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Temperos que criam futuros: o pratinho como gerador de renda para mulheres
Reportagem Seriada

Temperos que criam futuros: o pratinho como gerador de renda para mulheres

Mais do que comida, ele carrega memórias, afeto e resistência. É nas mãos de mulheres como Maria Lindomar e Solange Maria que o pratinho, símbolo da cultura alimentar fortalezense, se transforma em sustento, tradição e sonho
Episódio 4

Temperos que criam futuros: o pratinho como gerador de renda para mulheres

Mais do que comida, ele carrega memórias, afeto e resistência. É nas mãos de mulheres como Maria Lindomar e Solange Maria que o pratinho, símbolo da cultura alimentar fortalezense, se transforma em sustento, tradição e sonho
Episódio 4
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Todo dia, a Praça Central da Cidade 2000, em Fortaleza, passa por uma rotina deliciosa. O sol vai embora, as barracas começam a ser erguidas e o cheiro das comidas recém-preparadas invade os sentidos de quem passa.

No coração do bairro vive uma manifestação popular tradicional. O famoso pratinho, em suas diferentes formas, carrega no nome e na memória a cultura alimentar fortalezense. Ele alimenta sonhos e gera renda para mulheres que buscam no empreendedorismo uma vida melhor.

É no sorriso sob as luzes noturnas da praça que Maria Lindomar Farias, de 51 anos, mostra com orgulho o carrinho do Pratinho da Linda. Com o movimento intenso de compradores, Linda — como é mais conhecida — divide a atenção amorosa entre os clientes fiéis e a equipe do O POVO+.



Mãe de dois filhos e vendedora de pratinhos há 14 anos, Linda é natural de Caridade, município localizado a 98 quilômetros de Fortaleza. Aos 15 anos, mudou-se para a capital cearense para estudar. Dois anos depois, conseguiu seu primeiro emprego como frentista, trabalhando durante a madrugada.

A rotina exigente acabou impedindo Lindomar de terminar os estudos. Com a chegada dos filhos, ela passou a se dedicar integralmente ao lar; até o divórcio, quando precisou encontrar outras formas de prover o sustento à família.

ParaTodosVerem: uma cliente sorridente recebe um pratinho das mãos de Linda(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE ParaTodosVerem: uma cliente sorridente recebe um pratinho das mãos de Linda

Foi da necessidade que germinou a semente do empreendedorismo nos sonhos de Linda. “O meu intuito sempre foi vender pratinho, que foi aquilo que aprendi a fazer com duas amigas que já faleceram”, recorda.

Primeiro, a amiga Kátia ajudou na confecção e venda de marmitas e pratinhos. Em paralelo, vendia docinhos e brownies para arrecadar o dinheiro do próprio negócio. Após a partida inesperada da colega, Linda precisou de perseverança para seguir.

Mais tarde, quando Maria Éster — outra amiga e também vendedora de pratinho — precisou se afastar para realizar uma cirurgia, Linda assumiu o comando. “Fui uma espécie de gerente durante o período de recuperação”, comenta.

A oportunidade de começar a vender por conta própria surgiu durante uma reunião da Associação da Praça Central da Cidade 2000. Na ocasião, a Regional 7 havia organizado a comunidade para distribuir 20 permissões de venda. No entanto, somente 19 vendedores compareceram ao encontro — e foi nessa brecha que o caminho de Linda se abriu.

“Foi como uma luz divina”, brinca risonha, relembrando que alguns até a olharam incrédulos, já que ela não tinha carrinho e outros insumos necessários para começar.

 

 

Sabores que criam futuros

Sem o primeiro passo não existe caminhada, e Linda não retrocederia. Conseguiu a permissão da Prefeitura de Fortaleza e, com ajuda de amigos, de outros familiares e do ex-marido, comprou a prazo alguns dos itens necessários para iniciar a venda de pratinhos.

“(Mas) Todo o dinheiro que ele (o ex-marido) me emprestou, depois descontou da pensão dos filhos. Quando comecei a vender os pratinhos, ele cortou a pensão e, desde então, durante todos esses anos, é do pratinho que tiro o sustento da minha família”, explica.

O tempero cheio de afeto não demorou a fazer sucesso. Moradores de outros bairros e até da Região Metropolitana cruzam Fortaleza em busca do “Pratinho mais amado”, por três vezes consecutivas, no Prêmio Melhores Sabores da Cidade.

ParaTodosVerem: Linda servindo um pratinho com carde do sol desfiada(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE ParaTodosVerem: Linda servindo um pratinho com carde do sol desfiada

Sucesso nas redes sociais e nos noticiários, Linda conta, com o sorriso de orelha a orelha, que não imaginava tanto reconhecimento. “Nunca pensei que eu, uma vendedora de pratinho, pudesse conquistar a casa própria, a CNH e um carro”, comenta, orgulhosa.

