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Mulheres somem da história do Jornalismo do Ceará
Reportagem Seriada

Mulheres somem da história do Jornalismo do Ceará

HISTÓRIA E MEMÓRIA | Suzana de Alencar Guimarães foi a primeira mulher a escrever uma reportagem no O POVO. Ela e Rachel de Queiroz estrearam textos logo no início do jornal, em 1928, mas seus nomes e os de outras mulheres desapareceram da história do jornalismo no Estado
Episódio 1

Mulheres somem da história do Jornalismo do Ceará

HISTÓRIA E MEMÓRIA | Suzana de Alencar Guimarães foi a primeira mulher a escrever uma reportagem no O POVO. Ela e Rachel de Queiroz estrearam textos logo no início do jornal, em 1928, mas seus nomes e os de outras mulheres desapareceram da história do jornalismo no Estado
Episódio 1
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Uma morava na cidade. A outra, no sertão. Uma começou a escrever aos 14 anos no jornal A Ideia, editado por quatro alunos do colégio Liceu do Ceará. Ela era a única menina entre os meninos Perboyre e Silva, Djacir Menezes e José Clodoveu, responsáveis pelo periódico. Aos 16 anos, em 1927, já escrevia para o jornal O Ceará, de Júlio de Matos Ibiapina, e editava a seção de cartas do leitor. O nome da moça era Suzana de Alencar Guimarães.

Entrevistas Históricas - Suzana Alencar(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Entrevistas Históricas - Suzana Alencar

A outra morava na fazenda Junco, no sertão de Quixadá. Aos 16 anos, em 1927, escreveu uma carta que enviou ao jornal O Ceará, tecendo uma crítica severa e irônica à Suzana de Alencar por esta ter ganho o título de Rainha dos Estudantes. “Título anacrônico para uma República”, escreveu a garota. A editora publicou o desaforo assinado apenas com um “A Tabaroa”. Ali começava a história literária da outra moça, Rachel de Queiroz. As duas foram as primeiras mulheres a escreverem no O POVO.

Rachel de Queiroz se tornou jornalista e escritora. Ocupou espaços em revistas e jornais nos principais veículos brasileiros desde o final da década de 1920 no Ceará, e a partir do final dos anos de 1930, no Rio de Janeiro.

Conteúdo Histórico  - Rachel de Queiroz(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Conteúdo Histórico - Rachel de Queiroz

No entanto, se Rachel plantou seu nome na história da literatura, o mesmo não aconteceu na história da imprensa. O nome dela, o de Suzana e muitos outros nomes de mulheres sumiram da história da imprensa do Ceará e do Brasil.

Nem Werneck Sodré – na história da imprensa no Brasil – nem Geraldo Nobre – que contou a história da imprensa cearense– aponta a presença de mulheres nos jornais.

Geraldo Nobre deixou, na sua pesquisa, várias relações de nomes masculinos. Em uma delas figuram 51 nomes de jornalistas. Todos homens. Suzana de Alencar, Francisca Clotilde, Ana Facó, Alba Valdez ocuparam as páginas dos jornais cearenses disputando com os homens o espaço do pensamento e da produção intelectuais.

Suzana de Alencar Guimarães foi ainda a primeira mulher a fazer parte da diretoria da Associação Cearense de Imprensa desde 1927, quando era ainda muito jovem, até meados dos anos de 1930, de acordo com informações de Associação Cearense de Imprensa (ACI).

Em pé, da esquerda para direita Filgueiras Lima,  Mário de Andrade do Norte, não-identificado e Martins de Alvarez. Sentados, da esquerda para direita Paulo Sarasate, Suzana de Alencar Guimarães, Raul Bopp, autor de Cobra Norato, em visita a Fortaleza no final da década de 1920, Demócrito Rocha e Silveira Filho(Foto: Foto: Arquivo Nirez)
Foto: Foto: Arquivo Nirez Em pé, da esquerda para direita Filgueiras Lima, Mário de Andrade do Norte, não-identificado e Martins de Alvarez. Sentados, da esquerda para direita Paulo Sarasate, Suzana de Alencar Guimarães, Raul Bopp, autor de Cobra Norato, em visita a Fortaleza no final da década de 1920, Demócrito Rocha e Silveira Filho

As duas jornalistas – Suzana e Rachel – compartilharam textos tanto no O Ceará quanto no O POVO. Também escreveram para praticamente as mesmas revistas locais, entre elas A Jandaia. Textos de Suzana de Alencar foram publicados na revista carioca Fon-Fon.

