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Dança das cadeiras partidária mexe com quadro político no Ceará
Reportagem Especial

Dança das cadeiras partidária mexe com quadro político no Ceará

Movimentação se intensifica nos dias que antecedem o período da janela partidária, que vai de 3 de março até 2 de abril. Nele, parlamentares podem mudar de legenda sem risco de perder o mandato. No Ceará, migrações podem alterar o quadro político

Dança das cadeiras partidária mexe com quadro político no Ceará

Movimentação se intensifica nos dias que antecedem o período da janela partidária, que vai de 3 de março até 2 de abril. Nele, parlamentares podem mudar de legenda sem risco de perder o mandato. No Ceará, migrações podem alterar o quadro político
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Na próxima semana, terá início uma gincana partidária cujo desfecho pode alterar significativamente o quadro político no Ceará e influir sobre a disputa eleitoral no estado. Conhecido como janela, o intervalo que vai de 3 de março a 1º de abril deve consagrar alguns movimentos tanto na oposição quanto na situação que são determinantes para a corrida local.

Em ano de disputa pela sucessão do governador Camilo Santana (PT), que deve concorrer ao Senado, o campo oposicionista tenta se agrupar em torno de um partido mais robusto, que, a depender ainda de articulações em Brasília, tende a ser o União Brasil (UB).

Megalegenda fruto da fusão entre PSL e DEM, o UB pode receber quase toda a representação parlamentar do PSDB no Ceará, tornando-se o grande polo aglutinador do bloco que tenta defenestrar a aliança governista do poder.

Em conversa com O POVO, deputados estaduais confirmaram que aguardam apenas o desenrolar das tratativas em torno do comando do partido para selar o destino. Um deles é Danilo Forte, deputado federal tucano que assumiu mandato com a renúncia do hoje prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, outro nome que deve migrar para o União Brasil.

Bancadas do Senado Federal(Foto: Jane de Araújo/Agência Senado)
Foto: Jane de Araújo/Agência Senado Bancadas do Senado Federal

“Eu já me separei duas vezes na minha vida e nunca falei de uma ex. Eu não posso falar agora”, despista Forte. O deputado admite, porém, que o caminho para o UB é “o que está mais avançado e bem encaminhado”. E assegura: “A decisão já está tomada por todo o grupo da oposição no Ceará”.

Fernanda Pessoa, deputada estadual social-democrata e filha de Roberto Pessoa, deve seguir o mesmo traçado e firmar novo endereço no UB. A parlamentar, contudo, evita cravar qualquer afirmação antes de os dirigentes da legenda baterem o martelo — leia-se, Luciano Bivar e ACM Neto, que ainda debatem sobre a formação dos diretórios estaduais da agremiação e têm, ao final, a palavra final.

“Vamos aguardar uma definição nacional”, disse a tucana à reportagem.

Além da deputada, de Forte e de Pessoa, estão com as malas prontas para o partido os deputados federais Vaidon Oliveira e Capitão Wagner, ambos do Pros. Antes sondando o UB, o estadual tucano Nelinho Freitas acabou anunciando filiação ao MDB do ex-senador Eunício Oliveira

Wagner, porém, não pretende ser mero filiado. Pré-candidato ao Governo do Estado e principal articulador da oposição no estado, o deputado tenta arrebatar o União Brasil e garantir a presidência estadual da legenda. 

Vital para os planos do principal pré-candidato da oposição ao governo, o UB reúne musculatura para projetar a campanha de Wagner na briga contra a coalização PT/PDT. Ao O POVO, o parlamentar já declarou que tem trabalhado na composição do diretório local da sigla.

Pelas redes sociais, chegou a publicar a reprodução da ficha de filiação ao UB e escreveu: “Um momento novo, um desafio enorme: unir para na festa da democracia apresentar as ferramentas capazes de gerar oportunidades, alcançar uma saúde eficaz, resgatar nossos jovens. Venha nos ajudar a construir um Ceará sem medo”.

Deputado Capitão Wagner(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Deputado Capitão Wagner

Questionado se a ficha indicava a filiação à nova legenda, o deputado respondeu: “Sim”.

Oficialmente, no entanto, o União Brasil ainda não decidiu sobre quem de fato vai liderar o partido no Ceará. Além de Wagner, o senador em exercício Chiquinho Feitosa (DEM) pleiteia a função.

