A primeira vez que Pelé pisou num gramado cearense foi no dia 18 de julho de 1959, em empate em 2 a 2 com o Fortaleza em amistoso no Presidente Vargas. Quinze anos depois, em 18 de julho de 1974, o Tricolor seria o último time da Terra da Luz a encarar o Rei. Desta vez no estádio Pacaembu, em São Paulo, a igualdade também ficou no placar e o Leão do Pici nunca venceu o Alvinegro Praiano com o maior dos ídolos em campo. O primeiro encontro, porém, teve momento histórico.
Sorte diferente teve o Ceará. Foram três confrontos com o Santos do Pelé: um empate e duas vitórias. Ou seja, zero derrota.
Seguem, abaixo, o resumos das visitas e confrontos do Rei do Futebol com equipes cearenses.
Colunista do O POVO e apresentador do Trem Bala, Alan Neto tem uma relação especial com o Rei do Futebol. Em mais de 50 anos de carreira, o jornalista viveu o auge da trajetória como repórter no encontro com Pelé, em 1970, antes da Copa do Mundo do México, no interior do Savanah Hotel, no Centro de Fortaleza.
O resultado foi o furo mundial que sacudiu o futebol. Pelé revelou a Alan que a Copa do México seria a despedida do jogador da seleção brasileira. E ainda prometeu — e viria a cumprir — que encerraria a passagem pela Canarinho com o Tri. Como o então jovem repórter no início da carreira conseguiu uma exclusiva com o Rei, enquanto um batalhão de jornalistas se amontoava do lado de fora do Savanah Hotel por qualquer declaração do camisa 10?
"Eu estava começando no jornal. O Seu Costa (José Raimundo Costa, 1920–2004, então editor do O POVO), meu pai no jornalismo, me disse: 'Eu tenho um desafio pra ti. O Pelé está vindo aí. Eu quero uma matéria exclusiva. Dou primeira página'. Eu estava começando!", conta Alan, em narrativa de espanto com a lembrança do pedido do chefe.
Pelé estava a para Fortaleza com a delegação do Santos para uma partida. Seu Costa, então, reservou quarto no Savanah Hotel para o jovem repórter e o irmão dele, o também jornalista Sérgio Ponte.
"Armamos uma estratégia. O Santos ocupava os dois últimos andares. O Pelé ficava sozinho. O gerente conseguiu que a gente ficasse no andar abaixo. ‘Vou pegar ele no almoço’. Combinamos com o mâitre do hotel. O Pelé almoçava junto com os companheiros de time, não tinha frescura", rememora.
O primeiro passo já tinha sido dado. Enquanto diversos jornalistas montavam campana do lado de fora do hotel, Alan e Sérgio estavam hospedados no prédio. A próxima investida era abordar Pelé. Mas como? O repórter pensou numa história para convencer o Rei do Futebol não só a falar com a dupla, mas para que desse uma declaração bombástica, “de mil megatons”, com jargão imortalizado pelo próprio Alan Neto.
"Chamei o mâitre, o Batista. Pedi pra ele abordar o Pelé e explicar que eu estava começando e que precisava de um furo, meu emprego estava dependo dele. E Pelé aceitou, marcando para o dia seguinte."
O encontro aconteceu no horário marcado, na manhã seguinte, como havia prometido o atacante. "Quando nos encontramos, eu já falei: 'Se eu não levar uma exclusiva sua não vou progredir'. Ele disse: 'Vamos lá: eu tenho um furo pra você. Prepara o gravador'. Eu tremia pra caramba", diz Alan.
"E ele continuou. 'Pode anunciar que será minha última Copa como jogador da seleção'. Eu fiquei sem acreditar. Com 30 anos, ele ainda poderia disputar mais uma Copa. 'Eu encerro nesta e vamos ser Tri no México'. Ele queria sair por cima", conta.
Diante da trajetória, a memória de Alan preserva o principal, ainda que escapem alguns detalhes. O papo não foi exatamente em 1970, mas dois anos depois. Nele, o colunista ouviu primeiro, com exclusividade, sobre a aposentadoria do Rei, em 1974. Meses depois, em janeiro de 1973, Pelé confirmava para o jornalista que não jogaria a Copa do Mundo de 1974.
E a entrevista fluiu. No fim do bate-papo, Pelé ainda surpreendeu Alan com um pedido inusitado. "Só quero uma contrapartida. E eu: 'O que é? Se for dinheiro, não dá'. 'Quero uma rede, a melhor que tiver daqui'. Foi a única coisa que a mulher dele (na época, a Rose) pediu pra ele."
A entrega da rede ficou marcada para acontecer no aeroporto de Fortaleza, antes do embarque da delegação do Santos. "Na segunda-feira, eu cheguei atrasado no aeroporto. Ele já me procurando a caminho da sala de embarque. Eu corri para entregar. O segurança não queria me deixar passar. Eu dizia: 'É a rede que o Pelé me pediu, não é bomba. Gritei: Pelé!'. E ele veio: 'Rapaz, pelo amor de Deus, eu já estava preocupado. Apanharia da Rose se voltasse sem'", lembra Alan, aos risos.
A entrevista ganhou a primeira página prometida por Seu Costa. As declarações de Pelé repercutiram no mundo inteiro. "Saiu em todo canto. Foi uma declaração bombástica. Foi a primeira vez que minha foto saiu no jornal, na primeira página. Pra mim foi a glória. Foi o maior feito da minha carreira.".
Conforme prometido, a carreira de Alan Neto progrediu e ele é há décadas um dos nomes mais reconhecíveis do jornalismo cearense. (Lucas Mota)
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