Além de símbolo cultural, o pratinho virou sinônimo de sucesso. De um cardápio tradicional e ao mesmo tempo criativo, Lindomar pôde criar ambos os filhos, hoje adultos e com família formada.

 

Cardápio do Pratinho da Linda

 

Atualmente, a vendedora conta com quatro funcionários nos preparos e na venda. “Eu agradeço a tudo que tenho, mas estarei ainda mais realizada quando conseguir expandir meu negócio, quem sabe com um ponto na Beira Mar, e uma casa mais perto daqui (Cidade 2000)”, diz.

Para Linda, a lição mais importante que aprendeu em sua trajetória foi “ter força de vontade, coragem e determinação para se reerguer”. Dessa maneira, ela tornou-se não apenas uma vendedora, mas uma agente importante da permanência cultural do pratinho na sociedade, e ajudou a desenvolver pesquisas que valorizam a identidade alimentar fortalezense.

 

 

Pratinho: de renda extra à comida de rua popular em Fortaleza

Assim como Linda, outros comerciantes também viram no pratinho uma oportunidade de renda. Logo, o prato se tornou ícone da cidade. Em toda praça, polo gastronômico e calçada, você pode encontrá-lo.

Foi da presença marcante da comida nas ruas de Fortaleza que Izakeline Ribeiro, jornalista e pesquisadora de Gastronomia, decidiu torná-la objeto de pesquisa e entender por que ela virou fundamental na cultura de um povo ao ser produzida, comercializada, transformada e consumida.

Izakeline Ribeiro uma mulher de cabelo curto e mechas loiras vestindo um vestido floral(Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)
Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal Izakeline Ribeiro uma mulher de cabelo curto e mechas loiras vestindo um vestido floral

“O pratinho se insere de forma orgânica na cultura popular de Fortaleza. Ele está presente nas ruas e praças durante o ano todo, bem como não pode faltar em festas de bairro, eventos religiosos, blocos de carnaval. Seu valor vai além da função alimentar: o pratinho carrega significados simbólicos”, comenta a pesquisadora.

Izakeline percebeu, por meio de seu mestrado, que parte significativa dos consumidores associa o pratinho à infância, a momentos em família ou a festas de bairro, revelando um forte vínculo emocional com o alimento, destacando a memória afetiva.

Ainda conforme a pesquisadora, o pratinho de Fortaleza é apresentado não como uma receita específica, mas como uma forma de servir que evoca afeto, lembrando uma comida caseira; e convivialidade, promovendo a interação social. Carregado de sentidos, os pratinhos movimentam as praças periféricas.

Para sua pesquisa acadêmica, Izakeline entrevistou 611 consumidores por meio de um questionário online, identificando outro fator importante no sucesso dos pratinhos: eles representam uma refeição completa a um valor acessível.

Conforme os dados obtidos pela pesquisadora, os motivos para consumir pratinho incluem conveniência para quem volta do trabalho (40,9%), custo-benefício (barato em 35,2% e bem servido em 36,3%) e costume, praticidade, sabor e afetividade.

Além disso, 70,5% dos entrevistados compram pratinho no bairro onde vivem, fortalecendo os pequenos negócios e a economia da região.

“Esses motivos refletem dinâmicas sociais que envolvem a valorização da comida de rua como forma de pertencimento, porque comer pratinho é um ato cotidiano que reforça vínculos locais”, explica.

 

Onde comer pratinho em Fortaleza?

 

A jornalista e mestre em Gastronomia acredita que o pratinho representa ainda a criatividade diante das dificuldades econômicas, sendo tanto uma alternativa de sustento quanto um símbolo da culinária urbana local.

“A urbanização e a informalidade também são dinâmicas presentes, já que o pratinho se enquadra em uma cidade com forte presença de economias informais”, completa.

 

 

Um sabor que carrega histórias

“É importante começar falando que a cozinha cearense é feminina”, inicia Vanessa Santos, consultora educacional do Senac Ceará no segmento de Gastronomia e participante do Fórum Nacional da Educação em Gastronomia.

Ela explica que, enquanto na maioria do mundo, a cozinha profissional ainda é majoritariamente masculina, a cozinha cearense é feminina. É a transmissão e a evolução do conhecimento feminino, presente antes nos fogões a lenha e hoje nos grandes restaurantes comerciais, que faz a culinária cearense ser resistente e permanente.

