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Chacina no Porto das Dunas: inquérito foi arquivado sem ninguém ter sido acusado
Reportagem Seriada

Chacina no Porto das Dunas: inquérito foi arquivado sem ninguém ter sido acusado

Em mais um episódio da Série Crimes Insolúveis, OP+ relembra a Chacina do Porto das Dunas. Apesar das suspeitas de que o crime foi motivado por briga entre facções, investigação não conseguiu concluir quem foram os responsáveis pelo assassinato de seis pessoas em 3 de junho de 2017
Episódio 4

Chacina no Porto das Dunas: inquérito foi arquivado sem ninguém ter sido acusado

Em mais um episódio da Série Crimes Insolúveis, OP+ relembra a Chacina do Porto das Dunas. Apesar das suspeitas de que o crime foi motivado por briga entre facções, investigação não conseguiu concluir quem foram os responsáveis pelo assassinato de seis pessoas em 3 de junho de 2017
Episódio 4
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Na noite do dia 3 de junho de 2017, uma mansão localizada na Rua dos Búzios, no Porto das Dunas, bairro de Aquiraz (Região Metropolitana de Fortaleza), recebia uma festa da qual participavam cerca de 15 pessoas. Por volta das 20h30min, um Jeep modelo Renegade derrubou o portão da residência e, do veículo, saíram, pelo menos, quatro homens que passaram a efetuar dezenas de disparos.

Seis pessoas morreram: Davi Saraiva Benigno, de 23 anos; Edmilson Magalhães Neto, 25 anos; Fernando dos Anjos Rodrigues Júnior, 35 anos; Klinsmann Menezes Cavalcante, 26 anos; Matheus de Matos Costa Monteiro, 23 anos; e Nilo Barbosa de Souza Neto, 33 anos.

Mesmo sendo um dos crimes de maior repercussão do ano mais violento já registrado na história do Estado, a “Chacina da Mansão” ou “Chacina do Porto das Dunas”, nomes pelos quais a matança ficou conhecida, sequer chegou aos tribunais.

Chacina foi destaque da edição impressa do O POVO do dia 5 de junho de 2017(Foto: Reprodução Acevo O POVO.DOC)
Foto: Reprodução Acevo O POVO.DOC Chacina foi destaque da edição impressa do O POVO do dia 5 de junho de 2017

As câmeras de vigilância existentes no local não estavam funcionando e as demais diligências investigativas, conforme o entendimento do Ministério Público Estadual (MPCE), não resultaram em provas sólidas contra os dois suspeitos indiciados pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE).

Em 26 de março de 2024, a Justiça determinou o arquivamento do inquérito que investigava o caso, atendendo pedido do MPCE. Em parecer, o órgão ministerial afirmou que as investigações, na prática, estavam paralisadas, revelando uma “desídia do Estado na investigação de um crime grave”, mesmo havendo “inúmeras cobranças e advertências” por parte do MPCE.

“A existência de um feito policial ativo e em andamento há vários anos, sem qualquer conclusão e, pior ainda, sem qualquer impulso, ofende o interesse público, a credibilidade da justiça e o princípio da eficiência que deve orientar a Administração Pública”, afirmou, em novembro de 2023, o promotor Aníbal Ferreira Cardoso.

Além do indiciamento de dois homens, a Polícia Civil chegou a prender temporariamente uma mulher investigada por envolvimento no caso. As suspeitas não se enrobusteceram, porém.

A chacina de 3 de junho de 2017 em Aquiraz pode ser interpretada como um importante capítulo da história da atuação das facções criminosas no Estado, já que, do que foi apurado, a rivalidade entre as facções Comando Vermelho (CV) e Guardiões do Estado (GDE) aparece como uma das linhas de investigação mais fortes.

Como O POVO mostrou no especial “A Era das Chacinas”, a ocorrência de crimes em que quatro ou mais pessoas são mortas era raridade no Ceará até os anos 2000. Episódios dessa natureza só virariam rotina mesmo nos anos 2010, especialmente, a partir de 2015.

