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95 anos muito além do papel e em evolução junto ao leitor
Reportagem Seriada

95 anos muito além do papel e em evolução junto ao leitor

Rumo ao centenário, O POVO mostra que mantém um legado atualizado todos os dias, construído pelo dinamismo, inovação digital e responsabilidade com o leitor ao longo das décadas
Episódio 1

95 anos muito além do papel e em evolução junto ao leitor

Rumo ao centenário, O POVO mostra que mantém um legado atualizado todos os dias, construído pelo dinamismo, inovação digital e responsabilidade com o leitor ao longo das décadas
Episódio 1
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Assista ao vídeo sobre os 95 anos do O POVO

Mais que um jornal. É assim que O POVO completa seus 95 anos e se aproxima do legado centenário que será comemorado em 2028. Desde seu lançamento, em 7 de janeiro de 1928, muito mudou na comunicação, no mundo e no comportamento das pessoas.

Mas alguns valores permanecem intactos. Entre eles o respeito e o protagonismo que o leitor recebe a cada publicação nos canais digitais ou edições do impresso.

Ao longo dessas nove décadas e meia, os preceitos de veracidade, qualidade e inovação são percebidos por quem mais importa, o leitor, que hoje determina o modo, o canal e quando quer consumir o conteúdo elaborado de forma plural por um time de jornalistas, colunistas, fotógrafos e especialistas.

O POVO, nome escolhido pela população por meio de “concurso público”, resiste em exercícios cotidianos de democracia com a mesma relação de transparência criada pelo seu fundador Demócrito Rocha.

Alguns leitores e assinantes, como Hélia Medeiros, colecionam fatos importantes que aconteceram ao longo dos anos(Foto: THAÍS MESQUITA)
Foto: THAÍS MESQUITA Alguns leitores e assinantes, como Hélia Medeiros, colecionam fatos importantes que aconteceram ao longo dos anos

Foram tantas crises econômicas, políticas, duas guerras mundiais, mas O POVO segue como único periódico impresso em todos os dias da semana e em atividade por 95 anos no Ceará, dando espaço ao leitor para criar, unir, transformar e construir uma comunicação diversificada, direta e clara com a sociedade.

A convergência entre o impresso, portal e as mídias digitais se fortalece. Em um único ano foram 462,7  milhões de visualizações de páginas.

Ao somar Instagram, Facebook, Twitter, TikTok e YouTube foram mais de 1,7 bilhão de impacto nas redes sociais dos canais O POVO e quase um bilhão de visualizações em vídeos nas redes sociais.

Isso mostra que a estratégia adotada pela direção de conteúdo tem dado certo e as notícias produzidas pelos profissionais do O POVO estão presentes como e onde seu usuário deseja.

 

 

Mais que informação

Leitora há 37 anos do O POVO, a servidora pública da Educação de Fortaleza, Hélia Medeiros Xavier, 52, entre as tantas opções em equipamentos digitais, opta todos os pelo impresso.

Para ela, o Jornalismo sempre foi um recurso importante de multiplicação e registro de fatos. “Mas, hoje, não é só como um veículo de informação, mas também de aprendizado. Quantas reportagens me ensinaram a ser mais tolerante, a compreender meus sentimentos psicológicos, questões políticas e religiosas”, relata Hélia.

As leituras ainda proporcionaram a ela diminuição de preconceitos, aprendizagem sobre saúde biológica e a como ter uma direção defensiva. “O Jornalismo transforma uma sociedade! Além disso, nos traz arte pura, charges reflexivas e tirinhas para trazer risos e afetos”, enfatiza a servidora pública.

Compartilhamento

Hélia, que possui vaga no Conselho de Leitores do O POVO, ainda conta que leva seu exemplar para todos os cantos que vai: trabalho, banco e viagens. E quando vê algo interessante, compartilha a foto da página no grupo de WhatsApp dos pais dos seus alunos.

 

"Sempre que tenho um tempo leio O POVO e acho legal porque quem está ao meu lado também lê e sempre me pede um encarte" Hélia Medeiros Xavier, professora

 

Outro leitor que já participou do Conselho foi o sociólogo Yuri Holanda Cruz, 42. Ele valoriza esse órgão consultivo formado por perfis diferentes para avaliar, criticar e sugerir pautas. “Isso coloca O POVO como ator das melhores práticas de governança editorial. Foi uma alegria e um desafio ter participado, por dois mandatos”, celebra.

Yuri tem memórias afetivas com o jornal impresso, mas hoje consome muito conteúdo digital na plataforma multistreaming O POVO+, conhecida como OP+.

Yuri Holanda Cruz 42 anos. Sociólogo e Servidor público, é leitor do O POVO há 25 anos(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Yuri Holanda Cruz 42 anos. Sociólogo e Servidor público, é leitor do O POVO há 25 anos

“Uma das coisas que mais me chamam atenção são as excelentes produções audiovisuais. Longas, webdocs, séries investigativas, tudo em formato streaming. Guerra Sem Fim, Mainha, Voo 168, Cariri Pré-histórico, tem muita coisa boa. Sou assíduo ouvinte do podcast Jogo Político. O POVO transbordou o papel: leio, escuto, assisto”, afirma o sociólogo.

