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O encontro dos políticos cearenses com a política brasileira
Reportagem Seriada

O encontro dos políticos cearenses com a política brasileira

Jornalista Guálter George, colunista de Política do O POVO, analisa o papel cearense na política nacional
Episódio 4

O encontro dos políticos cearenses com a política brasileira

Jornalista Guálter George, colunista de Política do O POVO, analisa o papel cearense na política nacional
Episódio 4
Tipo Análise Por

 

A matéria propõe uma certa viagem no tempo como esforço de localizar personagens da política cearense que conseguiram furar um bloqueio virtual que existe e se colocaram com suas fotos na galeria das grandes figuras nacionais. Ou, pelo menos, aquelas que conseguiram exercer algum nível de influência a partir de suas ações. Um clube para poucos, ao qual se chega por vias diversas, nem sempre podendo-se dizer que os casos a serem relatados aqui tenham sido resultado apenas de competência, muito embora seja muito difícil que alguém se estabeleça no espaço não dispondo de um mínimo de parcela deste atributo.

Claro que abrir a análise no tempo, sem delimitá-lo de uma maneira ajustada e coerente, tornaria impossível uma abordagem porque há cearenses envolvidos com o poder e a política desde os tempos do Império. Portanto, a fase colocada sob análise terá como recorte o que podemos chamar livremente de "democracia moderna", ou seja, a partir da recuperação pelo cidadão brasileiro do direito ao voto para escolha do governador, o que aconteceria no ano de 1982, até os dias atuais.

Seria difícil conseguir algo mais emblemático do que citar como primeiro personagem aquele que, involuntariamente, talvez, demarcou a entrada da política cearense nesta fase a ser estudada. O então jovem Luiz Gonzaga da Fonseca Mota, um técnico até aquele momento, que, de início, simbolizaria o resultado de um acordo entre os coronéis Virgílio Távora, César Cals e Adauto Bezerra, tornando-se o nome de consenso entre os pesos-pesados do poder local naquela etapa histórica.

Gonzaga Mota (à esquerda) bateu de frente com o padrinho Virgílio Távora para apoiar Tancredo Neves(Foto: Acervo O POVO)
Foto: Acervo O POVO Gonzaga Mota (à esquerda) bateu de frente com o padrinho Virgílio Távora para apoiar Tancredo Neves

O técnico virou político, peitou seus padrinhos, ganhou projeção nacional, rompeu com eles, impôs a candidatura do empresário Tasso Jereissati à sua sucessão em 1986 (para enfrentar e derrotar Adauto Bezerra) e virou um nome de interesse para o País. Inclusive, na eleição presidencial ainda feita através de um colégio eleitoral em 1985 é dado como um dos responsáveis diretos pelo processo de implosão do PDS ao anunciar apoio à candidatura de Tancredo Neves na disputa contra Paulo Maluf pela sucessão de João Figueiredo. Foi o primeiro governador a fazê-lo, é fato.

O Brasil ensaiava os passos de volta à democracia, naquele estilo lento e gradual que se tinha permitido, num contexto que animou o (então) jovem político a deixar que sua rebeldia fluísse. Pagou um preço alto por isso, admite hoje, sem arrependimentos, passando a enfrentar uma má vontade de Brasília que gerou uma crise financeira de grandes proporções. Para encará-la, usou toda sua inteligência de economista chegando a criar uma espécie de moeda — as "gonzaguetas" — com as quais pagava os servidores e a partir disso se estabelecia um sistema de trocas, com impostos envolvidos, que de alguma forma permitia que o dia-a-dia governamental fosse tocado.

Gonzaga Mota, apesar do contexto difícil, bancou a candidatura de Tasso, viu a vitória de seu candidato acontecer e, com isso, talvez tenha experimentado naquele 1986 o último grande feito de sua carreira política. Obteria mais adiante alguns mandatos de deputado federal, com pouco protagonismo no Congresso, amargou derrotas, inclusive numa tentativa de voltar ao governo do Estado, até que decidiu pelo afastamento definitivo da vida pública. Mantém hoje uma boa capacidade analítica, acompanha e está informado de tudo que acontece, mas quer distância do que se poderia chamar de política real.

O paradoxo é que a derrocada, ou, pelo menos, a perda de espaço dele, meio que se confunde com a entrada em cena de Tasso Jereissati. Ou seja, é a típica história da criatura que se torna maior do que o criador. Dá para dizer com algum grau de certeza que o então jovem empresário, à época vislumbrado pelo vistoso trabalho como presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), não tinha como ganhar a disputa pelo governo sem a estratégia e o apoio recebido do governador que o apoiou. A velha máquina, usando um politiquês mais claro.

