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Mirtilo: a fruta promessa do Ceará para as exportações brasileiras
Reportagem Seriada

Mirtilo: a fruta promessa do Ceará para as exportações brasileiras

Esta série de cinco reportagens aborda culturas nobres no Ceará. Neste episódio, o panorama do mirtilo no Estado, que entra no bojo do desenvolvimento de plantas que conseguem ter poucas safras no ano com pequeno consumo de água e necessitando de temperatura amena
Episódio 3

Mirtilo: a fruta promessa do Ceará para as exportações brasileiras

Esta série de cinco reportagens aborda culturas nobres no Ceará. Neste episódio, o panorama do mirtilo no Estado, que entra no bojo do desenvolvimento de plantas que conseguem ter poucas safras no ano com pequeno consumo de água e necessitando de temperatura amena
Episódio 3
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Manuseio do mirtilo, cultura nobre que conquistou o agronegócio do Ceará(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Manuseio do mirtilo, cultura nobre que conquistou o agronegócio do Ceará

Cotado a US$ 5,50 o quilo para a exportação, o mirtilo tem sido alvo de esforços da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet-CE) como uma das culturas que podem dar um novo perfil ao agronegócio do Estado.

No mercado nacional, o peso da fruta chega a R$ 100, dependendo da condição – se fresco, seco ou processado em sucos, geleias e mais. O valor agregado tem origem na demanda dos Estados Unidos, principal mercado consumidor, e do interesse de Europa e China nos últimos anos.

O consumo de mirtilo cresceu cinco vezes em dez anos entre os norte-americanos e, mesmo sendo o principal produtor da fruta, 80% de toda a produção mundial vai para os Estados Unidos. Entre plantas silvestres e de cultivo controlado, ainda demanda de outros países, porque os tipos de berries "Berry porque o mirtilo faz parte desta categoria de frutas de cor negra ou vermelha compostas ainda pelo morango, cereja, framboesa e groselha. Mirtilo é o aportuguesamento da palavra blueberry"  existentes lá somente produzem em uma temporada do ano.

Pequena e de coloração azulada, a blueberry já foi batizada de fruta da juventude pelos benefícios à saúde identificados por cientistas. Vantagens que impulsionam o consumo do produto mundo afora ao longo de todo o ano, elevando o preço e despertando o interesse de produtores.

Mas não é apenas o valor de mercado que motiva o Ceará a investir nessa cultura, segundo explica Erildo Pontes, coordenador de Recursos Hídricos para o Agronegócio da Sedet-CE. O desenvolvimento de plantas que conseguem ter duas safras no ano com pequeno consumo de água e necessitando de temperatura amena mostraram aos especialistas do Estado que é possível produzir mirtilo em terras cearenses.

"O Ceará está localizado abaixo da linha do equador com luminosidade boa, temperatura de até 35°C e mínima de 18°C, então, é adequadíssimo. Além do mais, a chuva não é bom para plantar mirtilo. A água do subsolo ou do rio é adequada para irrigar. Para se ter uma ideia, por hectare, é preciso metade da água que se gasta no plantio de bananas" Erildo Pontes, da Sedet-CE

Outra vantagem apontada por ele e que deve gerar empregos é que a colheita do mirtilo "ocupa muita mão de obra, porque é uma fruta menor que a acerola e precisa de pessoas para colher, não aceita máquina."

Além disso, amadurece em estágios diferentes nas plantas e não pode ser colhida verde, o que leva o período da safra levar até quatro meses.

Para gerar interesse dos produtores cearenses, Pontes contou que a Sedet investiu em transmissões online ao longo de 2020 que reuniram grupos de agricultores e demais interessados em novas culturas. Nestes ensinamentos, chamaram Osvaldo Yamanishi, professor da Universidade Federal de Brasília (UNB) e pesquisador dessas novas culturas.