Fac-símile da versão impressa do especial A Era das Chacinas(Foto: Reprodução Acevo O POVO.DOC)
Foto: Reprodução Acevo O POVO.DOC Fac-símile da versão impressa do especial A Era das Chacinas

Consulta nos arquivos do jornal mostrou que, de 2010 a 2015, foram três casos. E nos anos 2000, cinco. O ano de 2015 é um marco na segurança pública cearense, pois foi o ano em que Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) expandiram os “batismos” no Estado, movimento que resultou ainda no surgimento da facção cearense Guardiões do Estado (GDE).

Em 2017, porém, já não havia mais a “pacificação” mantida pelas facções em 2015 e 2016 e o estouro da guerra está diretamente ligado ao recorde negativo de 5.134 assassinatos registrado no Ceará naquele ano — e, provavelmente, à Chacina do Porto das Dunas.

Entretanto, outras hipóteses também surgiram nas quase 400 páginas do inquérito, mas, sem acusação formal, provavelmente, nunca se saiba o que motivou o crime ocorrido naquela noite. No terceiro capítulo da série Crimes insolúveis no Ceará, O POVO se debruça sobre os detalhes da Chacina do Porto das Dunas, mostrando o que ficou e o que não ficou esclarecido no crime.

 

 

A festa e os possíveis alvos

A mansão que foi palco da chacina havia sido alugada para um fim de semana. Era, pelo menos, a terceira vez que a residência era alugada pelas pessoas que promoviam a festa. Um grupo no Whatsapp, criado para reunir os participantes, tinha cerca de 30 membros, mas relatos apontam que a festa chegou a contar com algo entre 50 e 200 pessoas.

O que a festa celebrava foi motivo de controvérsia no inquérito. Algumas das testemunhas afirmaram que a festa marcava os aniversários de dois homens. Outras disseram que se tratava de uma simples “curtição”. Mas também foi dito que a festa celebrava a soltura de Davi Saraiva Benigno, um dos mortos na chacina — a soltura dele havia ocorrido seis meses antes, em dezembro.

Davi “Playboy”, como era conhecido, apareceu nas investigações como o principal alvo dos assassinos. Foi nele que se concentrou a maior parte dos disparos efetuados: ao todo, 29 perfurações foram encontradas em seu corpo enquanto as demais vítimas sofreram entre 5 e 18 tiros.

Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017

Davi havia sido um dos presos na operação “Rave Over II”, deflagrada em novembro de 2015 pela Polícia Civil para combater o tráfico de drogas sintéticas em “raves” da Região Metropolitana de Fortaleza.

Conforme divulgado à época pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Davi havia assumido o comando do tráfico de sintéticos no Ceará após a primeira fase da Rave Over, quando Mário Ítalo Savir, então, com 22 anos, foi preso. Quatro meses separaram as duas ofensivas policiais.

“A delegada (Patrícia Bezerra, lotada até então na hoje extinta Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas — DCTD) informou ainda que durante as investigações, descobriu que Davi e Savir já foram parceiros no esquema criminoso, porém houve uma discussão e eles acabaram se tornando concorrentes”, divulgou em press release a SSPDS em novembro de 2015. “Tendo o Davi já tentado contra a vida de Savir”.

Material apreendido pela Polícia Civil durante a operação Rave Over II, na qual Davi Saraiva Benigno era alvo(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Material apreendido pela Polícia Civil durante a operação Rave Over II, na qual Davi Saraiva Benigno era alvo

Savir foi mencionado apenas de passagem no inquérito da Chacina do Porto das Dunas. Uma testemunha disse que ele havia citado uma terceira pessoa como quem havia sido o responsável pela morte Davi.

Além de Davi, somente uma outra vítima da chacina tinha antecedentes criminais. Fernando dos Anjos Rodrigues Júnior havia ficado preso em 2008 acusado de roubo, falsificação e posse de drogas. Entretanto, no inquérito, outros crimes foram associados a algumas das vítimas.

