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De natureza a mercadoria: como a valorização imobiliária transforma o verde em ouro
Reportagem Seriada

De natureza a mercadoria: como a valorização imobiliária transforma o verde em ouro

Acesso a áreas verdes tem sido mediado pelo mercado imobiliário em Fortaleza, que se expande em direção a espaços como Sabiaguaba e Cocó. Em meio à escassez de ambientes naturais, lógica do laissez-faire atinge preservação do meio ambiente
Episódio 4

De natureza a mercadoria: como a valorização imobiliária transforma o verde em ouro

Acesso a áreas verdes tem sido mediado pelo mercado imobiliário em Fortaleza, que se expande em direção a espaços como Sabiaguaba e Cocó. Em meio à escassez de ambientes naturais, lógica do laissez-faire atinge preservação do meio ambiente
Episódio 4
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Nas entranhas da selva urbana, onde o concreto se agiganta em forma de prédios altaneiros e a correria turbulenta do dia a dia se materializa em trânsito e barulho, as áreas verdes são como um oásis, tesouros esverdeados onde o ar fresco, o cantar dos pássaros, o crepúsculo e a paisagem se unem num deleite aos sentidos que proporciona momentos de respiro.

Dia de lazer no primeiro projeto Viva o Parque de 2023 no Parque do Cocó(Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo Dia de lazer no primeiro projeto Viva o Parque de 2023 no Parque do Cocó

Em Fortaleza, dois conhecidos exemplos de ambientes naturais são a Sabiaguaba e o Cocó, duas das principais regiões que constituem o mosaico da área ambiental na Capital, entre as poucas que ainda conservam ecossistemas fundamentais para a preservação do meio ambiente.

Abrigo de manguezais e dunas na zona leste, onde há o encontro do rio com o mar, a Sabiaguaba possui rica biodiversidade e ajuda na ventilação, manutenção e proteção de vegetações costeiras, além de ser um lugar que refugia a ligação ancestral de comunidades tradicionais com a mata.

O Cocó, por sua vez, é uma das maiores áreas verdes urbanas do Brasil e abrange extensa porção de mata atlântica, também com vasta diversidade de fauna e flora. É lá onde está a maior Unidade de Conservação (UC) de Fortaleza, o Parque Estadual do Cocó, espaço de preservação ambiental utilizado para atividades recreativas, esportivas e educativas.


Com a expansão e o crescimento urbano, esses dois lugares passaram a ter em comum, além de serem atravessados pelo rio Cocó, ajudarem a manter o equilíbrio ecossistêmico e concentrarem mais de 70% da cobertura vegetal original da cidade, o fato de sofrerem tentativas de exploração da natureza como mercadoria — um propósito orientado, principalmente, pelo mercado imobiliário.

Cada dia mais escassos e degradados, esses ambientes são alvo de uma valorização que os torna objetos de desejo. Quem não gostaria de morar de frente a um local arborizado e tranquilo onde é possível reunir a família num piquenique, praticar atividades físicas ou simplesmente descansar quando há uma pausa no cotidiano?

É justamente sob os pretextos de consciência ecológica, vida saudável, alívio do estresse e diversos outros benefícios proporcionados pela natureza que empreendimentos de alto padrão são apresentados com amplas áreas verdes no entorno, a maioria pertencentes a espaços públicos ou de preservação ambiental.

Imagem aérea do Parque do Cocó, uma das principais áreas verdes de Fortaleza (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Imagem aérea do Parque do Cocó, uma das principais áreas verdes de Fortaleza

O privilégio de habitar próximo ao verde é um argumento que ganha força quando se observa a falta dessa cor pela cidade. Afinal, quanto sobra de verde em uma metrópole?

Do território fortalezense, aproximadamente 83% já foi modificado pelo desmatamento e pela consolidação de áreas urbanas, e menos de 17% da extensão do município ainda abriga vegetação nativa.

É o que mostra um estudo do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar/UFC). Nele, a cientista ambiental Lígia Costa mapeou os tipos de vegetação originária presentes em Fortaleza e o valor remanescente, o que mostrou que a Capital perdeu grande parte da sua cobertura vegetal e, em consequência, parte relevante da sua biodiversidade.

