Informar e noticiar. A missão do O POVO vai muito além de comunicar os acontecimentos do dia a dia ou antecipar fatos. Ela vai ao encontro dos anseios da sociedade, especialmente do Ceará, e junto às pessoas estimula a criação, desenvolvimento, e, às vezes, até extinção de equipamentos, movimentos e eventos.
Sempre com sensatez, equilíbrio e bom senso O POVO ergue bandeiras como fez para criação de uma universidade no Estado, que resultou na chegada da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Outras inúmeras iniciativas poderiam ser lembradas, como a questão da mobilidade urbana de Fortaleza para acompanhar o desenvolvimento do Estado; as diversas mobilizações em prol da Praia de Iracema e a revitalização turística da Beira Mar, entre tantos.
Um capítulo à parte nessa história é o olhar fixo aos assuntos relacionados ao meio ambiente que envolvem desde aspectos urbanos, como o Parque do Cocó, a Sabiaguaba e os mangues, como a perspectiva regional, a exemplo do semiárido, ao acompanhar todas as questões físicas e etnográficas que envolvem esse ecossistema no qual existimos.
O diretor do Ecomuseu Natural do Mangue, Rusty de Castro Sá Barreto, expõe que diante do iminente risco de desastres ambientais, se faz urgente que os grandes jornais como O POVO, veiculem conteúdos informativos sobre essas pautas.
E, acredita que se há tempos a sociedade já dispusesse de tais informações, talvez não chegaríamos a um quadro tão crítico, como a possibilidade de aumento da temperatura global e extinção de espécies.
“O POVO tem sido um parceiro nessa causa, em particular nós do Ecomuseu sempre somos prestigiados quando contatamos para pautas ligadas ao manguezal. A complexidade das problemáticas ambientais e sociais exigem participação estreita entre quem está ajudando a resolver as problemáticas e a sociedade. Essa ponte é representada pela mídia e os divulgadores científicos”, informa.
Barreto declara, ainda, que sociedade necessita e exige a cada dia mais informação e nesse quesito o jornal O POVO tem sido um exemplo de competência mantendo entre suas pautas a temática ambiental como relevante.
"A mídia nos ajuda a divulgar, informar, sensibilizar, mobilizar e educar a sociedade sobre a grave situação do ecossistema manguezal e da urgência de ações que evitem um desastre irreversível e a recuperação do ecossistema"
Esse critério de seriedade e compromisso com a verdade da informação, com a verificação das fontes e dos fatos, ampliam significativamente a credibilidade do jornal O POVO como uma mídia confiável, ressalta Barreto.
Já o arquiteto e artista Fausto Nilo, confirma que é leitor e acompanha o jornal há muitos anos por ser um grande observador do que acontece na vida das pessoas e nas cidades. "É um instrumento que me mantém informado sobre muitos acontecimentos da cidade. E O POVO tem convivido de uma boa maneira com as novas formas de comunicação e a evolução tecnológica", declara.
Há 35 anos no O POVO, a editora-chefe do Cotidiano, Tânia Alves, enfatiza que O POVO já nasceu voltado para as questões sociais. Ao longo de sua história, acompanhar as lutas sociais sempre foi bandeira presente nas suas notícias.
“Na educação, por exemplo, denunciar a existência do analfabetismo no Estado e cobrar meios para reduzi-lo foi pauta constante. No meio ambiente, o noticiário do jornal abriu-se para mostrar a luta pela preservação do Parque do Cocó, em Fortaleza, quando ali só existiam salinas. No Estado, sempre denunciou a questão da fome e sede dos cearenses causadas pela seca. Ou mostrar que defender os oceanos é importante para o futuro dos brasileiros e cearenses”.
Na sua análise, O POVO, por meio de suas matérias, ajudou a transformar Fortaleza em uma cidade menos árida para os pedestres ao cobrir com afinco a questão da mobilidade.
