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Minimuseu Firmeza: os desafios do equipamento criado por Nice e Estrigas
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Minimuseu Firmeza: os desafios do equipamento criado por Nice e Estrigas

Questões de infraestrutura, permanência e, principalmente, acesso ao espaço cultural criado por Nice e Estrigas são agravadas com o correr do tempo
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FORTALEZA,CEARÁ, BRASIL,17-05-2025: Relatório do Minimuseu Firmeza que vem passando por situações de abandono do poder público, com varios problemas de acesso, aguarda auxílio para se manter. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA,CEARÁ, BRASIL,17-05-2025: Relatório do Minimuseu Firmeza que vem passando por situações de abandono do poder público, com varios problemas de acesso, aguarda auxílio para se manter. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Há mais de seis décadas, uma casa-museu localizada no bairro Mondubim tem o compromisso de compartilhar arte com a população que reside distante da região central de Fortaleza. Na regional 10, o Minimuseu Firmeza encontra inúmeros desafios para a manutenção do espaço cultural e ecológico que já foi ponto de encontro para artistas e comunidade que desejavam uma pausa na correria do dia a dia.

Fundado por Estrigas (1919–2014) e Nice Firmeza (1921–2013), o sítio que abriga uma casa e um amplo quintal com plantas de diversas espécies se encontra, atualmente, cercado por obras e esquecido por parte dos fortalezenses que não se dispõem a ver além dos tecnológicos, reformados e revitalizados espaços culturais localizados entre o Centro e a Aldeota.

Com um acesso indiscutivelmente difícil, hoje aqueles que visitam o local devem, ou contar com a boa vontade e disponibilidade de uma construtora para atravessar um canteiro de obras ou andar alguns metros ao redor de uma segunda obra, se equilibrando na estreita calçada sobrevivente. Em ambos os caminhos, lama, canos e tubulações expostos - além de mato abundante - afastam os interessados.

A situação da passagem de visitantes ao Minimuseu, no entanto, não diz respeito somente às empreiteiras que em algum momento vão concluir suas edificações. Em 2023, a rua Nilo Firmeza já se encontrava sem calçamento e pavimentação, forçando os visitantes a passarem por buracos e evitarem o local em dias chuvosos.

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Minimuseu Firmeza e a quadra chuvosa

"Todo ano, durante a quadra chuvosa, a gente evita marcar evento porque fica muito ruim para entrar. Normalmente, devido às construções, a gente para na esquina e vem andando até a entrada da casa, então é bastante complexo", detalha Paula Machado, gestora do Minimuseu Firmeza.

À época, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) confirmou ao Vida&Arte a elaboração de um "estudo de viabilidade para a pavimentação e drenagem da rua Nilo Firmeza". Dois anos se passaram e a questão das ruas que levam ao Minimuseu Firmeza soma-se a outros desafios para a manutenção e preservação do espaço cultural.

Ausência de iluminação pública, falta de sinalização, necessidade de reformas na estrutura da casa, além de cuidados com o quintal, são algumas das demandas não negociáveis para que o Minimuseu Firmeza perdure nos próximos anos. As solicitações foram reunidas, apresentadas e debatidas em audiência pública, realizada na Câmara Municipal no dia 14 de maio.

O momento contou com a presença de representantes da administração da Prefeitura de Fortaleza; além da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult-CE), representada pelo secretário-executivo Rafael Felismino; do gerente de cultura do Sesc Ceará, Alemberg Quindins; de herdeiros do casal de artistas Estrigas e Nice; e de membros da comunidade onde o Minimuseu está sediado. Um Grupo de Trabalho (GT) foi estruturado para viabilizar soluções.

Na ocasião, foram discutidas ações de reestruturação da casa – considerada um dos pontos de memória cultural e artística do Ceará, também acervo e equipamento de lazer para a região –, e planos para a infraestrutura das ruas no entorno que dão acesso ao espaço. Na conversa - que se segue há anos - as dúvidas sobre o futuro do Minimuseu Firmeza, que depende de vários fatores, circulam a população do Mondubim e adoradores do local construído pelo casal de artistas.