 

 

 

Oportunidade no mercado internacional

 

Osvaldo Yamanishi, professor da UNB e pesquisador dessas novas culturas(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Osvaldo Yamanishi, professor da UNB e pesquisador dessas novas culturas

Yamanishi conta que há décadas visita o Ceará na tentativa de emplacar o cultivo de plantas como o mirtilo. Entusiasta de novas culturas, ele disse que já chegou a viajar do Distrito Federal para Fortaleza com mudas da planta na bagagem do avião na tentativa de fazer experimentos em terras cearenses.

Perguntado sobre o que o faz investir no Estado como ambiente, ele observa que o desenvolvimento de tipos de mirtilo que permitem a produção o ano todo com variação menor de temperatura abriu margem para que São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e o Ceará pudessem ser ambiente propícios, onde a produção tem condições de se estender por todo o ano.

Essa possibilidade permite ao Ceará entrar nas janelas de vazio no mercado internacional, segundo o professor. Intensificando a produção entre julho e outubro, poderia atender países enquanto grandes produtores mundiais estão na entressafra. Para ele, o foco precisa ser o mercado internacional:

"Porque o Brasil tem 200 milhões de habitantes e quase ninguém conhece o mirtilo. É um mercado muito restrito e ainda mais porque é caro. Se produzir área grande pensando no mercado brasileiro vai quebrar" Osvaldo Yamanishi, professor da UNB e pesquisador de novas culturas

 

Investimento do governo é necessário

“Eu já levei empresários de fora mostrando a possibilidade de investimento no Ceará. Mas é questão realmente de alto valor. A pessoa fica com medo”, fala o professor da UNB, Osvaldo Yamanish, sobre o investimento em “escala pequena”, que necessitaria de R$ 10 milhões para uma área de 20 hectares.

A participação do Estado nesse processo, de acordo com ele, torna-se essencial para estimular o cultivo entre os produtores cearenses que já têm as finanças consolidadas, pois ter um investidor de grande porte no negócio dá mais garantia de sucesso ao estabelecimento da nova cultura no Estado.

Esta é justamente a ideia da Sedet, segundo garante Erildo Pontes. Em novembro de 2021, antes da variante Omicron aumentar o contágio no Estado, ele falava em contratar o professor para prestar consultoria aos interessados e fazer “dias de campo” para mostrar o potencial da cultura em terras cearenses.

Os dois dizem ter no Peru uma inspiração. O país vizinho conseguiu atingir US$ 1 bilhão em exportação em 2020 apenas com o mirtilo – valor que o Brasil não faz somando todas as frutas frescas.

O cultivo pelos grandes produtores peruanos foi montado com apoio do governo e, em sete anos, a berry se tornou a segunda fruta mais cultivada.

 

 

Dificuldade desde a pesquisa

 

“Isso que estamos fazendo aqui é brincadeira”, diz Osvaldo Yamanish ao comparar o cultivo no Brasil aos 15 mil hectares onde é plantado mirtilo no Peru. Ele lamenta ainda a falta de apoio que acomete o incentivo a novas culturas no País desde a pesquisa. O professor diz viajar e conduzir experimentos como estes no Ceará sem nenhum apoio da UNB ou do governo brasileiro.

No fim de 2021, inclusive, ele esteve no Peru para um congresso que estudava culturas como a do mirtilo. "Toda informação que vou buscar fora, eu pago com meu dinheiro, com a consultoria que recebo. O que eu já gastei aqui é o meu salário da vida toda, só no mirtilo", compara.

Responsável, inclusive, por custear o projeto que desenvolve na UNB, segundo contou, o professor, agora, espera recursos federais para desenvolver a pesquisa. 

