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Eleições 2022: debates econômicos se voltam para o combate à pobreza e ao desemprego
Reportagem Especial

Eleições 2022: debates econômicos se voltam para o combate à pobreza e ao desemprego

Falas iniciais de postulantes indicam posturas desde às desenvolvimentistas, reformistas até as liberais. Se em 2018 o antipetismo e combate à corrupção foram os principais temas, em 2022 o combate à pobreza e desemprego ganham espaço. Propostas durante a campanha devem modificar os ânimos no mercado financeiro e impactar na economia real

Eleições 2022: debates econômicos se voltam para o combate à pobreza e ao desemprego

Falas iniciais de postulantes indicam posturas desde às desenvolvimentistas, reformistas até as liberais. Se em 2018 o antipetismo e combate à corrupção foram os principais temas, em 2022 o combate à pobreza e desemprego ganham espaço. Propostas durante a campanha devem modificar os ânimos no mercado financeiro e impactar na economia real
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A pauta econômica será a balança nesta campanha eleitoral. Fragilizado pelo alto nível de desemprego, carestia de preços e perda do poder de compra, o eleitor deve votar buscando soluções para o seu bolso. Bem por isso os pré-candidatos estão na fase de afinar os discursos para trazer propostas. E eles devem fazer isso com cuidado, avaliam especialistas ouvidos pelo O POVO.

Para o doutor em Administração Pública e Governo, cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EASESP), Eduardo Grin, existem temas relevantes que não devem ficar de fora das discussões e em eventual governo eleito teremos mudanças em algumas áreas importantes.

O professor entende que alguns candidatos podem encontrar mais dificuldades para expressar seus planos do que outros, além do fato de que o atual governo deve ser questionado pelas suas faltas. "Aquele que conseguir passar uma imagem, discurso ou narrativa que mais dialoga com as demandas da população - que hoje está muito ligada ao combate da pobreza e do desemprego - é quem vai conseguir ser eleito."

Porém, ainda não é possível tirar maiores conclusões com base nas pesquisas recentes. Isso porque no Levantamento Genial/Quaest "No que se refere às dificuldades, a pesquisa da Genial/Quaest, divulgada na última semana, 14/2, mostrou com quais sentimentos os entrevistados avaliam o governo de Jair Bolsonaro (PL). O mais citado é o de "decepção", com 36%, depois vem "vergonha" (30%) e "esperança" (28%). O governo Bolsonaro é sinônimo de "vergonha" para os eleitores de Lula, de "decepção" para eleitores do Moro e do Doria, e sinônimo de "otimismo" e esperança para os eleitores de Bolsonaro, explicou Felipe Nunes, cientista político e diretor da Quaest." , de intenção de votos para presidente, em que as respostas são espontâneas - sem apresentação dos candidatos, a proporção de pessoas indecisas em quem votar (48%) é quase o dobro (no limite da margem de erro de dois pontos percentuais) das afirmativas para o pré-candidato mais bem colocado (Lula com 28%).

Eduardo analisa que ainda é precoce para afirmar como se desenrolará a campanha, mas, comparado a 2018, os discursos antipetista e de combate à corrupção devem ter menor espaço comparado às pautas econômicas. Outro ponto importante é que os candidatos talvez nem tenham a condição de debater a fundo suas propostas para a área por conta do acirramento ligado às trocas de ataques e desinformação.

Por isso, os pré-candidatos se movimentam desde já. O que também há muito nesta pré-campanha são as críticas de opositores ao atual governo, aproveitando para se posicionar sobre temas da hora.

Sergio Moro (Podemos), por exemplo, criticou o atual presidente por adotar práticas de política fisiológica por meio de medidas como o orçamento secreto. Já afirmou que quer discutir o teto de gastos, mas a sua ideia é restaurá-lo. Moro ainda afirmou que Bolsonaro "passou 2021 inteiro" tentando um golpe de estado, o que abalou a economia do País.

O teto de gastos será uma pauta dissonante entre os candidatos. Ciro Gomes (PDT) pretende extinguir o congelamento do limite de investimentos superiores à inflação.

Na sua visão, essa medida é "ficção fraudulenta", pois em 2022 se discute o R$ 1,8 trilhão do orçamento destinado a investimentos públicos de um orçamento anual de R$ 4,8 trilhão. O ex-ministro defende ainda a taxação de grandes fortunas e diminuição das abdicações fiscais do governo. As reformas gerariam caixa para investimentos públicos.

O nível de desemprego no Brasil atingiu o pico de mais de 14 milhões de desempregados durante 2021.
Foto: Aurelio Alves
O nível de desemprego no Brasil atingiu o pico de mais de 14 milhões de desempregados durante 2021.

Lula (PT) é outro possível candidato que propõe mudanças estruturais, destaque para a contrarreforma trabalhista. O ex-presidente falou que pretende revogar o texto, pois ele não gerou os empregos prometidos. Mas depois sinalizou que algumas das modernizações da lei da era Temer devem ficar.

