O Ceará vive momento de transição de ciclos políticos. A era Ferreira Gomes marcou as primeiras décadas do século XXI no Estado. A família, diretamente, deixou o poder com Cid Gomes (PDT), em 2015. Porém, sucedeu-o um discípulo de Cid, o hoje ministro da Educação Camilo Santana (PT). As eleições de 2022 foram um marco do voo solo do petista, que se consolida como maior líder do Ceará e postulante a comandar o novo ciclo.
Na eleição para governador no ano passado, enfrentaram-se os dois principais símbolos da renovação do grupo Ferreira Gomes: o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, venceu a disputa interna no PDT para concorrer a governador. Teve como adversário Elmano de Freitas (PT), apoiado por Camilo. O petista venceu no primeiro turno e Roberto Cláudio ficou na terceira colocação, atrás ainda de Capitão Wagner (União Brasil), tradicional opositor do grupo.
Os Ferreira Gomes, em grande parte, seguem aliados a Camilo. Porém, o grupo vive desde o ano passado sua maior fratura, com o desentendimento entre Cid e Ciro Gomes (PDT) — este último responsável por alçar o grupo ao nível estadual e inclusive ganhar projeção nacional. Houve muitas divergências ao longo da trajetória da família, mas nada como o que agora ocorre. As coisas podem vir a se acertar, mas hoje é possível dizer que o grupo Ferreira Gomes deixou de existir. Ou pelo menos Ciro não é parte dele. Não está do mesmo lado dos irmãos.
Neste momento de transformação, O POVO convidou especialistas, professores, pesquisadores, pensadores da área política para refletir em textos ensaísticos sobre estruturas que comandam a política do Ceará.
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Sobre o último tema, o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é caracterizado pela abertura de espaços para o Ceará no âmbito nacional. No governo de Michel Temer (MDB), nenhum cearense foi ministro, embora Eunício Oliveira (MDB) tenha sido presidente do Senado. Na gestão de Jair Bolsonaro (PL), o único ministro cearense foi o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que assumiu a Defesa no último ano de mandato.
Ao longo das últimas décadas, houve movimentos importantes da política brasileira que passaram pelo Ceará, como quando Gonzaga Mota foi o primeiro governador a apoiar Tancredo Neves a presidente, ou com Paes de Andrade presidente da Câmara dos Deputados, ou Mauro Benevides no comando do Senado na época do impeachment de Fernando Collor. Cearenses tiveram ministérios fundamentais, principalmente Ciro Gomes na Fazenda na fase de consolidação do Real. Ciro viria a ser candidato a presidente da República quatro vezes, chegando a ter votações relevantes.
Os ciclos políticos na história do Ceará
A política cearense teve pelo menos cinco grandes ciclos no período da República (leia sobre cada um deles aqui):
Grupos familiares e forças empresariais atravessaram as mudanças. Inclusive, vale notar o quanto, entre os jovens empresários das décadas de 1970 e 1980, que protagonizaram a era Tasso, havia vários filhos de políticos.
Na redemocratização, do meio urbano, além de uma nova geração do empresariado, emergiram novas forças de esquerda, principalmente a partir de sindicatos e da intelectualidade. Na última década, a partir das forças de segurança pública e do bolsonarismo surgiu uma nova direita.
Em tempo de ruptura de grupo político e transição de ciclos, O POVO convida a reflexões sobre as forças que compõem o poder no Ceará.
Quais as forças mais influentes na formação do Ceará político e o papel que desempenham