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Fortaleza 105 anos: a ascensão da Série C à final da Sul-Americana
Reportagem Seriada

Fortaleza 105 anos: a ascensão da Série C à final da Sul-Americana

Neste 18 de outubro de 2023, o Fortaleza completa 105 anos de existência. Para marcar a data, O POVO+ lança uma série de reportagens que faz um recorte da trajetória dos últimos seis anos do Tricolor e do marcante trabalho dos técnicos Ceni e Vojvoda. Os dois são responsáveis pelo que se pode chamar de Era do Ouro do Leão do Pici, que saiu da Terceira Divisão do futebol brasileiro para as principais posições da elite nacional e disputa de competições internacionais

Fortaleza 105 anos: a ascensão da Série C à final da Sul-Americana

Neste 18 de outubro de 2023, o Fortaleza completa 105 anos de existência. Para marcar a data, O POVO+ lança uma série de reportagens que faz um recorte da trajetória dos últimos seis anos do Tricolor e do marcante trabalho dos técnicos Ceni e Vojvoda. Os dois são responsáveis pelo que se pode chamar de Era do Ouro do Leão do Pici, que saiu da Terceira Divisão do futebol brasileiro para as principais posições da elite nacional e disputa de competições internacionais
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Os critérios utilizados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para produzir o ranking de clubes mudaram a partir de 2012. A entidade que comanda o futebol nacional passou a considerar apenas as últimas cinco temporadas disputadas, privilegiando, assim, o momento técnico das equipes em detrimento à tradição. Com isso, times que dificilmente teriam chance de figurar entre as principais agremiações do país puderam galgar, ano a ano, melhores posições no ranking, que é utilizado pela CBF como critério para sorteios em competições, certas vantagens e, até pouco tempo, para garantir vagas em alguns torneios.

No primeiro ano com o “novo ranking”, em 2012, o Fortaleza, que disputara a Série C do Brasileiro pelo terceiro ano consecutivo, foi o 28º clube do Brasil, com 845 pontos. Já em 2018, quando o Leão havia deixado a terceira divisão após oito temporadas, com direito à conquista de um vice-campeonato — o ranking sai sempre em novembro do ano anterior —, a queda havia sido acentuada e o Tricolor era o 42º, com 3.289 pontos.

A partir de 2018, o Fortaleza iniciou o ciclo mais vitorioso de sua história de 105 anos, com títulos locais, regionais e uma conquista a nível nacional, vagas inéditas para torneios internacionais e campanhas históricas nos principais certames do país.

 

Conquistas do Fortaleza ao longo da história


A nova realidade fez o Tricolor saltar para a 7ª posição no ranking da CBF, com 12.512 pontos, desbancando times tradicionais, como Corinthians, Santos e Internacional, por exemplo.

O percurso que fez o Leão do Pici ocupar lugar de destaque, estando entre as melhores equipes do país, será detalhado neste especial, que aborda o trabalho de recuperação e a troca de patamar do Fortaleza Esporte Clube em menos de uma década.

O trabalho passa por duas eras no comando técnico, tendo como pano de fundo uma condução ousada, profissional e moderna do presidente que é considerado o maior da história do clube, tanto pela quantidade de títulos que conquistou como pelo lugar para onde levou o Fortaleza.


 

Era Rogério Ceni

De volta à Série B do Brasileiro após oito anos de afastamento, o Fortaleza tinha pretensões modestas na principal divisão de acesso. Longe de ser um dos grandes orçamentos da “Segundona” de 2018, a diretoria do Tricolor considerava a permanência um bom negócio.

Sem Copa do Brasil e Copa do Nordeste, o Leão tinha no calendário apenas o Campeonato Cearense e o Campeonato Brasileiro no ano em que completaria 100 anos de fundação.

Antes mesmo de começar a montar o elenco para a temporada 2018, o Tricolor sofreu uma baixa. O técnico Antônio Carlos Zago, técnico que conduziu o clube ao acesso e que negociava renovação, aceitou proposta do Juventude-RS e, em outubro de 2017, deixou o Fortaleza.

 Antônio Carlos Zago foi o 16° técnico do Fortaleza após oito anos de Série C. Com ele, o Leão conseguiu o acesso em 2017(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Antônio Carlos Zago foi o 16° técnico do Fortaleza após oito anos de Série C. Com ele, o Leão conseguiu o acesso em 2017

A primeira missão do então presidente Luís Eduardo Girão e do vice, Marcelo Paz, era encontrar um técnico para comandar o time. Apontar o nome ideal não era tão fácil. Três dias depois, no entanto, por meio de um acaso, uma oportunidade surgiu para os dirigentes do Leão.

O ex-goleiro e ex-técnico do São Paulo, Rogério Ceni, avisou ao amigo e preparador de goleiros do Fortaleza, o também ex-goleiro Bosco, que viria para Fortaleza participar de um evento. Daí surgiu o convite para conhecer o Estádio Alcides Santos e as instalações do clube. Ceni aceitou e foi ao Pici em 29 de outubro. Houve reunião com os dirigentes e o convite para assumir o comando técnico do Tricolor.


