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De volta às primeiras linhas
Reportagem Seriada

De volta às primeiras linhas

Aliar a criatividade à capacidade de se adaptar aos novos tempos. Este é o maior desafio que o setor da moda do Ceará enfrenta para dinamizar um dos segmentos mais afetados pela crise do novo coronavírus
Episódio 1

De volta às primeiras linhas

Aliar a criatividade à capacidade de se adaptar aos novos tempos. Este é o maior desafio que o setor da moda do Ceará enfrenta para dinamizar um dos segmentos mais afetados pela crise do novo coronavírus
Episódio 1
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Do global ao local, não houve quem não sofresse ao menos um “arranhão”. Nem a moda. Muito menos ela, em tempos de pandemia, setor considerado não essencial (no Estado, um dos mais afetados no país, é que não mesmo). Mas o segmento, adormecido, volta, aos poucos, reaprendendo a caminhar (e como precisa!).

A situação em todo o Brasil não é fácil. Ninguém, aliás, preocupado com o porvir disse que seria. “Teremos, certamente, muitos cenários de incertezas após tudo isso que estamos vivendo com o coronavírus”, abre a conversa Elano Guilherme, diretor do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras no Estado do Ceará (SindConfecções). 

Elano Martins Guilherme, presidente do Sindconfecções  (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Elano Martins Guilherme, presidente do Sindconfecções

De acordo com o representante das indústrias de confecção cearense, a moda tem, em seu DNA, a capacidade de interpretar e se adaptar às grandes mudanças da humanidade. E é graças a esta fortaleza que é possível, ainda “longe” e breve ao mesmo tempo, avistar.

“Estávamos em uma área de conforto, mesmo com as dificuldades do mercado. Com essa paralisação, tivemos tempo para repensar e buscar novas oportunidades”. Ele  diz que é hora da criatividade ser estimulada, com destaque, em terras alencarinas, pois o aviso ele próprio confere: “a moda do Ceará já entendeu que precisamos bordar com linhas firmes os novos horizonte”, inclui-se, como SindConfecções, na frente para a retomada.

“Além de fortalecer tudo que construímos, vamos nos conectar com as plataformas digitais, aproximando os produtos cearenses do mundo inteiro”, comenta o diretor, que ressalta o setor de moda como de extrema importância para a economia do Estado, principalmente pelo volume de empregos e renda que gera. 

“O Ceará sempre mostrou o talento criativo e empreendedor de quem faz a moda e agora é o momento de, mais uma vez, evidenciar nossos atributos e ter orgulho da nossa indústria”, que enquanto não regressa por total, adapta-se ao “novo normal”. E não é só de máscaras. É sentida no bolso.

“A pandemia da Covid-19, além dos gravíssimos danos à saúde, ameaça a vida e causa estagnação econômica”, como a que ocorre ao desenvolvimento da moda no Estado. Nos últimos 70 dias, conforme dados de um levantamento feito com associados do SindConfecções, houve uma demissão de ao menos 35% dos seus funcionários. 

O estudo também trouxe à tona uma redução média de 90% no faturamento das empresas e uma projeção de faturamento 30% menor do que no segundo semestre de 2019, “após o período da pandemia que está sendo chamado de ‘novo normal’”. 

A pandemia atingiu toda a cadeia do setor de confecções reduzindo o faturamento das empresas (Foto: Alex Gomes/O POVO)
Foto: Alex Gomes/O POVO A pandemia atingiu toda a cadeia do setor de confecções reduzindo o faturamento das empresas
 

Segundo a explicação de Elano, o quadro é consequência da situação macroeconômica do País, cuja estimativa de queda no Produto Interno Bruto (PIB) chega a 7%. “A nossa indústria vem numa forte queda.  Mesmo antes da pandemia, os números oficiais do governo mostravam uma redução de 6,8% no PIB do setor do nosso Estado e uma queda de 25% nos empregos formais nos últimos cinco anos”, relembra o dirigente, que aponta proposições (imediatas).

Para Elano Guilherme, é necessário que o governo estadual realize políticas públicas de incentivo à moda do Ceará. Outra ação defendida pelo líder sindical é a união da classe empresarial com o governo “para voltarmos a ser referência nacional”. “Temos um vasto potencial que pode ser explorado”, motiva.


No retorno às compras é necessário todo cuidado com o manuseio de roupas, calçados e acessórios nas lojas (Foto: Alex Gomes/O POVO )
Foto: Alex Gomes/O POVO No retorno às compras é necessário todo cuidado com o manuseio de roupas, calçados e acessórios nas lojas

Cuidados essenciais para uma retomada segura

A coordenadora nacional do negócio da moda do Sebrae, Anny Santos, oferece um conjunto de dicas para lojistas. Todas as informações estão disponíveis em e-book liberado gratuitamente pela instituição aos comerciantes. A seguir alguns pontos que Anny Santos chama atenção para garantir uma retomada segura para o lojista e o consumidor.


Garantir uma retomada segura com muito cuidado, atenção e cautela.

