Para quem viveu, contando hoje parece aquela história de conto de fadas. Pois a sócia-fundadora da Pardal, Joselma Oliveira, vivenciou algo assim. A receita caseira de sorvete que tanto faz sucesso nos municípios do Ceará foi presente de sua madrinha, ainda jovem, quando vivia em Picuí, na Paraíba.
No sangue a força e na cabeça a sabedoria e a criatividade de uma paraibana que desde cedo acompanha os assuntos da família – pais, tios e avós – sobre e empreender. E que veio parar aqui no Ceará. Resultado? A marca de sorvetes conquistou o paladar e os corações cearenses.
Mas, como muitos brasileiros, entrou no ramo do empreendedorismo por necessidade. Casou-se aos 23 anos e precisava complementar a renda do marido, que vendia pipoca. Logo vieram os primeiros dois filhos e, hoje, são quatro e dois netinhos.
A primeira receita gerou 30 sorvetes que foi vender na feira livre em Currais Novos (Rio Grande do Norte). Para ela, a venda de picolé na rua sempre foi um grande aprendizado. “O meu cliente me ensinou a melhorar cada vez mais”, afirma.
A paixão pelas vendas continua até hoje e sabe que seu jeito desenrolado e sua determinação chamam atenção por onde passa. Mesmo já tendo criado os filhos com os frutos, ou melhor, picolés da Pardal, Joselma quer ir mais longe.
Já comprou um novo terreno no Eusébio para ampliar a produção diária de 40 mil picolés e 8 mil litros de sorvete.
Além de novos sabores, novas combinações e co-branding como a feita com a Cajuína São Geraldo. E os personagens infantis e de filmes ela quer ter um trailer que visite as feiras regionais pelo Norte e... Exportar.
A ideia é começar por Portugal. Mas hoje já alcançou territórios internacionais, pois quem viajou pelo Grupo Air France-KLM, antes da pandemia, pode degustar o típico sabor do sorvete cearense. Confira o bate-papo com a executiva sobre memórias, família, valores, empreendedorismo, visão de negócios e o potencial feminino em administrar.
O POVO - A senhora nasceu na Paraíba. Como foi sua infância? Quais as memórias desse tempo?
Joselma Oliveira – Isso, eu nasci em Picuí, sou filha de agricultor e a caçula de mais quatro irmãos homens. Morávamos num sítio que ficava pertinho da cidade.
Eu fui criada com a natureza, com muitas frutas e legumes. Minha mãe plantava todas as verduras. Ela era uma empreendedora na área da agricultura e meu pai era mais da parte da lavoura e das frutas.
Fui criada muito na natureza, com muito açude, muitos primos juntos. Com bastante liberdade, tudo bem natural.
Morei lá até os 18 anos. Toda a minha infância e juventude lá. Foi uma fase muito boa da minha vida. É, não tinha esse mimimi não. Hoje é muito mimimi (gargalhadas).
O POVO - O que lembra ter aprendido com seus pais e seus tios que a senhora traz até hoje?
Joselma - Aprendi sobre empreendedorismo. Minha avó era comerciante, minha tia era comerciante. Ela tinha uma loja de produtos em geral e brinquedos, naquela época o pessoal chamava de miudezas.
Minha avó vendia calçados nas feiras livres. E meu pai o que ele produzia também vendia. A minha família se encontrava muito, então, eu sempre ouvia falar de empreendedorismo.
O assunto era sempre empreendedorismo.
O POVO – E com a sua avó?
Joselma - Aprendi é que ela era uma pessoa muito boa para os netos e ela gostava muito de reunir todos. E ela também era cheia de moral.
Naquela época ela recebia os amigos e se a gente conversasse ela (dizia): 'Senta todo aqui perto de mim'. E aí todo mundo ficava sentadinho, bem caladinho. E a neta menorzinha ela colocava no colo.
Então ela ensinou muita disciplina para mim e para os outros meus primos e muito a história de união. A gente vivia muito na casa dela que era cheia de netos. Ela era uma empreendedora, comerciante, culta, ela foi professora também.
Ela era uma mulher muito forte. As netas dela, a maioria, têm isso dela, ser mulher forte que tem certeza que vai pular todos os obstáculos.
O POVO – Como começou a empreender?
Joselma - Foi uma questão de necessidade. Eu me casei com 24 anos e logo tive meu filho Flávio. Na época que eu comecei a empreender eram Fernanda e Flávio.
O POVO - Dos 18 aos 24 anos trabalhou com o que?
Joselma - Trabalhei como secretária em uma metalúrgica. Eu morei em Brasília e era secretária de um primo meu. Passei dois anos e meio e tive a oportunidade, no mesmo trabalho, de receber clientes e de fazer vendas. Já estava bem entrosada com as vendas naquela época.