Tasso eleito, sentado na cadeira, a história muda de rumos. O estilo inicial não era de um político mas de um empresário, caminho que o colocou rapidamente em atrito com Gonzaga Mota. O rompimento aconteceria, parecia inevitável, e veio o desconforto da velha classe política, acomodada em práticas que o novo governador decidira romper, determinando uma quadra de permanentes arranhões institucionais e atritos. Com a Assembleia e boa parte dos deputados, por exemplo.

FHC, Ruth Cardoso, Marco Maciel, REnata Jereissati e Tasso em comício no Conjunto Ceará(Foto: Evilázio Bezerra, em 22 de setembro de 1994)
Foto: Evilázio Bezerra, em 22 de setembro de 1994 FHC, Ruth Cardoso, Marco Maciel, REnata Jereissati e Tasso em comício no Conjunto Ceará

Três mandatos de governador e dois de senador depois, Tasso Jereissati parece também aposentado da política, assim se anuncia, pelo menos. Ao longo da trajetória, consolidou-se como figura nacional, foi um dos nomes centrais no começo do PSDB, partido ao qual se filiaria pouco tempo depois de sua fundação, que chegou a presidir em dois períodos e no qual segue colocado na galeria de influentes, embora os planos pessoais mais ousados que apresentou nunca tenham sido suficientemente apoiados no âmbito interno. Num destes casos, movimentou-se, entre 1998 e 2002, para disputar a presidência da República pela sigla, quando acabaria derrotado pela articulação mais forte, agressiva e eficiente do paulista José Serra.

Tasso já esteve cotado para postos importantes e terminaria atropelado nas horas decisivas. Em várias oportunidades teve o nome sugerido para ministérios da prateleira de cima, inclusive o da Fazenda, aparecendo sempre um veto de alguém de peso para atravessar seu caminho. Assim aconteceu uma vez com Ulysses Guimarães e outra com Fernando Henrique Cardoso, convenhamos, para aquelas ocasiões, o cearense tinha gente graúda atravessada no caminho para conter seus voos maiores de alcance nacional.

Aposentado da política de maneira definitiva, segundo afirma, Tasso Jereissati deixa como registro negativo de destaque em sua trajetória nas urnas o ano de 2010. É onde está carimbada sua única derrota eleitoral de cunho mais pessoal quando tentou a renovação do primeiro mandato de senador. Um trauma de difícil digestão na época, mas que ele tem hoje como um aprendizado. "Ali foi quando percebi, por exemplo, o quanto o Lula (líder petista, atual presidente da República) é forte junto ao eleitorado do Ceará e, como um todo, do Nordeste".

Ao contrário do antecessor, Tasso nunca experimentou um rompimento público e oficial com o sucessor no cargo de governador que ajudou a eleger: Ciro Gomes. O próximo personagem de que trataremos e que, hoje, até tem uma bagagem nacional mais expressiva do que o tucano. Acontece que dificilmente ele chegaria ao protagonismo de agora na política brasileira sem o impulso inicial, lá atrás, quando era um obscuro e jovem (mesmo que promissor) deputado estadual.

Ciro Gomes e Tasso Jereissati se cumprimentam diante de Patrícia Saboya e dirigentes do PDT, na convenção que a lançou candidata a prefeita(Foto: Dário Gabriel, em 22/6/2008)
Foto: Dário Gabriel, em 22/6/2008 Ciro Gomes e Tasso Jereissati se cumprimentam diante de Patrícia Saboya e dirigentes do PDT, na convenção que a lançou candidata a prefeita

Ciro Gomes era isso, exatamente, quando Tasso Jereissati o escolheu líder do governo na Assembleia, até por problemas de falta de opção como resultado da disposição manifesta desde o início de romper tradições e costumes. É fácil para o leitor mais jovem imaginar o efeito de aplicar 36 anos para trás na idade do ainda hoje entusiasmado pedetista e, a partir disso, projetar como era sua atuação política na época em que, descoberto pelas circunstâncias, subiu de patamar na política cearense.

Brilhou, claro. Ao ponto de merecer uma ginástica política e legal fora dos padrões para virar o candidato apoiado pelo governador na eleição de 1988 para prefeitura de Fortaleza. E, mais do que isso, vencer a disputa.