Depois disso, Marcelo Paz, que viria a assumir a presidência do Fortaleza oito dias depois, devido à renúncia de Luís Eduardo Girão, manteve contato com Ceni por telefone, afinando a proposta. No dia seguinte a tornar-se presidente, Paz viajou para São Paulo e foi até a casa do ex-goleiro para definir o projeto e convencê-lo a aceitar o convite. Em 10 de outubro de 2017, o anúncio oficial foi feito.

A apresentação de Rogério Ceni foi feita no Castelão, em 15 de novembro, com a torcida presente. O então técnico do Fortaleza anunciou que iria cumprir o contrato de um ano e queria chegar ao centenário do clube, em outubro, brigando por uma vaga na Série A.


 

Influência e marketing

Com o anúncio de Rogério Ceni como técnico, o Fortaleza chamou a atenção do Brasil. Na mídia nacional, criou-se a “editoria Ceni”, que repercutiu declarações, atitudes e, posteriormente, conquistas do treinador. Os holofotes atraíram patrocinadores e o interesse de jogadores em defender o clube.

Rogério Ceni posa ao lado de Marcelo Paz, de quem recebe camisa comemorativa de 100 jogos no comando do Fortaleza. Ao todo, foram 151 partidas no comando do Leão(Foto: Germana Pinheiro / O POVO CBN)
Foto: Germana Pinheiro / O POVO CBN Rogério Ceni posa ao lado de Marcelo Paz, de quem recebe camisa comemorativa de 100 jogos no comando do Fortaleza. Ao todo, foram 151 partidas no comando do Leão

Quase 100% dos atletas contratados, na coletiva de apresentação, mencionavam que a ligação do ídolo do São Paulo tinha sido fundamental para que o convite fosse aceito. Isso foi primordial para a formação de um bom elenco, mesmo com orçamento curto, algo que era novidade para Ceni.

O clube também soube explorar o fato de ter o  “M1to” "A forma como Rogério Ceni era chamado pela torcida do São Paulo. O ídolo era o mito e o 1, número da camisa do goleiro, tomou o lugar do "i"" como técnico, vendendo camisas especiais e buscando alavancar o programa de sócios-torcedores, que tinha cerca de 12 mil associados. Na época, inclusive, Marcelo Paz afirmou que queria chegar a 20 mil sócios até o início da Série B — atingiu em junho —, o que foi um marco na época. Foi lançado também um programa de sócios pelo Brasil.

A influência de Ceni também pôde ser notada em outros pontos. As críticas feitas pelo treinador tinham peso. Por conta de reclamações dele, a dinâmica de uso do Castelão foi modificada, a CBF emitiu orientação de que o estádio fosse usado somente para a Série A do Brasileiro (já em 2021), estádios de clubes menores foram vetados para uso em fases avançadas do Estadual, dentre outras situações. Internamente, Ceni opinava em diversas situações, desde alimentação à logística de viagens do clube.


 

Mentalidade e método

Acostumado a brigar por títulos enquanto jogador, Ceni implantou no Pici uma cultura de coragem e pensamento grande. O treinador se dedicou por inteiro ao clube, com relatos que usava até madrugadas para traçar planejamentos para jogos muito importantes, e cobrava dos jogadores aplicação e entrega em campo.

Em muitas entrevistas, o treinador dizia que contra adversários que considerava iguais ou inferiores, buscava impor o ritmo da partida; já contra times que considerava tecnicamente superiores, esperava um pouco, mas nunca abdicava de atacar. Na Série B, em 2018, foi propositivo em praticamente todo o certame, enquanto na Série A, a partir de 2019, adaptou-se mais aos adversários, aplicando o esquema 4-2-4, que resultava em muitos gols marcados, mas também expunha muito a defesa.

Rogério Ceni precisou mudar o estilo de jogo do Fortaleza entre uma temporada e outra, durante sua passagem entre 2018 e 2020(Foto: Aurelio Alves/ O POVOS)
Foto: Aurelio Alves/ O POVOS Rogério Ceni precisou mudar o estilo de jogo do Fortaleza entre uma temporada e outra, durante sua passagem entre 2018 e 2020

Inimigo dos volantes “cães de guarda”, Ceni buscava a verticalidade, com passes que deixassem os atacantes na cara do gol; gostava de usar jogadores velozes pelo lado e era adepto ao centroavante de área, tendo consagrado Gustavo, em 2018, depois utilizado bastante Wellington Paulista, nos dois anos seguintes.

Rogério tinha como característica insistir nas ideias que acreditava. Por isso “comprou briga” com torcedores para defender e seguir escalando atletas como Romarinho e David, que superaram uma cobrança inicial por resultados imediatos.

O padrão de trabalho e treinamento utilizados pelo ex-goleiro, inclusive, foi replicado para as categorias de base, no intuito de formar jogadores que viessem a se adaptar às novas diretrizes do Fortaleza.

O treinador participava diretamente das contratações e utilizava bastante o Centro de Inteligência do Fortaleza (Cifec) — que já existia desde 2016, porém ganhou mais protagonismo — para mapear o mercado e escolher peças.

Este mapeamento fez com que o Tricolor olhasse também para o mercado internacional. Por mais que o time ainda não estivesse totalmente preparado para lidar com estrangeiros, com Rogério Ceni vieram ao Pici Germán Pacheco, Santiago Romero, Franco Fragapane e Juan Quintero.