Testemunhas afirmaram que Nilo era estelionatário e cartãozeiro, ou seja, envolvido com golpes envolvendo cartões de crédito. Um vídeo gravado pelos próprios participantes da festa, horas antes da chacina, mostrava-os, incluindo algumas das vítimas posteriores, ouvindo e cantando a música “Bonde do Estelionato”, um funk que faz apologia ao crime previsto no artigo 171 do Código Penal Brasileiro.

Entretanto, é possível que os criminosos não tenham tido todas as seis vítimas como alvo. Por mais que Davi fosse, de fato, o alvo dos criminosos, o modus operandi que emerge na leitura dos autos mostra que os tiros foram efetuados de forma indiscriminada, em uma tentativa de matar o maior número possível de pessoas.

Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017

Uma das pessoas que estava na mansão no momento do crime afirmou ter sido o único que estava no térreo a escapar dos disparos. Ele disse ter se fingido de morto para não ser morto.

Outra pessoa disse ter subido em uma mesa e pulado o muro da casa, tendo, então, saído correndo. As demais pessoas que estavam na mansão conseguiram salvar-se por estarem no andar superior da mansão, onde os criminosos não foram.

Alguns relataram ter se trancado em banheiros, outros, debaixo da cama. Desses esconderijos, essas pessoas passaram a pedir por ajuda, inclusive, por áudios no Whatsapp.

“Pelo amor de Deus liga para a Polícia. Eles foram atrás de tudim (SIC) e eu saí rastejando, o resto que sobreviveu era quem estava lá em cima”, dizia uma pessoa em um desses áudios.

“Eles mandaram todo mundo ficar quieto e o Davi correu”, constava em outro trecho da gravação. “Eles começaram a atirar e daí mataram todo mundo”.

 

 

 Guerra entre facções teria motivado a chacina?

Os depoimentos no inquérito policial descrevem que parte dos criminosos chegou ao local afirmando que eram policiais, enquanto, outros, diziam que era um assalto. “De joelho, isso é um assalto”, escutou uma testemunha, que também ouviu uma vítima dizer: “Por favor, não faça isso, pelo amor de Deus”.

Uma outra testemunha relatou ter escutado um dos assassinos dizendo: “Te achamos, né, seu porra”. Não foi identificado a quem o executor se referia.

Além do tráfico de drogas sintéticas, o envolvimento de Davi com facções criminosas foi mencionado por testemunhas, embora também tenha havido quem negasse a relação dele com esses grupos.

Para a Polícia, parecia claro, pelo menos em um determinado momento, que os assassinos eram integrantes do Comando Vermelho (CV), que visavam membros da Guardiões do Estado (GDE).

A guerra nos muros na periferia: confronto entre ocupantes de um terreno e homens encapuzados no Pirambu(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA A guerra nos muros na periferia: confronto entre ocupantes de um terreno e homens encapuzados no Pirambu

Em relatório de 8 de junho de 2017, um inspetor afirmava que Davi tornou-se membro da GDE durante o período em que esteve preso na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II).

Outros testemunhos, porém, indicaram que Davi era apenas era “próximo” a faccionados da GDE da comunidade do Lagamar, localizada no bairro São João do Tauape.

“Davi disse que não iria tomar partido”, afirmou, por outro lado, uma testemunha, que disse ter perguntado se ele passaria a fazer parte de alguma facção enquanto estava preso.

O relatório de 8 de junho de 2017 indicava que, ao menos, uma pessoa que participou dos festejos na mansão era ligada ao CV. Por essa suspeita, uma mulher foi presa temporariamente por 30 dias. A hipótese era de que ela havia se infiltrado na festa para repassar informações aos assassinos.

“Reforça a informação (o fato de) a representada (ter saído) ilesa da investida dos matadores, pois estava na parte de cima da residência, onde nenhuma pessoa foi atingida, e que a mesma tem um namorado integrante do Comando Vermelho, que está preso (...), e ainda que o ciclo de amizades desta tem toda a influência de tal organização”, consta em uma decisão judicial.

Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017

A mulher negou qualquer envolvimento com o crime e disse que sequer era integrante de facção. Conforme disse em depoimento, ela era amiga de Davi, que foi quem pagou o transporte dela de Fortaleza até a mansão.