Rachel se tornou a primeira cronista mulher com espaço fixo no jornal O POVO. Teve artigo publicado na estreia do jornal de Demócrito Rocha, em 7 de janeiro de 1928. Com o título “Propaguemos o ensino profissional”, Rita de Queluz – pseudônimo da menina – defendia uma “completa reforma nas bases da instrução” e pregava a “abolição das ridículas academias superiores e a supressão dos preparatórios desnecessários e ridículos”.

A presença de Rachel no jornalismo não passou despercebida pelo jornal católico O Nordeste, que numa nota publicada no início de 1928 afirmava “temer pela alma de Rita de Queluz”, pseudônimo da autora de O Quinze.

A resposta em defesa da jornalista foi publicada n´O POVO, assinada por uma dúzia de homens. Entre os subescritores estão Paulo Sarasate, Demócrito Rocha, Pereira Júnior, Juarez Castelo Branco, Perboyre e Silva.  

Entre Suzana e Rachel estava Demócrito 

Demócrito Rocha era o elo comum entre Suzana e Rachel. Suzana foi praticamente a única mulher, ao lado de Adília de Albuquerque Moraes a colaborar com a revista Ceará Illustrado, fundada por Demócrito Rocha em 1924. A revista tratava de política, literatura e sociedade.

Rachel de Queiroz com Suzana de Alencar na redação do jornal O Ceará, com os pais Daniel e Clotilde
Foto: Acervo pessoal
Rachel de Queiroz com Suzana de Alencar na redação do jornal O Ceará, com os pais Daniel e Clotilde

No O Ceará, fundado em 1925 por Júlio de Matos Ibiapina, Demócrito era redator, Suzana de Alencar foi editora e articulista, e Rachel de Queiroz se tornou articulista, depois, foi editora da página "Jazz Band", com conteúdo voltado para poesia e temas ligados ao movimento modernista de 1922. Quando o jornal O POVO foi criado em 1928, as duas moças acompanharam Demócrito Rocha.

Em comum, elas tinham ideias e comportamentos que divergiam do comportamento social da cidade. Suzana de Alencar tomava cerveja no café Iracema rodeada de homens. Um sacrilégio. Gargalhava em público. O que era considerado quase um crime contra a etiqueta de uma moça educada.

Página da revista Ceará Illustrado, com texto de Suzana de Alencar Guimarães publicado em 1925 (Foto: Acervo pessoal )
Foto: Acervo pessoal Página da revista Ceará Illustrado, com texto de Suzana de Alencar Guimarães publicado em 1925

Usava blusas sem mangas e vestidos nos joelhos. Os cabelos curtos denunciavam total quebra de decoro com os preceitos da época. Tanto Rachel quanto Suzana aderiram ao corte à la garçonne.

Suzana fez prova para ingressar na Faculdade de Direito, reduto exclusivamente masculino. Em meados de 1930, Suzana de Alencar, aprovada no curso, teve de enfrentar uma manifestação contra seu ingresso na Faculdade. Acompanhada do irmão, Antônio Luiz de Alencar, Suzana fez a matrícula e tornou-se a primeira mulher a estudar da Faculdade de Direito.

  Como jornalista do O POVO, jornal de Demócrito Rocha, escreveu sua primeira grande reportagem em janeiro de 1929: “O Arraial Moura Brasil, o outro lado da vida”. Em uma página, a escritora narra a experiência de visitar os casebres que se ajuntavam entre os morros do Croatá e do Moinho, numa outra geografia de Fortaleza.

“De longe, ele se nos apresenta tal como paisagem de cartão postal, um recante de poesia, de doce e voluntária renúncia à civilização...” De perto, é um flagrante de miséria, de pobreza, de infelicidade”, escreve a jornalista Suzana de Alencar.