“Estar sempre atento aos debates sociais foi o principal diferencial do jornal ao longo de seus 95 anos de existência. Este olhar diferenciado para as pautas sociais é um legado para gerações. A marca O POVO já não é somente de uma família, mas dos cearenses”, defende a editora-chefe.
Para ela, a história do Ceará, nesses últimos 95 anos, também passou pela Avenida Aguanambi, 282. Foi a partir das notícias contadas pelos jornalistas presentes em cada década na redação do jornal que muitas conquistas aconteceram para a sociedade como um todo.
“O POVO é um jornal antenado com seu tempo e capaz de se antecipar às mudanças por meio das análises feitas por seus repórteres. Não à toa, tão bem abraçou e se adaptou às transformações causadas pelo surgimento dos meios digitais. O jornal é capaz de honrar o passado, focar no presente e abraçar as mudanças que estão por vir”, resume Tânia.
>> Ensaio
(*) Demitri Túlio
Por aqui, um recorte em meio aos 95 anos de batente do O POVO. Um ensaio sobre uma das possibilidades de se enxergar o Semiárido na narrativa jornalística. Precisamente, na produção da reportagem especial de 1998 a 2020
Jornalismo semiárido é uma licença meio séria, meio moleque, para fugir, na leveza, dos teoremas da comunicação. Ou relê-los por outras possibilidades, mais avizinhadas de onde se vive. Vou começar assim: para um jornal criado numa região semiárida, seria esquisito não ter a luminosidade, o clima, a temperatura, a chuva, a estiagem, a tipologia, a gramatura dos seres que ali se entrecruzam numa Cidade, num Estado, no nos Rios e Açudes, na Caatinga, predominantemente, solares transpassando as páginas da história contada pelo viés do jornalismo.
Imagine, ainda, nascer à beira mar e dar as costas para o Atlântico. Ter parte com a Caatinga e o bioma não estar entranhado no corpo-acervo narrativo, na diversidade dos processos da ocorrência possível da comunicação. Está em vários estágios de tempo e de mentalidades herdadas dos seres vivos da pré-história originária e, também, da passagem e permanência dos invasores bárbaros europeus.
Diria que, na jornada de 95 anos do O POVO, nem sempre nos percebemos no meio ou não conseguimos ler o derredor de onde brotamos e ressurgimos constantemente. Quanto tempo levamos para perceber as longarinas e o mar engolindo lindo a velha e a nova praia de Iracema? Quanto tempo levamos para descobrir o mar na soleira das casas rurais da província e, hoje, cidade asfáltica e digital?
Quanto tempo levamos para enxergar que o Sertão não era algo distante de onde somos? E quanto, quase uma eternidade, levamos para descobrir também um Semiárido possível? Muito além da imagem danosa construída na fotografia e textos deterministas do fundo do açude rachado e à espera “divina” das invernadas? A carcaça do boi reciclado por urubus? O homem encouraçado, engelhado do sol e apenas narrado na fortaleza do guerreiro que terminava se retirando ou morto de tristeza?
Sim, há também essa fotografia e essa narrativa textual na retina e corpo dos repórteres que foram e vieram do Semiárido em 95 anos de O POVO. Não se pode tapar os olhos, mas não há somente o romance encandeante do flagelo. Levou-se tempo para que o jornalismo também ensaiasse outra maneira de se apropriar do glossário, não menos rude, mas reflorestado do Semiárido. A Caatinga é “professora” desde quando os indígenas também categorizam (sem idealizações) o redor deles.
Não se descobriu uma nova Caatinga. Não. Ela estava ali e carecia de algum olhar para além das arribações, sinas, mortes de anjinhos e cruzes de levas de gerações nas rodagens e acuados no Sudeste. Talvez, somente talvez, permanência de um arquivo cotidiano, resquício da factualidade colonial e de um projeto sistêmico das invasões europeias. De escritas “ripunadas” de estereótipos até aqui.