A investigada também disse que, no dia do crime, Davi havia dito a ela que na festa “só tinha GDE”. Ela, então, relatou ter dito a Davi que ele deveria ter contado isso, já que a suspeita morava em um bairro onde atua o CV.

“Com certeza quem matou invadiu a casa foi o Comando Vermelho”, afirmou a mulher no depoimento. “Eles invadiram a casa para matar Davi”.

A investigada ainda relatou um episódio, ocorrido dias após a chacina, em que ela foi abordada por integrantes da GDE. Armados, eles obrigaram-na a entrar em um carro e passaram a questioná-la como os membros do CV souberam da festa na mansão do Porto das Dunas. A mulher conta que foi espancada pelos faccionados, que ainda ficaram com o celular dela antes de liberá-la.

Mesmo com a prisão temporária, a Polícia Civil não conseguiu obter elementos de que a mulher, de fato, havia participado da chacina. Ela foi solta em julho de 2017 e não chegou a ser indiciada.

 

 

Quatro investigados foram mortos em intervenção policial

Uma das linhas investigativas surgidas no inquérito que apurava a chacina apontava que as mesmas pessoas que realizaram a matança no Porto das Dunas buscaram, quatro dia após a chacina, em 7 de junho de 2017, matar um importante membro da GDE em um sítio também localizado em Aquiraz.

Na madrugada daquele dia, diversos homens rumaram em quatro carros para matar João Bosco da Rocha, o “João Presinha”, um velho conhecido das Forças de Segurança por, supostamente, comandar, há décadas, o tráfico de drogas no Lagamar.

A Polícia Civil, porém, recebeu denúncia anônima informando que a ação criminosa seria realizada. Assim, foi montada uma operação policial para deter os assassinos. Quando eles chegaram à rua do sítio, na localidade de Tapera, os policiais anunciaram o cerco.

Armas apreendidas pela Polícia Civil após apuração que resultou em quatro mortos por intervenção policial em Aquiraz no dia 8 de junho de 2017(Foto: Divulgação/SSPDS)
Foto: Divulgação/SSPDS Armas apreendidas pela Polícia Civil após apuração que resultou em quatro mortos por intervenção policial em Aquiraz no dia 8 de junho de 2017

Conforme a versão policial, os criminosos não se renderam e passaram a atirar contra os agentes de segurança. Estes revidaram e conseguiram atingir os suspeitos sem que se ferissem. Quatro suspeitos morreram. Os nomes deles não foram divulgados pela SSPDS, que identificou apenas João Guilherme da Silva Fernandes, o “Branquinho”, de 22 anos.

Dois suspeitos de fazerem parte do bando que planejava matar João Presinha foram presos, mas outros conseguiram fugir. Eles teriam roubado dois carros durante a fuga para poder escapar das Forças de Segurança. Um desses veículos foi localizado no bairro Sapiranga, já em Fortaleza.

No mesmo bairro, foi preso um dos suspeitos de envolvimento na ação. Tiago Nogueira, de 21 anos, havia sido baleado na perna, identificaram os policiais militares que efetuaram a prisão dele.

A esposa dele também foi presa, pois, conforme divulgado à época pela Polícia Civil, na residência do casal, foram apreendidas 20 munições de calibre 380. O casal ainda teria tentado subornar os policiais responsáveis pela ocorrência.

O então secretário da Segurança Pública, André Costa, em entrevista coletiva convocada por ocasião da operação que resultou em quatro mortos por intervenção policial em Aquiraz(Foto: Divulgação/SSPDS)
Foto: Divulgação/SSPDS O então secretário da Segurança Pública, André Costa, em entrevista coletiva convocada por ocasião da operação que resultou em quatro mortos por intervenção policial em Aquiraz

Outro suspeito de participação no ataque a João Presinha foi preso ainda em Aquiraz. Ele foi identificado como José Nailson Santos de Melo, de 25 anos. Na ação, ainda foram apreendidos uma metralhadora calibre 9 milímetros, um fuzil calibre 762 e uma escopeta calibre 12.