Ainda pontua que o jornal não se limita a replicar notícias de agências, mas conta com um grande time de jornalistas e analistas. 

 

 

Sempre na vanguarda

O POVO, desde a sua fundação, tem a inovação como norte, seja pelo design gráfico, sejam pelas temáticas apresentadas ao longo dos anos, o que enfatiza o seu perfil de vanguarda. Para a presidente institucional & publisher do Grupo de Comunicação O POVO, Luciana Dummar, "mudar não assusta!"

O POVO é um veículo em constante mudança, porque O POVO é ousado. Ao longo de 95 anos, ele se mantém jovem, inovador e moderno, porque se renova, em todas as plataformas, sem perder a essência do bom Jornalismo. Vamos nos adaptando para reforçar nossa capacidade de falar com o público e para o público, que é exigente e crítico”, diz a presidente, que está no cargo desde 2008. 

Luciana confirma que o leitor não apenas consome a mídia hoje em dia, ele é protagonista, porque participa do processo e cobra isso de forma justa.

 

"A nós, é importante reconhecermos o interesse público e o interesse do público. O Jornalismo é um importante meio de conexão com a sociedade – e O POVO tem isso como missão" Luciana Dummar, presidente institucional & publisher do Grupo de Comunicação O POVO

 

Gestão

Os quase quinze anos no comando são encarados por Luciana com muito equilíbrio e ciência da responsabilidade. Ela destaca que, em 95 anos, passaram por muitos momentos e nunca foram alheios à busca pela informação plena.

“Somos pressionados, cobrados e questionados todo dia, e isso não é à toa. Ocorre porque O POVO é um farol na sociedade. O POVO completará 100 anos cumprindo o que faz de melhor – contar histórias, perseguir a verdade e pautar debates. E já estamos trabalhando para isso”, revela.

Legado

Quando o tema é o legado do jornal, Luciana entende que não é algo de uma era específica ou um marco histórico, mas todo dia O POVO renova seu legado com o público.

"O legado do O POVO é dinâmico, construído cotidianamente, expondo opiniões e análises bem fundamentadas, furando as bolhas que restringem o pensamento e noticiando a informação com a qualidade. Esse compromisso está dentro do nosso DNA. É isso o que nos move.”

Celebração

Apresentação O POVO 95 anos para o mercado publicitário no Espaço O POVO de Cultura e Arte(Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares Apresentação O POVO 95 anos para o mercado publicitário no Espaço O POVO de Cultura e Arte

Ao longo de 2023 O POVO irá celebrar os 95 anos de diferentes formas com intersecção de todos os canais de comunicação - impresso, portal, mídias sociais e rádios; um livro que desenha não só o passado, mas o futuro do impresso em circulação mais antigo do Estado; campanhas de marketing com o mercado e, principalmente, com o leitor.

Credibilidade

Uma constate preocupação do O POVO nessa evolução do Jornalismo é manter a qualidade da notícia e combater o processo de desinformação que se instalou no Brasil e no mundo nos últimos anos com a ascensão dos meios digitais pessoais que não podem ultrapassar os fatos e a verdade verificável.

Assim, O POVO mantém uma agenda atualizada de projetos e parcerias em prol o combate às informações falsas. Entre eles, a Comprova, versão brasileira do First Draft, que visa combater a disseminação de rumores e desinformação, pela checagem e verificação de fatos.

Na coalizão estão vários veículos brasileiros sob a coordenação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Angela Pimenta, jornalista, doutoranda no Programa de Mídia e Tecnologia da Unesp, mestre em Jornalismo pela Columbia University School e atualmente é co-líder do Trust Project no Brasil(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Angela Pimenta, jornalista, doutoranda no Programa de Mídia e Tecnologia da Unesp, mestre em Jornalismo pela Columbia University School e atualmente é co-líder do Trust Project no Brasil

Outra frente na qual o jornal está inserido é o Trust Project, nome internacional e adotado no Brasil, que desenvolve ferramentas e técnicas que identifiquem e promovam Jornalismo digital confiável e de qualidade.

Usa o sistema de indicadores de credibilidade que incluem desde a declaração dos princípios éticos e de conduta da empresa de comunicação como protocolos de apuração e biografia dos jornalistas
envolvidos nas notícias. 

Além disso, ainda há a parceria dos jornais O POVO (CE), Correio (BA)Jornal do Commercio (PE) que se uniram para formar a Rede Nordeste, projeto de compartilhamento de conteúdo, produção de pautas e pilar na aproximação entre os estados do Ceará, Bahia e Pernambuco. 

 

 

Evolução e adaptação às multicanalidades

A primeira edição do O POVO tinha apenas 12 páginas, nenhuma foto ou imagem, e os 44 centímetros de largura e 32 de altura eram de fácil manuseio. Os repórteres não tinham as pautas, ou seja, os assuntos pré-definidos para eles escreverem.

Primeira edição do Jornal O POVO publicada em 7 de janeiro de 1928(Foto: Arquivo datadoc O POVO)
Foto: Arquivo datadoc O POVO Primeira edição do Jornal O POVO publicada em 7 de janeiro de 1928

Saíam da redação bem cedo para circular pelas ruas da Capital e captar “boas histórias”. Quanto antes conheciam a notícia e voltavam para escrever, mais cedo o leitor teria o jornal impresso no dia seguinte.