Vanessa Santos é uma mulher de cabelos grisalhos e cacheados, com óculos e vestido laranja. Na foto ela fala ao microfone(Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)
Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal Vanessa Santos é uma mulher de cabelos grisalhos e cacheados, com óculos e vestido laranja. Na foto ela fala ao microfone

“Se você quer saber qual é a comida de um povo, procure as comunidades originárias e comece pelas mulheres. Não tem erro. Está nas mãos e na cabeça delas toda a história da cultura alimentar daquele lugar. No caso da comida de rua, especificamente, é geração de renda”, comenta Vanessa.

É na busca por libertação econômica que a cozinha caseira construída por mãos femininas é levada para as ruas por meio das vendedoras de pratinho.

Com suas panelas grandes e temperos inconfundíveis, essas mulheres transformam a tradição culinária em instrumento de sustento e força. Para muitas, a comida de rua representa a primeira chance de empreender.

Segundo a consultora, a dificuldade em criar filhos, que exige cuidados contínuos, torna a comida de rua geradora de renda rápida, de pouco investimento e com boa flexibilidade de horário.

“O pratinho, nesse contexto, se destaca não apenas como alimento, mas como símbolo. É prático, portátil, acessível e sacia a fome de forma eficiente. Além disso, carrega um valor simbólico que vai além da nutrição: representa momentos de festividade, cultura popular, encontros e pertencimento”, completa.

 

Anatomia de um Pratinho

 

Para Vanessa, seja como alternativa diante do desemprego ou como complemento à renda familiar, o fenômeno do pratinho nas ruas evidencia algo poderoso: os saberes culinários femininos, frequentemente invisibilizados ou desvalorizados, assumem um papel central na ocupação dos espaços urbanos.

São essas mulheres que, com força e criatividade, sustentam famílias, movimentam a economia local e mostram que o empreendedorismo, ainda que muitas vezes informal, é resistente, legítimo e essencial para a dinâmica das cidades.

Em Fortaleza, conforme dados disponibilizados pelas 12 Secretarias Regionais, existem 2.044 permissionários "Pessoas ou empresas que obtiveram uma autorização ou permissão de um poder público para realizar uma determinada atividade ou prestar um serviço público. Para além dos permissionários, outros vendedores exercem atividade nos polos gastronômicos de forma independente. As Regionais não contabilizam ou monitoram os vendedores sem autorização, portanto, não é possível especificar a quantidade exata destes."  cadastrados na venda de alimentos e bebidas nos 41 polos gastronômicos da cidade. Entre eles, 714 cadastrados têm o sexo identificado, sendo 389 mulheres e 325 homens. Os outros 1.334 autorizados não tiveram o gênero especificado.

 

Número de permissionários por Secretária Regional

 

 

Investir no setor de alimentos gera oportunidades

Investir no setor de alimentos e bebidas é uma opção para pequenos empreendedores que sonham com o próprio negócio. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, em 2019), existem cerca de 1,2 milhão de estabelecimentos de negócios de alimentação e bebidas formalizados no Brasil. Dentre eles, 30 mil ficam no Ceará.

Evelynne Tabosa, analista de negócios do Sebrae-CE, explica que esse setor conta com uma característica bem peculiar: “Desenvolvem-se naturalmente em espaços gastronômicos nos bairros, pois as pessoas estão preferindo ficar próximo de casa a ter que se deslocar para outros lugares. Isso estimula o desenvolvimento territorial e gera oportunidades de empregos locais”.

Evelynne Tabosa é uma mulher de cabelos castanhos escuros e lisos, usa blusa branca com botões e colar(Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)
Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal Evelynne Tabosa é uma mulher de cabelos castanhos escuros e lisos, usa blusa branca com botões e colar

Conforme indica a analista, empreendedores do setor de alimentação têm também o desafio de otimizar os processos de produção dos alimentos. Assim, além da importância de ter uma boa gestão financeira, é fundamental elaborar fichas técnicas dos produtos.

As fichas permitirão a padronização das porções e das receitas. Com esse modelo de controle, é possível formular o preço do prato, organizar os processos de produção e desenvolver novas receitas. Práticas que afetam diretamente a saúde financeira do empreendimento.

“Como hoje as informações mudam muito rápido, as inovações chegam a todo momento e o consumidor está cada vez mais exigente e ávido por novidades e bons serviços, a empresa para ter sustentabilidade no mercado e se destacar, precisa estar sempre se qualificando, participando de eventos, acompanhando as tendências para ofertar serviços que tragam experiência e encantamento a seus clientes”, aconselha Evelynne.

A especialista completa que buscar por parceiros e empresas confiáveis que facilitem os primeiros passos pode ser a receita de sucesso para empreendedoras que desejam levar seu talento da cozinha para as ruas.