Esclarecendo melhor, apenas para dar uma ideia aos desavisados sobre o tamanho da esquisitice: Ciro Gomes elegeu-se prefeito sem ter o direito de votar nele próprio porque para todos os efeitos, excluindo aqueles que a justiça eleitoral da época tinha o poder de definir, era eleitor em Sobral.

A questão é que superado esse "detalhe", a carreira política de Ciro cresceu de maneira meteórica. Dois anos depois, em 1990, seria eleito governador do Ceará, mandato que interrompeu na reta final para, renunciando, poder assumir, simplesmente, o ministério da Fazenda em meio à crise político-eleitoral que derrubou Rubens Ricupero do cargo em plena campanha presidencial de 1994. Aos 37 anos, apenas, ou seja, havia um futuro inteiro pela frente, mas, vendo-se hoje, aquilo que se projetava não aconteceu de verdade. Havia um pré-roteiro pronto que parecia indicar o Palácio do Planalto como sua morada por um tempo, algum dia.

Ciro Gomes ao tomar posse como ministro da Fazenda, com Itamar Franco e Rubens Ricupero(Foto: Fernando Sá/acervo O POVO)
Foto: Fernando Sá/acervo O POVO Ciro Gomes ao tomar posse como ministro da Fazenda, com Itamar Franco e Rubens Ricupero

Ciro Gomes, não há dúvida, é um personagem nacional, tem hoje uma legião de seguidores e admiradores espalhados por todo o País, foi, depois das experiências já citadas anteriormente, deputado federal, secretário estadual, ministro de Estado e, mais importante, quatro vezes candidato à presidência da República. Em volume, uma trajetória política expressiva, mas, a bem da verdade, que não parece sinalizar com grandes perspectivas quando fundamenta um olhar em relação ao horizonte de futuro.

Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes conversam enquanto semáforo estava fechado, durante a campanha de 1994, quando Ciro virou ministro e FHC era candidato a presidente(Foto: Jorge Cardoso/AE)
Foto: Jorge Cardoso/AE Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes conversam enquanto semáforo estava fechado, durante a campanha de 1994, quando Ciro virou ministro e FHC era candidato a presidente

Afinal, aquele quase garoto a quem se entregou lá atrás o comando de uma das maiores economias do mundo virou, como é hoje, uma figura pública a caminho dos 70 anos (são precisos 66 atualmente) e que já se obriga a calcular os passos quando olha pra frente. Mesmo que seu nome siga considerado no debate do País, suas palestras ainda tenham atenção e repercussão, as análises continuem gerando barulho, a verdade é que a força político-eleitoral de sua presença no debate está diminuindo.

A última experiência de Ciro Gomes no quadro político brasileiro, como candidato do PDT à presidência da República no ano passado, dimensiona isso em números. O cearense registrou apenas 3,05% dos votos, quando nas três experiências anteriores ficou sempre entre 10% e 12%, com momentos de alta na campanha (embora rápidos) nos quais chegava a superar os 20% na intenção de escolha do eleitor.

Uma das várias cogitações que se faz para o futuro de Ciro sugere, olhando para 2026 e ajustando seus planos à condição real que o momento permite, uma candidatura ao Senado, que nasceria de um acordo interno no qual o irmão Cid, hoje ocupando na Casa uma das cadeiras destinadas ao Ceará, abriria mão, em favor dele, de um projeto de reeleição. A verdade real, porém, é que o ex-presidenciável pedetista segue de olho no Palácio do Planalto e prioriza, ainda tentando juntar os cacos do que aconteceu ano passado, a viabilização de uma quinta tentativa de brigar pelo posto mais importante da República. Apesar de, no discurso, dizer-se sem ânimo para novas temporadas eleitorais.

Cid Gomes, Camilo Santana, Lula e Ciro Gomes, em 2016(Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula)
Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula Cid Gomes, Camilo Santana, Lula e Ciro Gomes, em 2016

Ciro até teve, entre 2007 e 2010, uma passagem pelo Congresso. Foi deputado federal no período e, em verdade, não deixou qualquer marca, sempre manifestando decepção com a experiência ao final do mandato. Sentimento igual, talvez, tiveram os mais de 600 mil eleitores que à época o mandaram à Câmara com a maior votação proporcional do País, considerando-se o saldo que deixou de nenhum projeto de lei ou proposta de emenda constitucional apresentada, o registro de falta em aproximadamente metade das sessões em plenário e a ausência quase que total, também, nas reuniões das comissões.

