Um dos setores que têm apostado mais fortemente na telemedicina no Ceará é a indústria. Embora já contasse com atendimento médico virtual antes da pandemia, o segmento ganhou impulso com a pandemia no Serviço Social da Indústria (Sesi).
A supervisora em serviços de saúde do Sesi Ceará, Kelma Pinheiro Almeida, destaca que o uso desse recurso na rede de atendimento da instituição “tenta conectar os trabalhadores da indústria e os seus dependentes, bem como a comunidade de um modo geral, com essa conexão diretamente com os serviços médicos, com consultas clínicas 24 horas por dia, além das nutricionais e de psicologia, que ocorrem das 8h às 20h”.
Mais para além da possibilidade de se consultarem de forma online, em casa, esses profissionais devem contar em breve com o suporte da telemedicina no próprio ambiente de trabalho, inclusive para casos de urgência ou atendimentos psicológicos.
Já foi encomendada pelo Sesi e desenvolvida pelo IST (Instituto de Tecnologia e Inovação) do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), uma cabine móvel para teleconsultas, que pode ser instalada com relativa facilidade em uma área livre da empresa que aderir ao serviço.
“Caso o colaborador sinta algum sintoma, uma tontura, uma dor de cabeça entra em contato com a supervisão da sua empresa e se ela já dispuser da cabine, ele marca uma consulta e já recebe orientação para solucionar o problema ou o encaminhamento para o atendimento presencial", pontua Kelma.
"Com relação a receituário, existem assinaturas digitais aprovadas pelo próprio Conselho Regional de Medicina (CRM) que dão o aparato legal para que o médico possa prescrever medicamentos”, detalha supervisora em serviços de saúde do Sesi Ceará.
Sobre o desenvolvimento da cabine, o coordenador técnico do Senai IST, Ataliba Holanda Neto, relata que, a partir da demanda recebida, fez um projeto que foi validado com a equipe do Sesi e desenvolveu a cabine para fazer.
"Como a gente já tinha muita informação do que seria o produto, a gente conseguiu desenvolver essa cabine em três meses”.
Ele lembra que, além da cabine de telemedicina, o Senai IST está envolvido em, pelo menos, quinze projetos voltados para inovação em saúde.
Durante a pandemia, a equipe ganhou reconhecimento nacional com o desenvolvimento do elmo, que permitiu manter pacientes e profissionais de saúde em segurança durante o atendimento.
“Esse foi um produto criado em parceria com outras instituições, que salvou muitas vidas naquele período e hoje está sendo comercializado no mercado. Foi um verdadeiro caso de sucesso”, comemorou Ataliba.
O sistema de telessaúde também teve impacto na saúde pública do Ceará, por meio da Secretaria da Saúde do Governo do Ceará (Sesa) durante a pandemia, com o agendamento virtual da vacinação e controle da população vacinada, além dos exames gratuitos da covid-19.
Atualmente eles contam com o telessaúde, mas apenas entre os médicos especialistas e gestores da saúde, sem atendimentos para população.
"Funciona como um parecer ou uma interconsulta especializada. A vantagem é que tanto funciona como educação continuada, para aquele profissional ou gestor de saúde que está na ponta, como para resolver o problema na atenção primária. Junto daquele médico que já acompanha algum paciente há mais tempo, junto com aquele profissional de enfermagem que já acompanha e, além tudo, não precisa de um deslocamento do próprio paciente que muitas vezes tinha que viajar para algum hospital ou região polo", explica o coordenador da Central de Regulação da Secretaria da Saúde do Ceará, Breno Novais.
Para Novais, o lado positivo da pandemia foi mostrar as inúmeras possibilidades de melhorar a gestão de saúde com as inovações a tecnologia.
"Estamos nessa gestão do governo estadual buscando utilizar cada vez mais essas tecnologias e ferramentas para dar acesso as informações aos pacientes, como por exemplo saber a sua posição na fila (de tratamento)", comentou o coordenador.
Hoje, na regulamentação da Sesa são 26 especialidades médicas, além de atendimento com enfermagem e atendimento de odontologia. É feita uma qualificação de atendimento, alguma solicitação que já vem da básica, e também pra atender as solicitações de telemedicina.
Em julho, o profissional apresentou em Brasília, durante um seminário internacional, o quanto o Ceará avançou em relação a essa regulação especializada.
"Estamos bem a frente de outros estados do Brasil quando o assunto é regulação, acesso à tecnologia e especialidades na regulação em si tanto do usuário como do profissional de saúde da atenção primária e da saúde especializada da central que facilita a regionalização dos atendimentos de boa qualidade à população", afirmou.
Com uma população de aproximadamente 30 milhões de idosos no País, sendo 900 mil dependentes de familiares, cuidadores ou profissionais de saúde para atividades básicas como alimentação e higiene, por exemplo, instituições voltadas para a pesquisa e a inovação tecnológica também têm desenvolvido plataformas digitais, aplicativos e ferramentas que facilitem o atendimento remoto para esse público.