O único que vingou de fato foi o último. O colombiano, inclusive, é o estrangeiro com mais jogos pelo Fortaleza (96) e virou homem de confiança de Ceni na zaga. Se o aproveitamento com os gringos foi baixo, por outro lado despertou o interesse do clube em se adaptar.


 

Resultados em campo

Perfil vencedor e vontade de crescer foram as justificativas mais utilizadas pela diretoria do Fortaleza para justificar o acerto com Rogério Ceni, mas o anúncio gerou um pouco de desconfiança, já que o trabalho dele como treinador no São Paulo não havia empolgado e seria a primeira vez do ídolo são-paulino na Série B, com orçamento reduzido e sem a estrutura com a qual se acostumou desde os tempos de atleta.

Na apresentação, porém, os tricolores se renderam a Ceni. Os experimentos do técnico no Campeonato Cearense de 2018 causaram estranheza. Ele não repetia escalações e mudava o esquema tático entre as partidas. Mesmo assim, o Leão avançou como líder na primeira fase. Na etapa seguinte, ficou atrás do Floresta na classificação, mas despachou o time da Vila Manoel Sátiro com duas vitórias na semifinal. A decisão foi contra o Ceará, e o Tricolor, que ainda não tinha batido o maior rival naquela temporada, perdeu as duas partidas. Houve pressão pela demissão de técnico, mas a diretoria bancou a permanência.

Na estreia pela Série B do Brasileiro, o Fortaleza encarou o Guarani no Castelão. Vencer era uma necessidade para amenizar o clima com a torcida e o próprio treinador sabia disso. Com um gol de falta aos 49 minutos do segundo tempo, o Tricolor venceu por 2 a 1 e deu largada a uma campanha com dois grandes períodos de invencibilidade, no início e no fim do certame, mas também dois períodos turbulentos na metade. Mesmo assim, foram 36 rodadas na liderança e a conquista do primeiro título nacional do clube.

Torcida e elenco do Fortaleza fazem a festa na capital após o título do Campeonato Brasileiro da Série B, em novembro de 2018(Foto: Mateus Dantas, em 11 de novembro de 2018)
Foto: Mateus Dantas, em 11 de novembro de 2018 Torcida e elenco do Fortaleza fazem a festa na capital após o título do Campeonato Brasileiro da Série B, em novembro de 2018

Os bons resultados de 2018, além de garantirem uma celebração de centenário festivo e confirmarem a boa escolha da diretoria, também foram um sucesso na arquibancada. Só na Série B, o Tricolor levou mais de meio milhão de pessoas ao Castelão e teve média de público de 28.702 pessoas, três vezes mais que o segundo colocado e maior que 16 clubes da Série A daquele ano. Em outubro, a marca de sócios-torcedores havia ultrapassado a casa dos 23 mil.

Manter Ceni para 2019 era necessário, mas outros clubes tinham interesse. O próprio Rogério afirmava não saber se podia entregar mais ao clube do que já havia feito. A diretoria do Tricolor, porém, conseguiu a renovação. A missão agora era muito mais difícil, a começar pelo calendário. O Fortaleza teria o dobro de competições pela frente, incluindo a Série A do Brasileiro. O elenco foi reforçado novamente sob o prestígio do treinador.

Cinco meses após o título da Série B, o Fortaleza erguia a segunda taça com Rogério no comando, desta vez do Campeonato Cearense. A final foi novamente contra o Ceará e, na revanche, o Tricolor venceu os dois jogos, sagrando-se campeão e abrindo caminho para um futuro pentacampeonato.

Sob o comando de Ceni, Fortaleza ganhou do Ceará duas vezes na final do Campeonato Estadual e faturou o título de 2019(Foto: Julio Caesar / O POVO)
Foto: Julio Caesar / O POVO Sob o comando de Ceni, Fortaleza ganhou do Ceará duas vezes na final do Campeonato Estadual e faturou o título de 2019

Em paralelo, o Leão voltava a disputar a Copa do Nordeste e fez uma campanha praticamente impecável. Avançou como líder de seu grupo para o mata-mata e depois disso sequer sofreu um gol. Deixou Vitória e Santa Cruz para trás e, na final, superou o Botafogo nas duas partidas, sendo campeão em João Pessoa.

Por ter faturado a Série B do ano anterior, o Fortaleza voltou para a Copa do Brasil logo nas oitavas de final, mas apesar de ter feito dois jogos competitivos com o Athletico-PR, caiu logo de cara, com o placar agregado mínimo de 1 a 0. A menina dos olhos da temporada, no entanto, era a Série A.

No Brasileirão, o Fortaleza de Ceni encontrou dificuldades. Até a saída do treinador para o Cruzeiro — ele já havia recusado sete convites para deixar o Pici —, em agosto, antes da realização da 14ª rodada, o Leão tinha vencido apenas quatro de 13 jogos. As derrotas eram quase sempre por placares apertados e o time era competitivo, mas a luta contra o rebaixamento era a realidade.

Na saída de Ceni, Zé Ricardo assume, mas dura pouco tempo

O novo treinador ficou no cargo por menos de dois meses. Em apenas sete jogos, acumulou quatro derrotas, dois empates e uma vitória.