Tanto Tiago, quanto José Nailson confessaram, em depoimento, que estavam no grupo que pretendia matar João Presinha, mas ambos negaram participação na Chacina do Porto das Dunas.

Os dois autuados chegaram a ser indiciados pela chacina, mas, sem provas adicionais, não foram denunciados pelo Ministério Público. Eles, porém, foram acusados de tentarem matar os policiais envolvidos no tiroteio.

Por este crime, foram pronunciados em 2022, mas o julgamento só está previsto para abril deste ano. Em 2023, José Nailson e Tiago tiveram a liberdade provisória concedida.

 

 

 As outras hipóteses da matança

Além da rivalidade entre facções, outras hipóteses para a chacina foram ventiladas pelas testemunhas ouvidas pela Polícia Civil. Um familiar de Davi Saraiva Benigno afirmou ter recebido a informação de que o crime se deu por causa de um carro que fora furtado dele um dia antes no bairro Praia de Iracema.

Conforme o testemunho, Davi foi até o bairro Pirambu, para onde o veículo havia sido levado. Lá, ele conversou com um “chefão” da área, disse a testemunha, mas os criminosos quiseram cobrar dele uma taxa para a devolução do veículo.

Davi se recusou a pagar qualquer valor e, “para evitar uma confusão”, os criminosos decidiram devolver o carro, consta no depoimento. “(...) Mas a rixa ficou. (...) Então, mataram Davi no outro dia, no Porto das Dunas”, afirmou a testemunha.

Vista aérea do Grande Pirambu, um dos locais usados como refúgio dos retirantes das secas que assolaram o estado (Fco Fontenele/O POVO)(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista aérea do Grande Pirambu, um dos locais usados como refúgio dos retirantes das secas que assolaram o estado (Fco Fontenele/O POVO)

Conforme outra testemunha, Davi só conseguiu o carro de volta por ter um amigo ligado ao CV, facção que age no Pirambu. Mesmo sendo apontado como integrante da GDE, Davi e esse integrante do CV tinham uma “amizade que muitos invejavam”, disse esse depoente.

Uma outra hipótese diz respeito a uma situação de extorsão pela qual Davi teria passado cerca de uma semana antes da chacina. A mesma mulher que foi presa temporariamente suspeita de envolvimento com a chacina disse ter tomado conhecimento de que Davi e outras pessoas haviam sido abordadas em Canoa Quebrada por policiais.

Com eles, os supostos agentes de segurança encontraram maconha do tipo Skunk e LSD. Os policiais teriam exigido R$ 10 mil para que Davi fosse liberado. Ele teria dito que não tinha o dinheiro naquele momento, mas que poderia pagar R$ 15 mil em uma semana. Davi não teria dado o dinheiro e os policiais passaram a ameaçá-lo.

Não consta no inquérito nenhuma outra informação que corroborasse o relato, não tendo sido identificado nenhum dos supostos policiais que teriam tentado extorquir Davi.

Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Fotos da mansão localizada no bairro Porto das Dunas, em Aquiraz, em que seis pessoas foram mortas no dia 3 de junho de 2017

Nas redes sociais, nos dias que se sucederam à chacina, passou a viralizar uma música que fazia alusão à chacina. Em tom jocoso, o “Rap da Chacina da Mansão” usava parte dos áudios enviados pelos sobreviventes e tinha uma letra que dizia que “um monte de pilantra” haviam se “juntado para curtir” e festejar a “soltura do Davi”.

“E quando de repente, derrubaram o portão / Fuzilaram o Davi, fuzilaram o Gordão / Fuzilaram o Nilo, fuzilaram os GDE / Não gostavam da Polícia, mas chamaram os gambé”, continuava a música, que se encerrava com o seguinte estrofe:

“Ei, vagabundo / Preste muita atenção / Na hora do aperreio / Não chame a Polícia não / Chame os Direitos Humanos, que só defendem ladrão / Ao invés de defender o honesto cidadão”.

 

 

Assim como no caso da chacina, não se sabe quem foi o autor ou os autores do “Rap da Chacina da Mansão”.

 

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