 

Área remanescente da vegetação originária de Fortaleza 


 

“Fortaleza apresenta sérios problemas: todos os ambientes identificados estão sob ameaça dos empreendimentos imobiliários e a cidade tem apenas uma fração pequena de áreas remanescentes, que sofrem com uma série de impactos e precisam de ampliação e restauração ecológica”, pondera a pesquisadora.

Segundo dados da pesquisa, todas as áreas de vegetação de caatinga ficam na periferia, a maior parte no Grande Bom Jardim, e pequenos fragmentos próximos à parte sul do Parque Estadual do Cocó, na divisa com Maracanaú — ambas, no entanto, bastante fragilizadas.

A cientista aponta que o estado ambiental crítico em que a região se encontra é influenciado pelos problemas como pressão do mercado imobiliário, falta de infraestrutura urbana e de saneamento básico, além da marginalização.

Peixes aparecem mortos em trecho do rio Cocó no Jangurussu(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Peixes aparecem mortos em trecho do rio Cocó no Jangurussu

Na Sabiaguaba, os ecossistemas de dunas são parte de unidades de conservação como o Parque Natural Municipal das Dunas e a Área de Proteção Ambiental (APA).

Embora protegidos por lei, sofrem com o tráfego de veículos (buggies, motos), a especulação imobiliária, o parcelamento do solo e a implantação da rodovia CE-010, considerada um dos maiores danos gerados a esse resquício de ecossistema.

“Ela corta a base da duna móvel, logo, a areia se movimenta em direção à rodovia, e ao longo desses anos, esta areia que vai tomando a rodovia é retirada pelo órgão estadual responsável, dessa forma, alterando a dinâmica natural do ambiente”, sinaliza.

Centro Gastronômico da Sabiaguaba abre licitação para o controle do estacionamento (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Centro Gastronômico da Sabiaguaba abre licitação para o controle do estacionamento

Outro dado preocupante mostrado no estudo é o de que a infraestrutura verde da cidade não é eficiente. Isso porque, para que áreas urbanas mantenham equilíbrio e qualidade ambiental, deve ser destinado, da sua área total, no mínimo, 30% do espaço para a cobertura vegetal.

Além dos fatores ecossistêmicos, são reconhecidos os efeitos benéficos que o contato com a natureza gera à saúde humana, desde maior relaxamento até regulação da temperatura e de ruídos que podem causar estresse térmico ou poluição sonora.

Proteger ambientes verdes e estar próximo deles tem influências positivas observadas em relação à longevidade, doenças cardiovasculares, obesidade, saúde mental, qualidade do sono, recuperação de doenças e desfechos de natalidade.

Vista aérea do Parque do Cocó sentido a partir da avenida Sebastião Abreu(Foto: Camila De Almeida)
Foto: Camila De Almeida Vista aérea do Parque do Cocó sentido a partir da avenida Sebastião Abreu

Assim, conforme evidencia Lígia, que é mestranda em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o índice de cobertura vegetal ideal em Fortaleza é insuficiente, já que deveria ser algo em torno de 35 m² por habitante — longe do resultado obtido, que foi de 13,61 m² por habitante.

A parcela da população que consegue ter acesso e contato com essas zonas acaba condicionada a uma divisão que, mais uma vez, se mostra determinada por fatores especulativos — e gera experiências totalmente distintas, inclusive no modo como o meio ambiente é percebido.

Enquanto que para os mais ricos essa proximidade representa felicidade e qualidade de vida, para os mais pobres simboliza uma alternativa de local para sobrevivência, sobretudo porque essas pessoas têm na autoconstrução a principal forma de acesso à moradia.

 Canal do Lagamar durante período chuvoso em Fortaleza: Prefeitura realizou limpeza de canais no início do ano de 2023(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Canal do Lagamar durante período chuvoso em Fortaleza: Prefeitura realizou limpeza de canais no início do ano de 2023

Apesar da maior parte do território de Fortaleza estar coberta por concreto, o trabalho observou que ainda é possível recuperar parcialmente a cobertura vegetal com diferentes vegetações. Porém esse processo deve começar o quanto antes, já que essas áreas sofrem grande pressão para tornarem-se construções, de acordo com a autora.

