Único prefeito a conseguir ser reeleito até hoje em Juazeiro do Norte (CE), no Cariri, a 527 quilômetros de Fortaleza, Glêdson Bezerra (Podemos) completa os primeiros seis meses do segundo mandato destacando a liberação de verbas para investimentos em infraestrutura, além da reforma administrativa, que permitiu a redução no número de pastas da gestão.
“Eu acredito que o maior marco foi a gente ter conseguido destravar o empréstimo junto à
Portanto, tudo isso leva a crer que Juazeiro vai ampliar ainda mais o seu boom imobiliário, gerando ainda mais emprego, renda e desenvolvimento na nossa cidade”, explica o gestor ao O POVO.
Para Bezerra, a reforma administrativa só foi possível devido à relação mais amistosa entre o poderes Executivo e Legislativo, o que permitiu a criação de uma Secretaria do Planejamento.
Glêdson relata que, no mandato anterior, havia por parte dos vereadores de oposição "uma verdadeira paranoia" no sentido de "perseguir, de cassar o mandato do prefeito".
“Isso não era uma relação minimamente civilizada. Hoje, não. Hoje as críticas existem e vão continuar a existir. As ações de fiscalização também existem. Muitas delas até com muita contundência, mas a relação é civilizada, porque me permite pensar que Juazeiro tem muito a avançar nessa relação institucional e harmônica entre os dois poderes", completa.
Glêdson comanda a maior máquina pública da oposição no Ceará — e também o maior município do Interior. Isso faz dele peça central nos movimentos para 2026. Embora cogitado, ele afirma não ter intenção de concorrer a governador neste momento e pretende concluir o mandato de prefeito.
No começo do ano, ele disse ao O POVO que, na condição de prefeito, "não pode se dar o luxo de ser oposição". Entre o fim de 2024 e o começo do primeiro semestre de 2025, houve desencontros entre ele e o governador Elmano de Freitas (PT) sobre liberação de recursos e até agenda para se encontrarem.
"Não estou em busca de alianças políticas, eu estou em busca de alianças institucionais", reforçou à época. Após reunião em abril, a solução pareceu se encaminhar.
Glêdson Bezerra menciona que, desde o final de 2024, conseguiu realizar o pagamento de cerca de R$ 14 milhões em precatórios herdados de administrações anteriores. Ele explica que, com as certidões em dia, a Prefeitura poderá receber recursos dos governos estadual e federal.
O prefeito destaca que, com as contas em ordem e com a equipe mais experiente, a expectativa é de que possa fazer um segundo mandato muito melhor do que o anterior.
“(Hoje) as dívidas são bem menores do que aquilo tudo que eu já enfrentei um dia. Então, eu acredito que com a liberação desses recursos, com as finanças bem mais em ordem e com a experiência adquirida no primeiro mandato, nós temos totais condições de avanços ainda mais significativos nesse segundo mandato”, explica.
Para o vereador Vandinho Pereira (Progressistas), aliado do prefeito, a administração municipal é marcada pela austeridade financeira, o controle de gastos e pela seriedade na aplicação de recursos públicos.
“A gestão do prefeito Glêdson é uma gestão continuada. Eu fiz parte inclusive do primeiro governo, fui secretário da Cultura, foi uma gestão marcada pela austeridade, pelo controle das finanças. Foi uma gestão marcada pela seriedade na aplicação dos recursos e foi uma gestão marcada também por muitas entregas”.
Vandinho destaca que a reorganização financeira realizada até então, o bom uso demonstrado com o dinheiro público fizeram com que o prefeito ganhasse a credibilidade da população. Mesmo sem o alinhamento ideológico com os governos estadual e federal, que dificulta a obtenção de verbas através de emendas parlamentares e transferência direta de receitas, a gestão tem conseguido fazer bom uso do dinheiro público, gerando expectativa alta de muitas entregas para a população nos próximos anos.
“O que eu destaco do prefeito, novamente, é a austeridade na gestão e no zelo com as finanças do município", pontua.
Nem só de elogios vive a gestão Glêdson Bezerra. O vereador Barbosa Neto (PT) expressa insatisfação com a administração atual, destacando problemas na saúde e educação do Município.
Para Neto, há defasagem nos postos da saúde, falta de profissionais qualificados no sistema educacional, além de cuidadores em número insuficiente.
"Tem também a questão da merenda escolar. Não tem carne, é um devaneio total. Acaba sendo falta de responsabilidade, porque se o problema é de A, o problema é de B, de C, da secretaria, da empresa, de todos. O gestor tem que estar a par disso para estar resolvendo esses problemas", critica.
O parlamentar aponta falta de autocrítica por parte de alguns vereadores da situação e a ineficiência na articulação política para buscar recursos nos níveis estadual e federal, ressaltando que os “orgulhos políticos” não devem impedir a busca por melhorias para a população.
"O gestor tem de ir atrás, sim, porque foi eleito para conseguir recursos, para diminuir os anseios da população. Tem que ir atrás do governador, não importa se não se dá bem com o Governo Federal, tem que ir atrás, sim, para conseguir recursos para o município. Em resumo, acaba que peca na falta de articulação".
>> Ponto de vista
Por Luciano Cesário*
A vida é feita de altos e baixos. A política também. A famigerada expressão popular define o primeiro semestre do inédito segundo mandato consecutivo de Glêdson Bezerra (Podemos) na Prefeitura de Juazeiro do Norte.
Em janeiro, após a posse, o início de uma natural lua de mel. E não era para menos: vitória maiúscula nas urnas contra o PT, representado pelo deputado Fernando Santana, e quebra do tabu da reeleição no Executivo municipal.
Com essas credenciais, Glêdson virou vitrine da oposição no Ceará. Em janeiro, teve o nome difundido na imprensa do Estado ao revelar o sonho de governar o Ceará durante entrevista à rádio O POVO CBN Cariri. Mas negou, posteriormente, planos de concorrer ao Abolição já em 2026.
Turbinado pelas urnas, Glêdson encontrou uma nova Câmara — com dois terços de renovação, não mais presidida pela oposição, como no primeiro mandato inteiro.
A primeira baixa veio em fevereiro, quando a secretária do Meio Ambiente, Genilda Ribeiro, foi acusada de rachadinha por um ex-servidor da pasta e terminou afastada do cargo por determinação do prefeito.
A gestão também enfrentou turbulência institucional após Glêdson acusar o Governo do Estado de não liberar recursos de convênios por “birra” (leia-se, perseguição política).
O governador Elmano de Freitas (PT) reagiu ao usar o mesmo termo para definir o comportamento do prefeito em supostamente declinar de convites para participar de agendas.
No começo de junho, viralizou o vídeo de uma aluna da rede municipal reclamando do excesso de soja na merenda escolar. O prefeito agiu rápido para mitigar os danos à imagem da gestão. Fez uma visita ao depósito da merenda, mostrou a diversidade de produtos e determinou investigação contra a empresa fornecedora de carne vermelha por entregas insuficientes.
Após o episódio, Glêdson reforçou a divulgação da agenda positiva, com destaque para a liderança na qualidade da atenção primária à Saúde no Nordeste (Previne Brasil) e a vice-liderança na geração de empregos no Ceará, atrás apenas de Fortaleza.
Doravante, o desafio maior do prefeito é construir marcas, sejam grandes obras ou ações impactantes que o façam ser lembrado na história para além da façanha eleitoral em 2024.
*Luciano Cesário é âncora e coordenador de jornalismo da rádio O POVO CBN Cariri
Série de reportagens trata de cenários políticos, social e econômico dos municípios do Ceará