"Falaram de R$ 5 milhões em 4 anos, mas é muito pouco. Isso é o que está associada à emenda da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Tenho uma equipe de alunos e estamos focados em buscar informação, dar assistência para fazer o projeto ser um sucesso. São 21 mil mudas para dez produtores plantar em 2022 e replicar até 50 ou 100 produtores, e vamos ter uma escala através de uma cooperativa. UNB está assumindo a assistência técnica e eu vou trazer esse pessoal de fora para dar curso" Osvaldo Yamanish, professor da UNB

 

 

Estímulos locais

 

Da parte do Governo do Ceará, Erildo Pontes, da Sedet-CE, reforça a intenção de orientação técnica e, atualmente, tenta mapear as iniciativas que se tornaram realidade após as transmissões promovidas pela Secretaria ao longo de 2020 e 2021.

De acordo com ele, há conversas com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mapear a produção de culturas de valor agregado no Estado. A intenção é trazer mais informações para que o Estado possa montar um projeto de apoio adequado, constatando quantas e em quais estágios de produção estão.

 

 

Esperança de cultivo na Serra da Ibiapaba

Coleta do mirtilo é muito manual(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Coleta do mirtilo é muito manual

A experiência com mirtilo mais promissora no Ceará apontada pela Sedet está em Ubajara, cidade localizada na Serra da Ibiapaba, a 371 quilômetros de Fortaleza, e é mérito dos esforços do comerciante aposentado Wlyces Duarte.

Dedicado à pesquisa do cultivo da planta, ele se cercou de conhecimento antes de investir em mil mudas, e tem mantido a prática para reaver a aplicação dentro de um ano - o que significa após duas safras.

O interesse, como já contou Erildo Pontes, nasceu em uma das lives do governo cearense com o professor Yamanishi ao longo da pandemia. Depois, Duarte disse ter visto outros vídeos do pesquisador, lido a respeito da cultura na internet e resolveu fazer contato.

Após algumas trocas de e-mail e mensagens pelo smartphone, ficou convencido de que o cultivo da berry em Ubajara é promissor e resolveu investir.

Foram R$ 80 mil na compra de mil mudas de mirtilo do tipo biloxi "Este tipo de mirtilo não requer frio hibernal para produção, é ideal para climas mais quentes e é conhecido por ser mais resistente a pragas. Segundo o professor Yamanishi e Duarte, esse tipo da planta se adapta muito na região de Ubajara porque a amplitude térmica para é essencial. Por lá tem dias que faz 34°C, mas, à noite, dá 18°C ou até 17°C. Então, a planta se adapta perfeitamente porque precisa dessa amplitude"  e mais a estrutura para cavar poço profundo, caixas d'água, bombas e encanação para irrigação, além de construir a estufa com terreno de 650 metros quadrados aplainado, mil sacos de substratos para cada muda e a casa de apoio - onde guarda o "alimento da planta."

Estufa com mudas de mirtilo(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Estufa com mudas de mirtilo

Com expectativa de que as plantas atinjam a maturidade de produção dentro de três anos ou quatro anos, ele já projeta reaver esse investimento na segunda safra. A ideia de Duarte é vender pequenas bandejas de cerca de 60 gramas na rota que leva para o Parque Nacional de Ubajara, aproveitando o fluxo de turistas.

Ele diz ainda ver oportunidade de entrada do produto em lojas de artigos naturais em Fortaleza e, quando a produção estiver consolidada em larga escala, chegar a supermercados. A marca já tem nome: Ouro Azul. A referência é óbvia, uma vez que o quilo da fruta chega a mais de R$ 100 - a depender se fresca, seca ou até a poupa.

"Mas se eu conseguir atingir a produtividade de 3 a 4 kg por planta, como dizem que é possível, eu consigo diminuir o preço em 40%. Aí o que eu faço? Alargo o mercado", planeja.

 

 

Orientação e pesquisa

 

Desde a compra, passando pelo transporte, até chegar à lida diária com as plantas, ele teve ajuda do pesquisador da UNB, Osvaldo Yamanish.