Reflito assim para iniciar uma prosa sobre um recorte ou capítulos de um “jornalismo semiárido” escrito no O POVO. Um ensaio inicial. Intencionalmente, e particularmente, volto o olhar para a produção de informação, em texto, em desenho gráfico, discussões e em fotografia fornadas no jornal impresso no período de 1998 a 2020. Durante 22 anos de atuação de repórteres e editores do Núcleo de Reportagens Especiais do periódico mais longevo do Ceará.
"Vale a observação. Fora desse período recente, há um acervo de produções preciosas de homens e mulheres repórteres durante as descobertas e redescobertas do Semiárido cearense, nordestino, pelo jornalismo no O POVO"
Nas factualidades e em reportagens. Vem, claro, de 1928 para cá, com as nuances cambiantes de cada olhar sobre os vagões da espaçonave da existência mudadiça.
Pois bem. Em 22 anos de discussão de pauta, apuração, entrevistas e idas e vindas – partindo-se de Fortaleza para onde não se categoriza por “capital cearense” – um grupo de repórteres, fotógrafos e editores conceberam 35 cadernos especiais sobre recortes do cotidiano de seres viventes do Semiárido. Do açude à formação do nosso povo, da Torre do Tombo em Lisboa à Biblioteca Nacional de Portugal.
A “seca e o inverno” meio que determinam, cartesianamente, o principal volume do olhar jornalístico no O POVO quando se inventa (ou se “descobre”) o “lugar do sertão”. E há relatos de “sinas” nas migrações indígenas, nas promessas Pedro-segundeanas de salvação dos “miseráveis”, nos textos de Capistrano de Abreu e atualizações e repetições, quase “perpétuas”, de lugares comuns dos cotidianos atravessados.
E Inserem-se, também, a política, a violência cangaceira, a pistolagem, o gado fundante dos povoados, a grilagem arcaica de terra finitas, a religiosidade beata e mítica, o exótico da nordestinidade, o sol como “escroto”, a água feita “esperança”, a construção de açudes, “combate” à seca, a justificação da destruição da Caatinga, convivência com o semiárido, reforma agrária, o desenvolvimento econômico antropocêntrico sem sustentabilidade...
"Em 1998, diria, há o início de uma escrita específica sobre o Semiárido por parte de uma geração de repórteres. Ainda sem intencionalidade explícita de produção em séries e trilogias de grandes reportagens"
As jornalistas Ariadne Araújo e Fátima Sudário produzem e botam nas páginas do jornal o caderno especial “A Saga dos Arigós”.
Um mergulho na saga de brasileiros “nordestinos” engabelados pela propaganda exterminadora do governo de Getúlio Vargas e a politicagem em torno do II Guerra Mundial. A grande reportagem volta à estrada no tempo, sobe nos caminhões de “flagelados da seca” e vai e volta nos “vapores” até a Amazônia. Os seres semiáridos, fora de seu habitat, vão produzir borracha seringueira. A maioria não fez o caminho de volta nem enricou como iludiu o Getúlio.
“A Saga dos Arigós” foi finalista do Prêmio Esso, a distinção mais importante do jornalismo brasileiro. E expandiu a reportagem ao virar filme e livro com a autoria, escrita e consultoria de Ariadne Araújo no documentário “Soldados da Borracha”, de Wolney Oliveira. Para além disso, remexeu nas memórias e produziu mais discursos entre sobreviventes (“pracinhas veteranos” civis) e descendentes da perversidade getulista.
Daí em diante, vieram as narrativas jornalísticos “Brasil 500 Séculos”, com Eleuda de Carvalho (2000); “Transposição São Francisco: vida para o Semiárido”, com Ariadne Araújo (2000); em 2002, “Patativa voo” (Eleuda de Carvalho, Ariadne Araújo, Rita Célia Faheina, Demitri Túlio, Cláudio Ribeiro, Fátima Sudário, Gil Dicelli, Andréa Araújo) e “Pelas águas do velho Chico”.
