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Henrique Araújo: Motim de 2012 — repercussões políticas
Reportagem Seriada

Henrique Araújo: Motim de 2012 — repercussões políticas

Deputado federal com maior número de votos em 2018, Capitão Wagner (Pros) é o mais expressivo, mas não o único
Episódio 3

Henrique Araújo: Motim de 2012 — repercussões políticas

Deputado federal com maior número de votos em 2018, Capitão Wagner (Pros) é o mais expressivo, mas não o único
Episódio 3
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Dez anos atrás, a paralisação da PM cearense consolidou uma plataforma política e projetou nomes que, hoje, se constituem nos principais opositores do projeto hegemônico no estado, a saber: a aliança PT/PDT, representada por Cid Gomes, Camilo Santana, Ciro Gomes e Roberto Cláudio.

Deputado federal com maior número de votos em 2018, Capitão Wagner (Pros) é o mais expressivo, mas não o único. Daquela onda despontaram outras lideranças, como Cabo Sabino, que se elegeria depois para a Câmara dos Deputados — não reeleito, acabaria se envolvendo com o motim de 2020 e sendo expulso da PM.

Sargento Reginauro (Pros) e Soldado Noelio (Pros) são outros dois expoentes desse espraiamento da agenda corporativo-militar que colheu seus melhores frutos entre 2014 e 2018, quando um candidato a presidente sintonizado com essas pautas chegou à Presidência da República.

"De algum modo, o sucesso de Jair Bolsonaro em 2018 e a progressiva organização política de policiais militares estão conectados, sendo a candidatura do ex-capitão um índice forte dessa tendência"

De algum modo, o sucesso de Jair Bolsonaro naquele ano e a progressiva organização política de policiais militares estão conectados, sendo a candidatura do ex-capitão um índice forte dessa tendência. Ainda que constitucionalmente militares não possam se articular politicamente em torno de entidades ou associações, foi exatamente o que aconteceu na última década.

O resultado está aí: uma representação mais ampla e presença de variadas patentes nas casas legislativas. Seja nas Assembleias, seja no Congresso, os capitães e demais hierarquias se beneficiaram dessa convergência de energias, alcançando força inédita e pressionando o governo, de modo a obter vantagens no orçamento – vide reforma da Previdência.

Qual o cenário hoje? Há dois aspectos a se observar. Localmente, o movimento de PMs e seus núcleos organizacionais sofreram dura derrota em 2020, não apenas em relação aos parcos ganhos da paralisação, que tentava reeditar o sucesso do motim de 2011/2012. Mas porque, e principalmente, suas lideranças foram punidas – legalmente, sofreram sanções cuja rigidez variou, chegando à perda de vínculo com a PM.

Manifestantes em motim, alguns com rostos cobertos(Foto: Deivyson Teixeira, em 31/12/2011)
Foto: Deivyson Teixeira, em 31/12/2011 Manifestantes em motim, alguns com rostos cobertos

Houve punição também nas urnas. Basta que se diga que nenhum dos líderes do motim de um ano atrás logrou êxito eleitoral e aquele a cuja imagem o movimento se ligou mais fortemente, Capitão Wagner, ainda sofre desgaste por causa do desfecho desfavorável daquela empreitada.

O segundo aspecto diz respeito ao prejuízo que o estreitamento entre militares e bolsonarismo acabou por causar aos fardados, sejam os das forças armadas, arrastados para a arenas política, sejam as forças policiais estaduais.

Em resumo: se, do ponto de vista político, o motim do início dos anos de 2010 foi determinante para impulsionar uma oposição vigorosa fora dos âmbitos tradicionais e das zonas de atuação dos atores políticos, impondo dificuldade aos governantes – primeiro Cid, derrotado na queda de braço com os militares, e depois Camilo, que endureceu contra os policiais –, o fato é que o movimento de 2020, com seus erros em sequência, findou por fragilizar ou mesmo desmantelar a organização desses grupos e causar danos à imagem dos PMs-políticos ou políticos-PMs.

Se Wagner continua hoje detendo grande força eleitoral e capital político próprio, isso se dá a despeito do motim e se justifica com base na trajetória do parlamentar, cujo raio de influência não se limita aos quartéis, mas capitaliza e direciona também insatisfações com a máquina governista, que já deu mostras mais do que evidentes de cansaço nas eleições do ano passado.

Henrique Araújo — jornalista do O POVO

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