Onde ainda cabe a esperança
Há 27 anos, Sebastiana do Carmo Alves, 43, tira do lixo o sustento. Sem renda devido à pandemia, a situação ficou ainda mais críticaNa casa da Sebastiana do Carmo Alves, 43, moram três filhos e quatro netos. Além dos R$ 130 do Bolsa Família, a renda que os sustenta varia de R$ 400 a R$ 650 por mês que vêm da reciclagem. A casa, pequena para oito pessoas, não tem energia elétrica. A única TV tubo que tem entretido as crianças durante a quarentena é ligada à energia da filha mais velha, que tem um puxadinho no quintal.
Quando um adoece, é quase impossível manter a distância dos outros familiares na residência apinhada. Uma vida de escassez. Sebastiana é coordenadora da Associação dos Catadores do Jangurussu (Ascajan), onde 57 famílias tiram o sustento. Ela chegou por ali aos 16 anos, quando começou a trabalhar no extinto Lixão do Jangurussu. Em 1988, ele foi desativado e foi fundada então a entidade.
É dali até hoje que sai o dinheiro para o almoço e jantar. O Bolsa Família ajuda, mas não é o suficiente. Com a pandemia, a Ascajan teve de fechar a porta por alguns dias, deixando todos os associados sem renda. Conseguiram ajuda para reabrir por alguns dias, mas o sufoco continua em meio às incertezas.
“Eu tenho fé que isso vai passar para toda essa gente conseguir trabalhar. Tem muita gente que depende disso, mora de aluguel. É difícil”, lamenta Sebastiana, que está recebendo a renda emergencial do governo. Porém conta que teme ficar sem e quer muito voltar logo à ativa. “Toda ajuda é bem-vinda, mas é complicado não saber o dia de amanhã”, pensa.
São 27 anos saindo de casa às 7h30min e voltando às 18 horas. Uma rotina exaustiva, mas que traz a segurança de não passar fome. Sem essa certeza, os dias são ainda mais angustiantes.
“Minha vida sempre foi o trabalho e meus filhos. Sempre foi puxado. Acho que o poder público poderia ajudar mais, mas eu venci essas batalhas graças a Deus”, afirma. Ela, que aprendeu a escrever o nome há quatro anos, sonha em voltar a rotina para poder tentar estudar e conseguir aprender a ler.
“Quando aprendi meu nome, em todo canto que eu andava, escrevia. No começo, era para não esquecer e depois era orgulho mesmo. Agora, eu quero é estudar e aprender a ler. Quando me mandam uma mensagem no Whatsapp, eu peço para mandarem áudio”, relata.
Sebastiana do Carmo Alves, 43, é coordenadora da Associação dos Catadores do Jangurussu
Economia da escassez
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