Com toda a evolução da sociedade, das novas formas de se comunicar e consumir o Jornalismo, pois hoje um fato que acontece no Japão podemos acompanhar do Brasil em tempo real, fica difícil imaginar todas as transformações e adaptações ao longos dos 95 anos na forma de noticiar.

O POVO sempre esteve atento às mudanças que ocorrem no consumo da informação. A diretora-executiva de Jornalismo, Ana Naddaf, analisa que com o avanço da tecnologia, o Jornalismo feito pelo O POVO, há 95 anos, passou a usufruir da possibilidade de contar histórias através de múltiplos suportes.

 

"Por isso, cada vez mais, o investimento na convergência de diversas plataformas e formatos, principalmente em conteúdo de narrativas não textuais, que envolvem o vídeo, o áudio, a visualização de dados e o interativo" Ana Naddaf, diretora-executiva do O POVO

 

Esta sinergia de múltiplos canais e de novas narrativas pode ser vista, por exemplo, na plataforma multistreaming que é o OP+.

Mas a diretora reforça que, mesmo apresentando novas maneiras de consumir a informação, promovendo o encontro de tecnologias que agucem quase todos os sentidos, “mantemos nossos pilares: contar histórias relevantes para a vida das pessoas, a pluralidade de opinião e o combate intransigente à desinformação”.

Testemunho

A editora-chefe do OP+, Regina Ribeiro, que está há quase 33 anos no Grupo e passou por outras áreas como Economia e Cultura, considera que, ao longo de 95 anos, O POVO se manteve na vanguarda da abordagem dos temas essenciais: da defesa da democracia às causas relevantes para o Ceará, como por exemplo, encampar a luta pela criação da Universidade Federal do Ceará (UFC), o combate às desigualdades regionais, a defesa do Porto do Pecém como ferramenta para o desenvolvimento estrutural do Estado.

Entre as bandeiras sociais do O POVO está a criação da Universidade Federal do Ceará (UFC)(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Entre as bandeiras sociais do O POVO está a criação da Universidade Federal do Ceará (UFC)

O POVO tem levantado sua voz em prol do meio ambiente, de uma sociedade mais justa, da paz social, da democratização da cultura. O POVO sempre se pautou pela polifonia de vozes cearenses e além-fronteiras presentes no conjunto das suas edições”, defende Regina.

A jornalista conta que, ao longo da carreira, chegou como repórter de Cidade para cobrir férias de uma outra jornalista e foi contratada, acompanhou alguns desses processos históricos da mesma forma que acompanhou as mudanças gráficas.

 

"O jornal se tornou um dos mais modernos e premiados veículos nacionais, sem fazer concessões a sua qualidade jornalística, seja no impresso, sejam nas diversas formas digitais nas quais, hoje, O POVO está presente" Regina Ribeiro, editora-chefe do O POVO+

 

Agora, avalia que os 95 anos apontam para o que ele sempre representou no Jornalismo brasileiro e local. Um veículo de vanguarda, que não se acomoda ao passado, muito menos com um presente que, de alguma forma, negue seus princípios.

Por isso é vanguardista, porque é sempre transformador e sabe ler como ninguém os enigmas da contemporaneidade.

Leitor

Em 1994, O POVO iniciava a busca por aproximação com os leitores e a figura do ombudsman começava a fazer parte do jornal. Com isso, tornava-se o único jornal do Nordeste a manter o cargo.

Atualmente, no Brasil, apenas a Folha de S.Paulo e o Grupo de Comunicação O POVO mantêm a função. A jornalista Joelma Leal assume essa função durante os 95 anos do O POVO, na gestão de 2023.

Fechamento anual, em 2022, do Conselho de Leitores no Jornal O POVO(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Fechamento anual, em 2022, do Conselho de Leitores no Jornal O POVO

E desde 1998, para estreitar ainda mais foi criado o Conselho Consultivo de Leitores que se reúne mensalmente para avaliar sua cobertura editorial.

O Conselho é composto por cerca de 15 integrantes e é escolhido pela própria Redação para um mandato de um ano, com possibilidade de recondução de dois integrantes para o ano seguinte.

Uma de suas principais características é a diversidade de perfis sociais, de modo a representar a pluralidade de público do O POVO

Futuro

Com o olhar direcionado aos 100 anos, Ana Naddaf compreende que O POVO continua promovendo o debate público plural, ético e democrático tendo como base os pilares jornalísticos defendidos pela Casa, há 95 anos, como a liberdade de expressão, a diversidade de opinião, a credibilidade e o combate intransigente à desinformação.

A redação do O Povo funciona 24 horas, sete dias por semana(Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo A redação do O Povo funciona 24 horas, sete dias por semana

“Este jornalismo - feito com preceitos de veracidade, qualidade e inovação – sempre em sintonia com o interesse público é o nosso maior propósito, portanto também nosso maior legado”, qualifica.

