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'Habla, profesor!': Vojvoda abre o jogo em exclusiva
Reportagem Seriada

'Habla, profesor!': Vojvoda abre o jogo em exclusiva

Técnico do Fortaleza explica motivos para permanência no clube, analisa elenco, traça próximos objetivos e fala sobre chance na seleção argentina e na Premier League
Episódio 91

'Habla, profesor!': Vojvoda abre o jogo em exclusiva

Técnico do Fortaleza explica motivos para permanência no clube, analisa elenco, traça próximos objetivos e fala sobre chance na seleção argentina e na Premier League
Episódio 91
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Codinome intensidade. Essa é a palavra que os torcedores do Fortaleza mais utilizam para descrever Juan Pablo Vojvoda, que comanda o Tricolor do Pici desde 10 de maio de 2021, dia em que deu o primeiro expediente no clube. O anúncio oficial, porém, havia sido feito uma semana antes, no dia 4 de maio.

De lá até aqui, são 629 dias em que o Leão está sob a batuta de um argentino. Este longo período faz dele o segundo treinador mais longevo da atualidade no futebol brasileiro, atrás apenas de Abel Ferreira no Palmeiras. Vojvoda acumula conquistas importantes e conseguiu elevar o patamar técnico e esportivo do Fortaleza. O trabalho é tão relevante que muitos o consideram como o maior comandante da história do clube.

Vojvoda esteve à frente do Tricolor em 124 jogos nestes quase dois anos, o que faz dele o sexto técnico que mais treinou a equipe, a três jogos de superar o quinto colocado, César Moraes. Venceu praticamente a metade desses duelos e sagrou-se campeão cearense duas vezes. Faturou ainda a Copa do Nordeste de 2022.

Vojvoda conversou com exclusividade com a equipe do O POVO, no Pici(Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo Vojvoda conversou com exclusividade com a equipe do O POVO, no Pici

Ele também fez história em outras competições, mesmo sem ganhar troféus. Na Copa do Brasil, levou o Fortaleza a uma semifinal inédita. Na Série A do Brasileiro, fez o Leão terminar em 4º lugar na temporada 2021 e classificou o time, duas vezes consecutivas, para a Copa Libertadores da América. Na primeira participação no torneio continental, passou da fase de grupos em uma chave com River Plate-ARG, Colo-Colo-CHI e Alianza Lima-PER, gigantes em seus respectivos países.

O argentino implantou um estilo de jogo ofensivo e intenso no Fortaleza, que acostumou os torcedores a grandes partidas. Mesmo com todo o assédio que sofreu no mercado, Vojvoda decidiu ficar no Pici por mais duas temporadas.

Em exclusiva ao O POVO, treinador explica os motivos de permanência, fala sobre os principais momentos de seu trabalho no Tricolor, próximos objetivos no Leão e comenta sobre chance na seleção argentina e Premier League. 

Você também pode assistir ao vídeo da entrevista de Vojvoda

 

O POVO - O seu trabalho de quase dois anos no Fortaleza já deu muitos frutos e, consequentemente, te projetou. Você imaginou, quando recebeu o convite, que poderia conseguir todo esse destaque? O que passou pela sua cabeça quando o Fortaleza o procurou?

Vojvoda - O primeiro pensamento foi o futebol brasileiro. É um futebol entre os maiores do mundo, na América do Sul também é muito respeitado, então, jogar o Brasileirão me entusiasmou, e gostei da ideia de estar em uma liga com tanta competência. Se eu imaginava? Bom, quando recebo uma proposta de trabalho, o primeiro que faço é procurar informação do clube. Eu conhecia, mas não com profundidade. Eu estava no Chile, mas tinha terminado meu contrato, e a partir daí começamos a analisar.

O primeiro que fiz foi analisar o elenco, depois as pessoas que estão no comando do clube, e a partir daí começaram as conversas. Eu nunca imaginei isso, mas sempre procuro projetos longos, sérios, de mais de um ano, onde posso desenvolver uma ideia de clube, que esteja junta com a ideia do treinador, mas também a adaptação de minha parte à cultura do país, da região, do próprio clube e depois uma cultura do dia a dia. Eu não imaginava tudo isso, mas sempre que recebo uma proposta, sempre estou pensando num projeto a um prazo médio ou mais longo.

OP - Em que momento, durante a sua trajetória, que você percebeu que tinha chance de fazer história no clube? 