"Eu pedi ao professor que me indicasse onde comprar as mudas. Então, entrei em contato com essa empresa de Ponte Nova, no Sul de Minas. O frete rodoviário precisou ser mais ou menos especial. Combinei de ter dois caminhoneiros no trajeto para não parar e se comprometeram a molhar as mudas para que elas cheguem aqui saudáveis. Somente de frete foram mais de R$ 8 mil. Mas, de mil mudas, eu perdi apenas uma. Ou seja, 99% de aproveitamento " Wlyces Duarte, comerciante aposentado e produtor de mirtilo em Ubajara

Osvaldo Yamanish fez a orientação para plantar mirtilo(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Osvaldo Yamanish fez a orientação para plantar mirtilo

As orientações de Yamanishi continuaram para a poda das plantas e também como preparar o "alimento", que é uma mistura de itens necessários ao desenvolvimento do mirtileiro misturada na água. A irrigação acontece seis vezes por dia em seis pulsos de três minutos cada um. Em dias mais quentes chega a sete ou oito.

Cada planta, segundo conta, recebe de em torno de 1,5 litro a 2 litros por dia. A estrutura garantiu praticidade ao novo agricultor, que deixa o preparo da água pronto pela manhã e liga a bomba de água quando o alarme do celular toca ao longo do dia. "Não existe agrotóxico nessa história", diz ele de imediato ao ser questionado.

O POVO esteve na propriedade de Duarte em dezembro de 2021, quando as plantas estavam com seis meses de cuidados e iniciavam a primeira safra. Até então, o professor havia visitado a produção por duas vezes, dando orientações a ele.

Sem nunca ter colhido antes, o ex-comerciante se aconselhava sobre o melhor momento de retirar o fruto, uma vez que o mirtilo não amadurece após ser retirado do galho, indo do verde ao podre.

Duarte, inclusive, reforça a necessidade de orientação para o início de culturas tão estranhas ao cearense e defende que essa seria o tipo de incentivo ideal para o Governo do Estado.

“Um dos motivos que eu aceitei a falar com o jornal é para que isso incentive o pessoal da Secretaria de Desenvolvimento a fechar um contrato com esse professor para ele vir a cada três meses e dar orientações”, revela.

 

 

Aprendizado com os erros

 

Duarte conta ainda que comprou seis plantas pela internet antes de fechar o contrato com a empresa indicada pelo professor Osvaldo. Sem experiência, das oito mudas, recebeu seis de um tipo de mirtilo que não se adaptou ao clima de Ubajara.

"Mas a gente somente consegue notar isso depois que a planta está grande. Comprei seis meses antes das demais por curiosidade, para saber pelo menos se a planta crescia de um cara no Rio Grande do Sul que me garantiu a qualidade, mas não valeu de nada  " Wlyces Duarte, agricultor e comerciante aposentado

Mais secas e com as frutas murchas e sem gosto, as plantas estão na estufa, mas a produção não é contabilizada. O estado físico das folhas, segundo Duarte, é porque as mudas não suportaram a poda. "As pessoas que forem fazer uma plantação precisam se certificar que é uma coisa profissional, séria, para não jogar dinheiro fora", alerta.

O espaço deve ser ocupado por outras mudas compradas. Mas Duarte não descarta a possibilidade de fazê-las a partir das plantas de maior produtividade, como forma de experiência também. Isso porque o desenvolvimento das mudas leva tempo, como mostrou a ele o fornecedor das mil compradas de Minas Gerais: "eu perguntei se podia encomendar mais mil mudas e ele me disse que apenas ia ter essa quantidade a partir de março ou abril de 2022."

Com as 999 mudas do tipo certo, Duarte lamenta mais uma falha: o posicionamento delas dentro da estufa. O cálculo falhou e todas ficaram muito próximas, dificultando a colheita e até a passagem entre as fileiras. Ele calculou 0,65 metros quadrados (m²) por planta, quando o ideal seriam 0,85 m² ou até 1 m².

 

 

Projeções para aumentar cultivo

 

A ampliação já tem lugar no terreno. Com a casa de apoio construída e duas caixas d’água garantindo a irrigação, o gasto projetado por ele seria no preparo da área – que conta com algumas árvores – e na montagem da estufa. Mas isso não deve acontecer antes dele reaver o investimento inicial. A área é dividida entre a estufa e a casa para onde está se mudando.

