A pauta econômica será a balança nesta campanha eleitoral. Fragilizado pelo alto nível de desemprego, carestia de preços e perda do poder de compra, o eleitor deve votar buscando soluções para o seu bolso. Bem por isso os pré-candidatos estão na fase de afinar os discursos para trazer propostas. E eles devem fazer isso com cuidado, avaliam especialistas ouvidos pelo O POVO.
Para o doutor em Administração Pública e Governo, cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EASESP), Eduardo Grin, existem temas relevantes que não devem ficar de fora das discussões e em eventual governo eleito teremos mudanças em algumas áreas importantes.
O professor entende que alguns candidatos podem encontrar mais dificuldades para expressar seus planos do que outros, além do fato de que o atual governo deve ser questionado pelas suas faltas. "Aquele que conseguir passar uma imagem, discurso ou narrativa que mais dialoga com as demandas da população - que hoje está muito ligada ao combate da pobreza e do desemprego - é quem vai conseguir ser eleito."
Porém, ainda não é possível tirar maiores conclusões com base nas pesquisas recentes. Isso porque no
Eduardo analisa que ainda é precoce para afirmar como se desenrolará a campanha, mas, comparado a 2018, os discursos antipetista e de combate à corrupção devem ter menor espaço comparado às pautas econômicas. Outro ponto importante é que os candidatos talvez nem tenham a condição de debater a fundo suas propostas para a área por conta do acirramento ligado às trocas de ataques e desinformação.
Por isso, os pré-candidatos se movimentam desde já. O que também há muito nesta pré-campanha são as críticas de opositores ao atual governo, aproveitando para se posicionar sobre temas da hora.
Sergio Moro (Podemos), por exemplo, criticou o atual presidente por adotar práticas de política fisiológica por meio de medidas como o orçamento secreto. Já afirmou que quer discutir o teto de gastos, mas a sua ideia é restaurá-lo. Moro ainda afirmou que Bolsonaro "passou 2021 inteiro" tentando um golpe de estado, o que abalou a economia do País.
O teto de gastos será uma pauta dissonante entre os candidatos. Ciro Gomes (PDT) pretende extinguir o congelamento do limite de investimentos superiores à inflação.
Na sua visão, essa medida é "ficção fraudulenta", pois em 2022 se discute o R$ 1,8 trilhão do orçamento destinado a investimentos públicos de um orçamento anual de R$ 4,8 trilhão. O ex-ministro defende ainda a taxação de grandes fortunas e diminuição das abdicações fiscais do governo. As reformas gerariam caixa para investimentos públicos.
Lula (PT) é outro possível candidato que propõe mudanças estruturais, destaque para a contrarreforma trabalhista. O ex-presidente falou que pretende revogar o texto, pois ele não gerou os empregos prometidos. Mas depois sinalizou que algumas das modernizações da lei da era Temer devem ficar.
Para o pré-candidato pelo PSDB, João Doria, o tema geração de emprego deve ser uma prioridade. Ele enfatizou que terá postura liberal na economia, também priorizando a distribuição de renda, com planos para o Nordeste de gerar polos de desenvolvimento em tecnologia e inovação, além do potencial no turismo, empreendedorismo e produção de energia limpa.
Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e presidente da Academia Cearense de Economia (ACE), diz que a questão mais dramática para a economia brasileira desde antes da pandemia é o elevado índice de desemprego.
Ele entende que reduzir desemprego é uma tarefa que vai além de modificar a reforma trabalhista, mas envolve muitos eixos, como política fiscal, monetária, cambial, além das cadeias produtivas e pequenos negócios.
“É preciso uma coordenação de uma política econômica muito maior do que o Brasil sempre teve", diz Lauro. Outra questão que deve ser prioridade é uma profunda reforma tributária, de forma a simplificar o “manicômio tributário” brasileiro, complementa.
O professor da Unifor e ainda membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Eleutério, destaca que as iniciativas dos pré-candidatos devem ter como finalidade o crescimento econômico, pois o Brasil precisa urgentemente crescer, pontua.
"O País precisa de projeto, pois faz uma década que não cresce. Se somarmos o PIB de 2014 a 2020, temos um derretimento de quase 7%, e, mesmo com o crescimento previsto de 4,5% para 2021, teremos uma forte retração no período."
De olho na reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) deve destacar alguns feitos de seu governo, especialmente os mais recentes que atingem a camada mais pobre da população. Algumas dessas medidas são claras reformulações de projetos, como o caso do Auxílio Brasil a R$ 400 e o Vale Gás.
Outros pontos estão relacionados ao trabalho em torno da tramitação da reforma tributária, que o governo espera que ande em 2022, apesar da campanha, e da regulamentação da renegociação de dívidas do Fies.
O POVO - De que forma a senhora analisa a necessidade de projetos para o Nordeste e como vê os indicativos dos pretensos candidatos sobre os planos para a Região?