"Caso o empreendedor necessite ter apoio de instituições financeiras, um bom plano de negócios será importante nessa negociação. Hoje, existem, além dos bancos oficiais, outras empresas como as fintechs que concedem empréstimos para abrir, inovar ou ampliar os pequenos negócios", diz.

 

 

O tempero da resistência

Resistência é uma palavra que ecoa entre as linhas da história de Solange Maria Batista, de 53 anos, vendedora de pratinho no bairro Granja Lisboa, em Fortaleza. Casada e mãe de dois filhos, Sol — como é mais conhecida — começou a vender pratinhos com a mãe, dona Eurides Pires.

Nascida em Sobral, na Serra da Meruoca, ela tinha apenas 13 anos quando mudou-se para Fortaleza para trabalhar de maneira informal como funcionária do lar. Solange era só uma menina, mas saiu do seu interior com o sonho nítido na mente e no coração.

“Meu sonho era ter uma casa e botar um comércio para mim. Sempre foi meu sonho. Meu pai dizia que eu sonhava demais. Tanto que consegui. Com 18 anos comprei essa minha casa", diz em um tom gentil, como quem guarda da dureza da infância somente os detalhes felizes.


 

Ela começou com a venda de bolos após fazer cursos de confeitaria no Senac, com a chef Mattu Macêdo, ícone cearense da confeitaria. A mãe cuidava das comidas salgadas, do arroz soltinho e enchia de carinho cada grão que saía quentinho do fogo à rua.

Com mais de 20 anos de tradição e receitas passadas de mãe para filha com muito amor e tempero, Sol vendeu pratinhos na calçada de casa até 2019, quando precisou parar após a descoberta de um câncer no ovário.

"Comecei o tratamento em 2020. Fiz duas cirurgias. Na segunda, praticamente eles (os médicos) disseram que eu não ia sobreviver. Depois fui para as quimios, fiquei careca duas vezes. Uma menina, um dia, me perguntou se eu via o câncer como a morte. Nunca pensei nisso. Para mim, o câncer foi como uma faculdade de vida. Eu peguei o lado bom de todas as coisas", diz.

 

Cardápio do Pratinho da Solange 

 

Em meio ao percurso da recuperação, Sol passou pela perda da mãe em setembro de 2024. “Talvez por todas as dificuldades, ela também sofreu. Ainda é dolorido, mas eu não podia parar porque tenho meus filhos.”

Por meio das redes sociais, em seu primeiro Dia das Mães sem Eurides, sua inspiração, Sol decidiu postar uma homenagem à mulher que, ao seu lado, construiu sua história na culinária de rua.

“Minha mãe, minha raiz e inspiração. Quem conhece nossa história lembra da mesa na calçada, e da minha mãe lá, dona Eurides. São 20 anos de pratinho servido com amor, porque tudo começou com ela. No ano passado, ela partiu… mas ficou a saudade e, mais que tudo, seu legado. Ela vive em mim e nos meus filhos, em cada ensinamento, em cada memória”, escreveu.

Quando o câncer entrou em remissão, Solange decidiu estar pronta para retornar com as vendas. Ela comenta que, se da primeira vez tinha pouco dinheiro, no retorno tinha menos ainda, mas não se pode sonhar com um fim sem o começo.

 

 

Valorização local e incentivos

Com incentivo dos filhos, Sol anunciou o retorno à calçada no Instagram, preparou a comida e montou a mesa. Vizinhos e conhecidos se dispuseram a registrar o momento em vídeos e divulgar em suas redes sociais.

O sucesso foi tremendo. Alguns dos vídeos divulgados no perfil Pratinho da Solange, que já acumula mais de 10 mil seguidores, chegaram a alcançar quatro milhões de visualizações. O resultado? Longas filas de gente vinda de toda parte da Cidade só para comer o "pratinho mais gostoso da Granja Lisboa".

ParaTodosVerem: clientes aguardam enquanto Sol serve um pratinho(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE ParaTodosVerem: clientes aguardam enquanto Sol serve um pratinho

“Olha, às vezes eu não acredito. É inacreditável, porque é inacreditável. De repente você se sente sem nada e do nada vem um retorno imenso. Para mim foi muito desafiador recomeçar, mas valeu todo o esforço”, comenta.

No dia que a equipe do O POVO+ visitou a casa de Sol para a entrevista, era inevitável não perceber todo o carinho que os compradores deixavam ao retirar os pedidos. Na despedida, alguns diziam animados: “Até amanhã, Sol”. Era a certeza de que iam voltar.

Como quem trata cada cliente como um filho, do seu jeito meio tímido e suave, Solange respondia quase envergonhada pela nossa presença: “Até amanhã, se Deus quiser”.

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