"Se esse negócio der certo, para que eu vou me preocupar com outra coisa? Eu já trabalhei muito quebrando a cabeça. Pessoal fala que agricultura é negócio complicado, mas complicado é trabalhar com vendas. Essa agricultura é muito mais tecnológica do que aquela de cavar o chão" Wlyces Duarte, produtor de mirtilo em Ubajara

Hoje, Duarte divide a aposentadoria entre cuidar dos mil mirtileiros e a mudança para a área rural de Ubajara. Os tempos vagos são dedicados às netas, cuja foto das duas loirinhas mostra com orgulho no celular.

 

 

20 anos de exportação, poucos resultados

 

Encarado como uma cultura nova no Ceará, o mirtilo não é novidade para o agronegócio brasileiro. Questionado sobre os cultivos em execução no País, Yamanishi afirma que “tem mirtilo quase no Brasil todo.”

A disseminação se deve ao grande interesse dos produtores quando são apresentados aos preços de venda da fruta, o que não se repete na hora de investir na produção, como lamenta o professor.

“Em Brasília, depois de dois anos de conversa, entrou dinheiro agora e, a partir deste ano de 2022, vai ter recurso para dar assistência à fruticultura”, conta, sobre o projeto apoiado por uma emenda parlamentar da deputada Bia Kicis (PSL-DF).

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Serão cerca de R$ 5 milhões oriundos da Fundação Arthur Bernardes para a compra de 21 mil mudas para dez produtores, no Distrito Federal, com a intenção de replicar a experiência para mais 50 ou 100 e conseguir uma escala de produção via cooperativa, como espera o professor.

“A UNB está assumindo a assistência técnica e eu vou trazer esse pessoal de fora pra fazer curso”, complementa.

Além disso, há, segundo ele, “70 hectares de mirtilo em São Paulo, fazendo exportação na Europa, e a associação de produtores para exportação, além de incentivos de outras áreas, como a Coopercana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo) está fazendo entre a plantação de cana-de-açúcar.”

Mas essas são novas experiências e se juntam às que acontecem há, pelo menos, duas décadas. A falta de interesse de grades produtores associada ao pouco estímulo pelos governos fez com que o mirtilo nunca elevasse a participação na pauta exportadora brasileira de forma significativa. Em 20 anos, a soma de tudo que foi exportado em berry no Brasil chega a US$ 1.238.241 – quase a marca alcançada pelo Peru em apenas um ano.

O comércio internacional do mirtilo no Brasil foi mantido pelo Rio Grande do Sul, cuja frequência de exportação aconteceu entre 2000 e 2012, sempre com o valor oscilando, segundo apontam as informações da plataforma Comex Stats, do Ministério da Economia.

De 2012 até 2018 não existem registros de exportação de mirtilo por brasileiros. Apenas em 2018 há novo envio para o Exterior, com a entrada de São Paulo e Paraná neste mercado. Em seguida, em 2019, a Bahia se mantém constante no comércio exterior do produto. Rio de Janeiro, Alagoas, Maranhão e Santa Catarina aparecem em alguns anos, enquanto os gaúchos saíram de cena.

 

 

Uma fruta, US$ 1 bi em exportação: o caso do Peru

 

Exemplo citado pelo professor Osvaldo Yamanish e pelo governo cearense, o mirtilo no Peru tornou-se um exemplo de sucesso para todos os países interessados em exportar o produto. Apenas no ano passado, os produtores peruanos alcançaram um valor superior à exportação de todas as frutas brasileira em 2020 com a venda da berry.

Dados do Sistema Integrado de Informação de Comércio Exterior do país vizinho apontam um total de US$ 1.004.592.613 contabilizados em mais de 177 mil toneladas.

