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Bebês reborn: o mercado por trás do hobby
Reportagem Seriada

Bebês reborn: o mercado por trás do hobby

Por trás dos vídeos virais e das demonstrações de afeto, existe uma cadeia produtiva em expansão. Artistas, lojistas e colecionadores movimentam um mercado que une artesanato, tecnologia e consumo afetivo
Episódio 2

Bebês reborn: o mercado por trás do hobby

Por trás dos vídeos virais e das demonstrações de afeto, existe uma cadeia produtiva em expansão. Artistas, lojistas e colecionadores movimentam um mercado que une artesanato, tecnologia e consumo afetivo
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O universo dos bebês reborn movimenta uma cadeia econômica sofisticada, que envolve artistas, fornecedores de materiais importados, lojas especializadas e um público disposto a pagar caro pela exclusividade.

E, embora uma parte do público reborn esteja em busca de um vínculo emocional, há também uma parcela massiva dedicada ao colecionismo. Para os colecionadores, os bebês reborn são peças de arte valiosas que se tornam um investimento.

Celina, bebê reborn com síndrome de down(Foto: Reprodução/Instagram/Mel Bebês Reborns)
Foto: Reprodução/Instagram/Mel Bebês Reborns Celina, bebê reborn com síndrome de down

Um exemplo disso é a influenciadora e colecionadora Mel Bebês Reborns, de 48 anos, que já chegou a possuir 57 bonecos. Ela destaca a importância da representatividade em sua coleção, especialmente por ser uma mulher branca com filhos negros.

Para Mel, é essencial a diversidade, e sua coleção reflete esse compromisso: Celina, por exemplo, é uma boneca com características de uma criança com síndrome de Down. Mel também possui reborns negros, loiros, ruivos e japoneses.

Ela também possui uma loja física de acessórios e inclui suas bonecas nas vitrines, usando tiaras, pulseiras e laços. A exposição vai além do comercial — ela leva suas bonecas para passeios, parques, aniversários e até viagens, aproveitando os momentos para criar conteúdo. “É sempre uma festa”, diz.

A relação com o público infantil na internet é afetuosa: muitas crianças acompanham de perto o trabalho da colecionadora pelo Instagram, enviam mensagens e até pedem para que ela seja “madrinha” de suas bonecas.

No entanto, apesar desse encantamento infantil, ela ressalta que o reborn é uma arte sensível e artesanal, que exige cuidados. Por isso, considera que, embora as crianças se envolvam, trata-se de uma arte pensada para adultos.

Encontro de bebês reborn (Foto: Rwprodução/Facebook/Arte Reborn Brasil)
Foto: Rwprodução/Facebook/Arte Reborn Brasil Encontro de bebês reborn

A comunidade também se fortalece no mundo físico. Há eventos de encontro em parques que reforçam o senso de comunidade e curiosidade em torno do hobby.

No dia 13 de abril de 2025, o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, recebeu um desses eventos. A reunião contou com a participação de influenciadoras digitais que divulgam a rotina com os bonecos. O encontro existe há pelo menos dez anos.

Para a artista Emily Reborn, que já foi em alguns eventos do tipo, trata-se de um espaço onde você pode explorar a diversidade da arte, conhecendo de perto colecionadores que admira, artistas novos e seus trabalhos. Ademais, entende que os encontros servem também para quem deseja adquirir um bebê reborn com mais segurança.

 

 

Mercado e a produção artística

Além de aproximar colecionadores e admiradores, esses eventos também reforçam o interesse pelo aspecto artesanal e técnico das bonecas — um ponto central para entender o fascínio que elas despertam.

Segundo a tese da Universidade Wesleyan Designed to Be Loved: A Material Culture Study of Reborn Dolls, da pesquisadora Milly Berman, a essência das bonecas reborn está enraizada em sua materialidade.

Produzidas majoritariamente em vinil ou silicone, seus corpos imitam com fidelidade o peso, a textura e a aparência da pele humana.

Bebês reborn na maternidade reborn(Foto: Reprodução/Instagram/Alana Babys)
Foto: Reprodução/Instagram/Alana Babys Bebês reborn na maternidade reborn

O vinil, material mais comum, possibilita a adição de peso em membros ocos, fazendo com que o portador precise apoiar a cabeça da boneca — exatamente como se faz com um recém-nascido.

Já o silicone confere uma maleabilidade que aproxima ainda mais o toque da realidade da pele, intensificando a sensação de “vida”. Essa necessidade instintiva de cuidado estabelece uma ponte afetiva entre objeto e usuário.

A pele que confunde o olhar e engana o toque não é acidental — ela é fruto de uma escolha material e artística precisa. Antes de chegar aos consumidores finais e do toque cuidadoso da artista que pinta e monta um bebê reborn, existe outra etapa — menos popular no Brasil, mas essencial: a escultura.