Um legado que perpassa a cultura, o desenvolvimento político e econômico deste Estado e do Nordeste, a educação, o meio ambiente, as mudanças tecnológicas, os movimentos sociais e, principalmente, a defesa de uma sociedade livre e democrática.

 

 

Incentivo aos profissionais e celeiro de novos talentos

O POVO realiza, em parceria com a Fundação Demócrito Rocha (FDR), o curso Novos Talentos para estudantes de Jornalismo, que está em sua 30ª edição em 2023. Ele tem o objetivo de propiciar formação complementar a universitários que querem ingressar no mercado de trabalho.

Encontro da 29ª turma do curso Novos Talentos do O POVO(Foto: THAÍS MESQUITA)
Foto: THAÍS MESQUITA Encontro da 29ª turma do curso Novos Talentos do O POVO

Os alunos assistem as aulas e têm contato com as redações do jornal impresso e digital, das mídias sociais e da rádio, produzindo material jornalístico para cada canal de comunicação. Também participam de aulas teóricas com profissionais do O POVO e da FDR.

A diretora-executiva conta que O POVO sempre acreditou em um Jornalismo como ferramenta de educação, a serviço da democratização do acesso à informação. Assim como, a redação sendo base para a construção deste novo profissional: atento às mudanças, que abraça a inovação tecnológica e os novos formatos e linguagens.

Mas, ao mesmo tempo, seja sensível para perceber as múltiplas possibilidades de apuração, ao pluralismo de fontes e vozes, bem como de contextualizar a informação produzindo um conteúdo capaz de contar, da melhor maneira, em variadas plataformas e para diferentes audiências.

Isso é um aprendizado permanente, tanto daqueles que estão chegando à redação, como também daqueles que fazem parte do corpo jornalístico do O POVO.

 

"Destaco a importância do projeto Novos Talentos na construção de uma nova geração de profissionais, e da contínua formação da equipe através de cursos, novas ferramentas, parcerias com outras instituições jornalísticas e trocas internas de conhecimento" Ana Naddaf, diretora-executiva do O POVO

 

Para o jornalista Plínio Bortolotti, coordenador do curso Novos Talentos, o marco de 30 turmas é um reconhecimento da força e da qualidade do programa.

“Chegarmos à 30ª turma dos Novos Talentos representa o sucesso de um curso que se consolidou como um importante instrumento de formação de novos jornalistas, demonstrando o vigor de uma profissão cada vez mais necessária para levar informações verdadeiras às pessoas, combatendo a desinformação”, analisa.

 

 

 O som da rádio permanece vivo para a sociedade

As rádios O POVO CBN e CBN Cariri têm vida própria e ainda assim são absolutamente conectadas ao O POVO. Há uma sintonia clara entre rádios e o jornal. O princípio de grupo é bem aplicado em se tratando destes três, informa Jocélio Leal, diretor-executivo da Rádio O POVO CBN e CBN Cariri.

Padre Reginaldo Manzotti em entrevista à rádio CBN O POVO(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Padre Reginaldo Manzotti em entrevista à rádio CBN O POVO

Leal conta que as rádios passaram por uma profunda mudança a partir de abril de 2021. Ganharam status de Diretoria no Grupo, houve a ampliação do time e mudanças na programação.

“A lógica da mudança foi não apenas buscar a audiência, mas mirar na influência. As rádios não se limitam a repercutir os conteúdos do O POVO - e o fazem - mas vão além. Pensam suas pautas e alimentam O POVO com conteúdo”, informa.

Para acompanhamento do trabalho, foram criados indicadores. Seja na presença de repórteres na rua, entradas ao vivo locais e nacionais, nas fontes nacionais entrevistadas nos programas seja no clipping - no qual medisse a inserção dos conteúdos das rádios no jornal, no portal e nos demais veículos - dentre outros.

Neste ano, mais uma mudança. Passam a contar com o reforço de Juliana Matos Brito como editora-adjunta, ao lado de Letícia Lopes, ambas também âncoras e noticiaristas.

 

"A considerar a lógica de maratona do rádio, e não de 100 metros rasos, estamos ainda nos primeiros quilômetros. As medições de audiência e influência já nos surpreendem de maneira muito positiva, mas vamos correr ainda mais neste ano novo" Jocélio Leal, diretor-executivo da Rádio O POVO CBN e CBN Cariri

 

 

>> Ponto de vista

Selo de certificação e confiabilidade só o Jornalismo pode dar à notícia

Por Marcelo Rech

Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ)(Foto: Divulgação ANJ)
Foto: Divulgação ANJ Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ)

O Jornalismo é um misto de arte e consciência, porque ele tem um aspecto artístico, digamos assim, ele tem o talento e a criatividade. E no aspecto da ciência ele tem a técnica, tem o avanço da tecnologia e de modelos para gerar mais precisão e mais confiabilidade ainda nesses conteúdos.

Essa compreensão de que o Jornalismo é uma combinação de arte com técnica ela evoluiu, como evoluiu a ciência. Se a gente pegar o caso do jornal, por exemplo, ele não é mais um apanhado de notícias do dia anterior como era há 50 ou 60 anos.

Hoje ele é muito mais um produto com início, meio e fim e que faz uma seleção, digamos, dos principais assuntos aos quais se destina aquele produto, de uma forma hierarquizada e com uma alta dose de interpretação no sentido de gerar significado e serviço.