Próximo do Palácio da Abolição, Feitosa ocupa o mandato durante licença de Tasso Jereissati (PSDB), que vem fazendo movimento de aproximação ao grupo de Camilo, de Cid Gomes e de Ciro.

Wagner, todavia, está confiante quanto ao ingresso no União Brasil. “Acredito que nos próximos dias será nomeada a comissão provisória até que nós, que temos mandato, possamos migrar”, respondeu.

Caso tenha sucesso no movimento, pavimentando a estrada para o União Brasil na oposição, o deputado chegará reunindo mais apoio do que em pleitos anteriores, nos quais teve dificuldades para costurar adesões a sua candidatura.

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PT quer dobrar número de deputados na Assembleia Legislativa na janela partidária

Mesmo sem previsão de entrar na disputa com um nome próprio da legenda concorrendo ao Governo do Estado, o PT pretende dobrar o número de representantes da sigla na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) nas eleições de 2022.

Vice-presidente nacional do partido e deputado federal, José Guimarães projetou aumento da bancada de quatro parlamentares para até oito, caso se confirmem migrações durante o período da janela partidária (3/3 a 1º/4).

“Acho que vão entrar uns quatro deputados, não dá para dizer ainda. Queremos eleger o máximo possível. Vamos ampliar a bancada do Ceará e a federal”, afirmou Guimarães.

Entre os nomes cuja filiação é quase certa no próximo mês, estão o deputado estadual Júlio César Filho (Cidadania), líder do governo de Camilo Santana na AL-CE, e a deputada Augusta Brito, hoje no PCdoB e também da base governista.

Júlio César Filho pode ir para o PT a convite de Camilo Santana(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Júlio César Filho pode ir para o PT a convite de Camilo Santana

Para Guimarães, o “PT tem uma diretriz clara”, de fortalecimento das bancadas e de expansão no número de prefeituras, da qual faz parte o movimento de filiação de novos prefeitos. “A vinda dos prefeitos e deputados é para consolidar o PT e o governo Camilo. Hoje o partido tem 28 prefeitos, já com os novos filiados”, enumerou o deputado.

Presidente da legenda no Ceará, Antonio Filho, o Conin, confirmou a tendência de filiação de ao menos dois nomes: Júlio César e Augusta Brito, mas admitiu que a representação no Legislativo pode chegar a seis deputados.

“Falei com eles, está mais pra mais do que pra menos. Não querem antecipar o anúncio, mas está bem adiantado”, declarou o petista, segundo quem a sigla faz outras investidas.

“Existem outros movimentos, de deputados estaduais que podem vir para o PT e disputar para federal. E aí iria para mais de seis”, calculou, ponderando: “O mesmo deputado está conversando com vários partidos”.

Embora não tenha citado diretamente o líder do governo na AL-CE, o deputado estadual manteve agenda com o senador Tasso Jereissati (PSDB) no último dia 16 de fevereiro, a despeito das negociações com o PT.

“Foi um encontro produtivo e uma oportunidade de conversarmos sobre a atual conjuntura no país e, principalmente, no nosso estado”, avaliou Júlio César, em nota distribuída pela assessoria. “Esse é o momento de dialogar e aprender com a vasta experiência do senador Tasso e assim construirmos uma análise apurada do cenário eleitoral de 2022.”

Questionado pela reportagem sobre o andamento das conversas com o partido do governador Camilo, o parlamentar respondeu que segue “focado na liderança do governo na Assembleia Legislativa” e que “houve o convite de dirigentes do PT, porém continuo filiado ao Cidadania”.

“A decisão sobre possíveis mudanças de partido”, concluiu o deputado, “será tomada somente no momento em que o calendário permitir, com a chegada das janelas partidárias”.

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Janela partidária começa na semana que vem; entenda

Instituída no período que vai de 3 de março a 1º de abril, a janela partidária é um mecanismo que assegura a migração partidária sem risco de perda de mandato para parlamentares cujo exercício legislativo esteja se encerrando.

Neste ano, por exemplo, a janela contempla deputados estaduais e federais. A regra foi incluída a partir da reforma eleitoral de 2015, por meio da lei nº 13.165/2015.