Ceni retorna para realizar melhor campanha na Série A

Em seu retorno, treinador levou o time à nona colocação, a melhor da história do time até aquele momento.

Treinador substituto, Zé Ricardo não conseguiu bons resultados (uma vitória e dois empates em sete jogos) e a postura na borda do gramado, pacata, não agradava, por isso a demissão veio em dois meses. A investida do ex-técnico na Raposa também não tinha sido bem sucedida e o Leão trouxe Rogério de volta.

Nos 17 jogos em que comandou o Fortaleza até o fim da Série A, só quatro derrotas foram contabilizadas e o Tricolor terminou na 9ª posição, com direito a festa no Castelão contra o Bahia, na rodada final, para celebrar a melhor campanha do time na elite e uma vaga inédita para a Copa Sul-Americana.

 

Desempenho do Fortaleza ao longo do Brasileirão 2019

 

Mais uma vez, o torcedor tinha comparecido em grande escala, com média de 33 mil pessoas por jogo, a segunda maior do campeonato, atrás somente do Flamengo. A boa temporada fez o programa de sócios-torcedores ultrapassar a marca de 31 mil tricolores.

Para 2020, o Fortaleza enfrentou mais concorrência para manter o comando técnico e conseguiu outra renovação. A temporada foi interrompida em março por conta da pandemia do novo coronavírus. Até lá, no entanto, o Tricolor estreou em uma competição internacional, encarando o Independiente-ARG em mata-mata na Sul-Americana.

Cada time venceu em casa, mas pelo critério do gol fora, mais de 52 mil torcedores saíram do Castelão com gosto amargo na boca, mesmo com o resultado de 2 a 1 sobre os argentinos (na ida havia perdido por 1 a 0), que culminou na eliminação do Leão.

Fortaleza foi eliminado em casa pelo Indepediente-ARG na Copa Sul-Americana de 2020(Foto: JL Rosa para O POVO em 27 de fevereiro de 2020)
Foto: JL Rosa para O POVO em 27 de fevereiro de 2020 Fortaleza foi eliminado em casa pelo Indepediente-ARG na Copa Sul-Americana de 2020

Na Copa do Nordeste, o Tricolor estava com classificação confirmada para as quartas de final quando a bola parou e no Estadual havia disputado apenas uma rodada da primeira fase. Foram quatro meses de pausa, com as competições sendo retomadas em julho.

Na Copa do Nordeste, houve uma concentração de jogos na Bahia e o Fortaleza caiu na semifinal diante do Ceará. No Campeonato Cearense, a equipe de Rogério Ceni passou bem pela segunda fase e eliminou o Guarany de Sobral na semifinal, chegando a mais uma decisão de Clássico-Rei, porém com os dois jogos acontecendo em setembro. O Leão ganhou os dois mais uma vez e celebrou o bicampeonato.

Com Arena Castelão vazia devido à pandemia de Covid-19, o Fortaleza celebrou o bi do Campeonato Cearense em 2020, ao superar o Ceará na grande final.(Foto: Aurélio Alves / O POVO)
Foto: Aurélio Alves / O POVO Com Arena Castelão vazia devido à pandemia de Covid-19, o Fortaleza celebrou o bi do Campeonato Cearense em 2020, ao superar o Ceará na grande final.

O Campeonato Brasileiro começou em agosto e o Fortaleza demorou três rodadas para começar a pontuar, mas depois conseguiu engatar uma campanha melhor que no ano anterior. Depois de 18 rodadas, o Leão era o 9º colocado, quando Rogério Ceni decidiu romper contrato mais uma vez. Ele aceitou um convite do Flamengo, semanas após ter afirmado em uma entrevista em rede nacional que não pretendia mais interromper trabalhos. A saída se deu em 9 de novembro.

Antes disso, Ceni havia alcançado a marca de mil dias no comando do Fortaleza, em setembro, e no mês de outubro tinha enfrentado o São Paulo pelas oitavas de final da Copa do Brasil — time entrou novamente nesta fase porque havia sido campeão da Copa do Nordeste no ano anterior. Com dois empates, o classificado foi definido nas cobranças de pênaltis, e venceu o Tricolor Paulista.

Apesar da mágoa deixada na torcida, que chegou a homenageá-lo com um mosaico, e até da diretoria, Rogério Ceni deixou o Pici com o indubitável status de maior técnico da história do Fortaleza, pelo menos até aquele momento. Veja abaixo seus principais feitos no comando do Leão.

 

Rogério Ceni à frente do Fortaleza

 

 

A fase da transição

Após mais uma saída não programada de Rogério Ceni em novembro de 2020, a diretoria do Fortaleza demorou três dias para anunciar um substituto e, depois de receber algumas negativas de profissionais acostumados a trabalhar na Série A, optou por Marcelo Chamusca, que já havia passado pelo clube nos anos de 2014 e 2015. A missão dele era evitar a queda de desempenho que havia ocorrido no ano anterior, depois de uma troca forçada de comando.