O montante ainda representa um acréscimo de 23% sobre a exportação da fruta em 2019, mostrando potencial de crescimento ano a ano que as empresas peruanas estão alcançando ao apostar no item.

De 2010 a 2020, de acordo com estudo da Fresh Report 2021, o Peru saltou da 86ª posição entre os agroexportadores de mirtilo para a 1ª. São 16,75 toneladas de berry por hectare plantado no País, o que supera a média mundial de 6,89 toneladas por hectare, conforme investigação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

Uma capacidade de produção aprimorada, que permite a planta ter frutos em praticamente todo o ano, é uma das estratégias do Peru no mercado das frutas silvestres. Informações do governo peruano indicam que, em 2020, o País exportou a fruta durante 11 meses, com intervalo apenas em abril.

A lista dos países-destino do produto é liderada pelos Estados Unidos, cuja demanda excede a produção interna, seguido pelo Canadá. Depois, os países europeus dominam o consumo com Japão e Hong Kong entre eles.

Nos próximos anos, a expectativa do governo peruano é de entrar nos mercados sul-coreano, vietnamita e indonésio com o mirtilo, segundo afirmou Mario Ocharan, diretor de Promoção de Exportações do Peru, na publicação Fresh Report 2021. O representante do governo ressaltou o potencial produtor do País, que tem na uva o principal item exportado – o mirtilo se tornou o segundo da pauta exportadora peruana em dez anos.

As semelhanças apontadas entre o Ceará e os produtores peruanos também são observadas nos gargalos enfrentados pelos produtores do país vizinho, uma vez que Ocharan aponta a execução lenta de projetos de irrigação como um dos principais gargalos.

No entanto, somam-se a isso as dificuldades de um grande exportador: o incremento dos custos logísticos, tanto dentro quanto fora do Peru, devido à falta de contêineres e a demora na concretização de novos mercados.

Mesmo assim, o diretor de Promoção de Exportações aponta uma expectativa de superar a barreira de US$ 9 bilhões no comércio internacional de frutas em 2021.

 

 

Análise dos nutrientes do Mirtilo

Por Filipe Oliveira de Brito  (*) 


Filipe Oliveira de Brito, nutricionista(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Filipe Oliveira de Brito, nutricionista

Frutas são um componente chave da nossa alimentação que, infelizmente, as pessoas têm ingerido cada vez menos. São importantes fontes de vitaminas e minerais, nutrientes chaves para a manutenção de nossa saúde e sistema imune, pontos tão importantes no momento atual.

Quanto à composição nutricional, o mirtilo pouco difere das frutas usuais de nossa alimentação (laranja, goiaba etc.).

Mas não podemos olhar as frutas apenas em relação aos nutrientes! As frutas e vegetais possuem componentes chamados “Compostos Bioativos”, os quais não possuem função de nutriente, mas promovem grande auxílio à manutenção de nossa saúde.

Esses compostos bioativos são substâncias produzidas pelas frutas e vegetais para se proteger da “agressão” do clima, insetos e fungos. No corpo humano, esses compostos apresentam grande efeito antioxidante e anti-inflamatório, ajudando no envelhecimento saudável, manutenção da saúde e bom funcionamento do sistema imune.

O mirtilo é rico em flavonoides, substâncias que possuem efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, ajudando na redução da pressão arterial, artrite reumatoide, controle de doenças crônicas (diabetes, hipertensão, dislipidemia etc.) e melhorando a saúde intestinal (através da melhoria da microbiota, bactérias presentes no intestino).

(*) Nutricionista funcional, mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com atuação em consultório e professor do curso de graduação em Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor) e de cursos de especialização em Nutrição Clínica, Funcional, Esportiva e Fitoterapia.

  • Texto Armando de Oliveira Lima
  • Edição Beatriz Calvalcante e Regina Ribeiro
  • Identidade Visual Isac Bernardo
  • Recursos Digitais Beatriz Cavalcante
  • Fotos Thais Mesquita
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