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"Conservação se faz com gente": os bastidores do censo do periquito cara-suja
Reportagem Especial

"Conservação se faz com gente": os bastidores do censo do periquito cara-suja

O Censo do Periquito Cara-suja é um dos maiores eventos de ciência-cidadã do Nordeste. Acompanhe os bastidores do evento pelos olhos da estagiária do O POVO, Gabriele Félix, que participou do levantamento pela terceira vez como voluntária

"Conservação se faz com gente": os bastidores do censo do periquito cara-suja

O Censo do Periquito Cara-suja é um dos maiores eventos de ciência-cidadã do Nordeste. Acompanhe os bastidores do evento pelos olhos da estagiária do O POVO, Gabriele Félix, que participou do levantamento pela terceira vez como voluntária
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Entre os ecos rítmicos da floresta e as conversas distraídas com os proprietários dos sítios, moradores e voluntários se encontravam para dar início ao V Censo do Periquito Cara-suja.

Em princípio, contar passarinho pode parecer uma programação, no mínimo, curiosa para um final de semana. No entanto, a verdade é que a iniciativa tem um papel fundamental no monitoramento e desenvolvimento de ações de conservação destinadas à espécie de ave ameaçada de extinção Pyrrhura griseipectus, conhecida popularmente como periquito cara-suja, endêmica "Exclusiva de determinada região" do Nordeste do Brasil.

Refúgio de Vida Silvestre Periquito Cara Suja, em Guaramiranga, abriga população de periquitos cara-suja(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Refúgio de Vida Silvestre Periquito Cara Suja, em Guaramiranga, abriga população de periquitos cara-suja

O projeto Cara-Suja, promovido pela Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) desde 2007, estuda e desenvolve pesquisas para avaliar o status de conservação da espécie. Na época, a ave estava classificada como criticamente em perigo (CR) pela Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, com cerca de 100 indivíduos vivos.

Na época, o status era tão grave que motivou o então deputado Adahil Barreto a criar a Lei Nº 13.613/2005. Ela reforça o que já diz a Lei de Crimes Ambientais brasileira e proíbe a "utilização, perseguição, destruição, caça, apanha, coleta ou captura de exemplares da fauna criticamente ameaçada de extinção" do Ceará, entre eles o periquito cara-suja.

Além do tráfico de animais silvestres, a Aquasis identificou que o desmatamento das serras e a consequente derrubada de árvores altas estava impedindo os animais de se reproduzirem. Os periquitos cara-suja usam ocos de árvores altas para fazer ninhos. Sem árvores grandes o suficiente, a espécie fica mais vulnerável aos predadores.

No entanto, após a instalação de caixas-ninho, a população cresceu e, em um raro caso mundial, logrou reduzir a gravidade da classificação, indo para espécie em perigo (EN). O aumento populacional foi verificado em censos — neste ano, a quinta edição do censo do periquito cara-suja reuniu 230 voluntários na Serra de Baturité, entre os dias 15 e 18 de novembro.

A programação incluiu palestras, treinamentos especializados e sessões de observação de aves, proporcionando uma experiência rica e imersiva para o grupo de participantes da qual fiz parte.

Em minha terceira participação como voluntária do censo — a primeira sem figurar entre o quadro de organizadores, do tempo em que estudei Biologia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e fui estagiária da Aquasis —, a saga foi um pouco diferente da habitual. Dessa vez, precisei ajustar a rotina no trabalho no O POVO e na faculdade para dar conta de preparar a mala antes de embarcar na aventura anual.

Aliás, o censo é realizado durante o fim de semana justamente para viabilizar a presença dos participantes que, em sua maioria, não moram em localidades próximas à serra. O checklist foi feito. Binóculos. Perneiras. Guia de aves. E, claro, roupas e lençol quentinho para garantir o conforto térmico durante as noites que antecedem a contagem.

Assim como os demais voluntários, acordei cedo, ajustando os últimos detalhes antes da chegada da van que nos levaria até o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Ceará (IFCE), em Guaramiranga. O veículo, emprestado pela equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), retornava de uma rota com um grupo do Cariri que também foi para o evento.

