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O desenvolvimento de Fortaleza passa pela Beira Mar
Reportagem Seriada

O desenvolvimento de Fortaleza passa pela Beira Mar

FORTALEZA 295 | A nova configuração da avenida Beira Mar é pouco explorada por conta da pandemia da Covid-19
Episódio 3

O desenvolvimento de Fortaleza passa pela Beira Mar

FORTALEZA 295 | A nova configuração da avenida Beira Mar é pouco explorada por conta da pandemia da Covid-19
Episódio 3
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-01-.2021: Obras na Avenida Beira Mar próximo ao local onde ficava a feirinha. Obras iniciadas no governo do prefeito Roberto Cláudio que serão finalizados no mandato do novo prefito José Sarto.  ( Fotos: Júlio Caesar/O POVO)(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-01-.2021: Obras na Avenida Beira Mar próximo ao local onde ficava a feirinha. Obras iniciadas no governo do prefeito Roberto Cláudio que serão finalizados no mandato do novo prefito José Sarto. ( Fotos: Júlio Caesar/O POVO)

Quando a primeira jangada cearense feita a piúba embarcou em 1958 rumo a outro país, o pescador Sebastião da Silva Ramos, 74 anos, estava lá para assistir a partida do grupo de cinco amigos, entre eles o comandante Jerônimo, conhecido como o "príncipe dos jangadeiros”.

“O primeiro raid para outro país saiu daqui, eu vi dali, do Porto do Meireles, onde hoje tem o Náutico, era tudo coqueiro e chão batido”, lembra orgulhoso ao citar o nome dos outros dois portos: Jurema e Boi-Choco, todos localizados onde hoje conhecemos por avenida Beira Mar.

A viagem para a jangada Maria Thereza Goulart terminou em Buenos Aires em um dia como este, 13 de abril, de 1959, aniversário de Fortaleza, após seis meses mar adentro. Os conterrâneos saíram para presentear o então presidente da Argentina, Arthuro Frondizi, e mostrar que o Ceará era o coração do Brasil, como pontua Berenice Abreu em tese de doutorado apresentada na Universidade Federal Fluminense (UFF).

FORTALEZA,CE, BRASIL, 06.04.2021: Sebastião Ramos, 74 pescador. Aniversario de Fortaleza.  (Fotos: Fabio Lima/O POVO)(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA FORTALEZA,CE, BRASIL, 06.04.2021: Sebastião Ramos, 74 pescador. Aniversario de Fortaleza. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

Sebastião comenta que, daquele tempo pros dias atuais, o desaparecimento dos portos e a escassez de pescadores mudaram drasticamente a cultura da pesca na avenida. “Procura-se quem queira usar as embarcações para entrar no mar, mas não encontra. As formações para pescadores já não acontecem mais, a minha última foi em 2017."

Membro da Colônia de Pescadores Z-8, o aposentado tem seis filhos e doze netos, vive com a mulher próximo de onde sempre trabalhou, numa avenida que leva “jangadeiros” no nome. “Aqui tem mudado muito”, cita ao apontar para as transformações na Beira Mar, como o alargamento da faixa de areia, novo calçadão e nova estrutura dos pontos comerciais - as intervenções no local ainda não terminaram.

FORTALEZA,CE, BRASIL, 06.04.2021: Sebastião Ramos, 74 pescador. Aniversario de Fortaleza.  (Fotos: Fabio Lima/O POVO)(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA FORTALEZA,CE, BRASIL, 06.04.2021: Sebastião Ramos, 74 pescador. Aniversario de Fortaleza. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

“É tanto que a primeira reforma que fizeram foi a partir da nossa área. Eu lembro que tudo era areia e parte com terreno de chão batido. Não passava nem carro. Aqui ainda tinha um trem, mas que deixou de existir”, lembra ao apontar para os arranha-céus.

"Mas a maior mudança mesmo é a que estamos vivendo hoje. Onde está a movimentação de pessoas? Eu olho aqui, onde antigamente muita gente caminhava, e não tem mais por conta da pandemia. Mas aqui e acolá passa um e outro caminhando. A diferença é só isso e ainda assim é muito."

Beira Mar após a reforma e em tempos de isolamento(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Beira Mar após a reforma e em tempos de isolamento

Mesmo com a situação epidemiológica crítica por causa da Covid-19, Sebastião confessa que não consegue passar muito tempo longe da Beira Mar. É como se fosse uma injeção de ânimo para continuar o dia. Levanta cedo, vai ao calçadão, caminha e no mais tardar chega em casa às 7h30min.

“O desenvolvimento passa por aqui. Se Fortaleza não tivesse se desenvolvido tanto, nós não teríamos a Beira Mar, e vice-versa.” E complementa: “Já evoluiu tanta coisa que eu acho difícil se desenvolver mais. Se isso acontecer pode ter um desencontro com os pescadores”.

Toda vez que leva um filho ou neto para passear na orla, Sebastião lhes conta sobre a evolução para que saibam quando precisarem rememorar a história da capital e da família. “Eu sou muito grato a Fortaleza, de coração, e, principalmente a Beira Mar. Se não tivesse tido todo esse desenvolvimento, nós não estaríamos aqui."

"Mas a maior mudança mesmo é a que estamos vivendo hoje. Onde está a movimentação de pessoas? Eu olho aqui, onde antigamente muita gente caminhava, e não tem mais por conta da pandemia"

 

Vista aérea da avenida Aguanambi(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista aérea da avenida Aguanambi
 

 
 
Jornalista Ítalo Cosme(Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES Jornalista Ítalo Cosme

Ítalo Cosme * 

A imponente Aguanambi. Eu poderia passar horas olhando o fluxo dos veículos e o brilho dos faróis à noite na passarela sobre a “nova” avenida Aguanambi ― não fosse meu medo de altura. A prioridade aos ciclistas e a linha exclusiva para os ônibus dão charme à parte à via entregue requalificada no fim de 2018. Minhas horas no trânsito rumo ao trabalho de manhã cedo reduziram bastante desde o início do funcionamento do local. Tomar um ônibus no Terminal “Internacional” de Messejana e descer numa das estações da via ou pedalar na ciclovia servem para refletir sobre a vida, escrever e pensar numa Fortaleza cada vez mais acessível.

* Repórter de Cotidiano do O POVO

 

 

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