Reportagem de Suzana de Alencar Guimarães publicada em janeiro de 1929, no O POVO(Foto: O POVO. doc)
Foto: O POVO. doc Reportagem de Suzana de Alencar Guimarães publicada em janeiro de 1929, no O POVO

Numa toada de contrastes entre a bela paisagem e o real inóspito, Suzana descreve a situação de abandono em que viviam milhares de pessoas. Homens, mulheres e crianças partilhavam o esgoto com água fétida que a Rede de Viação Cearense despejada no centro do arraial.

Crianças aos montes sem escola perambulavam pelas ruas do bairro. Miséria. Miséria. Miséria. Repetia jornalista em cada quadrante do bairro.

Na saída do arraial, a jornalista avistou o cemitério São João Batista: “Tínhamos saído de dentro da miséria para defronte da morte!... Nenhuma diferença encontramos entre a morte em vida e a vida depois da morte”. 

 

Arqueologia literária e confraria de escritoras

Cecília Cunha, doutora em Literatura, autora do livro Além do amor e das flores. Primeiras escritoras cearenses(Foto: Acervo pessoal )
Foto: Acervo pessoal Cecília Cunha, doutora em Literatura, autora do livro Além do amor e das flores. Primeiras escritoras cearenses

Foi durante um encontro da SBPC, no Rio de Janeiro, em 1991, que a professora Cecília Cunha ouviu da escritora Heloísa Buarque de Holanda a respeito dos estudos sobre mulheres. A inquietação da estudante de Letras encontrava ressonância nas palavras de Heloísa.

Durante toda a graduação, ela havia se questionado algumas vezes sobre o porquê da ausência de mulheres escritoras na historiografia oficial da literatura. “A palestra da Heloísa abriu uma perspectiva de tentar estudar quais eram as escritoras que haviam antecedido Rachel de Queiroz”.

O resultado da pesquisa da doutora em Literatura pela Universidade de Santa Catarina (UFSC) está no livro Além do amor e das flores: primeiras escritoras cearenses, publicado em 2008.

Cecília chamou sua pesquisa de arqueologia literária. “Era um negócio de escavar mesmo, descobrir essa presença de mulheres, esses escritos”. Vasculhando jornais do século XIX em Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro, ela encontrou 15 mulheres. Decidiu pesquisar quatro delas, porque tinham uma maior produção literária: Emília Freitas, Francisca Clotilde, Alba Valdez, Ana Facó.

“Essa foi uma história marcada pelo silêncio. Um silêncio que não permitiu que elas fossem lidas na sua época”, afirma Cecília. Segundo a pesquisadora, seu trabalho relevou que havia entre essas mulheres contemporâneas uma “certa irmandade”. “Com círculos sociais muito restritos, quase todas elas se tornaram professoras, então formavam uma espécie de confraria de escritoras”.

Na década de 1920, quando Rachel de Queiroz e Suzana de Alencar atuaram na imprensa cearense, Cecília lembra que os tempos eram mais favoráveis. “Já havia o cinema, a fotografia, surgiam outras possibilidades para as mulheres além da almofada, do bastidor e da agulha, embora ainda fosse uma sociedade difícil para a mulher”, analisa a pesquisadora. Ela completa, porém, que Rachel de Queiroz viveu num ambiente de exceção: “Foi criada entre os livros e com liberdade para escrever”.

“Essas duas mulheres Rachel de Queiroz e Suzana de Alencar Guimarães foram marcadas por uma autoconfiança e autoafirmação, porque ainda era considerada uma transgressão para a mulher assumir publicamente seus pensamentos, ficar à mercê da crítica ou do silêncio”, conclui.

 

Há muito tempo... ontem... talvez

Durante os últimos cinco anos, estive a puxar o “fio de Ariadne” da vida de Suzana em busca de encontrar-me com essa mulher que, não por acaso, é minha tia avó e que desde cedo me despertou um chamado por desvendar esse mistério que foi sua vida.

Este foi título de uma crônica de Suzana de Alencar Guimarães publicada na revista Ceará Ilustrado,  em 27 de abril de 1925, por ocasião do aniversário de um ano daquela revista semanal. Sentada em um dos bancos do Passeio Público a contemplar o mar, talvez à sombra do majestoso baobá ali existente, refletindo. Foi por meio de suas crônicas que iniciei esse caminhar para Suzana.