A terceira passagem de Chamusca pelo Pici, no entanto, foi curta. Após nove jogos, ele havia vencido apenas uma partida, empatado quatro e perdido outras quatro. O Leão caiu da 9ª para a 15ª posição, tendo somado somente seis pontos no período. A dez jogos do fim do Campeonato Brasileiro e com a briga contra o rebaixamento tornando-se realidade mais uma vez, a diretoria agiu rápido e, em menos de 24 horas, anunciou a contratação de Enderson Moreira, com contrato até o fim de 2021.

Enderson cumpriu a missão de deixar o Tricolor na Série A, mas sem brilho. Das dez partidas, ele venceu apenas três e empatou uma. Dentre os triunfos, no entanto, bateu Vasco e Coritiba, dois concorrentes diretos na luta contra o Z-4, que foram rebaixados. Na última partida em casa, outra vez contra o Bahia, na penúltima rodada, o Leão foi goleado por 4 a 0.

 

Desempenho do Fortaleza ao longo do Brasileirão 2020


Apesar de não ter agradado à maioria dos torcedores, Enderson seguiu no clube para cumprir o contrato e iniciou as competições da temporada 2021. Ele conseguiu sustentar uma invencibilidade de seis partidas, até que perdeu para o lanterna Santa Cruz na Copa do Nordeste, posteriormente passou mais sem jogos sem perder, porém, o último duelo desta sequência foi válido pela semifinal do Nordestão e após empate no tempo normal, o Leão foi eliminado nos pênaltis.

Se por um lado os resultados de Enderson eram positivos, por outro, a performance em campo não convencia. Diretoria e torcedores estavam acostumados ao padrão de jogo corajoso e mais ofensivo implementado por Rogério Ceni em dois anos. A queda no Nordestão foi o pretexto para a demissão do treinador, que tinha um aproveitamento superior a 76%. Os tricolores aprovaram a decisão.

Pensando na Série A, que se aproximava, os dirigentes do Tricolor queriam um técnico que correspondesse ao nível do sarrafo deixado por Rogério e decidiram ter paciência para encontrar este profissional no mercado. Com um novo diretor de futebol, Alex Santiago, um entusiasta do futebol sul-americano, o Tricolor ampliou o olhar para fora das fronteiras brasileiras. Nove dias depois, o novo comandante tricolor havia assinado com o Fortaleza.

Marcelo Chamusca chegou ao Fortaleza para substituir Ceni

Com ele no comando, o Leão caiu da 9ª para 15ª colocação, à beira da zona de rebaixamento.

Enderson assumiu com dever de manter o time na Série A

O treinador conseguiu livrar o Leão do rebaixamento, mas baixo desempenho na temporada seguinte pesou para sua saída.

 

 

Era Vojvoda

A informação de que o Fortaleza poderia fechar com um técnico estrangeiro causou alvoroço. Nomes dos mais variados foram especulados. A preferência, no entanto, era pelo brasileiro Fernando Diniz, que ouviu a proposta, mas recusou o convite. Aquela negativa abriu espaço para um profissional do exterior e o nome de Juan Pablo Vojvoda, lembrado por Alex Santiago e pesquisado pelo Cifec, posteriormente, só vazou já perto do dia do anúncio.

Junto com o convite, o argentino recebeu todo o material do elenco para analisar se viria ao Brasil comandar o Leão. Depois de quase uma semana de análise, Vojvoda topou o desafio. O anúncio oficial foi feito pelo presidente Marcelo Paz, em uma live nas redes sociais do clube.

Juan Pablo Vojvoda desembarcou em Fortaleza em 11 de maio de 2021, sendo recepcionado pelo próprio presidente do clube, Marcelo Paz(Foto: Leonardo Moreira/ FEC)
Foto: Leonardo Moreira/ FEC Juan Pablo Vojvoda desembarcou em Fortaleza em 11 de maio de 2021, sendo recepcionado pelo próprio presidente do clube, Marcelo Paz

Além do comunicado, o dirigente justificou a escolha do nome. Pesou a favor do argentino as campanhas recentes, com times que o Fortaleza considerava estar nos mesmos padrões, como Talleres e Defensa y Justicia, além do trabalho no Chile, onde o treinador tinha sido vice-campeão com uma das equipes de menor orçamento da competição, tal qual o Tricolor na Série A.

O perfil de Vojvoda também foi importante. Paz o definiu como moderno, adepto ao jogo ofensivo, à manutenção da posse de bola e ao jogo construído desde os zagueiros. Foi citado também que o novo comandante era muito ligado à tecnologia aplicada ao futebol.

Estava claro que o Fortaleza não queria apenas resultados, mas boas atuações, e essa seria a missão do argentino com ascendência croata. Ele chegou ao Pici cinco dias após o anúncio, dormiu na sede do clube e no dia seguinte começou os trabalhos.

 

 

Vojvoda: codinome intensidade

Se tem uma palavra que resume Juan Pablo Vojvoda é intensidade. Seja nos treinos, que costumam ser longos, seja em campo. O bom preparo físico e o estado de alerta nos atletas que trabalham com o argentino precisam ser constantes, para atender uma característica dos times que ele comanda: buscar o gol do primeiro ao último instante.

Com esse estilo de jogo, o Tricolor já venceu muitas partidas importantes com gols marcados na reta final das partidas. Para que tanta intensidade não cause muito desgaste, o técnico costuma girar o elenco, não tendo o hábito de definir uma escalação titular, o que ajuda a não ficar tão previsível para os adversários.