 

"Produzir algo que realmente afete positivamente a vida daquele leitor daquele cidadão. Muita análise diversificada, diferentes versões e, também, o que a gente chama de antecipação, muitas vezes ele está à frente do que ainda vai acontecer." Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ

 

A agenda assuntos quando investiga, quando denuncia ele agenda muitas vezes a sociedade. Estamos com muitos olhares muito mais para frente do que para uma notícia do dia anterior. Não só o jornal, mas o jornalismo de uma forma geral.

Porque a simples apuração da notícia que ainda é relevante já não é mais suficiente. É preciso agregar contexto, agregar diferentes visões, ir mais nas raízes e dar um significado àquele conteúdo. Um selo de certificação e de confiabilidade que só o jornalismo profissional pode dar.

Jornalismo implica responsabilidade, inclusive não só ética, mas também legal. Os veículos de comunicação têm CNPJ e tem responsabilidade, então quando a gente divulga algo que é considerado ofensivo a gente está sujeito às penas da lei, ações de indenização e até ações de fundo criminal.

 

"Tem muita gente completamente despreparada ou que se considera jornalista ou que fica divulgando informações que não sabe que pode incorrer inclusive também nas penas da lei, se comete uma ofensa, uma injúria ou uma calúnia. Então é um mundo novo que permitiu a amadores, digamos assim, a produzir conteúdo" Marcelo Rech, presidente- executivo da ANJ

 

Isso tem gerado uma situação muito conflituosa no planeta. Porque muitas vezes o conteúdo não tem nenhuma credibilidade. Ele é muito mais uma vontade do que uma de uma realidade.

E ele é muito sujeito a manipulação e a distorção, baseados nas emoções humanas. A gente já nem começa mais a falar de bolha, mas de realidade paralela. Pessoas que estão vivendo além da bolha, já estão vivendo num mundo paralelo. Em uma realidade disfuncional de só consumir esses conteúdos sem nenhuma certificação de origem.

Pelo contrário, uma certificação, uma origem que vem unicamente de um fator ideológico que tem interesses por trás de realmente estimular determinados comportamentos. Então o jornalismo, não falo de uma ideologia A ou B, isso é um instrumento que é utilizado hoje na esquerda e na direita, enfim, em diferentes agrupamentos políticos.

 

"O que o Jornalismo faz e, por isso que ele incomoda, ele é uma ponte entre esses mundos paralelos. Muitas vezes ele é uma cunha que fura o mundo paralelo. E outras vezes ele é uma ponte que apresenta diferentes versões" Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ

 

Isso é da nossa atividade jornalística, quer dizer não é fazer ativismo, é fazer jornalismo essa é a diferença. Um dia você está denunciando um político de um partido A e no dia seguinte está denunciando o político B, que é antagonista ao A.

Sendo que isso não significa nada além do nosso compromisso de buscar a verdade. Muitas pessoas não compreendem esse papel e a gente enxerga isso como uma necessidade oficial de fazer uma educação midiática para explicar a diferença de um conteúdo profissional para o que circula nas redes sociais que não têm certificado de origem.

Marcelo Rech é presidente-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ)

 

 

>> Entrevista

“O leitor é rei e deve ser tratado à altura de sua majestade”, diz Rosental Alves

Ao O POVO o jornalista e titular da Cátedra Ubesco em Comunicação e da Cátedra Knight de Jornalismo, da Universidade do Texas, fala também sobre evolução do Jornalismo, cacofonia da abundância de informação e pulverização da disciplina de comunicação nos cursos universitários.

Nascido no Rio de Janeiro, Rosental Calmon Alves, iniciou sua carreira de repórter, ainda na escola, em 1968, aos 16 anos, produzindo seu primeiro jornal. Época que vivenciou e experimentou uma conturbada convivência com a ditatura militar no Brasil. Chegou a ser detido, por algumas horas, como outros estudantes secundaristas ao tentar fundar uma associação estudantil de imprensa.

Esse sonho só se concretizou anos depois quando assumiu a direção do do Knight Center for Journalism in the Americas, em 2002. Ele também foi persona fundamental para criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de outras organizações semelhantes na América Latina, como o Foro de Periodismo Argentino (Fopea) e o Foro de Periodistas Paraguayos (Fopep).

Rosental Alves palestra ao redor do mundo sobre comunicação e Jornalismo(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Rosental Alves palestra ao redor do mundo sobre comunicação e Jornalismo

De lá para cá foram inúmeras passagens por redações de impresso e rádios, com o sonho realizado de fazer parte da equipe do Jornal do Brasil, o famoso JB.

Em 1987 foi o primeiro brasileiro a ser agraciado com uma bolsa da Fundação Nieman para Jornalismo da Universidade Harvard, em Cambridge (Estado de Massachusetts), nos EUA. A Nieman foi criada em 1937 e é a mais prestigiada bolsa de estudos de jornalismo do mundo.

O ano em Harvard funcionou como um divisor de águas na vida e carreira de Rosental. Nesse período, desenvolveu interesse especial pelo impacto que a então incipiente “revolução digital” teria no jornalismo.