Vojvoda - No primeiro ano, teve tantas competições e eu estava muito focado no dia a dia. Temos que conseguir a Libertadores, temos que seguir avançando na Copa do Brasil. Começamos com o Cearense, não disputei a Copa do Nordeste. Então, eu tenho que conhecer melhor o clube, esse era meu pensamento. Nunca pensei em fazer história, isso se dá sozinho, quando começamos a trabalhar o dia a dia. Se você marca um objetivo e somente olha para ele lá na frente, esquece do objetivo do dia a dia. Objetivos da frente se conseguem conquistando pequenos objetivos, e os pequenos objetivos são hoje, amanhã e o próximo jogo.

OPO trabalho de 2021 encaixou rápido e houve muitas conquistas, como a vaga na Libertadores. Como foi planejar 2022 com o desafio de repetir os bons resultados?

Vojvoda - O planejamento de 2022, o primeiro foco foi a Libertadores. Era a primeira vez que o clube participava da competição mais importante do continente, então tudo estava nesse foco. Mas sem esquecer que o Nordestão era importante, que o Cearense era muito importante ano passado, como neste ano, mas o planejamento do elenco em todo o ano estava a Libertadores sempre perto do nosso pensamento. Por ser a primeira vez, porque o clube ia colocar seu nome a nível internacional, então eu coloquei um objetivo especial nessa competição.

... agradeço ao futebol brasileiro, ao Fortaleza, que me abriu a porta... merece todo o meu respeito, torcedores colocam sempre o Fortaleza no topo e o futebol nordestino tem paixão, tem muitos torcedores no estádio. E tem coisas que não tem preço, não se pode comprar torcedor, não se pode comprar paixão. Acho que isso pesou também no momento de tomar decisões

OP - As duas temporadas (2021 e 2022) tiveram suas peculiaridades. Dá para comparar uma com a outra? Qual foi a mais complicada?

Vojvoda - Sim, dá para comparar. Em 2021, foi um ano mais de motivação, de novas ideias de todo o clube, de trocar, de agregar diferentes particularidades em todos os aspectos, desde o tático, organização, planejamento, então estava todo o clube com a vontade de satisfazer o torcedor e conseguir algo importante na história. No segundo ano, também estava a motivação da Libertadores, mas a responsabilidade do desafio de sustentar o que tinha feito no primeiro ano. Este time tem responsabilidade de fazer um bom Nordestão, bom Cearense, de motivar as pessoas que temos capacidade de passar de fase na Libertadores e sustentar nosso ano no Brasileirão.

Então foi mais difícil no Brasileirão, no outro encaminhou tudo porque começamos muito bem, os pontos conquistados na primeira parte ajudaram muito e o time já podia caminhar sozinho. No segundo ano tivemos, no Brasileirão, uma complicação. Tivemos que procurar novas ideias, novos jogadores, ter imaginação na janela, ter compromisso e muito trabalho. A janela de julho foi muito importante.

OP - Você do momento difícil, quando o clube esteve na zona de rebaixamento da Série A. Como foi para você aquele momento de crítica da torcida, de pressão?

Vojvoda - Eu tenho que estar preparado para isso. Nos momentos bons, saber que os momentos ruins vão acontecer. Minha cabeça tem que estar preparada para isso. Sem perder a confiança, sem perder o otimismo, mas sabemos que o futebol tem isso. Como fizemos para superar? Primeiro, os jogadores, eu pedi unidade de todo o clube. Principalmente, acho que nesses momentos de dúvida temos que fazer uma análise geral. Por exemplo, nas últimas dez partidas, perdemos oito, mas como foi que perdemos? Merecemos perder? Como jogou o time? Quantas opções de gols criamos? Como está o ânimo do dia a dia? Como estão os jogadores? Acho que nesse momento temos que olhar com mais profundidade, não apenas os resultados. Outro jeito de analisar é ver por que perdemos, as causas, como foi o jogo, como foi o contexto. Analisamos com a cabeça, continuamos com o coração, sabemos que o torcedor exige, mas não perdemos a cabeça, o rumo, acho que isso foi importante no momento de tomar decisões.

Torcida do Fortaleza fez homenagem a Vojvoda na reta final da Série A 2022, com mosaico gigante que incluía imagens da sua família(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Torcida do Fortaleza fez homenagem a Vojvoda na reta final da Série A 2022, com mosaico gigante que incluía imagens da sua família

OP - Naquele momento, foi marcante um discurso que você fez para torcedores no Pici, pedindo a confiança deles. Você acha que foi algo crucial, importante para a reação do time? E em algum momento teve receio de que o seu trabalho fosse interrompido?