Gabriele Félix já participou duas vezes do Censo do Periquito Cara-suja como organizadora(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Gabriele Félix já participou duas vezes do Censo do Periquito Cara-suja como organizadora

A chegada na serra foi na hora exata para o início da palestra de abertura, às 18h30. Deixei as malas na recepção do instituto e segui rumo ao auditório. No local, centenas de participantes já estavam reunidos, animados com a notícia do sorteio de brindes: copos artesanais, bonés de instituições de pesquisas, livros científicos, guia de aves e até réguas de anilhamento encheram os olhos dos voluntários, que celebravam a cada nome sorteado.

Após a cerimônia e a janta, onde os participantes aproveitavam a espera para trocar saudações e reencontrar velhos companheiros de censo, fomos orientados a buscar caronas para nos levar até o alojamento. Depois de acomodados, a dormida foi tranquila.

Pelo menos até as 4h30min, quando o despertador tocou pela primeira vez.

Dividindo um quarto no alojamento, foi preciso organizar a rotina para garantir um banho tranquilo e uma carona até o IFCE. A manhã efervescia com a expectativa da divulgação dos pontos de contagem. Antes disso, fomos agraciados com a exibição de uma peça teatral que tratou sobre a importância da conservação ambiental. A exibição cênica ficou por conta da equipe de educação ambiental do Parque Arvorar, também parceira do evento.

Sob aplausos ao fim da apresentação, os espectadores foram novamente encaminhados ao auditório, onde a bióloga Suzete Bastos conduzia uma apresentação sobre a jandaia-verdadeira (Aratinga jandaya), ave símbolo do estado do Ceará.

No bairro Barroso, em Fortaleza, surgiu uma população de jandaias, pássaro da família dos periquitos/papagaios(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal No bairro Barroso, em Fortaleza, surgiu uma população de jandaias, pássaro da família dos periquitos/papagaios

Curiosos, não demorou para que os participantes sacassem seus celulares e trocassem contatos com a pesquisadora, que prontamente atendeu aos interessados em mais informações.

Por fim, o momento mais aguardado se aproximava: as orientações para o censo e os locais de contagem. O frio na barriga dos voluntários era quase palpável. Os inexperientes ansiavam pelas explicações sobre os horários e dicas sobre o que fazer e o que não fazer durante o monitoramento.

Os veteranos, por outro lado, puxavam na memória os sítios e caixas ninhos para os quais tinham sido convocados, tentando descobrir se seus pontos de observação haviam registrado dormidas nos anos anteriores. Afinal, estavam ali para garantir ao menos um vislumbre do cara-suja.

O aumento da população de cara-suja na serra do Baturité possibilitou a introdução de alguns indivíduos na serra da Aratanha. Na imagem, dois periquitos cara-suja, em caixas-ninho, em uma zona de aclimatação antes da soltura total(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal O aumento da população de cara-suja na serra do Baturité possibilitou a introdução de alguns indivíduos na serra da Aratanha. Na imagem, dois periquitos cara-suja, em caixas-ninho, em uma zona de aclimatação antes da soltura total

A partir das 14h, começamos a nos preparar para a contagem. O horário de dormida dos cara-suja começa por volta das 16h, portanto, precisávamos chegar antes disso. Para garantir uma logística confortável, os participantes foram distribuídos em grupos.

Os motoristas ficaram responsáveis por levar e trazer os participantes aos sítios. Na chegada, os proprietários recebiam os participantes com cafés, lanches e até mesmo whisky. Quem diria que contar passarinhos na casa de um desconhecido renderia lanches e conversas regadas a bebidas?

O quinto Censo do Periquito Cara-suja reuniu 230 voluntários na Serra de Baturité(Foto: Mika Holanda/Aquasis)
Foto: Mika Holanda/Aquasis O quinto Censo do Periquito Cara-suja reuniu 230 voluntários na Serra de Baturité

À primeira vocalização, os participantes começavam a se posicionar em seus pontos de observação, camuflando-se silenciosamente entre troncos de árvores. Em uma sequência rítmica, quase ensaiada, uma dezena de câmeras direcionava suas lentes ao alto, procurando o ângulo perfeito para as melhores fotos.