Os cinco cadernos especiais, em formato de grande reportagem, são a gênese de uma produção orgânica de mais 28 publicações (veja linha do tempo) divididas em caderno único ou trilogias sobre o Semiárido. Produções que se propõem olhar para o sertão de maneira variada pelo viés do jornalismo etnográfico.
Narrativas fora da objetividade factual jornalística, com subversão da técnica corriqueira de contar histórias, isso não é uma crítica a essa possibilidade também de narrar. E uma tentativa de discussão com os personagens das narrativas, com leitores diversos, com poder público, por pontes feitas pela pauta, pelo texto, pela imagem e pelo design gráfico.
Diria que, nos 35 cadernos especiais sobre o Semiárido – dois foram feitos fora do Núcleo de Reportagens Especiais (Expedição das Borboletas 1 e 2), mas concebidos na pauta da editoria – há uma apuração e escrita voltadas para tentar apreender, aprender e compartilhar sobre trechos do cotidiano do ser vivo rebentado no Semiárido. Humano e não-humano.
Produções assinadas pelos repórteres Ana Mary C. Cavalcante, Ariadne Araújo, Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio, Eleuda de Carvalho, Fátima Sudário, Émerson Maranhão, Felipe Araújo, Luís Henrique Campos, Rafael Luís, Rita Célia Faheina, Thiago Cafardo e Thiago Paiva. Desenhadas por Gil Dicelli e Andrea Araújo; fotografadas por Fco Fontenele, Dário Gabriel, Iana Guimarães, Sara Maia, Fábio Lima, Tatiana Fortes, Evilázio Bezerra, Júlio Caesar, Aurélio Alves, Edmar Soares, Sebastião Bisneto e Cláudio Lima.
Na lista das grandes reportagens de que trata esse texto estão “Documento BR: Histórias de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas estradas federais do Ceará” (2006); a trilogia “Mares do Sertão, Desertos do Sertão e Chuvas do Sertão” (2007/2008); “Autoestima cearense 1,2 e 3” (2008/2009); “Inquisição: no rastro dos amaldiçoados 1, 2 e 3” (2010/2011); “Santificados 1, 2 e 3” (2011); “Planeta Seca” (2012); “A peleja da água” (2013); “Sertão a ferro e fogo: marcas de gado e gente” (2014); “Os quinzes: capítulo 1 e 2” (2015).
E ainda: “À espera de Francisco” (2016); “A seca que matou os peixes” (2016); “Grandes sertões: afetos (2017); “As águas de Francisco: expectativa e realidade na peleja da espera” (2017); 2017 – “Rotas do Semiárido” (2017); “A permanência pela água: o cinturão que vai trazer o São Francisco” (2017); “Semiárido das nascentes” (2019); “Destino Geopark Araripe” (2019); 2019 – “Santificados 4: do tamanho da fé” (2019); “Santificados 5: da agonia e da paz” (2019); 2020 – “Expedição Borboletas 1 e 2” (2020). E o livro-reportagem “A Peleja da Água – reportagens etnográficas”, lançado em 2019.
Atualmente, o conteúdo dos 35 cadernos especiais é objeto de discussão no doutorado em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É a pesquisa “A peleja da informação com a leitura: um jornal, uma comunidade rural e suas representações sobre o Semiárido cearense”, de Ismael Lopes Mendonça. Ele é autor também, no mestrado da Universidade Federal do Ceará (UFC), da dissertação “A tipografia como manifestação cultural”. Sobre a mesma produção jornalística.
"A conversa é longa e incompleta. Existe no papel e extrapola as fronteiras do jornalismo impresso no O POVO. Ainda bem, se atualizará sempre. É ressurgente"
Demitri Túlio é editor-adjunto do Audiovisual do O POVO