No paralelo, desde os 21 anos foi convidado para lecionar em universidade de Rio de Janeiro. E desde 1996, tornou-se professor de jornalismo da Universidade do Texas, local de onde falou com O POVO. Confira a entrevista.

O POVO - Como o senhor analisa a evolução do Jornalismo nas últimas décadas e a entrada da multiplataforma nesse contexto?

Rosental Calmon Alves - Há quase 20 anos eu vinha dizendo que nós passaríamos da era dos meios de massa para a era da massa de meios, surgida por causa do empoderamento das pessoas e das organizações, como empresas e governos, que também poderiam passar a atuar como meios de comunicação.

Além disso, as barreiras de entrada no mercado jornalístico baixariam tanto que veríamos a proliferação de novos veículos de comunicação. Os meios de massa continuariam existindo, mas precisariam se adaptar a um contexto bem diferente, como está acontecendo agora.

O jornalismo precisa continuar evoluindo não somente no uso das novas ferramentas digitais, mas também para adaptar-se a este novo ecossistema comunicacional.

"O jornalismo profissional, ético, baseado na disciplina da verificação, em métodos e processos de produção de notícias, tem que conviver hoje em dia com a cacofonia criada num ambiente de extrema abundância de informação." Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

O POVO - Como fica o jornalismo nesse contexto?

Rosental - Muitas vezes é difícil para as pessoas distinguir o que é jornalismo daquilo que parece jornalismo mas não é. Os jornalistas precisam ajudar as pessoas a entender essa diferença. Durante a pandemia, vimos claramente os perigos desta confusão. Enquanto o jornalismo salvava vidas, desinformadores, terraplanistas e outros alucinados contribuíam para a morte de incautos.

Infelizmente, muita gente não sabia distinguir entre informação confiável que a imprensa transmitia e as maluquices que apareciam na algaravia das redes sociais, às vezes espalhadas por inocentes ou idiotas úteis e outras vezes produzidas por pessoas mal-intencionadas.

Essa alfabetização jornalística não era tão importante na era industrial, quando as pessoas tinham acesso a menos fontes informativas, mas é fundamental hoje em dia.

Ainda mais quando vemos pelo mundo afora movimentos antidemocráticos, que transformam o jornalismo independente como alvo principal de ataques no seu esforço por destruir a democracia.

Rosental Calmon Alves é jornalista e professor titular da Cátedra UNESCO em Comunicação e da Cátedra Knight de Jornalismo na Escola de Jornalismo da Moody College of Communication, da Universidade do Texas em Austin(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Rosental Calmon Alves é jornalista e professor titular da Cátedra UNESCO em Comunicação e da Cátedra Knight de Jornalismo na Escola de Jornalismo da Moody College of Communication, da Universidade do Texas em Austin

O POVO - Como o leitor pode distinguir o que é jornalismo daquilo que parece jornalismo mas não é?

Rosental - Primeiramente, é uma questão de senso comum. Por exemplo, aqui está o jornal O POVO, que há 95 anos serve o povo do Ceará, que tem CNPJ, endereço certo, jornalistas profissionais conhecidos, que é uma marca confiável.

É lógico que O POVO e outras marcas de meios de comunicação conhecidas tenham mais credibilidade e responsabilidade que você está vendo pela primeira vez na internet, cuja origem você não sabe. O mundo está cheio de armadilhas, de pseudojornalismo ou de informações avulsas, apresentadas como se fossem notícia de um meio de comunicação profissional, mas que não passam de invenção, de falsidades.

Em segundo lugar, as pessoas precisam desconfiar das informações que recebem, mesmo que elas estejam vindo de parentes ou amigos confiáveis. A estas alturas da nossas experiência coletiva com as redes sociais, nós todos já deveríamos ter desenvolvido um desconfiômetro, um detector de mentiras capaz de desconfiar das informações que nos mandam.

 

"Quando passamos adiante uma mentira, estamos sendo idiotas úteis mais do que inocentes úteis. Idiotas por que estamos fazendo o jogo de quem inventou a mentira, está lucrando, ganhando dinheiro ou avançando seu objetivos políticos com a proliferação daquela falsidade." Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

 

Custa alguma coisa fazer dar uma googleada, perguntar ao Google se isso ou aquilo é verdade ou se há outras fontes com aquela informação? Em segundos, você encontra links para sites de checagem, como Aos Fatos, Agência Lupa ou Boatos.org mostrando que aquela informação é falsa. É até bom para você avisar pro amigo ou parente que ele está espalhando notícia falsa.

O POVO - Como os veículos de comunicação podem usar a seu favor e da sociedade os canais de comunicação digitais, como as redes sociais?

Rosental - Lembra de “nos Bailes da Vida”, aquela música do Milton Nascimento? “Todo artista tem que ir onde povo está”, diz a bela letra do Milton, né? Pois é, os meios de comunicação têm que ir aonde o povo está. Se o povo está nas redes sociais, o jornalismo tem que estar lá.

Da mesma forma que os meios de comunicação evoluíram de monomídia a multimídia, eles também evoluíram de monoplataforma a multiplataforma. Antes a distribuição de um jornal impresso era feita através dos jornaleiros, dos entregadores de porta em porta.