Vojvoda - Foi um momento importante, eu tive que falar, mostrar minha confiança, eu estava convencido do grupo de jogadores que eu comando. Mas o que eu falei é o que eu escutava no dia a dia. Eu morei muito no Pici e estou aqui todo dia. O que eu falei aqui para o torcedor ou para fora é o que escuto no dia a dia. O torcedor do Fortaleza abraça o time no momento ruim, eu não sabia, mas eu escuto, eu converso com gente que está no dia a dia. No momento de Série C, o que acontecia? Como saíram? Tiveram oito anos sem subir, o que aconteceu nesses momentos?

Falei com gente que viveu esses momentos, transmiti o que falaram, Vojvoda não inventou nada. Transmito essa responsabilidade, capacidade. Tenho que escutar e, no momento preciso, trazer o torcedor para próximo do clube. E se eu tive esse pensamento de demissão, bom, o treinador sempre convive com isso, mas eu estava convencido, falava com a diretoria, no dia a dia mantive a cabeça fria, com responsabilidade. São momentos de muita tensão, vamos escutar críticas, abrir os ouvidos, mas também vamos ouvir o que internamente sentimos. Eu acho que foi isso. Passou em minha cabeça ser demitido, era uma possibilidade, mas não sou uma pessoa que pensa que as coisas estão ruim e agora vamos sair e deixar que outro resolva, não, as coisas estão ruim porque eu fui o responsável e agora sou responsável de continuar trabalhando e acreditando porque isso pode virar.

OP - Qual jogo você acha que foi a "virada de chave" para o Fortaleza?

Vojvoda - Acho que um jogo importante pela resposta que o time deu foi contra o Cuiabá, lá, foi um jogo importante. Contra o Atlético-GO fora de casa também. Foram partidas que não estávamos bem e precisávamos desse plus, esse extra de que em determinado momento se precisa. 

OP - Ano passado houve momento difíceis, mas também momentos positivos. Na partida contra o Atlético-GO, no Castelão, a torcida fez uma bela homenagem a você com mosaico, que incluía a sua família. Qual foi sua sensação ao ver aquilo?

Vojvoda - Foi algo muito emocionante. Eu não esperava. Eu achava que algo ia acontecer, mas não esperava ver minha família e não sabia que estavam no estádio, achava que estavam na Argentina e vendo pela TV. Não compreendia nada, foi muito emocionante. Minha cabeça estava preparada para receber isso, mas não para ver minha família. Foi muito legal, vou estar sempre agradecido, o torcedor me brindou com uma das maiores emoções da minha vida como treinador.

Sei que conseguimos coisas importantes, mas não foi somente o treinador que conseguiu. Comandei um grupo de jogadores, com uma boa comissão técnica, tivemos junto a diretoria e isso o torcedor olha, um clube unido. Mas se você disse que eu fiz sozinho, com segurança eu digo não

OP - Os torcedores fizeram a homenagem para demonstrar o carinho que têm por você, mas também como um pedido para que você ficasse no comando técnico do clube. Isso pesou na sua permanência?

Vojvoda - Bom, lembrei, mas as decisões são somente profissionais e depois de muito pensar. Se fiquei no Fortaleza, sim, importa o carinho, a homenagem, mas tenho que olhar mais à frente, com mais profundidade. Quando digo mais à frente é para continuar crescendo, isso é olhar na frente. É como um edifício. Eu posso agregar para que esse edifício siga crescendo? Sim, posso, o céu está muito alto, mas posso continuar agregando andares. Este pensamento tem que ser mais frio. Fiquei principalmente por isso. O carinho é algo da emoção, do coração, reconforta isso, mas nas decisões tem que estar a cabeça, o raciocínio.

OP - Você terminou a temporada como um dos treinadores mais cobiçados do mercado e clubes importantes ficaram sem treinador neste período e te procuraram, mas você optou por ficar. Você consegue dimensionar o que foi isso para a sua carreira? 