Juan Pablo Vojvoda tem entre suas características a intensidade e a busca pelo gol do primeiro ao último instante(Foto: Aurélio Alves / O POVO)
Foto: Aurélio Alves / O POVO Juan Pablo Vojvoda tem entre suas características a intensidade e a busca pelo gol do primeiro ao último instante

Para ele, as funções em campo são mais importantes que as posições em si, daí os atletas se alternarem em alguns espaços do campo, até como forma de se desvencilhar da marcação. Vojvoda tem apreço pelos “coringas”, que são capazes de atuar em diferentes pontos do esquema tático, e mostra no Tricolor uma facilidade de encontrar novas formas de atuação para um determinado atleta, de forma a torná-lo mais relevante para o clube e, consequentemente, ter mais chances de jogar.

Trocar de esquema tática de um jogo para o outro também não é problema para o comandante tricolor. Apesar de ter implantado o 3-5-2 como formação de segurança, em 2021, já utilizou outros desenhos táticos e gosta de fazer adaptação em meio ao jogo, quando acha necessário.

A relação dele com os atletas é baseada na confiança. O argentino faz questão de lembrar nas coletivas que confia no grupo e transmite isso ao time, no dia a dia, tendo o elenco do lado dele. Evita críticas individuais e prefere sempre comentar sobre o grupo. Não tem receio de fazer troca de peças, inclusive no gol, e se entender que algum jogador está fora da filosofia geral, opta por afastá-lo do grupo.

No Pici, Vojvoda conseguiu, junto de sua comissão técnica, adaptar os jogadores estrangeiros que chegaram. Talvez pela facilidade de comunicação, pela língua espanhola, fez com que argentinos, colombianos, equatorianos chegassem e jogassem ao lado da maioria brasileira do elenco. Com isso, abriu definitivamente o Fortaleza para o mercado sul-americano.

Leal, Vojvoda não se deixou seduzir pelos muitos convites que surgiram nos dois anos em que comandou o Tricolor até aqui. Mesmo com contrato concluído, deu preferência ao Leão para renovação em detrimento a valores altíssimos oferecidos por equipes bem mais tradicionais do Brasil. A continuidade só fortaleceu o trabalho dele no clube e fez crescer a simpatia do torcedor por ele.

Alguns tricolores o encontram na igreja, no dia 13 de cada mês, ou em algumas poucas saídas que geralmente são registradas com selfies e vídeos curtos por torcedores. A ida a Canindé, para pagar uma promessa, é um exemplo disso, bem como o episódio do “portone”.

 

 

Resultados em campo

O primeiro dia de trabalho de Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza foi 10 de maio de 2021, uma segunda-feira. Naquela semana, o Leão tinha jogos marcados contra o Crato, dois dias depois, e contra o Ceará, no sábado, ambos valendo pela segunda fase do Campeonato Cearense. Foi cogitado que o argentino não fizesse estreia na quarta-feira, pelo tempo mínimo para treino, mas somente no Clássico-Rei. Ele, no entanto, estava na borda do gramado do estádio Raimundão, em Caucaia, no jogo diante do Azulão.

Em meio a um forte temporal, que gerou queda de energia por alguns instantes, o Tricolor fez 6 a 1 com extrema facilidade. Placar e performance agradaram bastante, tanto pelas condições climáticas adversas quanto pelo contraste apresentado pelo grupo em referência aos dois jogos anteriores, empates burocráticos e sem gols contra Pacajus e Ferroviário.

Ainda assim, era o Crato do outro lado e o verdadeiro desafio do novo treinador seria encarar um Clássico-Rei logo de cara. Jogando como visitante, o Fortaleza ganhou por 2 a 0 e espantou qualquer desconfiança inicial pela aposta em um técnico estrangeiro. Com Vojvoda, o Leão engatou uma sequência de 12 jogos de invencibilidade, sendo interrompido apenas pelo Flamengo, já pela Série A, no Maracanã, em jogo que começou muito favorável aos cariocas, mas terminou bastante equilibrado e com o placar apertado de 2 a 1.

Antes disso, no entanto, o argentino já havia se sagrado campeão cearense, ao chegar invicto na final, ter a vantagem do empate por melhor campanha e empatar sem gols contra o Ceará. Foi o primeiro técnico estrangeiro a conquistar o “Manjadinho”.

Fortaleza conquistou o tricampeonato Cearense em 2021diante do maior rival Ceara(Foto: Aurélio Alves / O POVO)
Foto: Aurélio Alves / O POVO Fortaleza conquistou o tricampeonato Cearense em 2021diante do maior rival Ceara

Até conhecer a primeira derrota no Leão, Vojvoda chegou a disputar mais dois Clássicos-Rei, pela terceira fase da Copa do Brasil, e melhorou o histórico contra o Vovô. Depois de um empate em 1 a 1 na ida, o Tricolor fez 3 a 0 na volta e despachou o maior rival.