À exceção do intervalo previsto na janela, parlamentares só podem mudar de legenda em circunstâncias específicas previstas na legislação, como no caso de “criação de uma sigla, fim ou fusão do partido, desvio do programa partidário ou grave discriminação pessoal”, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quaisquer migrações que não estejam contempladas nessas situações podem acarretar perda de mandato para o parlamentar, uma vez que a Justiça Eleitoral entende que o partido é detentor do mandato, e não o político eleito.

Em 2022, com o fim das coligações proporcionais, candidatos a deputado, estadual ou federal, fazem seus cálculos antes de decidirem para qual legenda devem se mudar. Eles levam em consideração as chances individuais, mas também o desenho da chapa e o perfil dos potenciais companheiros ou companheiras.

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Hoje no PDT, Zezinho não descarta candidatura pelo PP

Ex-secretário de Cidades do governo Camilo, o deputado estadual Zezinho Albuquerque (PDT) não descarta concorrer ao Abolição, mas pelo PP. Presidente do partido no Ceará e filho de Zezinho, o deputado federal AJ Albuquerque já sugeriu que o pai pode postular o Executivo estadual pela sigla.

Ao O POVO, AJ confirmou disposição do ex-secretário para entrar na corrida eleitoral. Hoje, estão no páreo interno do PDT o ex-secretário Mauro Filho, o ex-prefeito Roberto Cláudio, a vice-governadora Izolda Cela e o presidente da Assembleia Legislativa Evandro Leitão.

Zezinho Albuquerque comandou poderosa máquina de obras nas Cidades(Foto: EVILÁZIO BEZERRA, em 13/12/2018)
Foto: EVILÁZIO BEZERRA, em 13/12/2018 Zezinho Albuquerque comandou poderosa máquina de obras nas Cidades

Zezinho corre por fora. Dentro do partido, no entanto, sua saída e migração para o PP é dada como quase certa, ainda que o deputado não tenha se manifestado expressamente sobre o assunto até agora.

Entre pedetistas, dois nomes até aqui têm reunido mais condições de encabeçar a chapa governista: Evandro Leitão, pela relação com os prefeitos a partir dos deputados estaduais, e a própria Izolda, caso venha a assumir o governo após Camilo sair para concorrer a vaga no Senado.

 

 

Tucano minimiza risco de debandada dentro do PSDB durante a janela

Presidente estadual do PSDB, o ex-senador Luiz Pontes minimiza possível saída de correligionários da legenda e afirma que o processo de discussão sobre o cenário eleitoral no Ceará ainda está se desenrolando.

“Eles (deputados que podem deixar a sigla) me disseram o seguinte: se não houvesse viabilidade no partido, iriam procurar outro. A gente apoiou o Sarto, eles não apoiaram. É um outro processo a sucessão estadual”, argumenta Pontes.

Ainda de acordo com o tucano, o PSDB tem compromisso político com o prefeito José Sarto (PDT), mas o debate sobre os rumos da legenda na sucessão de Camilo Santana (PT) segue aberto, podendo resultar tanto no apoio a um nome do governo quanto no lançamento de um candidato próprio.

“O Sarto está fazendo um bom trabalho; a questão estadual nós vamos discutir”, indica. “Pode acontecer aliança? Pode. Podemos ter um candidato, não como o general (Theóphilo, postulante em 2018), que foi um fracasso. Mas podemos ter um nome do PSDB. O Cabeto, por exemplo. Mas se o melhor caminho for aliança, vamos fazer.”

Dentro do PSDB, o grupo ligado ao deputado federal Capitão Wagner (Pros), pré-candidato ao Governo, já sinalizou que deve deixar a legenda durante a janela partidária.

Há indefinição apenas quanto ao destino: se o União Brasil, na hipótese de Wagner assumir a presidência da agremiação no estado, ou o Pros, caso o UB se mantenha com Chiquinho Feitosa, dirigente do DEM.

Composto por deputados estaduais (Fernanda Pessoa e Nelinho Freitas) e um federal (Danilo Forte), além do prefeito Roberto Pessoa, de Maracanaú, o bloco tucano de oposição a Camilo se alinhou a Wagner desde pelo menos 2020, quando o deputado disputou a Prefeitura de Fortaleza sem o apoio formal do PSDB.

De lá para cá, Tasso Jereissati e Wagner, antes aliados, afastaram-se, a ponto de o tucano já ter se referido ao deputado federal, em entrevista às Páginas Azuis do O POVO, como um risco de retrocesso para o Ceará, por seu vínculo com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

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