Hoje entregamos nossas informações numa variedade de formatos e temos muitas formas de distribuição, inclusive as redes sociais, as redes de mensagens, como o WhastApp.

Rosental Alves mora e leciona no Texas, Estados Unidos, há mais de 20 anos(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Rosental Alves mora e leciona no Texas, Estados Unidos, há mais de 20 anos

O POVO - Como os cursos de comunicação têm trabalhado essas novas ferramentas digitais de jornalismo, sem deixar de lado a essência da profissão?

Rosental- Em tempos de revolução digital e mudanças rápidas no ambiente midiático, os cursos de comunicação têm enfrentado enormes desafios em todo o mundo.

Não é fácil acompanhar a evolução tecnológica, mas também não dá mais para manter currículos excessivamente teóricos ou baseados nas melhores práticas do passado, que não são necessariamente as melhores para hoje ou para amanhã.

Mais importante do que aprender as ferramentas de hoje é aprender a aprender, a se adaptar ao que vai aparecendo, a não ter medo do novo, pois a evolução tecnológica vai continuar acelerada.

E ainda mais importante do que qualquer ferramenta é entender o que é jornalismo, qual é o seu papel fundamental numa sociedade democrática, quais são os valores éticos e deontológicos inegociáveis para que pratiquemos um jornalismo honesto, de interesse público.

 

"Em tempos de mudanças tão rápidas, é muito importante que as escolas de comunicação se aferrem a estes valores que são a essência da nossa profissão. Mas também é fundamental que as faculdades criem espaços para a pesquisa científica e para a experimentação prática" Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

 

O POVO - Qual o papel dos professores?

Rosental - Os professores devem criar espaços, dar liberdade criativa para os estudantes que ao fim e ao cabo serão os que vão reinventar o jornalismo da era digital. Os velhos jornalistas que viam as faculdades com ceticismo argumentavam que jornalismo se aprende fazendo.

Não tinha lá suas razões, mas era difícil produzir jornal-laboratório, por exemplo. Hoje é fácil, barato, quase grátis que as faculdades tenham laboratórios de produção jornalística real. O que se precisa para criar um site jornalístico, uma produtora de podcast ou de vídeo? Muito pouco, não é?

E as faculdades ainda podem dar uma contribuição importante para a sociedade com esses laboratórios, cobrindo bairros ou comunidades de interesse que não recebem a devida atenção da imprensa tradicional. Outra coisa importante para mim, como professor, é não atrapalhar os alunos mais criativos.

 

"Hoje em dia, os estudantes têm praticamente todo o conhecimento existente no mundo acessível na palma da mão, nos celulares. Nós professores devemos ser guias, facilitadores e criadores de espaços criativos. E aqui vai mais um aspecto importante: jornalismo não deveria ser disciplina restrita às faculdades de comunicação." Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

 

As universidades deveriam ensinar noções básicas de jornalismo e comunicação para todos os estudantes, não importa se sejam alunos de medicina, física, economia ou qualquer outra área. É muito importante que não apenas as escolas primárias e secundárias incluam noções de alfabetização midiática, que eu prefiro chamar de alfabetização jornalística.

Isso é importante porque cidadãos às vezes cometem atos jornalísticos ao informar suas comunidades sobre eventos, mas também – e ainda mais importante – porque precisam saber distinguir o que é jornalismo daquilo que parece jornalismo mas não é.

O POVO - Como analisa o papel do leitor nesse contexto?

Rosental - O leitor é rei e deve ser tratado à altura de sua majestade. O leitor nunca foi tão poderoso, nunca esteve tão próximo de nós, jornalistas, e tão capazes de reagir ao que fazemos e de interagir conosco.

 

"O leitor dita as regras do jogo, ao se movimentar livremente entre tantas plataformas e ter tantas opções disponíveis para se entreter e se informar. O jornalismo precisa estar superatento aos hábitos de consumo de informação... A própria palavra leitor perde um pouco o sentido que teve ao longo de quase todos esses 95 anos do jornal O POVO, por exemplo" Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

 

Quando eu tive a honra de visitar vocês, anos atrás, conversamos muito sobre as mudanças que viriam no ecossistema midiático e eu me lembro de comentar que a única alternativa de sobrevivência para os jornais era passar de monomídia a multimídia, de manufatura de um produto (o jornal impresso) a prestador de serviço, através de múltiplas plataformas.

Também me lembro da minha alegria de ver que O Povo já estava tomando esse caminho e hoje é muito mais que um jornal. É um serviço multimídia que não só atende aos “leitores”, mas aos consumidores que querem ouvir seus podcasts, ver seus vídeos, seus gráficos, suas produções multimídia.

Como outros jornais que entendem o novo ecossistema midiático, O Povo vai aonde o povo está, evolui sempre para acompanhar as mudanças nos hábitos de consumo de sua majestade, o leitor.

O POVO - Como o senhor vê o papel dos veículos de comunicação na manutenção da democracia no Brasil?

Rosental - A jovem democracia brasileira esteve sob ataque nos últimos anos e a chamada grande imprensa esteve na linha de frente da resistência. Em geral, desempenhou bem o papel de defender o regime democrático, o que nem sempre foi o caso.