Planos e sonhos

No conjunto de ideias e prováveis resoluções para a situação do Minimuseu Firmeza, questões burocráticas desaceleram a tentativa de preservar o centro cultural

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Os encaminhamentos

Promovida pela vereadora Mari Lacerda (PT), a audiência pública ocorrida em 14 deste mês apresentou questionamentos importantes e possíveis soluções acerca da situação atual do Minimuseu Firmeza. "A ideia dessa audiência é a promoção de uma construção coletiva que pense em um desenvolvimento, em questões habitacionais e nas pessoas que frequentam esse espaço", argumentou a presidente da Comissão de Cultura, Esporte e Juventude na Câmara Municipal de Fortaleza durante o evento.

Ainda na ocasião, foi anunciado o plano de ações para o Minimuseu Firmeza, o qual lista trabalhos de responsabilidade do Metrofor - como o reparo do muro do metrô e sinalização nas estações para viabilizar o acesso da população -, o tombamento do equipamento - favorecendo as questões estruturais e de manutenção da residência - e também serviços de infraestrutura, segurança, pavimentação e iluminação pública.

"Após a audiência, o mandato Fortaleza é pra Viver está oficializando, junto aos órgãos e entidades que se dispuseram a integrar o grupo de trabalho (GT), a indicação de seus representantes. Também está sendo proposta uma reunião de trabalho para a primeira semana de junho, com o objetivo de definir o cronograma de atuação do GT", pontuou a vereadora Mari Lacerda em comunicado enviado ao Vida&Arte.

O grupo em questão é formado por representantes da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) e da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), artistas visuais, comunidade e familiares que administram o Minimuseu.

A parlamentar reforça a ação da Secultfor em "incluir o Minimuseu no processo de descentralização das políticas culturais", demanda anunciada no plano municipal do prefeito Evandro Leitão (PT).

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A comunidade

"Eles foram separados por esse muro que fica bem 'na cara' da casa", exclamou Paula Machado, historiadora e gestora do Minimuseu Firmeza. Na conversa com O POVO no sábado, 17, ela afirma que a "divisão" do bairro, devido a via-férrea e o túnel da rua Wenefrido Melo, dificultou e reduziu a chegada de ônibus escolares, assim como outros veículos de visitantes.

"A Nice falava com muito saudosismo dos grupos de escolas que visitavam o Minimuseu, eles vinham de várias direções do bairro. Hoje é bem mais difícil", relembra. Estando distante a 1,3 km do Cuca Mondubim, o Minimuseu serve de ponto de encontro da população que usa o terreno para ações culturais, como atividades artísticas, rodas de conversa e ensaio de quadrilhas juninas.

Presente na audiência pública do dia 14, Silvania Vieira, presidente do Movimento Orquídeas, descreve o espaço como um lugar essencial para o desenvolvimento dos moradores da região: "Quando a gente fala da valorização do Minimuseu, nós estamos falando de pessoas que moram no Grande Mondubim e que podem acessar toda a história que existe naquele espaço".

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O patrimônio cultural

Para além das questões de acessibilidade, outro desafio na preservação do Minimuseu Firmeza é a manutenção do terreno que abrange a antiga residência de Estrigas e Nice - casa que abriga um amplo acervo artístico com obras do casal de artistas, desde pinturas, desenhos e esculturas, a livros, publicações e documentos - e um grande quintal no qual reside um baobá - onde estão situados as cinzas do artista plástico. A árvore, inclusive, é irmã do baobá presente no Passeio Público, no Centro.

"A gente possui uma ideia desenhada para a revitalização. Como o museu ficou um tempo fechado, algumas plantas morreram e a casa também não teve uma manutenção adequada", conta Paula, acrescentando que há um projeto em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC) de melhorias no quintal e cuidado com as plantas e vegetações.

Partilhada entre quatro herdeiros, a área carece de cuidados estruturais e organização na totalidade. Em abril deste ano, o local foi selecionado no 4º Edital Patrimônio Vivo do Ceará, na categoria Museus, agraciado com apoio financeiro que será disponibilizado para projetos culturais e cuidados do jardim.

A verba, no entanto, não deve solucionar os desafios do Minimuseu a longo prazo. Um dos desejos dos parentes herdeiros é o tombamento do espaço, garantindo a proteção do museu para as gerações futuras.

Segundo dados da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), o tombamento possui o "objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e, também, de valor afetivo para a população, evitando que venham a ser destruídos ou descaracterizados". Mesmo com a perspectiva e o desejo de tombamento, ainda não existe solicitação para a realização do procedimento.

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