Como principal estratégia, Lígia propõe a implantação de corredores ecológicos, uma forma de tentar restabelecer uma conectividade entre os poucos fragmentos verdes presentes na cidade, já que “facilitam o trânsito de espécies animais e propágulos de vegetais pela cidade, o que torna possível a manutenção da vida e da qualidade desses espaços”.

Ainda conforme a pesquisadora, um mapa totalmente preciso dos ecossistemas naturais de Fortaleza não é possível de ser obtido porque, ao crescer, a cidade aterrou lagoas, mudou o curso de rios, retirou e aplainou trechos de dunas e mudou o desenho da linha de costa com a construção de portos e espigões — outros traços do desenvolvimento.

Vista aérea da Praça do Pajeú por onde passa um trecho do Riacho Pajeú no Centro de Fortaleza(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista aérea da Praça do Pajeú por onde passa um trecho do Riacho Pajeú no Centro de Fortaleza

“O substrato natural onde Fortaleza surgiu era muito rico em lagoas, quantidade que foi aterrada e se tornou pequena em função do crescimento. Isso vai ter um impacto mais à frente com drenagem, inundações, ilhas de calor”, explica o geógrafo Alexandre Queiroz, professor da UFC.

Na avaliação de Queiroz, a aproximação e interação com o ambiente natural passou a ser incorporado como mais um entre os vários artifícios do mercado imobiliário para valorizar seus produtos.

“Você tem as áreas de qualidade ambiental que sobraram e, ao mesmo tempo, há a constituição de empreendimentos que vendem esse verde como mais um ‘plus’ para transformar esses apartamentos em lugares especiais. Mais uma daquelas formas de apropriar um bem coletivo e público para obtenção e distribuição de lucro entre determinadas classes e segmentos”, destaca.

Parque do Cocó após 50 dias de quarentena durante pandemia do Coronavírus em 2020 (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Parque do Cocó após 50 dias de quarentena durante pandemia do Coronavírus em 2020

Desde o momento do lançamento, condomínios fechados, loteamentos, casas e demais empreendimentos próximos a essas reservas passam pelo fenômeno da supervalorização.

Orquestrado pelos agentes do mercado e ancorado na macroeconomia oscilante, esse movimento é estimulado pelo circuito de capitais do setor e pelas dinâmicas imobiliárias: “Eles têm estratégias, conhecem as leis, as normas, têm uma alta capacidade de influenciar decisões e um discurso que está posto”.

“É a modernização da cidade, a criação de emprego e renda, dinamização econômica, para garantir vantagens como adequação de zoneamentos, flexibilização de normas. Até aí isso está no jogo democrático, a questão é que não funciona só assim”, completa.

Vista aérea de empreendimento imobiliário no Porto das Dunas (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista aérea de empreendimento imobiliário no Porto das Dunas

Para o pescador Roniele Suíra, morador e líder comunitário da Boca da Barra da Sabiaguaba, “a especulação imobiliária é como um câncer que vem chegando com um discurso de cura”.

Defensor das tradicionalidades que envolvem a comunidade, Suíra narra o que tem percebido nas últimas décadas: “Chegam com o discurso de que vão abrir pousadas e que vai ser bom porque vão gerar emprego, mas na verdade só querem usar nossa mão de obra e ocupar nosso território. Depois que têm tudo isso na mão, somos apenas um incômodo paisagístico para eles. E o que nos resta é ser expulso”.

Membro do Conselho Gestor do Parque Estadual do Cocó, ele acredita que a perda de vínculo com as origens e as culturas nativas é a causa de muitos adoecimentos como a depressão e vícios como álcool e cigarro.

Roniele Ruíra, pescador da Sabiaguaba critica avanço de construções na região(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Roniele Ruíra, pescador da Sabiaguaba critica avanço de construções na região

“De repente vem um empreendimento gigante e expulsa as pessoas que estavam na beira da praia, joga pros fundos e se tornam as periferias. Nada contra as periferias, mas esse discurso de desenvolvimento e progresso que a gente vem reverberando é um extermínio”, declara.

“É o maior manicômio depressivo que a gente tem. É ridículo você olhar as pessoas iguais robôs entrando em apartamento, subindo e descendo, não sabem nem quem são os vizinhos delas. Essas pessoas que estão falando de civilização, educação, socializar com o mundo? De que mundo elas estão falando?”, questiona.