Uma delas é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que em sua unidade no Ceará, desenvolveu a Plataforma Zelo Saúde, compreendendo quatro aplicativos: dois voltados para smartphones e dois para a web, todos integrados via chat para comunicação em tempo real, além de possibilitar armazenamento de dados. O projeto recebeu financiamento de R$ 2,5 milhões.
Entre as ferramentas desenvolvidas para uso por celular estão o Zelo Profissional de Saúde e o Zelo Cuidador/Familiar.
Já as duas ferramentas para a internet têm como alvos o Zelo Gestor e o Zelo Profissional de Saúde Web.
De acordo com Ivana Barreto, uma das cinco pesquisadoras envolvidas no projeto, além de produtos digitais como a Plataforma Zelo, a Fiocruz tem investido em projetos de inovação tecnológica relacionados à telessaúde.
“A gente tem pensado a telessaúde no sentido do autocuidado, da gestão e da pessoa dependente, integrando o profissional da saúde com a família, com o cuidador do idoso e com o próprio gestor do sistema. Esse produto já foi desenvolvido e licenciado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi)”, explica.
Formado em plena pandemia, em 2021, o médico Felipe Araújo, 32, começou a exercitar a profissão no auge do covid-19, mesma época que começou a serem adotas das primeiras práticas de telemedicina no País.
Não tinha vivenciado na faculdade a tecnologia voltada para a área médica. Vivenciou tudo na prática.
“Foi algo muito novo, na verdade ainda é algo muito novo, mas, hoje, a gente já tem melhores ferramentas para o atendimento clínico. Tanto em termos de prontuário eletrônico, como em vídeo e de segurança da informação”, constata.
Para ele, a telessaúde é algo que tem crescido, nos últimos tempos, a passos largos no Brasil. Seu foco de atuação é com a saúde da família e já possui especialização em atenção primária.
“A telemedicina ajuda muito no sentido de ser muito conveniente para o paciente. Não tem tanto espera e ele acaba não se expondo a outros riscos como se fosse presencial numa emergência ou de estar no ambulatório esperando ser atendido”, observa sobre os atendimentos realizados.
Atualmente nas teleconsultas, o médico já pode fornecer e o paciente pode ter uma documentação emitida, uma guia emitida ou uma receita renovada. Do ponto de vista médico, Araújo diz gostar bastante de atender nesta modalidade.
“Eu trabalho bastante com isso, tem um tempo já. O que a gente consegue ver uma um impacto mesmo. Tanto na satisfação dos pacientes, quanto até mesmo em lotação de serviço de saúde, pois aquele paciente que eu estou atendendo se não tiver a telemedicina ele provavelmente estaria na emergência ou em algum outro lugar. Mas a gente não pode esquecer que a telemedicina ela é complementar”, enfatiza.
Ver o paciente chegando na consulta, o toque só mesmo na presencial. Entre os casos de menor gravidade que podem buscar esse tipo de atendimento, o médico destaca os quadros virais - gripes, estriado, casos de gastroenterite, diarreia, vômitos, até mesmo arboviroses, como a dengue.
“Vale ressaltar que o paciente que procurar um atendimento de telemedicina não quer dizer que ele vai ter aquela demanda resolvida por aquele canal. Dependendo da avaliação, dependendo das queixas. O médico vai analisar e ver a necessidade ou não de uma consulta presencial”, destaca.
Para o futuro, ele já vê melhorias nas ferramentais e plataformas que são usadas atualmente, como transferência de arquivos, segurança dos dados e otimização dos prontuários eletrônicos para a integração das informações dos pacientes.
Desde 2021, a estudante de Medicina Veterinária, Isabele Araújo Morais, 18, vem utilizando o pronto atendimento e consultas de telemedicina, além de atendimentos psicoterapêuticos de forma online.
"Acho mais prático, possibilita que eu faça esses atendimentos sem me preocupar com locomoção e sem ocupar tanto tempo da minha rotina. Acho que é um modo de atendimento muito útil e produtivo, com ressalvas de algumas situações, dependendo do caso clínico, tanto hospitalar quando psicoterapêutico o ideal ainda é um atendimento presencial", comenta a jovem.
Para ela, a praticidade, a rapidez e o custo benefício no quesito da locomoção somam-se as vantagens da consulta nessa modalidade. E servem como complementares no caso da medicina, pois alguns exames físicos, além de laboratoriais e de imagem realmente necessitam da execução presencial.
A social media, Bia Nogueira, 34, aderiu no mesmo ano à modalidade virtual para o pronto atendimento. Escolheu pela praticidade também. "Posso ser atendida de onde eu estiver e geralmente a fila de espera é bem curta. O máximo que esperei foi por volta de 15 minutos", faça sobre a experiência.
Ela declara que sempre foi bem atendida, tanto pela enfermagem, que faz a pré-consulta, quanto pelos médicos. "São muito solícitos e atenciosos e são pacientes para explicar cada questão (da consulta). Em caso de necessidade, os exames são recomendados pelo médico e o retorno também pode ser online. todas as guias e receitas eu recebi por e-mail", exalta.
Especial do OP+ sobre os avanços e alcances da telessaúde no Ceará e Brasil