O processo começa com as escultoras, responsáveis por modelar minuciosamente cada traço — o formato da cabeça, a curvatura do nariz, os lábios entreabertos, a expressão delicada do rosto.

É esse primeiro molde, quase uma obra de escultura hiper-realista, que será depois reproduzido em uma fábrica especializada e entregue às mãos das artistas que pintam, montam e dão o toque final de realismo ao bebê.

Emily Reborn é artista reborn(Foto: Arquivo Pessoal/Emily Reborn)
Foto: Arquivo Pessoal/Emily Reborn Emily Reborn é artista reborn

A etapa artística do reborn começa quando o kit chega às mãos da artista. A escultura base — com feições já definidas — é escolhida conforme a expressão desejada: sonolenta, séria, sorridente. A partir dali, começa um trabalho que dura cerca de quatro ou cinco dias.

As etapas, segundo Emily, são: a pele ganha camadas de tinta em tons translúcidos para imitar a textura real de um bebê; veias, manchas, olheiras, até pequenas imperfeições são pintadas à mão; a escolha de características é personalizada: cabelo castanho, loiro ou ruivo, olhos claros ou escuros, etc.

Cada detalhe é pensado para criar uma identidade única — como se fosse um bebê real ganhando vida aos poucos. A artista combina técnica, sensibilidade e intuição para “descobrir” quem aquele bebê será.  "A gente abre um padrão de pintura para imitar a realidade”, diz Emily.

Mas os bebês reborn são também resultado de um processo muitas vezes invisibilizado, pois réplicas não autorizadas circulam no mercado a preços muito abaixo dos originais.

“Um kit original de edição limitada pode custar R$ 1.000. Já uma cópia pirata sai por R$ 100. A diferença é enorme. E quem trabalha com original, como eu, acaba em desvantagem”, explica Emily.

Para ela, a maior questão não é a concorrência em si, mas a desvalorização de um ofício que mistura técnica, estudo e emoção. “Se eu fosse escultora, eu ia me sentir mal em ver meu trabalho sendo replicado sem nenhum crédito, sem nenhum retorno. É muito injusto.”

 

 

Quanto custa um bebê reborn?

O preço de um bebê reborn pronto pode variar bastante, dependendo da complexidade e dos materiais utilizados na criação. Modelos mais acessíveis, com kits antigos ou descontinuados, geralmente custam entre R$ 1.000 e R$ 2.500.

Já os modelos mais personalizados, com acabamentos detalhados e feitos com materiais de alta qualidade, como mohair "O mohair ou angorá é um fio semelhante à lã, produzido a partir do pelo da cabra angorá. A palavra "mohair" deriva do Arábico mukhayyar. " e olhos de vidro, podem alcançar de R$ 3.000 a R$ 10.000 ou até bem mais.

O mercado e a produção artística das bonecas reborn(Foto: Reprodução/Instagram/Emily Reborn)
Foto: Reprodução/Instagram/Emily Reborn O mercado e a produção artística das bonecas reborn

Kits limitados são verdadeiros objetos de colecionador. Alguns moldes têm tiragens mínimas — 400 unidades para o mundo inteiro — e, por isso, tornam-se cobiçados não apenas pela qualidade da escultura, mas pela exclusividade.

Apesar da dependência do mercado internacional, já existem esforços para fortalecer a produção nacional. Moldes brasileiros acabam sendo mais acessíveis, são fruto de um trabalho autoral feito localmente.

Além disso, o valor de um bebê reborn não depende apenas do kit utilizado, mas também da qualidade dos materiais escolhidos para sua finalização. Um dos principais itens que encarecem a peça é o enxoval personalizado, que pode incluir mantas, roupas temáticas, mamadeiras e até certificados de nascimento. Mas não é só isso.

Preço dos reborns varia com a origem e características

“O tipo de cabelo também influencia muito”, explica Emily. Enquanto algumas usam fibras sintéticas, outras optam por mohair, que imita com fidelidade os fios de cabelo de recém-nascido. Os preços variam: o mohair padrão custa cerca de R$ 200, mas há versões mais sofisticadas que chegam a R$ 500 ou mais.

Outro item que altera significativamente o custo são os olhos. Olhos de resina ou acrílico são mais acessíveis, mas os mais realistas são de vidro importado, com preços que podem atingir R$ 300 ou R$ 400 o par.

“Tudo vai depender das escolhas feitas por quem encomenda ou do padrão que o artista quer entregar. Quanto mais realismo, mais investimento”, resume.

 

Lojas de bebês reborn em Fortaleza

Fortaleza conta com algumas lojas especializadas na venda de bebês reborn online, oferecendo desde modelos hiper-realistas que simulam funções biológicas até uma vasta gama de tamanhos e acessórios. Veja onde comprar ou encomendar:

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