O POVO - A senhora gosta de vender?
Joselma - Gosto. É muito gratificante. Vender é uma arte. Ter contato direto com o cliente é um aprendizado. Eu aprendi muito com o meu cliente.
Era uma época muito boa quando eu vendia picolé na feira livre. Eu comecei na feira livre de Currais Novos (RN) e conquistei uma clientela muito grande lá.
O POVO – E algumas mulheres achavam estranho que a senhora estava lá vendendo na feira...
Joselma – Isso no início, quando eu fui vender pela primeira vez com a caixinha de isopor e elas acharam estranho eu estar vendendo picolés na rua, porque se fossem as mulheres de Currais Novos não iriam vender.
Depois, com o tempo, elas se acostumaram e minha clientela lá gostava de mim. Todos gostavam de mim, do sabor, do meu jeito de vender, do desenrolar, de tudo.
O POVO - A receita do sorvete veio da sua cabeça ou da família?
Joselma - Foi uma madrinha minha lá de Picuí que é empreendedora também. Ela fazia picolés nos copinhos e vendia em casa mesmo. Ela gosta muito da arte culinária.
Ela me ensinou quatro sabores - ameixa, chocolate, morango e coco - e eu comecei com esses. Com o tempo meus clientes foram pedindo outros sabores e eu fui aprendendo.
Eu fazia e quando chegava lá eles diziam “está muito bom, mas está faltando isso”. Então a venda de picolé para mim na rua foi um aprendizado muito grande. O meu cliente me ensinou a melhorar cada vez mais.
O POVO – E como sua madrinha se sente?
Joselma - Ela fica muito feliz com o meu sucesso. Ela está lá em Picuí (PB). Já está idosa com mãos de 80 anos, mas ainda continua aquela mulher empreendedora. Quando vamos lá, ela recebe a gente na casa dela e tem o maior prazer de tomar um café com a gente e ainda falar de negócios.
O POVO -Como foi a primeira receita?
Joselma - O primeiro teste foi um desastre, porque a geladeira pifou. Coloquei trinta copinhos no congelador pequeno, naquela geladeira simples que o congelador é dentro mesmo. Tentei novamente, pifou novamente. Empreender é muita resiliência, não desisti.
O POVO - E como resolveu?
Joselma - A gente do Interior, quando casa, leva o enxoval. No meu tinha uma colcha de crochê muito bonita. Soube que minha mãe ia para São Paulo e pedi para ela levar para vender e eu dar entrada num freezer vertical. Ela foi, vendeu e quando ela trouxe o dinheiro comprei o freezer, mas só deu pra primeira parcela.
Quando eu fiz os picolés, botei os meninos para vender. Eles chegaram com os picolés todos moles. Aí eu pensei “se eu não for vender eu não vou conseguir pagar a parcela do freezer”. Foi quando eu decidi colocar 30 picolés no isopor e fui para a feira livre de Currais Novos.
Deus me ajudou e botou muitas mulheres lá perto de mim, me elogiando e comprando meus picolés e graças a Deus eu vendi todos rapidinho. No outro dia eu já estava gritando: “Olha o picolé caseiro!”
O POVO - Quando tempo ficou fazendo desta forma?
Joselma - Passei um ano vendendo picolé na rua. Comecei com 30 e finalizei minha carreira de vender picolé no isopor com 500. Parei de produzir porque foram aparecendo pessoas para vender e eu tive que ir para a produção.
Foi quando eu me dei conta de que a minha empresa estava crescendo, porque eu já estava com uma equipe de vendedores.
O tempo foi passando. Chamei meu irmão para me ajudar nas vendas. Ele também vende muito picolé. Foi quando eu dei conta que estava vendendo bem.
Comecei a pé, fui para uma bicicleta, depois a gente já tinha moto para levar para o Interior e quando eu me dei conta já tinha uma D10 para transportar os meus produtos para as cidades vizinhas de Currais Novos.
Foi quando senti que estava na hora de voar. Ouvi falar do Vale do Açu (RN), era uma terra muito próspera e fui. O meu sonho era chegar numa cidade grande, mas como eu não tinha condições de chegar de vez, eu vim por parte.
Primeiro para Açu, depois Mossoró (RN) e dois anos depois, já tinha trocado minha D10 por uma F4000, tomei a decisão de vir para cidade grande que é Fortaleza.
O POVO – Comente a evolução da marca, a chegada ao Ceará e o batismo finalmente do nome Pardal...
Eu já carregava o desenho do pardal na minha camisa e dos vendedores. Era o Professor Pardal com o picolé na mão, mas o nome era Picolé Caseiro.