O descaso aparente de Ciro Gomes com o mandato parlamentar, considerando que ele teria muito a contribuir com o debate daquele momento a partir de sua posição na Câmara, é inversamente proporcional ao interesse com a vida política e as movimentações que acontecem a partir do Congresso de outro personagem cearense a ser destacado na briga por espaços no ambiente nacional: o ex-deputado, ex-senador e ex-ministro Eunício Oliveira. De volta agora à Câmara, após um mandato no Senado e uma derrota inesperada em 2018 ao tentar reeleição, a situação nova lhe impõe passos cuidadosos para recuperar um protagonismo que claramente perdeu nos quatro anos que se manteve distante do centro das decisões.

Eunício Oliveira (MDB)(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado Eunício Oliveira (MDB)

Até 2018, vamos lembrar, Eunício sempre conseguiu estar próximo ao poder, a começar pela presença garantida em situações de comando no partido ao qual está vinculado desde sempre: o MDB. Além de presidir o núcleo cearense, onde segue assentado, um cargo na executiva nacional lhe era destinado antes para ocupar diretamente ou indicar alguém de confiança. É o que lhe permitiu, numa trajetória vitoriosa, ter sido líder da bancada um bom tempo na Câmara, haver ocupado a presidência do Senado e, ainda no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, conseguir indicação da legenda para ocupar o ministério das Comunicações. Não são cargos e funções quaisquer.

Antes de Eunício Oliveira, outra figura da política cearense que conseguiu relevância no cenário nacional, costurando apoios para chegar à cobiçada cadeira de presidente do Senado Federal foi Mauro Benevides. Falar dele exigirá um corte no tempo, levando-nos mais atrás no calendário político. Hoje completamente afastado da vida pública, com 93 anos, sua trajetória é mais retilínea e começa com mandato de vereador em Fortaleza, depois foi deputado estadual, deputado federal e senador, neste último caso em dois mandatos.

O presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), ergue o primeiro exemplar da Constituição de 1988. Entre o 2º vice-presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Marcelo Cordeiro (PMDB-BA), e o 1º vice-presidente, senador Mauro Benevides (PMDB-CE)(Foto: Acervo SEDI/CD)
Foto: Acervo SEDI/CD O presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), ergue o primeiro exemplar da Constituição de 1988. Entre o 2º vice-presidente da Assembléia Nacional Constituinte, deputado Marcelo Cordeiro (PMDB-BA), e o 1º vice-presidente, senador Mauro Benevides (PMDB-CE)

Também fiel ao MDB, Mauro Benevides comandou a executiva regional durante muito tempo até perdê-la para, exatamente, Eunício Oliveira. Aliás, que é genro de outro político emedebista que circulou nos espaços decisórios da República: Paes de Andrade. Um velho líder político, com trajetória sempre vinculada às vozes críticas ao regime militar, dentre aquelas que o sistema de controle da época permitia autorizar, e que presidiu a Câmara dos Deputados no conturbado período entre fevereiro de 1989 e fevereiro de 1991. Quando morreu, em junho de 2015, já não era mais parlamentar, estava aposentado.

De volta aos vivos e já procurando inserir o cenário atual no contexto de um debate sobre a política nacional, vislumbra-se alguns nomes com perspectiva de gerar influência. O que se tem é a chegada de personagens novos empurrando a porta para serem aceitos na prateleira superior do poder. Há os citados que seguem por aí, movimentando-se, falando, sendo ouvidos, casos de Ciro Gomes, Tasso Jereissati e Eunício Oliveira, mas na configuração que vai se desenhando o primeiro nome que surge como possibilidade, ainda, é o do ex-governador e hoje ministro da Educação, Camilo Santana.

Licenciado do Senado, após uma vitória consagradora nas urnas em 2022, é possível cravar que seja, no momento, a mais influente figura da política cearense em Brasília.

Camilo Santana é o primeiro ministro a participar da live semanal com o presidente Lula(Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert)
Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert Camilo Santana é o primeiro ministro a participar da live semanal com o presidente Lula

Mais até do que seu criador Cid Gomes, que ocupa uma outra cadeira do Ceará no Senado e no ano de 2014 foi capaz de identificar suas qualidades, como político e como gestor, para transformá-lo em candidato ao governo, sucedendo-o. As circunstâncias posteriores ajudariam, o PT voltou ao poder nacional, há uma crise pós-eleitoral entre os irmãos Ferreira Gomes (Ciro e Cid) que tem fragilizado o grupo, e, como resumo de tudo isso, Camilo carregou o correligionário Elmano de Freitas (hoje governador) rumo à vitória, acabando por ter sua força reconhecida através do convite de Lula para assumir a poderosa pasta ministerial que ocupa.