 ► Os artistas da tarde chegavam. Diferente dos voluntários, os cara-suja faziam questão de anunciar sua presença sonoramente. Não era difícil encontrá-los.

Apesar disso, alguns participantes não conseguiram ver os bichos. Os pontos de descanso mapeados às vezes estão desocupados, seja pela invasão de outros inquilinos, como serpentes e abelhas, ou mesmo porque as aves encontraram um outro lugar para passar a noite.

Todavia, como os organizadores bem destacaram, o zero também é um resultado importante; afinal, ajuda a equipe a saber quais caixas continuam sendo ocupadas.

Vale destacar que o censo adota uma metodologia que registra o número de aves pernoitando em caixas-ninho, ocos naturais e entre as folhas de palmeiras e bromélias. Simultaneamente, os participantes, posicionados em diversos pontos da região, realizam esses levantamentos. Ao final, a equipe obtém uma estimativa mínima da população presente na área.

 

Aumento populacional do periquito cara-suja (2010 - 2024)

 

O responsável pelo meu grupo foi o coordenador do projeto (e meu antigo orientador de estágio) Fábio Nunes. Durante nosso deslocamento, conversamos sobre a importância do censo para a avaliação do impacto das iniciativas de conservação em andamento no projeto. O biólogo também fez questão de agradecer aos voluntários que, segundo ele, fazem com que esse acompanhamento seja possível.

“Uma coisa importante é que a gente não tem mais a pretensão de contar a população toda, porque tem muitos pontos cegos e tem muitos bichos dormindo em locais que a gente não tem mais a capacidade de contar”, explica.

“E isso é bom, sinal de que a população extrapolou a um nível que a gente perdeu esse controle. Isso é ótimo, mas a gente tem que usar ferramentas para tentar contar o máximo possível. O que a gente tem de dado é o mínimo da população de cara-suja. Então, é dali para cima”, comemorou.

Reunindo moradores das comunidades locais, estudantes, pesquisadores e observadores de aves, o censo se tornou um dos maiores eventos de ciência-cidadã do Nordeste. O coordenador explicou que o engajamento e o envolvimento das pessoas é indispensável para o sucesso da conservação da espécie.

  

"A gente tinha a possibilidade de automatizar o censo, colocar câmeras em frente a quase todos os dormitórios e, no final do dia, simplesmente a máquina ia dar um número.

Mas, nisso, a gente teria um prejuízo social, onde as pessoas não estariam envolvidas. E a conservação se faz com gente."

 

Mesmo após cinco edições, ele ainda se surpreende positivamente com a disponibilidade dos voluntários, que se deslocam de diversas regiões do Brasil - e alguns até de outros países, como a Inglaterra - para participar do evento.

“As pessoas vêm voluntariamente, muitos vêm pagando a passagem, porque a gente não tem nem dinheiro para pagar a passagem do pessoal. E aí, eu acho que foi onde a gente acertou. Então, a gente percebeu que aqui, esse espaço da ciência-cidadã, era uma seara que a gente podia trabalhar e, inclusive, formar pessoas para a biologia da conservação.”

O voluntariado, aliás, vai muito além dos recenseadores. A realização do evento contou com a parceria de diversas pessoas e instituições, incluindo a hospedagem dos voluntários, que foram disponibilizadas, em sua maioria, pelos próprios moradores da serra.

Periquito cara-suja livre na serra da Aratanha(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Periquito cara-suja livre na serra da Aratanha

Retornamos ao ponto de encontro após a euforia de observar 12 periquitos cara-suja e, mesmo que nenhum tenha dormido na caixa ninho pela qual fiquei responsável, nosso grupo conseguiu mapear um novo ponto de dormida: uma bromélia no sítio ao lado.

Durante a viagem de volta, cada um vibrava com a quantidade de aves diferentes que conseguiram observar durante o tempo em que ficaram aguardando os caras-suja.

