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A cidade e as cidades
Reportagem Seriada

A cidade e as cidades

Fortaleza completa 295 anos. Para comemorar, O POVO investiga a cidade que muda e se transforma enquanto boa parte dos fortalezenses trava uma batalha contra a Covid-19.
Episódio 2

A cidade e as cidades

Fortaleza completa 295 anos. Para comemorar, O POVO investiga a cidade que muda e se transforma enquanto boa parte dos fortalezenses trava uma batalha contra a Covid-19.
Episódio 2
Tipo Opinião Por

 

Metrópole confinada pelo vírus renitente, Fortaleza aniversaria. Chega aos 295 anos, o último deles em clausura forçada. Lugar de cadeira na calçada e vida em peleja com a rua, a capital cearense viu-se obrigada a esse movimento para dentro, numa encompridada conversa consigo.

Mirante do morro de Santa Teresinha: Uma cidade à espreita de novos tempos (Foto: FCO FONTENELE/O POVO)
Foto: FCO FONTENELE/O POVO Mirante do morro de Santa Teresinha: Uma cidade à espreita de novos tempos

Nesse tempo ligeiro de 365 dias desde abril passado, de vaivém, luto e cultivo de esperança miúda que fosse, de apego ao menor e semeadura de qualquer felicidade, Fortaleza foi se metamorfoseando, como mostram as narrativas que seguem. Todas atadas pelo mesmo princípio de compartilhamento da mudança pelos olhos do outro. Um roteiro de visitação das cidades dentro da cidade.

Que Fortaleza é essa que emerge destes tempos de pandemia? Reparem no que se alterou enquanto não víamos, no que se escondeu e revelou. É esta a cidade que surge. Espaço de atravessamento de tempo, luta e preservação do direito ao mais básico: respirar. Mas também do lamento desse fio de ar que se interrompeu na caminhada.

Às vezes sem o testemunho e o habitual namoro com o que se deixa e transforma, Fortaleza reconstruiu-se na madrugada, no meio da tarde, no calmo do dia, no quente da hora do almoço. Do estádio fez-se hospital, desfeito em seguida, para agora tentar voltar ao que era, reavendo o que é de todos.

Bairro onde cada pedaço é uma quina de mesa repleta de história, a Praia de Iracema agarra-se a sua raiz e faz o que se acostumou a fazer: resiste. Hoje mais que antes, como carne que se inscreve na recusa de que a levem embora, o quadrante boêmio finca pé. Curtida pela maresia, não se dobra à corrosão do que é doença e do que é só novidade besta.

Também no Centro a arte exercita-se a contratempo destes dias de obscurantismo e crueza, palmilhando os passos bailarinos em procura de caminho que seja ora forte, ora leveza, que é como se faz a dança ritual em frente ao teatro de Alencar.

Longe dali, numa outra praça de periferia, é também mulher quem evoca o passado, as brincadeiras de meninice, os anos todos agrupados neste agora para, queixo erguido, rogar que o melhor prevaleça, apostando na beleza contra a aridez desesperançada. Naquele miolo de José Walter, Fortaleza se preserva.
De aniversário, então, eis o convite a se guiar pelo gesto do alheio e a confiar nesse outro para apanhar na palavra e enxergar o que, nesse tempo duro, é descanso de alma.

 

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