Do mar, o pescador relata que é possível avistar as mudanças que têm ocorrido na costa: “Você consegue ver os avanços no entorno. A criação do Parque do Cocó e do Parque das Dunas na verdade foram ferramentas para combater o avanço total, e mesmo assim, por outro lado, para beneficiar e fazer um playground para gringo”.

Roniele Suíra

“Sabiaguaba corre um grande risco de ser extinta enquanto território livre e saudável para se tornar um produtor de depressivos”

“Isso gera uma pressão enorme em lugares que são frágeis”, afirma o cientista ambiental Iury Cruz, membro do Instituto Verdeluz.

“Essa área de praia, da orla, é super frágil, você tem uma vegetação de manguezal que também é muito frágil. As salinas que haviam no Cocó deram lugar a empreendimentos, shopping, apartamentos, que para estarem ali precisam de toda uma infraestrutura por trás”, indica.

Outro ponto que Iury chama a atenção é a captação de água: “Muitos desses prédios fazem uso de água subterrânea para suprir a necessidade, a quantidade de poços artesianos que foram feitos ali é enorme, são muitos metros cúbicos de água retirados daquele lençol freático. E o que acontece? A intrusão marinha, vários poços daqueles já foram fechados justamente porque a água está ficando salobra devido à retirada em excesso”.

Iury Cruz é cientista ambiental, mestrando em Ecologia e Recursos Naturais pela UFC e membro do Conselho Gestor da Sabiaguaba(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Iury Cruz é cientista ambiental, mestrando em Ecologia e Recursos Naturais pela UFC e membro do Conselho Gestor da Sabiaguaba

Enquanto a água sai, os rejeitos entram. Segundo o pesquisador, “há registros inimagináveis de despejo lá, não faz muito tempo que a Seuma fez uma batida e fiscalização nesses prédios para ver se estão fazendo esgotamento sanitário dentro do rio Cocó e foi constatado que sim”.

Cruz, que é mestrando em Ecologia e Recursos Naturais pela UFC, ressalta que o Verdeluz tem recebido relatos das comunidades acompanhadas pelo projeto sobre a chegada de negócios estrangeiros na região de orla do Ceará.

“Visualizam uma área promissora e acabam se instalando de uma forma até meio fraudulenta. Fazem pressão em cima dos próprios moradores para que eles saiam das casas e deixem elas livres para que eles possam comprar, fazer pousadas e outros empreendimentos, que é algo semelhante ao que nós vemos em Jericoacoara”, demonstra.

“Lá a gente vê que aquelas pessoas mais antigas vão sendo quase que expulsas, que é o que vemos hoje tentarem fazer na Sabiaguaba, uma área que não estava tão no foco antigamente como está hoje porque é uma das poucas áreas verdes que ainda restam aqui em Fortaleza”, ratifica.

Ainda que fosse possível mapear todos os prejuízos ao meio ambiente diante dessa e de outras ameaças, para o biólogo e vereador Gabriel Aguiar (Psol), a perda continuaria incalculável.

Clique no Play e dê um passeio pelas dunas de Sabiaguaba

 

 

“Estamos falando de florestas milenares, dunas de 4 mil anos ou mais que guardam sítios arqueológicos de mesma idade, povos que viviam aqui quase 3 mil anos antes de Cristo, que deixaram artefatos nesses locais”. cita.

Trata-se, refere Aguiar, “da maior biodiversidade de Fortaleza, quase 300 espécies de pássaros, mais de 20 espécies de mamíferos silvestres, animais ameaçados de extinção como gato-do-mato, rato-do-mato, serpentes, lagartos, caranguejos como o guaiamum, peixes, área de reprodução de tartarugas”.

Conheça espécies animais e vegetais da região da Sabiaguaba

 

 

Tudo isso resulta, na opinião do vereador, da constante polarização entre duas grandes visões de cidade: uma primeira, a que parte dos territórios, a cidade para se viver; e uma segunda, que muitas vezes parte do Sudeste, do Brasil inteiro ou até mesmo de fora, de pessoas que veem a cidade como mercadoria, uma cidade para se vender.