Vojvoda - É algo que sou muito grato, agradeço ao futebol brasileiro, ao Fortaleza, que me abriu a porta para que isso acontecesse. Outros clubes me procuraram, agradeci, mas se eu tenho a dimensão, tenho que saber que meu rendimento está no dia a dia. Tenho que estar bem da cabeça, com as pessoas que trabalham ao meu lado. Analisar se o clube tem possibilidades e abertura para continuar crescendo. Estou num clube também importante, que merece todo o meu respeito, torcedores colocam sempre o Fortaleza no topo e o futebol nordestino tem paixão, tem muitos torcedores no estádio. E têm coisas que não tem preço, não se pode comprar torcedor, não se pode comprar paixão. Acho que isso pesou também no momento de tomar decisões.

Técnico Juan Pablo Vojvoda recebe homenagem da torcida no jogo Fortaleza x Atlético-GO, na Arena Castelão, pelo Campeonato Brasileiro Série A 2022(Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC)
Foto: Leonardo Moreira/Fortaleza EC Técnico Juan Pablo Vojvoda recebe homenagem da torcida no jogo Fortaleza x Atlético-GO, na Arena Castelão, pelo Campeonato Brasileiro Série A 2022

OP - Foi uma marca sua, no Fortaleza, cumprir os contratos. E isso até chamou a atenção da imprensa brasileira. O que fez com que você optasse por manter o projeto no Fortaleza e que tipo de coisas você recusou para ficar? 

Vojvoda - Eu não sei se recusei. Quando recebo uma proposta é para treinar e se pode ver de fora tudo bonito, mas depois o dia a dia é totalmente diferente. Aqui tenho isso, isso e isso e lá podem me propor isso isso e isso e aí posso analisar. Fiquei por um processo de trabalho, tenho já uma ideia, os jogadores tem uma ideia, o clube também e pode continuar com essa ideia.

OP - Se você cumprir seu atual contrato por completo, se tornará o segundo técnico que mais treinou o Fortaleza…

Vojvoda - Você já está lá na frente (risos)

OP - O que significa para você estar, hoje, no top-6 de técnicos que mais treinaram o clube e saber que tem grandes chances de subir mais nesse ranking?

Vojvoda - São estatísticas, mas eu não foco nisso, foco no próximo jogo. Minha cabeça está sempre no próximo jogo, esse é meu pensamento, digo com sinceridade isso.

Há muitas coisas ainda por conquistar. Não sei se a palavra é conquistar, é agregar essa mentalidade de time grande... o Fortaleza é grande e necessitamos todos trabalhar para isso. Um time grande por sua gente e que continuamos construindo uma história que vamos ter que agregar isso

OP - Muito se fala que você é o maior técnico da história do Fortaleza pelos resultados que conseguiu no clube. Você se enxerga assim?

Vojvoda - Não. Eu sei que conseguimos coisas importantes, mas não foi somente o treinador que conseguiu. Comandei um grupo de jogadores, com uma boa comissão técnica, tivemos juntos com a diretoria. Isso o torcedor olha, um clube unido. Mas se você disse que eu fiz sozinho, com segurança eu digo não. É impossível. Cada um no seu departamento, com sua característica, com sua personalidade e vamos construir um Fortaleza cada vez maior.

OP - Você ganhou dois estaduais, uma Copa do Nordeste, levou o time para a Libertadores duas vezes, tendo avançado da fase de grupos neste torneio; foi quarto lugar na Série A do Brasileiro e semifinalista da Copa do Brasil. O que mais o Vojvoda quer conquistar com o Fortaleza?

Vojvoda - Há muitas coisas ainda por conquistar. Não sei se a palavra é conquistar, é agregar essa mentalidade de time grande. Agregar isso porque o Fortaleza é grande e necessitamos que todos trabalhem para isso. Um time grande por sua gente e que continuamos construindo uma história que vamos ter que agregar isso.

OP - Mas em termos de competições?

Vojvoda - Eu gostaria de ganhar tudo, mas estamos em futebol e tenho que pensar no próximo jogo. Sabemos que o Cearense desse ano é muito importante, sabemos que estar entre os times mais importantes do Nordeste também é outro objetivo e, depois, que o nome do Fortaleza continue na América do Sul, que sempre esteja aí. Em seguida, a mãe das competições, que sustenta tudo, que é o Brasileirão. A partir de abril, vamos pôr o foco numa competição que é cada vez mais concorrida. Esse são os objetivos.

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OP - Entrando em 2023, você pode falar um pouco da formação do elenco e o que tirou de aprendizado do ano passado?

Vojvoda - Mantemos a base do ano passado e incorporamos três ou quatro jogadores que necessitamos em três ou quatro posições. O aprendizado que deixou ano passado é que em determinado momento o elenco não foi tão amplo e agora incorporamos nessa primeira parte uma série de jogadores. Mas temos que continuar nisso, ainda não estão encerradas as contratações porque temos que continuar trabalhando.