Débora Barbosa, escritora, é sobrinha-neta da jornalista Suzana de Alencar Guimarães(Foto: Acervo pessoal )
Foto: Acervo pessoal Débora Barbosa, escritora, é sobrinha-neta da jornalista Suzana de Alencar Guimarães

Durante os últimos cinco anos, estive a puxar o “fio de Ariadne” da vida de Suzana em busca de encontrar-me com essa mulher que, não por acaso, é minha tia avó e que desde cedo me despertou um chamado por desvendar esse mistério que foi sua vida.

Sem sombra de dúvida, Suzana lutou e levantou a bandeira da liberdade, chamando a mulher cearense a sair do casulo e da mesmice em que se encontrava, suplicando para que deixasse de ser escrava do senhor seu marido. Naquele tempo, a vida da mulher era casar, parir, cuidar dos afazeres domésticos, cuidar do marido e dos filhos.

Usava cabelos cortados “à la garçonne”, o que era um escândalo, pois por onde passava na rua levantava os piores comentários, já que a maioria das meninas tinham cabelo longos e presos em cocós. Além do que, quem mandava nos seus cabelos eram seus homens. Cabelos curtos era uma imoralidade.

Juntamente com seus colegas jornalista, escritores, intelectuais e colegas da Faculdade participava ativamente e engrossava as rodas nos café e clubes da cidade, causando escândalo na época, pois sempre estava rodeada de homens.

Juntamente com seus colegas jornalista, escritores, intelectuais e colegas da Faculdade participava ativamente e engrossava as rodas nos café e clubes da cidade, causando escândalo na época, pois sempre estava rodeada de homens.

Cresceu colaborando com muitos jornais como: O Ceará, O POVO, A Rua, Gazeta de Notícias e Correio do Ceará. Além das revistas: Fon Fon, do Rio de Janeiro; Iracema, de Salvador; Ceará Illustrado, Verdes Mares, Bataclan e A Jandaia, publicadas em Fortaleza.

Suzana preferiu escrever à agulha de crochê, tricô ou bordado. Trocou o fogão pela escrivaninha das redações de jornais e da repartição pública da Alfândega, a qual adentrou por meio de concurso em 1930.
Casamento nem lhe passava pela cabeça, mas o destino a uniu, na década de 1940, ao maranhense Walter Fontenele da Silva, advogado, catedrático da escola de Agronomia que chegou a ser diretor da Biblioteca do Estado. Não tiveram filhos e ela ficou viúva em 1949 quando ele foi acometido pela tuberculose.

Suzana preferiu escrever à agulha de crochê, tricô ou bordado. Trocou o fogão pela escrivaninha das redações de jornais e da repartição pública da Alfândega, a qual adentrou por meio de concurso em 1930.

Suzana de Alencar Guimarães faleceu no dia 4 de outubro de 2000, mas nenhuma notícia saiu na imprensa do Estado, mostrando o quanto nossa memória é curta, mas estamos aqui para fazer renascer a memória dessa mulher que tanto fez cultura e pela autonomia feminina.

Débora Barbosa é sobrinha neta de Suzana de Alencar Guimarães. Débora escreveu um perfil biográfico ainda não publicado da jornalista.


 Jornalista resgata voz feminina na imprensa cearense

Heloisa Vasconcelos, jornalista, escreveu livro reportagem sobre mulheres jornalistas e escritoras (Foto: Camila De Almeida)
Foto: Camila De Almeida Heloisa Vasconcelos, jornalista, escreveu livro reportagem sobre mulheres jornalistas e escritoras

Por que não aparecem mulheres nessa história? A pergunta feita pela jornalista Heloisa Vasconcelos durante a disciplina História do Jornalismo Cearense, no curso de Jornalismo da UFC, motivou sua decisão de trazer à tona algumas dessas personagens deixadas de lado pela historiografia do século XX.

No livro reportagem Ipoméias - mulheres do século XIX na imprensa cearense que ela escreveu para finalizar o curso, dá voz a um quarteto de mulheres que estiveram presentes no jornalismo e na literatura, mas, que segundo Heloisa, foram “apagadas” da história.

O fato de não ver muitas mulheres naqueles livros que eu estudava me incomodou bastante, eu não vi sequer uma mulher jornalista cearense enquanto estudava, toda a atenção ia para homens como Juvenal Galeno e José de Alencar, figuras também importantíssimas.


