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2022. Deambulações sobre o futuro
Reportagem Seriada

2022. Deambulações sobre o futuro

A convite do O POVO, quatro entrevistados analisam 2021 e projetam o ano de 2022 a partir das suas vivências e experiências profissionais. Um médico virologista, uma psicanalista, uma socióloga e um psicólogo deambulam sobre passado, presente e futuro
Episódio 1

2022. Deambulações sobre o futuro

A convite do O POVO, quatro entrevistados analisam 2021 e projetam o ano de 2022 a partir das suas vivências e experiências profissionais. Um médico virologista, uma psicanalista, uma socióloga e um psicólogo deambulam sobre passado, presente e futuro
Episódio 1
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A ideia deste especial de Ano Novo do O POVO Mais é envolver o leitor numa roda de conversa com alguns interlocutores com quem o diálogo possa ser expandido em deambulações sobre o futuro.

Desde 2020, a realidade - no mundo, incluindo o Brasil - trouxe experiências inéditas para a farta maioria dos habitantes do Planeta, quando a pandemia do coronavírus se espalhou pela Terra infectando cerca de 246,7 milhões e levando embora mais de 5 milhões de pessoas.

No Brasil, os números ultrapassam a 600 mil óbitos por Covi-19. Apesar da vacina ter um impacto positivo no cenário da doença, suas variantes mantêm o suspense para 2022, com 2021 encerrando na Europa e Estados Unidos mergulhados em alta de casos e novas restrições a caminho. Um dos maiores empecilhos para amenizar os casos de Covid-19 são o forte movimento antivacina, cujo rastro abre caminho para o descontrole da doença e a produção em série de novas cepas.

Além da saúde, o balanço de 2021 no Brasil bem que poderia ser melhor. No entanto, o desemprego se manteve quase na casa dos quase 13 milhões de pessoas em idade produtiva – são 12,9 milhões, segundo dados do IBGE relativos ao 3º trimestre –, a inflação é a maior desde 2015. Lacrou o ano em 10,42%. A política vive aos solavancos, tentando equilibrar-se entre discursos antidemocráticos – e seus recuos -, na defesa dos postulados anticientíficos – e seus embates -, no combate à produção inclemente de desinformação sobre a pandemia.

Para avaliar esse cenário e projetar o ano de 2022, O POVO envolveu na conversa o médico virologista Eurico Arruda, a psicanalista Denise Maurano, a socióloga Júlia Miranda e o psicólogo e articulista do O POVO Mais Nello Rangel.

 

 

Conhecer de perto o inimigo

Na conversa com o médico virologista Eurico Arruda fica claro que o ano que está chegando não sumirá com a pandemia como “se corta uma cenoura”. Ele alerta que o Brasil precisa permanecer vigilante com o vírus que circula no País e fazer o dever de casa do sequenciamento, a fim de conhecer “de perto” o inimigo. “A gente não pode ficar só dependendo das notícias internacionais alarmantes sobre o surgimento de uma variante não sei quê. Eu nem sei qual é a próxima letra grega para substituir a Ômicron”.

Eurico ainda reflete sobre o ecossistema que integra humanos, animais e máquinas e como as interações entre as espécies facilitam transmissões de novos vírus que precisam de atenção. Diz ainda que os níveis de vacinação do Brasil só foram possíveis devido ao nível de pressão da sociedade.

 

 

Ligações perigosas: religião e política 

A socióloga Júlia Miranda nos conta sobre os arranjos políticos que nos últimos 30 anos elevaram políticos religiosos conservadores à categoria de assunto primordial na imprensa brasileira. Além de despertar a atenção da mídia, a religião entrou para agenda dos pesquisadores acadêmicos que veem o momento como fértil diante das mudanças e reviravoltas políticas que o Brasil vive desde 2018 com as eleições de Jair Bolsonaro à presidência da República.

Autora de vários livros sobre política e religião, Júlia Miranda chama a atenção para os dados incompletos sobre religião no País que mascaram uma miríade de segmentos religiosos que circundam grupos tradicionais seja no ramo católico, nos grupos evangélicos ou de matizes africanas.

 

 

Um país paradoxal chamado Brasil 

O ano de 2022 aponta para possibilidades de mudança e de “esperança”. É o que acredita a psicanalista Denise Maurano, membro do Corpo Freudiano do Rio de Janeiro e autora de vários livros que traçam um diálogo entre a psicanálise, a tragédia, o barroco. Para ela, o Brasil é um país cheio de paradoxos em todos os sentidos e 2022 será, em si, “paradoxal”. Ela analisa que, junto ao cenário de jogos mortais que será montado para a disputa das eleições, haverá também a possibilidade de que o pleito do ano que vem altere os rumos políticos do País.

Denise Maurano acredita que o Brasil, embora diante das crises que o atacam desde 2020 com o acirramento da pandemia que continuou em 2021, tem imensa capacidade de recuperação e criatividade para buscar novas soluções para os problemas que cercam a Nação. Para ela, cada brasileiro e brasileira tem a responsabilidade de se envolver de forma positiva na disputa eleitoral do ano que vem. Sem conformismos nem reações. “Lutar com argumentos, lutar com ideias, lutar com fé, lutar com posições”.

 

 

A arte da escuta 

Com pais artistas plásticos, o psicólogo e arte-terapeuta Nello Rangel vive às voltas com a escuta e as telas. Une as duas experiências, por si só, transformadoras, a fim de tecer, calmamente, suas reflexões sobre o ano de 2021 envolto em perdas e luto e projetar a possibilidade de que em 2022, o cultivo de uma alma serena possa ter impacto na vida cotidiana.

Para o terapeuta mineiro, a palavra "cura" tem sido companhia constante durante a profissão, mas foi ressignificada nos últimos dois anos, quando muitos redescobriram a fala como fonte de encontros durante a pandemia. “Ouvir, esperar, receber o outro na sua aflição, essa sensação de que eu não estou sozinho surge nessa hora”, afirma Nello Rangel.

 

  • Edição Fátima Sudário e Regina Ribeiro
  • Entrevistas Catalina Leita e Regina Ribeiro
  • Edição de arte e identidade visual Cristiane Frota
  • Recursos digitais Catalina Leite e Wanderson Trindade
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