Importante e histórico espaço artístico-cultural de Fortaleza, o Minimuseu Firmeza vem passando por um impasse que está dificultando a efetivação de projetos e parcerias no local, criado pelo casal de artistas plásticos Estrigas (1919-2014) e Nice Firmeza (1921-2013) e mantido por família e parceiros. Localizado no bairro do Mondubim, o espaço tem acesso dificultado por conta da falta de pavimentação na via pública. Há hoje uma parceria de programação entre o local e o Sesc Ceará que prevê, ainda, tornar o endereço o primeiro Museu Orgânico de Fortaleza. A ausência de estrutura, porém, dificulta a efetivação. A qualificação do acesso já foi demandada à Prefeitura de Fortaleza, que afirma que "elabora estudo de viabilidade" de pavimentação e drenagem.
Nice e Estrigas moravam no endereço desde 1961 e fundaram o espaço oficialmente em 1969. Por décadas, a casa se tornou ponto de encontro da cultura. Após os falecimentos dos dois, o Minimuseu seguiu cumprindo as funções de formação, fruição e difusão de artes visuais na Capital, sendo gerido pela família, pela historiadora Paula Machado e pela bordadeira Lúcia Ferreira.
As dificuldades de manutenção foram inúmeras ao longo desses quase 10 anos, muito por conta da falta de apoio público ou privado continuado, com ações quase sempre baseadas em projetos e editais sazonais. Nos últimos dois anos, porém, o Minimuseu estabeleceu a importante parceria com o Sesc Ceará, o que trouxe maior continuidade às atividades.
Estrigas e Nice Firmeza fundaram o Minimuseu Firmeza nos anos 1960. Atualmente, a acessibilidade ao espaço é dificultada pela situação estrutural da rua Nilo Firmeza, que leva o nome de batismo do artista
Alemberg Quindins, gerente de cultura do Sesc Ceará, destaca que foi matéria do O POVO publicada em 2021 que deu ciência à instituição sobre a intermitência de ações no espaço. "(A parceria se dá) através de um convênio firmado para dar sustentabilidade à programação sistemática", informa o gestor.
"Com este apoio, mantemos o museu aberto, recebendo visitas e promovendo atividades culturais para o público em geral, mas com ênfase na comunidade do entorno", aponta a historiadora Paula Machado, coordenadora de projetos do Minimuseu.
O plano de efetivar no espaço o primeiro Museu Orgânico de Fortaleza — projeto do Sesc que ressalta a memória afetiva e concreta em casas de mestres da cultura, estimulando visitantes locais e turistas —, no entanto, esbarra na falta de estrutura da via pública que dá acesso ao local, denominada rua Nilo Firmeza, em homenagem ao nome de batismo de Estrigas.
Estreita, de terra e, no período de chuvas, ainda mais esburacada, a via torna o espaço por vezes inacessível. "Pelo menos uma vez na semana recebemos escolas. No entanto, o ônibus não consegue entrar", relata Paula. "Estamos com o museu funcionando, cheio de atividades, temos bastante público, mas sabemos que teríamos muito mais se tivesse um acesso de qualidade", acredita.
Acesso ao Minimuseu Firmeza, no Mondubim, é dificultado pela falta de pavimentação e drenagem na rua Nilo Firmeza
A necessidade de requalificação, ela compartilha, é antiga, bem como a demanda. A reportagem acessou ofício datado de 29 de janeiro de 2016 e destinado à Secretaria de Turismo de Fortaleza — então comandada por Elpídio Nogueira, hoje secretário da Cultura — no qual representantes do Minimuseu apontam que "visitações estão sendo prejudicadas" por conta de "ausência de sinalização turística" e "condições precárias da via de acesso local".
Seis anos se passaram desde então e a qualificação "se tornou mais urgente e necessária depois que conseguimos apoio do Sesc", diz Paula. "Sem acessibilidade, como podemos criar um programa de visitação e formação? Aquela rua tem o que nenhuma em Fortaleza tem, que é a singularidade da natureza daquele equipamento cultural", ressalta Alemberg.
"Não existe um Estrigas e uma Nice em toda rua de Fortaleza. Barcelona não trataria Picasso assim, Figueres não trataria Salvador Dalí assim. Portanto, não devemos também tratar Estrigas, Nice e a história das artes plásticas cearense assim", segue o gestor.
Conforme a historiadora, o Minimuseu e parceiros já contactaram órgãos como a Secretaria da Cultura e a de Infraestrutura da Capital, bem como representantes do Metrô de Fortaleza — por conta da proximidade do espaço à estação do Mondubim —, para pensar soluções.
Minimuseu Firmeza pode receber primeiro Museu Orgânico de Fortaleza, mas projeto esbarra na falta de acesso
"Estamos conversando com a Prefeitura para sensibilizarmos sobre a pavimentação da rua, como também o Metrofor, para a construção de passarela que ligue a estação do Mondubim ao Minimuseu. Queremos também uma comunicação visual na estação com o tema do casal de artistas", informa Alemberg.
Entre futuros esforços para concretizar a demanda, haverá nova mobilização junto a órgãos responsáveis. "Estamos organizando uma comitiva com representantes do Minimuseu, do Sesc, da comunidade do entorno, pesquisadores e público do museu para novamente falarmos com Samuel Dias (titular da Seinf) para pedirmos urgência na execução desse projeto. Eles dizem que ele existe, no entanto até agora não chegou até nós", relata.
O Vida&Arte contactou a Prefeitura em busca de atualização da situação e previsões de concretização, bem como quais seriam os passos necessários. Em nota, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal da Gestão Regional afirmou: "A Prefeitura de Fortaleza informa que mantém interlocução com o Minimuseu Firmeza, no bairro Mondubim, para levantar as necessidades para o local, e elabora estudo de viabilidade para a pavimentação e drenagem da Rua Nilo Firmeza".
A nota ainda destaca que, em março "uma equipe técnica da Regional 10 realizou serviços de limpeza e capina em toda a extensão da Rua Nilo Firmeza, que dá acesso ao equipamento cultural".
Minimuseu Firmeza
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