OP - Quais partidas ou conquistas você considera mais especiais?

Vojvoda - Houve partidas importantes em diferentes momentos, como falei antes, de partidas importantes em momentos ruins (Cuiabá e Atlético-GO), tivemos também partidas em 2022 que foram muito apaixonantes, como o Flamengo aqui. Em 2021 ganhamos do Palmeiras lá, passamos de fases na Copa do Brasil.

OP - As partidas contra o River foram importantes por você ser argentino?

Vojvoda - Sim, mas eu tomei essas partidas não com tanta emoção, porque não definia diretamente algo. Contra o Alianza Lima, no Peru, definia, se Fortaleza não ganhasse, ficava fora da próxima fase. Contra o Colo-Colo lá, então são partidas especiais. Outras partidas são importantes, mas essas são as que realmente marcaram por emoção ou por resultado, que eu lembre.

Argentina está muito perto do Brasil em todos os aspectos, a cultura é muito similar, o respeito de um país a outro. Se olha muito o futebol brasileiro, a Libertadores põe isso mais perto ainda

OP - Você é um apaixonado pelo futebol. De onde surgiu isso, como você se encantou pelo futebol?

Vojvoda - Como toda criança, desde pequeno, primeiro jogando com meu pai, que acompanhava sempre, depois com meus amigos, depois profissionalmente, uma coisa chama a outra. Depois fechei minha carreira como jogador e eu necessitava continuar com essa paixão, essa adrenalina, esse nervosismo dentro do futebol e continuei minha carreira como treinador. Lembro de momentos de criança, com essa ansiedade, esse nervosismo, com sete ou oito anos que eu percebi que aqui passa algo diferente, não é jogar por jogar, se não é jogar e desfrutar algo que minha cabeça, dentro de mim, sente algo mais forte que jogar por me divertir, é jogar por algo que eu queria conseguir.

OP - Como seu trabalho no Fortaleza tem repercutido na Argentina?

Vojvoda - Lá a repercussão é boa, graças a imprensa do Brasil, também o que nós fizemos dentro do futebol brasileiro. Argentina está muito perto do Brasil em todos os aspectos, a cultura é muito similar, o respeito de um país a outro. Se olha muito o futebol brasileiro, a Libertadores põe isso mais perto ainda. Estou reconhecido também na Argentina, mas muito mais reconhecido dentro (do Brasil) porque estou no dia a dia. Argentina tem suas competições, mas se reconhece e estou agradecido.

OP - Algum clube argentino já lhe sondou?

Vojvoda - Sim, sempre há clubes argentinos (consultando), mas eles sabem que tenho um contrato, que tenho um trabalho no Brasil e isso muitas vezes fica um pouco de lado porque o futebol tem que estar com a realidade e a realidade é que agora o meu trabalho está no Fortaleza.

Em 2023, Vojvoda comandará o Fortaleza em cinco competições: Campeonato Cearense, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Libertadores e Série A(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Em 2023, Vojvoda comandará o Fortaleza em cinco competições: Campeonato Cearense, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Libertadores e Série A

OP - Seus filhos gostam de futebol e estão pegando o pai numa fase vitoriosa. Isso ajuda na paixão deles?

Vojvoda - Ajuda, meus filhos são apaixonados por futebol. Eu chego em casa e eles perguntam, os três, acompanham muito futebol internacional, sabem muito, porque estão todo dia, como as novas gerações usam celular, aplicativo, playstation, conhecem muito de futebol. Estou muito focado no Brasileirão, mas eles têm uma visão mais ampla. Brasileirão pelo pai, seguem tudo, Argentina porque moram lá e são torcedores do futebol local e nas redes sociais, o futebol internacional. Eles têm uma visão mais ampla de todo esse mundo do futebol.

OP - Você sonha em um dia treinar a seleção argentina?

Vojvoda - Não sei se sonho. Logicamente que dirigir uma seleção como argentina é motivo de orgulho para todos, como dirigir a seleção brasileira, são seleções campeãs do mundo. São objetivos muito importantes que para chegar a isso, não somente necessita fazer um bom trabalho, mas tem que alinhar tudo, o momento, o trabalho, circunstâncias, acho que é algo mais amplo.

OP - E a Premier League, sonha em disputar?