No Campeonato Brasileiro, o Fortaleza embalou logo no começo da competição, com direito a vitória sobre o Atlético-MG, que viria a ser o campeão, em pleno Mineirão, e enfiou uma goleada de 5 a 1 no Internacional, em seguida, em casa. Com apenas quatro derrotas no primeiro turno, o time de Juan Pablo Vojvoda demonstrava que brigaria dentro do G-4 e figurou por lá muitas rodadas, mesmo com oscilações na metade do certame. As vezes que ficou fora desse conjunto, foi 5º ou 6º colocado, o que significa que o Leão nunca esteve fora do G-6.

Em meio a resultados históricos em partidas e quebras de tabu, o Fortaleza conseguiu a melhor posição final de um nordestino na Série A de pontos corridos. Por conta disso, outro sonho que parecia distante há poucos anos estava realizado: o Tricolor iria disputar a Copa Libertadores da América em 2022, cinco anos após deixar o inferno da Série C.

 

Desempenho do Fortaleza ao longo do Brasileirão 2021

 

O Fortaleza foi o primeiro time cearense a chegar à principal competição da América do Sul e o primeiro nordestino a conquistar vaga na Libertadores na Série A de pontos corridos.

A primeira temporada de Vojvoda no Fortaleza ainda teve outro recorde. Pela primeira vez na história, o Leão chegou a uma semifinal de Copa do Brasil. Depois de eliminar o Ceará, o Tricolor despachou CRB-AL e São Paulo. Contra o Atlético-MG, no entanto, foram duas derrotas. Apesar de não ter sido finalista, o time arrecadou mais de R$ 17 milhões em premiação no torneio.

Os torcedores, no entanto, tiveram que acompanhar a maior parte desta temporada histórica do sofá de casa. O Castelão só foi liberado para receber público em outubro de 2021, o que ocasionou também uma queda brusca no número de sócio-torcedores, que deixaram de pagar o plano porque não podiam ir ao estádio. De mais de 35 mil associados, caiu para 12 mil adimplentes. Ainda assim, na última partida, que carimbou a vaga para a Libertadores, mais de 45 mil tricolores compareceram ao Gigante da Boa Vista.

A renovação por mais um ano não foi um impasse, mesmo com o nome de Vojvoda bem cotado no mercado. Logo após a última partida do Brasileirão, contra o Bahia, que garantiu vaga direta ao Fortaleza na Libertadores, o presidente do clube, Marcelo Paz, anunciou a sequência do trabalho por mais uma temporada.

Em 2022, Vojvoda pôde participar das mudanças no elenco, fez pré-temporada e planejou o ano, que teria como novidade para ele a Copa do Nordeste e, para o clube em geral, a Libertadores, que naturalmente recebia uma atenção especial tanto internamente como dos torcedores.

Com o aumento gradativo da liberação de público nos estádios cearenses — houve um pequeno recuo em fevereiro, mas em março foi liberada capacidade de 100% — o programa de sócios-torcedores do Fortaleza, que havia terminado 2021 com cerca de 13 mil pessoas, começou a reagir e antes da estreia do Leão na Libertadores já chegava a 43 mil associados, um recorde para o clube.

Tetracampeonato Cearense de maneira invicta

O Leão pegou o Caucaia na decisão, sobre quem faturou o tetracampeonato de maneira invícta.

Soberano e absoluto na Copa do Nordeste

Diante do Sport, Vojvoda se tornou o 1º técnico estrangeiro a vencer o torneio.

A parte mais desafiadora do ano, porém, chegaria com o início da Libertadores e Série A. Pelo bom início de temporada, as expectativas eram boas, mas a realidade foi bem diferente. Apesar de fazer alguns jogos parelhos, o Fortaleza só perdeu nas primeiras rodadas dos campeonatos. No Brasileirão, que tinha jogos mais próximos, a situação foi bastante preocupante, porque o time não venceu nas oito primeiras rodadas.

Alguns torcedores pediam para o Tricolor “abandonar” o torneio da Conmebol, em prol de conseguir melhores resultados no nacional — entendia-se que o desgaste do calendário e das viagens estava minando o time —, mas comissão técnica e diretoria mantiveram o foco dividido entre os dois certames e conseguiram reagir no sul-americano, logrando classificação para as oitavas de final em um grupo com River Plate-ARG, Colo-Colo-CHI e Alianza Lima-PER. Ao avançar, o Fortaleza fez história novamente.

No Campeonato Brasileiro, no entanto, o Tricolor não conseguiu uma reação tão rápida. A primeira vitória só veio no nono jogo, contra o Flamengo, em pleno Maracanã, e poderia ter servido como combustível para uma arrancada, mas o Tricolor oscilou demais até o fim do primeiro turno e ficou na lanterna por 14 rodadas, tendo permanecido no Z-4 por 19 jogos.

Fortaleza jogou pela primeira vez a Copa Libertadores da América na temporada 2022(Foto: Thais Mesquita para O POVO em 2022)
Foto: Thais Mesquita para O POVO em 2022 Fortaleza jogou pela primeira vez a Copa Libertadores da América na temporada 2022

Com a eliminação na Libertadores para o Estudiantes-ARG, nas oitavas de final, o Leão passou a focar mais na Série A. A Copa do Brasil também ocorria em paralelo, mas os jogos eram mais espaçados. A janela de transferências, que abriu em julho, foi crucial para o Fortaleza, que se reforçou e conseguiu envergadura para fazer algo inédito: ser o primeiro time que virou para o returno na lanterna e não caiu.