Este ano, a espera pelo número oficial contou até com um bolão. Após as parciais animadoras identificadas pelos voluntários durante a volta ao IFCE, iniciou-se uma lista para tentar adivinhar o resultado das contagens.

Para a alegria do grupo, a organização divulgou o resultado oficial: 1.238 indivíduos. O número representa um aumento de 32,41% em relação à quantidade de aves avistadas no último censo, em 2022.

No intervalo, enquanto alguns aproveitavam para passarinhar mais um pouco, conversei com o ornitólogo Weber Girão, coordenador do projeto Soldadinho do Araripe. Ele também destacou a importância da ciência-cidadã para a continuidade de projetos de conservação.

Segundo Weber, a abordagem opera em três níveis fundamentais: a amplificação na capacidade de obter dados, o engajamento individual e a mudança de comportamentos.

“Um projeto precisa de muitos anos para a ciência-cidadã chegar nessa transformação da sociedade, mas eu acho que a gente tá vendo isso”, detalhou. Para ele, esse tipo de iniciativa promove um nível de participação social que potencializa as ações conservacionistas.

Figurinha carimbada nos censos desde as primeiras edições, o ornitólogo emana a sensação de pertencimento que toma conta dos voluntários. “Eu costumo dizer assim: eu não faço parte do projeto cara-suja, eu cuido do projeto soldadinho do araripe, mas o projeto cara-suja faz parte de mim. Eu vibro como todo mundo que está aqui e tenho o privilégio de estar nessa posição de bastidor”, confessa sorridente.

Segurando o microfone, o ornitólogo Weber Girão, coordenador do projeto Soldadinho do Araripe(Foto: Mika Holanda/Aquasis)
Foto: Mika Holanda/Aquasis Segurando o microfone, o ornitólogo Weber Girão, coordenador do projeto Soldadinho do Araripe

No dia seguinte, o auditório seguia cheio. A todo momento, a organização divulgava mais uma palestra sobre ciência. No último oficial do evento, o clima era de saudosismo e orgulho. Entre os que anunciavam a precisão de retornar à rotina de trabalho, não era difícil encontrar alguém agradecendo à organização pelo evento. Mesmo no fim, a despedida era uma só: até a próxima!

 

 

Censo kids e a herança ambientalista

“Não se ensina adulto a sonhar, mas se ensina às crianças”. Durante a abertura do evento, a frase de Vinícius Grauçá, educador e voluntário da Aquasis, refletiu a dedicação da equipe sobre a importância de debater e promover ações de educação ambiental voltadas ao público infantil.

Este ano, o projeto realizou a primeira edição do Censo Kids do periquito cara-suja. A programação contou com uma apresentação teatral promovida pela equipe de educação ambiental do Parque Arvorar, além de atividades artísticas, caça ao tesouro, jogo dos sete erros e observação de aves.

Evento contou com programação voltada para o públioc infantil, com atividades artísticas, caça ao tesouro, jogo dos sete erros e observação de aves(Foto: Emanuelly Epifânio)
Foto: Emanuelly Epifânio Evento contou com programação voltada para o públioc infantil, com atividades artísticas, caça ao tesouro, jogo dos sete erros e observação de aves

A ideia surgiu após o educador levar a filha em um dos censos e perceber que mais crianças poderiam ocupar aqueles espaços, vivenciando práticas ambientais direcionadas especificamente para as novas gerações.

“A gente fica vendo os processos científicos e como eles fazem ponte com os processos educacionais. Eu acredito muito que isso aqui é o que fortalece a parte de educação ambiental, mas não pode tá separado. Eu acho que o legado disso aqui é essa parte de educação, das políticas públicas e de chegar com conteúdo escolar”, defende Vinícius.

A experiência foi tão animada que alguns voluntários, para lá dos seus 18 anos, também se envolveram nas atividades infantis. “A peça já agregou as crianças e a gente abriu o convite para as pessoas que queriam participar. Aí, surgiu uma galera, até mais do que criança”, brinca.