Para o pré-candidato pelo PSDB, João Doria, o tema geração de emprego deve ser uma prioridade. Ele enfatizou que terá postura liberal na economia, também priorizando a distribuição de renda, com planos para o Nordeste de gerar polos de desenvolvimento em tecnologia e inovação, além do potencial no turismo, empreendedorismo e produção de energia limpa.

Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e presidente da Academia Cearense de Economia (ACE), diz que a questão mais dramática para a economia brasileira desde antes da pandemia é o elevado índice de desemprego.

Ele entende que reduzir desemprego é uma tarefa que vai além de modificar a reforma trabalhista, mas envolve muitos eixos, como política fiscal, monetária, cambial, além das cadeias produtivas e pequenos negócios.

“É preciso uma coordenação de uma política econômica muito maior do que o Brasil sempre teve", diz Lauro. Outra questão que deve ser prioridade é uma profunda reforma tributária, de forma a simplificar o “manicômio tributário” brasileiro, complementa.

O governo Bolsonaro lançou mão da PEC dos Precatórios para gerar espaço no orçamento para investimentos em 2022. Uma das finalidades era aumentar o valor do Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família) para R$ 400 até dezembro.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
O governo Bolsonaro lançou mão da PEC dos Precatórios para gerar espaço no orçamento para investimentos em 2022. Uma das finalidades era aumentar o valor do Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família) para R$ 400 até dezembro.

O professor da Unifor e ainda membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Eleutério, destaca que as iniciativas dos pré-candidatos devem ter como finalidade o crescimento econômico, pois o Brasil precisa urgentemente crescer, pontua.

"O País precisa de projeto, pois faz uma década que não cresce. Se somarmos o PIB de 2014 a 2020, temos um derretimento de quase 7%, e, mesmo com o crescimento previsto de 4,5% para 2021, teremos uma forte retração no período."

De olho na reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve destacar alguns feitos de seu governo, especialmente os mais recentes que atingem a camada mais pobre da população. Algumas dessas medidas são claras reformulações de projetos, como o caso do Auxílio Brasil a R$ 400 e o Vale Gás.

Outros pontos estão relacionados ao trabalho em torno da tramitação da reforma tributária, que o governo espera que ande em 2022, apesar da campanha, e da regulamentação da renegociação de dívidas do Fies.

 

 

Os produtos que ficaram mais caros no Brasil | Dei Valor

 

 

Ano eleitoral: volatilidades e retomada econômica para 2023

A perspectiva de que a campanha eleitoral será acirrada e polarizada já faz com que os entes de mercado prevejam meses de grande instabilidade na economia. Tanto que essa volatilidade pode adiar investimentos e adiar a retomada econômica para 2023.
O efeito sobre a economia real também é estimado, pois a instabilidade sobre a cotação do dólar, por exemplo, gera uma onda de altas relacionadas aos insumos e produtos importados.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, enfatiza que o atual momento de inflação e juros em alta ainda é resquício dos efeitos da pandemia, mas que devem ser cenários que devem perdurar durante 2022, indo de encontro às perspectivas iniciais de que seriam transitórias.
Ele ainda diz que as perspectivas de PIB são ruins e que o Brasil "faz questão de somar erros que minam seu desenvolvimento".


"O ano da retomada, se vier, será em 2024, quando o Brasil tiver em uma rota certa de desenvolvimento e vai depender desse ciclo eleitoral de 2022. As decisões de investimentos são sistematicamente postergadas, pois temos duas agendas bem diferentes que são antagônicas em disputa", destaca.

Para o economista e membro do Corecon-CE, Ricardo Coimbra, a dificuldade de crescimento de uma terceira via e a polarização entre dois candidatos também pode gerar um efeito menos danoso do ponto de vista das perspectivas do mercado, que já poderia analisar o que esperar de um terceiro governo Lula ou reeleição de Bolsonaro.

Mas existem riscos. Ricardo entende que, caso o presidente se veja pressionado com o risco de perder a eleição, poderia se utilizar de iniciativas de “vale-tudo” que podem colocar em risco ainda maior as contas públicas. "Isso poderia ocorrer se quem está no Governo começasse a buscar fórmulas de aumento do endividamento para buscar reeleição, gerando instabilidade no câmbio, inflação e contas públicas".

 

 

>> Bate-pronto

Silvana Parente: O que esperar e cobrar de ações para o Nordeste nesta campanha

Silvana Parente é a nova presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará para o ano de 2022.(Foto: Corecon / Divulgação)
Foto: Corecon / Divulgação Silvana Parente é a nova presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará para o ano de 2022.

O POVO - De que forma a senhora analisa a necessidade de projetos para o Nordeste e como vê os indicativos dos pretensos candidatos sobre os planos para a Região?

Silvana Parente - Em primeiro lugar, um projeto de desenvolvimento para o Nordeste deve ser visto como um projeto nacional, de vanguarda. Não temos desenvolvimento nacional sem um amplo projeto que envolva o Nordeste. Para tanto, será necessária toda uma política de reconstrução industrial, de investimento em infraestrutura, logística, energia - sobretudo energias renováveis -, segurança hídrica. E, do ponto de vista da economia, uma política industrial focada na competitividade, mas com olhar especial para inclusão, vendo as micro e pequenas empresas, nas cadeias, inclusão produtiva de uma massa de pequenos negócios e trabalhadores. Para isso, é preciso também investimentos maciços em educação, ciência e tecnologia e inovação. Tudo isso numa perspectiva de sustentabilidade e proteção social, que não seja assistencialista, mas que venha proteger o trabalhador e as pessoas que precisam, numa estratégia de transição.