Com novas peças, como Brítez, indicado por Vojvoda; Thiago Galhardo e Lucas Sasha, por exemplo, o Fortaleza engatou cinco vitórias consecutivas e posteriormente mais oito jogos de invencibilidade. Foram 40 pontos conquistados em apenas um turno do Brasileirão, recorde entre os times nordestinos.

A cereja do bolo foi conseguir uma vaga para a pré-Libertadores, com a conquista da 8ª posição. Um prêmio para a resiliência e o comprometimento dos jogadores, que foram acossados no aeroporto e alguns agredidos; para o trabalho da comissão técnica, que conseguiu ajustar os pontos necessários e acreditou que era possível a reação — Vojvoda até fez um discurso a torcedores que protestaram no Pici, pedindo um voto de confiança —; mas principalmente à paciência e empenho da diretoria, que manteve o comando técnico e foi ousada nas contratações pontuais.

 

Desempenho do Fortaleza ao longo do Brasileirão 2022

 

Na Copa do Brasil, o Leão não conseguiu repetir o feito de chegar novamente à semifinal, porém chegou bem perto e caiu para o Fluminense em um jogo com arbitragem polêmica. Antes, pelo segundo ano consecutivo, tinha despachado o maior rival, o Ceará, e o Vitória. O desafio de segurar o treinador em meio a mais um ano de destaque se apresentou à diretoria tricolor mais uma vez em novembro de 2022. O Vasco da Gama, com sua SAF, e o Atlético-MG eram os principais concorrentes do Fortaleza no Brasil, mas havia também sondagens de equipes do exterior.

A torcida tricolor havia feito até mosaico homenageando o “mister” e a família dele, com o intuito de agradecer, mas também convencê-lo a permanecer. Como de costume, Vojvoda não demorou tanto a tomar uma decisão e optou por ficar, porém pediu dois anos de contrato. A promessa era de deixar o elenco mais robusto, em número e qualidade de peças, para permitir ao clube tentar um passo maior e, não menos importante, evitar o que havia acontecido no início da Série A.

Torcida do Fortaleza faz mosaico 3D em homenagem a Juan Pablo Vojvoda na Arena Castelão(Foto: Fábio Lima)
Foto: Fábio Lima Torcida do Fortaleza faz mosaico 3D em homenagem a Juan Pablo Vojvoda na Arena Castelão

Com um orçamento estipulado de R$ 208 milhões, o maior da história do futebol cearense e o segundo maior da história entre clubes nordestinos, a diretoria cumpriu o que prometeu ao argentino, reforçando o clube para 2023, chegando a uma folha mensal de R$ 6 milhões. Entre as principais missões do ano estavam conquistar o pentacampeonato cearense, disputar uma competição internacional e ir o mais além nela — se fosse eliminado no primeiro duelo da pré-Libertadores, não teria mais nenhum torneio da Conmebol para disputar na temporada —; além de ficar novamente na primeira metade da classificação da Série A. 

Houve a definição de que os primeiros jogos do ano serviriam também como pré-temporada e a comissão técnica utilizou diferentes formações e escalações em boa parte do Estadual e Copa do Nordeste para definir uma espinha dorsal mais constante perto dos jogos pela Libertadores. Nada que impedisse o clube de avançar no Estadual e Nordestão, mas houve tropeços no caminho, como três derrotas consecutivas em Clássicos-Rei e revés para o ABC-RN, por exemplo.

Encorpado, o Leão não teve dificuldade de passar pelo Deportivo Maldonado-URU na Fase 2 da Libertadores, mas caiu na Fase 3, diante do experiente Cerro Porteño-PAR, e ganhou vaga na fase de grupos da Copa Sul-Americana, que era encarada com uma competição possível de conquistar o inédito título internacional. E o Leão, de fato, virou candidato: sobrou na primeira fase, bateu Libertad-PAR (oitavas de final), América-MG (quartas de final) e Corinthians (semifinal) no mata-mata e chegou à grande decisão, diante da tradicional LDU, do Equador.

Mosaico da torcida do Fortaleza durante a Copa Sul-Americana 2023(Foto: Felipe Cruz/Fortaleza EC)
Foto: Felipe Cruz/Fortaleza EC Mosaico da torcida do Fortaleza durante a Copa Sul-Americana 2023

Na Copa do Nordeste, a eliminação veio somente na fase de grupos, para o Ceará. No entanto, pouco depois o Fortaleza conseguiu dar o troco no Campeonato Cearense, ao vencer um e empatar o outro duelo da final e se sagrar pentacampeão estadual, uma sequência que era exclusividade do maior rival.

O Tricolor também tem bons resultados na Série A do Brasileiro. Vojvoda já ultrapassou a marca de 180 jogos à frente do Fortaleza, tornando-se o segundo treinador que mais comandou o clube, atrás apenas de Moésio Gomes.

 

  • Produção de conteúdo Editoria de Esportes do O POVO
  • Edição Fátima Sudário, Wanderson Trindade
  • Recursos digitais Wanderson Trindade
  • Identidade visual Jansen Lucas
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