Sobre a importância de falar sobre conservação ambiental com as novas gerações, o educador lembra que conservar é, antes de tudo, um ato de responsabilidade, respeito e, sobretudo, amor: "Você não conserva aquilo que não ama", pontua.

Apaixonado por educação, Vinícius enfatizou a importância de integrar diferentes abordagens para alcançar o maior número possível de crianças, respeitando suas motivações e aspirações individuais.

“Talvez, essas crianças não sejam ornitólogas, talvez sejam biólogas. Mas, eu acho que com a arte e a educação vindo, ela pode ser uma teatróloga, como a gente viu hoje, que trabalha com conservação. Pode ser um pintor, como a gente viu hoje, que trabalha com conservação”, avalia.

 

 

Passarinhar é um estilo de vida

Da chegada ao ponto de encontro, em Fortaleza, até o local da contagem, em Baturité, cada momento foi feito a muitas mãos. A seleção dos participantes, um desafio para os organizadores, envolveu a difícil tarefa de escolher 230 entre mais de 600 voluntários inscritos.

A solidariedade floresceu desde o início: veículos foram oferecidos para garantir o transporte dos demais voluntários, muitas vezes por estranhos. Apesar do anonimato, identificar os passageiros não foi tarefa difícil para os motoristas. Botas de campo e binóculos pendurados nas mochilas, itens quase essenciais entre os viajantes, indicavam o destino comum.

Foram mais de 600 voluntários inscritos para participar do censo(Foto: Mika Holanda/Aquasis)
Foto: Mika Holanda/Aquasis Foram mais de 600 voluntários inscritos para participar do censo

O servidor público municipal de Sobral, André Adeodato, relembrou um momento marcante durante sua volta para casa ao fim do censo. Enquanto aguardava em um ponto de ônibus em Guaramiranga, ouviu o comentário de um homem, que passava fazendo caminhada e parou para observar ele e seu grupo: “Eles estão vestidos com blusas de voluntários, deve ser algo importante.”

O momento foi compartilhado em um grupo nas redes sociais. “Esse é, de fato, o nosso sentimento ao vestir a blusa do projeto. Orgulho é o que define nossa participação em cada censo e o que nos faz aguardar o próximo ansiosamente”, enfatiza.

Periquito da cara-suja(Foto: Fabio Nunes/Aquasis/Divulgação)
Foto: Fabio Nunes/Aquasis/Divulgação Periquito da cara-suja

Para a bióloga e doutoranda em Patologia pela UFC, Aline Sombra Santos, o censo foi como reviver os bons momentos das aulas de campo. A energia de juntar a galera, decidir o que cada um ia levar na mala, como cada um ia dormir.

Participando pela primeira vez do censo, ela confessa que ficou surpresa ao ver o comprometimento dos participantes. “Uma coisa que eu não esperava era ver toda uma grande quantidade de pessoas, de fato, engajadas. Na abertura do evento, por exemplo, tinha muita gente e todos muito animados, torcendo para os colegas ganharem nos sorteios. Dava aquele clima animado”, conta.

Para Vinícius Grauçá, o censo é mais do que um evento, é a expressão de uma filosofia conservacionista que motiva os envolvidos, sejam adultos ou crianças. “Eu acho que isso não faz parte nem da conservação, mas da filosofia. Uma filosofia conservacionista. É um modo de viver. O cara acordar às 4h da manhã ou o cara vir da Inglaterra para ver o soldadinho, (isso) faz parte dele”, ressalta.

Na cultura dos povos indígenas Lakota, há uma expressão bastante significativa, centrada em um conceito profundamente ecológico: “Mitakuye Oyasin”, que pode ser traduzida “somos todos parentes” ou “eu sou aparentado a tudo que existe”.

Em meio aos desafios de produzir e viver de ciência no Brasil, iniciativas como o censo do periquito-cara-suja nos lembram que o caminho para um mundo mais justo, baseado no respeito e na convivência harmoniosa com o meio ambiente, passa pelas relações que cultivamos com as pessoas e com o mundo ao nosso redor.

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