Vojvoda - É uma liga importante, trabalhar na Europa também é importante, mas o futebol brasileiro e o futebol argentino têm a matéria prima, isso é importante. Quando você fala que na Premier League estão os melhores, mas muitos são daqui, então aqui podemos ter essa matéria prima. É bonito ver a Premier League e as ligas europeias, mas não diminui as ligas sul-americanas porque têm bons jogadores e futebol se joga com bons atletas e uma bola.

Quando você fala que na Premier League estão os melhores, mas muitos são daqui, então aqui podemos ter essa matéria prima. É bonito ver a Premier League e ligas europeias, mas não diminuir as ligas sul-americanas porque tem bons jogadores e futebol se joga com bons atletas e uma bola

OP - Qual sua opinião sobre a discussão quanto a técnico estrangeiro ou brasileiro na seleção brasileira?

Vojvoda - As duas opções são boas, não porque eu não queira opinar. A opção por um técnico brasileiro é legal, o Brasil foi campeão do mundo cinco vezes com técnicos brasileiros. Essas decisões, não sei se me correspondem dar uma opinião, essas decisões são de pessoas que estão há mais tempo no Brasil, que estão nas diretorias da CBF e têm que tomar essa decisão com muita responsabilidade, muito debate, muita troca de ideias. É o momento? Não é o momento? Não sei se esse é o momento de responder se tem que ser estrangeiro ou brasileiro, não. Se é estrangeiro, por quê? Quais as causas, razões, objetivos? Tem que ser brasileiro, por quê? É nesse sentido que tem que haver uma decisão mais debatida e ampla. Não sou eu que tenho que responder.

OP - A gente vê muitas imagens suas pela cidade, na igreja, no portão da sede, assistindo aos funcionários jogando e até cumprindo promessas. Como você define sua relação com a cidade de Fortaleza?

Vojvoda - Eu não tenho muita vida fora, o que acontece é que eu saio cinco vezes para a igreja, vou cumprir uma promessa ou ir a um jantar. No (episódio do) “abre portone” uma vez, parece até que estou todo dia (na rua), mas aconteceu quatro ou cinco vezes em dois anos. É mais repercussão do que tenho o momento para conhecer. Eu gostaria mais (de conhecer) do que acontece.

Vejo um futebol brasileiro primeiro por sua qualidade de jogadores e cada vez mais organizado. Acho que falta vender o produto lá para fora, porque os melhores jogadores estão aqui

OP - Já pensou em trazer a família para morar em Fortaleza?

Vojvoda - Passa pela minha cabeça, mas são coisas muito particulares. Tenho três filhos, meu trabalho. Estou muito com a minha família nos momentos que posso estar. A qualidade do momento é melhor que a quantidade. Analisar ou projetar minha vida com minha família desse jeito. Temos as férias dos meus filhos e este é o momento para aproveitar e estarmos juntos. É qualidade de momento. Eles quando podem vir para Fortaleza, vêm, me acompanham, mas o futebol brasileiro não dá muita oportunidade de ficar muito tempo em casa e meu trabalho também. Minha família gosta de Fortaleza, mas a realidade, a vida do dia a dia, cada um processa e analisa.

OP - Onde você coloca o Fortaleza na sua carreira?

Vojvoda - Eu colocaria não para trás e não para frente. Como sempre, um desafio. O que está atrás já passou, já se conseguiu, então coloco o Fortaleza nisso, daqui para frente. A responsabilidade, o compromisso que tenho com as pessoas, com o clube, com torcedores, com jogadores, somos todos um. Esse é meu pensamento.

OP - Qual sua avaliação sobre o nível dos jogadores, técnicos, parte tática do futebol brasileiro hoje?

Vojvoda - Continua crescendo, primeiro pela qualidade dos jogadores, estão voltando jogadores da Europa e não com idade avançada, mas porque querem estar no país. Uma liga em crescimento economicamente com infraestrutura, bons campos, bons estádios, boas logísticas e tem que continuar crescendo, um campeonato como o Brasileirão tem que continuar crescendo. Um campeonato como o Brasileirão é muito competitivo, vinte times, todos contra todos, lutar, ver quem é melhor, com muitos objetivos, uns lutam pelo campeonato, outros por Libertadores ou Sul-Americana, outros para não ser rebaixado. Vejo um futebol brasileiro primeiro por sua qualidade de jogadores e cada vez mais organizado. Acho que falta vender o produto lá para fora, porque os melhores jogadores estão aqui.

 

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