 

"Em 1964, por exemplo, a grande imprensa apoiou o golpe. Agora o contexto foi bem diferente. De uma forma que eu nunca tinha visto antes, forças antidemocráticas, empoderadas pelas redes sociais, fizeram do jornalismo um alvo de sistemáticos ataques." Rosental Alves, jornalista e titular da Cátedra Ubesco e da Cátedra Knight

 

Tanto nos Estados Unidos de Donald Trump, quanto no Brasil do imitador dele, esse esforço anti-imprensa até que alcançou algum êxito, mas não foi o suficiente. A imprensa continuou exercendo o seu papel de informar, de buscar a verdade dos fatos, por mais imperfeita e sujeita a erros seja essa busca, este processo. 

 

 

 

>> Crônica

Bonito pra chover

Izabel Rosa Gurgel

Somos bichos da palavra, de palavras. Elas me chegaram primeiro como som, sopro, ruídos, um canto…Depois, como desenho, risco, imagem.

Tatuadas no ar, na superfície do mundo, diziam das coisas que existiam, que estavam ali ou mais longe, faziam anunciação de ausências. As profundezas das quais tratavam, um tatear, percebi muito depois.

De como se faziam estampa no carrinho de picolé, nos letreiros, nos cardápios iluminando paredes, na miríade de inscrições povoando o ao redor, um espanto sempre.

Observadora do movimento da Cidade, a jornalista Izabel Gurgel é cronista do O POVO(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Observadora do movimento da Cidade, a jornalista Izabel Gurgel é cronista do O POVO

E foi gosto grande passar a lidar com elas no modo aprender a ler, o dito que a gente só entende depois de fazer a passagem. Sempre uma experiência física, inscrevendo - se, acontecendo no corpo, acordando sentidos.

Mas ver as danadas no papel, posso dizer que até hoje me lembra da ordem do fixo parado, moventes se bulindo, aqui e migrando.

Tipo a dança da Terra, imparável. E a gente senta nele, o planeta que gira sobre si e gira em torno do sol, abre um jornal e, no meu caso, “se” absurda de como é possível todo dia, um dia após outro, um bando de gente, com um bocado grande de serviço a ser feito, de vários modos e tempos, arruma uma “edição portátil do mundo”.

Escrevo dia 30 de dezembro, para a edição de sábado, dia 7. A que chegou agora pra vc.
Escrevo na tela do celular, quarto de hotel, Icó com um sol tinindo lá fora como se fosse a primeira vez que ele saísse pra passear. É assim que um jornal faz, não é? Nasce todo dia.

No papel, a gente sabe o tempo que ele dura. Dura até enrolar o curimatã na banca, banhar-se de limpa vidro, embalar centenas e centenas de tabocas que carregam as milhares e milhares de bombas, os fogos do Senhor do Bonfim, isso que ano após ano me faz vir até Icó. São festejos da divindade que, em Icó, literalmente desce do altar para estar entre as criaturas mortais.

Tem um mestre que cuida delas, das bombas. Manoel Gonçalves de Sousa, o nosso Seu Bonfim, conduz a orquestração. A maior parte do tempo, anonimamente, como vc e eu em nossas vidinhas.

Acho bonito escrever o nome dele aqui. É como se anunciasse, sem dizer cada qual, as mulheres e homens que antes dele tocaram o ofício. E as gentes que vão tocar o serviço no porvir.

Nos próximos 95 anos do jornal O POVO, não estaremos presentes. A edição de hoje impressa sim. Não sabemos os futuros dos registros digitais. O papel estará lá.

E o mundo estará começando e terminando, nascendo e morrendo, como acontece a cada dia primeiro de janeiro em Icó, quando “todo mundo” na cidade espera o acontecimento dos fogos do santo e olha a direção da fumaça deles. Indo para o lado do rio Salgado, é sinal de bom inverno.

Tomara que chova. Pra gente ver o Orós sangrando de novo na capa do jornal. O POVO é nóis tudim querendo notícia boa.

 


Linha do tempo: acompanhe as transformações do O POVO ao longo dos 95 anos 

 

  • Diretoria de Jornalismo Ana Naddaf e Erick Guimarães
  • Edição Beatriz Cavalcante
  • Textos Carol Kossling
  • Edição de design Cristiane Frota e Amaurício Cortez
  • Projeto Gráfico Amaurício Cortez
  • Identidade visual 95 anos Gil Dicelli
  • Ilustrações Carlus Campos
  • Arte digital Jansen Lucas
  • Tratamento de imagens Robson Pires
  • Edição de fotografia Júlio Caesar
  • Pesquisa OP.doc Miguel Pontes e Roberto Araújo
  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante e Fátima Sudário
  • Recursos visuais OP+ Wanderson Trindade
  • Editor-chefe Audiovisual Chico Marinho
  • Editor adjunto Audiovisual Demitri Túlio
  • Direção e roteiro Arthur Gadelha e Luana Sampaio
  • Montagem/Motion design Abdiel Anselmo, Eduardo Azevedo, Rodrigo Vasconcelos
  • Diretoria de Negócios Alexandre Medina
  • Gerente Comercial Ranilce Barbosa
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