordel e cada xilogravura fossem um fio invisível que mantém viva essa tradição", pontua Julie.

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A exposição celebrativa ao movimento, que está em cartaz no Espaço Cultural Unifor, é idealizada por Regina Godoy e tem curadoria de Denise Mattar, ficando em cartaz até junho. A corrente criada por Ariano propunha "aos artistas observar a arte popular brasileira, aprender com ela e transformá-la", elucida Denise.

Atualmente, o movimento está vivendo uma nova fase, que teve início em 2020, quando a corrente completava 50 anos. Intitulada de "Ilumiara", a etapa foi estabelecida por Carlos Newton Júnior. A ideia surgiu após uma roda de conversa com a coreógrafa Paula Costa Rêgo e o músico Antonio Madureira, mediada por Rodrigo Passolargo, nos 50 anos do Movimento Armorial no Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense (UFF).

A artista visual Côca Torquato salienta que o movimento não se limita à Região Nordeste. "Da festa dos caretas, quer dizer, com toda a nossa cultura popular, que é muito forte aqui no Nordeste, mas nós temos também, em Minas também, essas tradições populares no Centro-Oeste".

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Tudo aquilo que teve influência das culturas africanas, indígenas, mouras e ibéricas, é incorporado pela corrente, conforme diz Côca, que conheceu Ariano por meio do livro "A Pedra do Reino".

O artista plástico André Menezes, a cantora Renata Rosa, o escritor Raimundo Carrero e a cearense Côca Torquato são alguns dos responsáveis por manter o Armorial pulsante no tempo corrente.

A curadora Denise Mattar ainda percebe a presença do Armorial nas obras audiovisuais de diretores como Luiz Fernando Guimarães e Guel Arraes, nas figuras do brincante Antônio Nóbrega, e no grupo Grial.

"Vejo ainda uma forte influência Armorial na obra literária de Socorro Acioli, por exemplo", pontua Denise."Fora artistas periféricos injustamente desconhecidos e que necessitamos colocar à luz do sol do cenário artístico!", completa Rodrigo Passolargo.

5 Anos de "Armorial 50"

Regina Godoy não imaginava que ao ir para um concerto de música Armorial, realizado em Curitiba, em 2019, estaria à frente da exposição que celebra as cinco décadas do movimento. Na época, a gestora conhecia a obra de Ariano, mas não a corrente fundada por ele. "Não sabia o que era, mas fiquei encantada com a sonoridade".

Curiosa, foi saber mais da linha de pensamento. "Fui perguntar ao músico que me convidou e ele me falou sobre "Guerra-Peixe" e sobre Antônio Madureira - dentre outros - grandes nomes e mestres da música Armorial". Regina alega ter ficado tão encantada que mergulhou na história do movimento, descobrindo que no ano seguinte ele completaria 50 anos.

Para ela, o surgimento do movimento durante a década de 1970, período em que o Brasil estava "inundado com a música e way of life americano" foi um modo de "Ariano dar forma e voltar o olhar e o pensamento para uma arte brasileira". Então, para celebrar o legado e a herança do pernambucano, ela montou a mostra que finaliza em Fortaleza, ficando em cartaz até junho. A decisão por escolher a Cidade para encerrar a exposição veio a partir da ligação da Capital com o tema.

São três ações: Exposição Armorial 50, com 140 obras; a série de Encontros Petrobras de Música Armorial; e a série de Diálogos Petrobras de Arte Armorial. Regina explica que com essas propostas seria possível recriar "aquele ambiente de criação em que Ariano e os artistas estavam mergulhados".

A mostra conta com a curadoria de Denise Mattar, que para a produtora cultural seria como "a porta de entrada do público para este universo mágico". "Ela trouxe para o projeto o olhar atento, a maestria e o conhecimento dos acervos pernambucanos", revela.

A dupla teve que trabalhar a distância, por causa da pandemia de Covid-19. Denise estava em São Paulo e Regina em Florianópolis, ambas confinadas. A família Suassuna - por meio de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano, autorizou o prosseguimento da exibição através de encontros on-line.

"Ele nos conectou com Carlos Newton Júnior - professor, escritor, pesquisador e conhecedor profundo sobre a obra e vida de Ariano e com Ricardo Gouveia -, designer que ajudou Ariano a criar a identidade visual e esta marca Armorial", relembra a gestora.

Exposição Armorial 50

  • Quando: até 29 de junho 2025
  • Onde: Universidade de Fortaleza (av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz)
  • Visitações: de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 19 horas; sábados, domingos e feriados, das 12h às 18 horas
  • Gratuito

Encontros Petrobras de Música Armorial

Orquestra Armorial do Cariri

  • Quando: 29 de março, às 19 horas 

Ana de Oliveira e Sérgio Raz & Camerata Unifor

  • Quando: 26 de abril, às 19 horas

Quinteto da Paraíba & Duo Sertão

  • Quando: 31 de maio, às 19 horas
  • Onde: todas as apresentações serão realizadas no Teatro Celina Queiroz (av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz)
  • Gratuito
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