Estar atento aos decretos que regulamentam esse assunto na sua região e também aos protocolos oficiais de saúde e segurança.

É necessário ter toda atenção aos provadores. Apesar de até o momento, não haver protocolos oficiais e regulamentações específicas que determinam o uso ou a interdição de provadores, eles devem ser evitados, interditados e não utilizados nesse primeiro momento de retomada.

Oferecer ao cliente períodos de trocas estendidos.

Quando for realmente necessário o uso do provador, deve-se optar por uma única cabine, que deve ser limpa e desinfectada após o atendimento do cliente.

Manter a loja comunicada e sinalizada, informando aos clientes com respeito e educação que este é um momento de se manter um distanciamento seguro e que o contato com as peças (em exposição) deve ser evitado.

Para evitar contaminação, reserve a peça que foi manuseada pelo cliente, proceda a limpeza e desinfecção (que pode ser feita borrifando o álcool 70º ou usando vaporizadores), e depois que essa peça estiver totalmente seca, retorne com ela ao expositor, arara ou manequim.

Lembrar que todas as medidas para as lojas físicas devem ser válidas também para o “bag delivery”. As peças deverão ter uma “Quarentena para trocas (de até cinco dias, numa área reservada)”, para evitar qualquer resquício de contaminação, caso haja.


Confira e-book completo

  

Setor precisa de R$ 20 milhões

Cerca de R$ 20 milhões. Este é o valor que o setor atacadista de moda de Fortaleza precisa para enfrentar a crise. A conclusão é do I Encontro Virtual de Atacadista de Moda promovido, em maio, pelo Escritório Fortaleza do Sebrae Ceará, com quinhentas e uma empresas inscritas.

Os participantes do encontro também discutiram o panorama econômico atual, na então fase mais dura da pandemia no Estado, com o fechamento do comércio após o decreto de governo estadual. Estima-se que as empresas tenham reduzido, em média, 80% de seus negócios, chegando até 100%, em alguns casos.

A aproximação com o universo on-line, no entanto, mostrou-se uma das saídas. Em paralelo, deu-se início a uma campanha de compra e valorização de empreendedores locais, donos de pequenos negócios, também impactados com a crise de coronavírus.

 

Grupo Lunelli atua desde 1981; no Ceará, localiza-se em Maracanaú(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Grupo Lunelli atua desde 1981; no Ceará, localiza-se em Maracanaú

Interseções para além fronteiras

No comando de uma das áreas fabris em Maracanaú, o Grupo Lunelli - responsáveis por marcas como a Lez a Lez, em um dos shoppings na cidade - vivencia um dia por vez. “Desde o início do agravamento do (novo) coronavírus, o grupo esteve comprometido a apoiar as medidas de prevenção contra a disseminação do vírus, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde e das entidades brasileiras de saúde”, observa Robson Demian Zambonetti, diretor comercial, confecção e marketing, sobre o enfrentamento inicial à pandemia.

Robson Demian Zambonetti, diretor comercial, confecção e marketing do Grupo Lunelli(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Robson Demian Zambonetti, diretor comercial, confecção e marketing do Grupo Lunelli

Diante de tais circunstâncias e de acordo com nossa ideologia, prezamos o bem-estar das pessoas e assim, desde o início do mês de março, iniciamos a conscientização e a divulgação de conteúdos, em relação a prevenção, para nossos colaboradores”, afirma o dirigente, que informa o passo seguinte: sair da crise aproveitando as oportunidades. A decisão que foi tomada pela empresa, com sede em Santa Catarina, em suas 16 unidades espalhadas pelo Brasil.

“Estamos monitorando quais ações de mercado podemos executar para retomar a ativa e auxiliar no giro da economia”, diz Robson, que enumera desde a existência de um comitê específico, que, em nome da Lunelli, vem apoiando os lojistas por meio de conteúdos e informações, à realização de treinamentos direcionados para temas da atualidade e lives com profissionais de referência do setor.

Além da corrente de informações positivas “para que todos possam enxergar as oportunidades em meio a tudo o que está acontecendo”, com a pandemia, o Grupo Lunelli analisou todas as coleções que seriam lançadas, para que fosse possível, segundo Robson, repensar neste novo momento do consumidor, que é também para ele, focado em muito mais conforto, segurança e bem-estar.

Por isso, o trabalho em “possibilitar ao máximo possível agregar na rotina dos consumidores de forma ativa com peças que auxiliem neste novo momento de cada um, isso mantendo a cautela na relação produto x preço”, detalha.

No pós pandemia, fica o reforço de que moda, mais do que produto, é sinônimo de autoexpressão. “Entendemos que a moda faz parte do dia a dia e os produtos precisam ser adequados ao momento que vivemos, porém, precisam transmitir o que o consumidor deseja, como beleza, alegria e bem-estar”, atribui às marcas da empresa, seis, com franqueada no Ceará.

 

Leia na próxima reportagem sobre como escolhas sustentáveis na moda movimentam os negócios e têm impacto positivo no meio ambiente.  


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