Silvana Parente - Em primeiro lugar, um projeto de desenvolvimento para o Nordeste deve ser visto como um projeto nacional, de vanguarda. Não temos desenvolvimento nacional sem um amplo projeto que envolva o Nordeste. Para tanto, será necessária toda uma política de reconstrução industrial, de investimento em infraestrutura, logística, energia - sobretudo energias renováveis -, segurança hídrica. E, do ponto de vista da economia, uma política industrial focada na competitividade, mas com olhar especial para inclusão, vendo as micro e pequenas empresas, nas cadeias, inclusão produtiva de uma massa de pequenos negócios e trabalhadores. Para isso, é preciso também investimentos maciços em educação, ciência e tecnologia e inovação. Tudo isso numa perspectiva de sustentabilidade e proteção social, que não seja assistencialista, mas que venha proteger o trabalhador e as pessoas que precisam, numa estratégia de transição.
OP - Tendo em vista o atual cenário, podemos considerar que o potencial de desenvolvimento do Nordeste ficou aquém nos últimos anos e quais os principais desafios para a Região?
Silvana - É fato e notório, nos últimos anos, que o potencial de desenvolvimento do Nordeste ficou muito aquém, sim. E, muitas das políticas voltadas para estruturação de segmentos importantes, como agricultura familiar, as economias locais e infraestruturas necessárias, foram reduzidas por causa do ajuste fiscal, além, claro, da falta de políticas específicas para a Região. Então, num momento eleitoral, todos os candidatos ficam de olho nos votos que o Nordeste tem. Isso nos preocupa, pois, em geral, em momentos de campanha, as propostas políticas se voltam ao cunho assistencialista e clientelista que é preciso interromper. Como exemplo temos os discursos em torno do Auxílio Brasil, Vale Gás, para promessas de microcrédito e geração de empregos que não se cumprem. Um coisa é ter projetos de fato e as institucionalidades executoras e, para isso, é preciso uma maturidade política, nova relação entre o estado e o ente privado e a sociedade, como também uma colaboração interfederativa, como é o caso do Consórcio Nordeste, gerando um melhor diálogo entre a União, estados e municípios, propondo soluções inovadoras, como fundos locais de desenvolvimento, de forma a fazer chegar o recurso na base, estruturar sistemas financeiros de base territorial, já que o sistema financeiro é concentrado e não chega na base da pirâmide empresarial.
OP - De que forma o Nordeste pode ser decisivo nesse pleito presidencial e que pautas principais devem ser o foco para a Região?
Silvana - Uma forma de juntar os interesses eleitorais, para estratégias certas para o desenvolvimento da Região, acho que o centro do eixo deve ser a geração de trabalho e renda. Esse é um eixo que poderia desencadear outros do planejamento regional, considerando a grande quantidade de pobres, desempregados e desalentados que tem hoje a Região.
*Presidente do Conselho Regional de Economia no Ceará (Corecon-CE)
O jornalista do O POVO Nazareno Albuquerque trouxe em sua coluna no OP+ as análises que líderes setoriais fazer das eleições para o Governo do Ceará. Veja um resumo:
Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec): Enxerga o desenvolvimento do Estado a partir de uma sólida política industrial. Para isso, alguns pilares são importantes para atingirmos o desenvolvimento esperado pela indústria, com "ganhos de competitividade e transformação digital em setores tradicionais como a construção civil, mineração, metalmecânica, têxtil e confecções".
Mas o Ceará precisa consolidar indústrias inovadoras para dar o salto qualitativo em seu produto interno bruto, no que "ainda estamos com os motores entupidos", citando como soluções o hidrogênio verde, energias renováveis e economia da saúde. Mas desenhou: "sem um avançado ambiente de inovação com absoluta integração entre os setores público e privado, não atingiremos esse objetivo."
Honório Pinheiro, empresário e ex-presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL): Em primeiro lugar, deve ser um líder com experiência na área pública, com capacidade de articulação com o legislativo, até mesmo com os seus opositores, retrata o CEO do Pinheiro Supermercados.
Honório recorre à nossa vocação econômica como eixo de planejamento do que seria o próximo governo, enfatizando a necessidade de fortes investimentos e incentivos ao comércio, serviços e turismo, citando como exemplo a atração de grandes centrais de distribuição e comércio eletrônico.
Alexandre Pereira, empresário do setor de hotéis, secretário do Turismo de Fortaleza e presidente do Cidadania: Sua análise começa reconhecendo o "modelo de sucesso que o Ceará vive há 30 anos". Desenvolvimento econômico, equilíbrio fiscal e foco na Educação, são hoje referências no Brasil, lembrando os investimentos públicos que mudaram a imagem nacional do nosso Estado.
Em seguida propõe: "além de dar continuidade aos êxitos até aqui contabilizados, entendemos que o principal desafio para a próxima liderança a assumir o governo do Ceará é, para além da excelência na gestão, ter a habilidade para a interlocução, em tempos tão difíceis e cheios de polarização" (cita o senador Cid Gomes como exemplo de líder e articulador político).