Luiz Inácio Lula da Silva e Cid Gomes em 2012(Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula Luiz Inácio Lula da Silva e Cid Gomes em 2012

Na bolsa de apostas de hoje, quando se olha o mapa político do Ceará, Camilo Santana é enxergado como uma das alternativas reais para quando se fizer uma discussão a sério sobre o futuro do PT. Mesmo que ande longe de ser a opção mais forte, o simples fato de ser um nome considerado já significa algo. Significa muito, a bem da verdade.

 

 

Outros nomes, os critérios e por que não foram citados

É claro que a lista proposta na matéria não deve atender à expectativa da totalidade de quem a leu. Haverá muitos cearenses que estiveram em postos importantes no tempo sugerido de análise e que, numa ou outra perspectiva, poderiam merecer citação. Por exemplo, tivemos, a partir de 1982, uma quantidade expressiva de representantes locais ocupando ministérios, o que em si não está estabelecido como critério na abordagem feita.

O próprio Cid Gomes, citado no texto, ocupou em rápidos meses de 2015 o mesmo ministério da Educação onde agora está assentado Camilo Santana. Nunca, porém, com o nível de apoio que o petista tem hoje, o que justifica o fato de ter entregue o posto na primeira trombada política em que se envolveu. No plano nacional, mesmo que os dois estejam afastados um do outro atualmente, ele nunca conseguiu ir além de ser identificado como uma sombra do irmão, Ciro.

No PT de Camilo talvez possa gerar alguma queixa por não constar na lista, olhando o passado, o nome do ex-deputado federal, ex-senador e ex-ministro José Pimentel. De fato, personagem central em momentos críticos da sigla, na época do mensalão, em especial, assumindo sempre missões espinhosas e, mais importante, saindo-se bem em todas elas. O que acontece é que sempre numa condição de "soldado", de cumpridor eficiente de tarefas, o que dificulta sua inclusão numa estante onde cabem apenas "generais" ou, pelo menos, quem de alguma forma mais direta participa do estágio das grandes decisões na fase em que eles são tomadas. Onde, de verdade, o fiel, eficiente e competente Pimentel nunca foi localizado.

Considerando o PT contemporâneo há José Guimarães, deputado federal e líder do governo Lula na Câmara. O interessante nos movimentos dele é que acontecem no ambiente nacional com algum nível de protagonismo, no Congresso em especial, olhando todo o tempo para os seus efeitos locais. Parece que miram mais o Abolição do que o Planalto, mesmo que se desconheça, a curto prazo, planos seus pessoais para chegar ao governo cearense. Apesar disso, trata-se de um dos personagens potencialmente mais próximos de alcançar o nível de cima da política brasileira, embora ainda não havendo como colocá-lo neste patamar.

Lula sobe ao palco em 1º de setembro de 2023 para evento no Banco do Nordeste (BNB), ao lado de José Guimarães e seguido pelo governador Elmano de Freitas(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Lula sobe ao palco em 1º de setembro de 2023 para evento no Banco do Nordeste (BNB), ao lado de José Guimarães e seguido pelo governador Elmano de Freitas

Enfim, é uma lista que um ou outro entenderá incompleta pela razão que sugere a análise que cada um faz do tema e do período. Haverá quem diga que caberia incluir o saudoso Beni Veras, "guru" de Tasso Jereissati e que foi senador, governador (concluindo o último mandato do tucano, de quem foi vice) e ministro do Planejamento no governo de Fernando Henrique Cardoso. De novo, faltou-lhe ambição, possivelmente, e cada passo que deu foi mais entendido como uma concessão do que uma conquista.

Outro nome que poderá ser lembrado, até com alguma razão, é do deputado federal André Figueiredo, que foi ministro das Comunicações no governo Dilma, lidera a bancada do PDT na Câmara e, neste momento, também preside (interinamente, com o afastamento de Carlos Lupi para assumir o ministério da Previdência) a executiva nacional do partido. Porém, pode ser até um caso emblemático de que não basta olhar para o currículo e os cargos, é preciso entrar um pouco mais na análise para preparar uma lista que enxergue além do que é superficial. A política exige, não apenas pede, que assim seja.

"Guálter George é diretor de Opinião e colunista de Política do O POVO"

 

 

Ministros cearenses desde a redemocratização

A relação inclui cearenses e outros que não nasceram no Estado, mas fizeram carreira, como José Pimentel (PT) e Ciro Gomes (PDT). Ou Ricardo Fiuza, na era Collor, que nasceu em Fortaleza, mas tem trajetória ligada a Pernambuco

 
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