O POVO - Quando começou seu interesse pela pesquisa das mulheres escritoras? Qual sua principal motivação?

Heloisa Vasconcelos - Eu sou jornalista e na UFC temos ainda no segundo semestre uma cadeira de história do jornalismo brasileiro. O fato de não ver muitas mulheres naqueles livros que eu estudava me incomodou bastante, eu não vi sequer uma mulher jornalista cearense enquanto estudava, toda a atenção ia para homens como Juvenal Galeno e José de Alencar, figuras também importantíssimas.

Eu fiquei com essa inquietação em mim que acabou sendo realmente explorada apenas no fim do curso.
Decidi produzir para meu trabalho de conclusão de curso um livro reportagem sobre as mulheres da imprensa cearense no século XIX. Foi um trabalho árduo que me exigiu bastante pesquisa, já que não há tanto documentado sobre o assunto.

O livro Ipoméias - mulheres do século XIX na imprensa cearense foi o resultado de um ano de pesquisa. Durante minha apuração consegui, inclusive, entrevistar familiares da maioria das mulheres que escolhi como personagem: Emília Freitas, Francisca Clotilde, Alba Valdez e Henriqueta Galeno.

Eu imagino quantas outras participaram daquele movimento de alguma forma escondidas por trás de pseudônimos.Mais que caladas, as mulheres que queriam escrever no século XIX eram apagadas.

OP - Como você avalia que o silêncio em torno das mulheres escritoras prejudicou a percepção do trabalho intelectual e o reconhecimento dessas mulheres?

Heloisa - Prejudicou muito. Naquela época, o simples fato de uma mulher se colocar na imprensa era considerado um absurdo. Então a crítica, quando muito, era bastante dura com as publicações. Na verdade, o que acontecia na maioria das vezes era que essas mulheres não eram sequer abordadas, exerciam um papel muito tímido.

Consegui falar sobre quatro mulheres em meu livro, mas eu imagino quantas outras participaram daquele movimento de alguma forma escondidas por trás de pseudônimos. E como isso veio a ser tema de pesquisa muito recentemente, não há nem documentação. Mais que caladas, as mulheres que queriam escrever no século XIX eram apagadas.

OP - O que mais a surpreendeu durante o seu trabalho de pesquisa?

Heloisa - A primeira coisa que percebi foi como falta estudo ainda sobre o assunto. Falta muita documentação, muita coisa foi perdida, talvez nunca seja recuperada dado o tempo que passou. Mas acho que o que mais me chamou atenção foi o amor dos familiares dessas mulheres por esse legado.

Praticamente tudo que ainda existe sobre elas é guardado pelas famílias com um carinho tão grande, com um orgulho tão grande. Eu não sei contar tantas histórias da minha avó como algumas fontes contaram para mim histórias da bisavó. Todos me receberam de forma muito acolhedora porque queriam que essa história fosse contada. Essa história precisa ser contada.

Eu me apaixonei um pouco pela história de cada uma, mas acho que a que mais me intriga é Emília Freitas. Ela é tida como a primeira escritora cearense, ainda no início do século XIX.

OP - Qual das mulheres que você pesquisou mais chamou a sua atenção e por quê?

Heloisa - Eu me apaixonei um pouco pela história de cada uma, mas acho que a que mais me intriga é Emília Freitas. Ela é tida como a primeira escritora cearense, ainda no início do século XIX. E, por ser mais afastada de nós temporalmente, é a mulher cujos registros são mais ralos.

Não existe sequer uma foto de seu rosto que pesquisadores tenham conhecimento, mas a relevância dela para a literatura até de forma nacional é imensa. Ela escreveu o primeiro livro de ficção científica brasileiro, A Rainha do Ignoto, que conta a história de uma sociedade completamente organizada só de mulheres. Imagina a ousadia de escrever isso no século XIX? Tenho realmente muita admiração.

 

Episódio 2

Na série O POVO é história, leia sobre a agressão ao jornalista Demócrito Rocha, fundador do O POVO, devido a criticas feitas ao governo Moreira da Rocha. O autoritarismo e o ataque à liberdade de expressão no início do século XX no Ceará.
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