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"Estamos à beira de nos tornarmos cidadãos cósmicos", diz Romário Fernandes
Reportagem Seriada

"Estamos à beira de nos tornarmos cidadãos cósmicos", diz Romário Fernandes

Especialista em Astronomia, o jornalista Romário Fernandes comentou que o futuro da humanidade está voltado para cima, no espaço. Dono do canal no YouTube AstronomicaMENTE, ele participou do UP Gamer+, onde conversou sobre o cenário astronômico do Brasil
Episódio 5

"Estamos à beira de nos tornarmos cidadãos cósmicos", diz Romário Fernandes

Especialista em Astronomia, o jornalista Romário Fernandes comentou que o futuro da humanidade está voltado para cima, no espaço. Dono do canal no YouTube AstronomicaMENTE, ele participou do UP Gamer+, onde conversou sobre o cenário astronômico do Brasil
Episódio 5
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Olhar para cima e questionar aquilo que estava para além do nosso planeta sempre foi uma veia muito forte do jornalista, matemático e astrônomo Romário Fernandes. Convidado do UP Gamer+, ele compartilhou opiniões a respeito do ensino e do desenvolvimento da astronomia no Brasil. Professor do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros e dono do canal no YouTube AstronomicaMENTE, comentou ainda que o futuro da humanidade está voltado para o cosmos.

“Estamos à beira de nos tornarmos cidadãos cósmicos”, afirmou ele sobre o movimento feito, em diferentes países, de explorar e viajar para o espaço. Atuante na produção de conteúdos astronômicos na internet, Romário também é colunista do OP+, onde traz novidades do cenário espacial e como cearenses têm se inserido nas discussões. Ele compartilhou conhecimentos durante partidas, nem tão disputadas assim, de Stumble Guys.

 

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OP - Quando você olhou para cima e pensou: “Eu posso entender mais sobre aquilo que vemos no céu”?

Romário Fernandes - Conversando um dia desses com a minha vó eu descobri que, antes mesmo de ser capaz de lembrar, eu já fazia perguntas sobre o céu, as estrelas, e ninguém sabia responder. Meu pai gostava de astronomia, tinha telescópio e livros de astronomia, então desde pequeno eu tinha esse incentivo em casa. Acabou que eu tinha esse estímulo desde cedo, acho que isso contribuiu bastante.

Sempre fui apaixonado por ciências, em todas as áreas. Aí quando cheguei no ensino médio, reconheço que tive professores de Química e Física muito ruins, que me desestimularam, e acabei indo para as Ciências Humanas. Acabei virando jornalista, e só anos depois tive a oportunidade de morar em Minas Gerais, onde conheci o trabalho do educador mineiro Eurípedes Barsanulfo, que utilizava a astronomia de uma maneira muito focada, como uma ferramenta educacional. Foi quando resolvi fazer uma especialização no ensino da astronomia e atualmente faço o que faço.

OP - Por que um tema tão fascinante quanto a astronomia não está na grade escolar desde sempre?

Romário Fernandes - É uma oportunidade valiosa que se perde. Desde 2019 que comecei a levar aulas de astronomia para crianças, é um sucesso absoluto. Tem um apelo enorme, as crianças são apaixonadas, e é algo que facilita a compreensão de vários tópicos da Geografia, da Matemática… É um campo transdisciplinar, então quando a gente está trabalhando astronomia, a gente tem um diálogo intenso entre várias áreas.

Hoje em dia, as diretrizes curriculares nacionais até pinçam assuntos da astronomia e distribuem em várias áreas. A astronomia tem potencial de quebrar barreiras, intelectuais, emocionais, do pensamento mesmo, e faz as pessoas se permitirem. Eu acho que seria uma grande conquista se se tornasse mais disseminada na educação brasileira.

OP - Qual a real importância do ensino da astronomia, seja na infância ou na fase adulta?

Romário Fernandes - A astronomia tem uma importância histórica, porque nós nos tornamos capazes de medir a passagem do tempo olhando para o céu. Não tinha outra referência. A gente construiu nossa percepção temporal sobre o mundo a partir da observação do céu. Eu acho que quando a gente volta a olhar para o céu, ainda que hoje em dia tenha uma infinidade de recursos artificiais e tecnológicos para suprir as mesmas funções, acho que a gente se reconecta um pouco às nossas raízes, com a nossa própria história como seres humanos.

Por outro lado, estamos à beira de nos tornarmos, mais do que nunca, cidadãos cósmicos. Temos tecnologia hoje para de fato pensar em ocupar outros locais. Nos anos 1960, a gente chegou na Lua, mas não tinha a mais remota possibilidade de ocupá-la. Não tinha tecnologia para isso, não tinha recursos para manter uma base regular fora da Terra. Hoje a gente pode começar a planejar uma ocupação sistemática.

OP - Como o Brasil se inclui no desenvolvimento de pesquisas? Sabemos que temos vários brasileiros atuando em pesquisas, mas e o Brasil enquanto Estado?

Romário Fernandes - Lamentavelmente, não é uma prioridade. Nunca foi, e hoje em dia menos ainda, uma prioridade para o Brasil ter investimentos no campo da ciência, e em especial na astronomia. Mesmo quando Marcos Pontes esteve lá (em missão espacial, em 2006), quase que ele não ia. Atualmente o que a gente tem, e é algo a ser louvado, são vários pesquisadores brasileiros envolvidos em coisas relevantes.

Agora o Brasil, como nação, com o compromisso de desenvolver tecnologia de ponta para contribuir com esse cenário todo, não é muito promissor. Nunca foi essas coisas todas, para ser sincero, mas atualmente consegue ser ainda pior. Eu diria que a astronomia brasileira sobrevive da vontade, da garra e do talento dos astrônomos, dos profissionais e dos amadores.

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