OP - Tendo em vista o atual cenário, podemos considerar que o potencial de desenvolvimento do Nordeste ficou aquém nos últimos anos e quais os principais desafios para a Região?

Silvana - É fato e notório, nos últimos anos, que o potencial de desenvolvimento do Nordeste ficou muito aquém, sim. E, muitas das políticas voltadas para estruturação de segmentos importantes, como agricultura familiar, as economias locais e infraestruturas necessárias, foram reduzidas por causa do ajuste fiscal, além, claro, da falta de políticas específicas para a Região. Então, num momento eleitoral, todos os candidatos ficam de olho nos votos que o Nordeste tem. Isso nos preocupa, pois, em geral, em momentos de campanha, as propostas políticas se voltam ao cunho assistencialista e clientelista que é preciso interromper. Como exemplo temos os discursos em torno do Auxílio Brasil, Vale Gás, para promessas de microcrédito e geração de empregos que não se cumprem. Um coisa é ter projetos de fato e as institucionalidades executoras e, para isso, é preciso uma maturidade política, nova relação entre o estado e o ente privado e a sociedade, como também uma colaboração interfederativa, como é o caso do Consórcio Nordeste, gerando um melhor diálogo entre a União, estados e municípios, propondo soluções inovadoras, como fundos locais de desenvolvimento, de forma a fazer chegar o recurso na base, estruturar sistemas financeiros de base territorial, já que o sistema financeiro é concentrado e não chega na base da pirâmide empresarial.

OP - De que forma o Nordeste pode ser decisivo nesse pleito presidencial e que pautas principais devem ser o foco para a Região?

Silvana - Uma forma de juntar os interesses eleitorais, para estratégias certas para o desenvolvimento da Região, acho que o centro do eixo deve ser a geração de trabalho e renda. Esse é um eixo que poderia desencadear outros do planejamento regional, considerando a grande quantidade de pobres, desempregados e desalentados que tem hoje a Região.

*Presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE)

 

 

O que os líderes cearenses pensam do quadro eleitoral

O jornalista do O POVO Nazareno Albuquerque trouxe em sua coluna no OP+ as análises que líderes setoriais fazer das eleições para o Governo do Ceará. Veja um resumo:

Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, vê o desenvolvimento do Estado a partir de uma sólida política industrial(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, vê o desenvolvimento do Estado a partir de uma sólida política industrial

Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec): Enxerga o desenvolvimento do Estado a partir de uma sólida política industrial. Para isso, alguns pilares são importantes para atingirmos o desenvolvimento esperado pela indústria, com "ganhos de competitividade e transformação digital em setores tradicionais como a construção civil, mineração, metalmecânica, têxtil e confecções".

Mas o Ceará precisa consolidar indústrias inovadoras para dar o salto qualitativo em seu produto interno bruto, no que "ainda estamos com os motores entupidos", citando como soluções o hidrogênio verde, energias renováveis e economia da saúde. Mas desenhou: "sem um avançado ambiente de inovação com absoluta integração entre os setores público e privado, não atingiremos esse objetivo."

Honório Pinheiro(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Honório Pinheiro

Honório Pinheiro, empresário e ex-presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL): Em primeiro lugar, deve ser um líder com experiência na área pública, com capacidade de articulação com o legislativo, até mesmo com os seus opositores, retrata o CEO do Pinheiro Supermercados.

Honório recorre à nossa vocação econômica como eixo de planejamento do que seria o próximo governo, enfatizando a necessidade de fortes investimentos e incentivos ao comércio, serviços e turismo, citando como exemplo a atração de grandes centrais de distribuição e comércio eletrônico.

Pereira é também o secretario de Turismo na gestão do prefeito José Sarto (Foto - BARBARA MOURA/ O POVO) (Foto: BARBARA MOIRA)
Foto: BARBARA MOIRA Pereira é também o secretario de Turismo na gestão do prefeito José Sarto (Foto - BARBARA MOURA/ O POVO)

Alexandre Pereira, empresário do setor de hotéis, secretário do Turismo de Fortaleza e presidente do Cidadania: Sua análise começa reconhecendo o "modelo de sucesso que o Ceará vive há 30 anos". Desenvolvimento econômico, equilíbrio fiscal e foco na Educação, são hoje referências no Brasil, lembrando os investimentos públicos que mudaram a imagem nacional do nosso Estado.

Em seguida propõe: "além de dar continuidade aos êxitos até aqui contabilizados, entendemos que o principal desafio para a próxima liderança a assumir o governo do Ceará é, para além da excelência na gestão, ter a habilidade para a interlocução, em tempos tão difíceis e cheios de polarização" (cita o senador Cid Gomes como exemplo de líder e articulador político).

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