“E veem nela seu substrato de trabalho por meio da especulação imobiliária. Uma vai estar sempre procurando como ganhar o maior lucro tendo como produto glebas, espaços, enquanto que a outra vai tentar garantir que tenha equipamentos públicos, ruas tranquilas e seguras, casa”, pondera.

No momento em que se discute especulação imobiliária no município, essas duas visões entram em choque — inclusive porque, sublinha Aguiar, uma área ocupada por classes mais altas da sociedade não deseja ter próximo ao imóvel áreas de ocupações periféricas.

Gabriel Aguiar, biólogo em trilha no Parque do Cocó(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Gabriel Aguiar, biólogo em trilha no Parque do Cocó

Basta seguir o curso do rio Cocó para entender o que diz o biólogo: “Pega desde o Conjunto Palmeiras, sobe até o Iguatemi, depois segue até desembocar entre a Sabiaguaba e o Caça e Pesca, um grande ecossistema já bastante degradado por prédios, condomínios de luxo, enquanto noutra ponta tem alguns dos menores IDHs do município, bairros como Palmeiras, Jangurussu”.

Nessas comunidades justapostas ao rio, alude o vereador, há milhares de casas em situação de risco, dentro da área de preservação permanente, unidade de conservação e de proteção integral. “São famílias que não têm outro lugar para morar, que impedem também a recuperação da mata e que em todas as enchentes sofrem, porque estão em vulnerabilidade socioambiental”, expressa.

A discussão toma proporções pelo caráter escasso desses ambientes: “praticamente não existem mais áreas verdes em Fortaleza. E isso continuará até não sobrar mais nada, já que elas são constantemente postas em cheque para serem derrubadas, aterradas ou canalizadas para construção”.


“Os metros quadrados mais caros são na beira do mar, nas praias, na frente de parques, na frente de grandes lagoas. Quanto mais perdemos áreas verdes, já que elas prestam serviços ambientais que todos querem, mais morar perto delas se torna mais caro, e portanto vai ter mais gente querendo construir nessas áreas, até não sobrar nada”, expõe.

Não sobra nem mesmo espaço para a circulação do vento: “Os prédios têm criado um cenário que a gente chama de cânions urbanos, mudando a direção dos ventos, que, muitas vezes, ricocheteia nesses prédios e, ou bate e volta, ou fica preso. Isso resulta em calor, aumento da temperatura, aumento da poluição, porque o local fica menos arejado, o vento circula menos. E toda a população é impactada”.

“Os moradores dessas áreas sofrem com a concentração de poluentes, muitos materiais particulados que o ar não consegue recircular e ele fica represado, então problemas respiratórios surgem muito”, acrescenta.

 

 

Procurada por seguidas vezes pela reportagem, a assessoria da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) não atendeu às demandas, seja de solicitação de dados ou de entrevista com a secretária Luciana Lobo — apesar do extenso prazo concedido (15 dias).

A equipe também não obteve sucesso junto ao Instituto do Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), buscado para consulta de bases e estudos, já que a pasta encontra-se sem assessoria e não houve perspectiva de encaminhamento dos pedidos a nenhuma outra.

 

 

Metodologia

Para esta reportagem, foram utilizados os banco de dados georreferenciados sobre a área de cobertura vegetal de Fortaleza obtidos por meio do Sistema de Informação Geográfica (SIG) e disponibilizados pela cientista ambiental Lígia Costa na pesquisa "Quanto sobra de verde em uma metrópole? Um estudo sobre a cobertura vegetal e corredores ecológicos em Fortaleza, Ceará", de 2022.

Para garantir a transparência e a reprodutibilidade desta e de outras reportagens guiadas por dados, O POVO+ mantém uma página no Github na qual estão reunidos códigos e bases de dados produzidos para as publicações.

 

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  • Texto Karyne Lane
  • Edição O POVO Mais Fátima Sudário e Regina Ribeiro
  • Visualização de dados Karyne Lane
  • Pesquisa Miguel Pontes e Roberto Araújo (O POVO.Doc)
  • Design Lucas Jansen
  • Fotografias Fernanda Barros, Fco Fontenele, Samuel Setubal, Aurélio Alves, Fábio Lima
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