A gente usava o Professor Pardal porque para vencer do zero tem que ter muita criatividade e ele é. Foi uma forma de inspiração mesmo, mas era só o desenho dele na camisa.
Quando eu cheguei a Fortaleza, também não foi fácil, porque o meu picolé era cônico e o pessoal não conhecia esse formato aqui e achavam esquisito.
Comecei pelo Centro de Fortaleza e Beco da Poeira. Minha equipe vendeu muito picolé ali.
Nessa época eu trazia o picolé de Mossoró para cá. Fiz isso por um ano até que aluguei uma casa ali na Barão do Rio Branco e fiquei por um ano.
Houve a necessidade de produzir aqui porque eu já estava vendendo bem. Depois trouxe o meu equipamento para Senador Pompeu e aluguei uma casa lá.
Quando eu trouxe o meu equipamento a F4000 ficou ociosa. Tive a ideia de vender ela e comprar uma casa. Minha primeira casa foi aquela, que ainda existe até hoje na Marechal Deodoro. Hoje, lá quem distribui é a minha filha.
Quando eu comecei a produzir lá foi uma loucura. Foi um estouro de vendas. Faltava produto. Tive que comprar a casa vizinha para aumentar e expandir.
Construí a empresa lá. Com dois anos ficou pequena e foi assim... Tudo muito rápido, tudo era em dois anos.
O POVO - Como se profissionalizou?
Joselma - Fui buscar o conhecimento no Empretec, porque foi muito assustador sair do pequeno para o maior, que era aqui já no Eusébio. Quando saí aquele impulso, aquela força eu fui procurar o Banco do Nordeste. No Banco do Nordeste, eu fiz o financiamento de toda essa estrutura, caminhões, freezers e foi assim que o negócio começou a aumentar.
Nessa época, meu filho (Flávio) já tinha cerca de 18 anos e veio trabalhar comigo e ele teve a ideia de dar uma arrumada na marca. Contratamos uma empresa para deixar a marca mais simpática, mais clean, e graças a Deus deu certo. Foi um trabalho de um ano com essa empresa, mas o resultado foi muito bom, que está aí até hoje.
O pessoal elogia muito as nossas embalagens, como a marca ficou limpa, simpática, livre. Ajudou muito para o crescimento. Mudei tanto a marca quanto o tamanho da empresa que foi muito bom.
Filhos: Fernanda, Flávio, Felipe e Helena
Netos: Miguel e Isabela
O POVO - De que forma sua vivência na Pardal inspirou seus filhos?
Joselma - Sempre trabalhava muito, mas o picolé tem muitos servicinhos leves, que é colocar palito, colocar saquinho e eu envolvi muito meus filhos com o trabalho. Também sempre fui muito organizada financeiramente e com os meus negócios, pois sempre prezei de fazer um produto de qualidade.
Meus filhos viviam muito ali perto de mim, envolvidos. Quando eu comecei, eu fabricava e organizava tudo dentro da minha casa. Meus filhos cresceram me vendo só trabalhando. Acho que foi isso que fez com que eles aprendessem bastante.
O POVO - Temos poucas mulheres líderes nas indústrias de todo o País e aqui no Ceará e no Nordeste não é diferente. O que avalia ser necessário para isso mudar?
Joselma - Depois dessa pandemia eu vi que tinha que orientar o pessoal para empreender mais. Hoje, eu dou palestras para incentivar as mulheres a empreender porque, às vezes, você tem o espírito empreendedor dentro de você, mas tem medo.
Quando elas escutam a história de uma pessoa que começou a vender 30 picolés na rua e venceu, elas acreditam também que podem colocar um negócio. Negócio você tem que acreditar, tem que ser muito resiliente, tem que ter muita fé e ir em frente, trabalhar muito que consegue. Empreender é isso.
O POVO - O poder de compra da população diminuiu nos últimos tempos aqui no Brasil. Como fazer para os clientes não deixarem de comprar sorvete?
Joselma - A gente divulga muito nas redes sociais, lança muitos produtos e busca fazer aqueles produtos que estão em alta. Ultimamente eu lancei o açaí com cobertura de chocolate branco, uma combinação perfeita, que está fazendo sucesso.
Também estamos fazendo um trabalho maior de divulgação no Interior, participando das feiras. Neste ano eu participei da Expocrato. E, também, conquistando novos mercados.
Antes eu não era forte nos supermercados, tinha uma barreira entre eu e os supermercados, mas a pandemia me ensinou e me deixou mais humilde. Eu fui atrás dos supermercados à época e deu muito certo.
Supermercados são parceiros muito bons também. Desde a pandemia que eu estou conquistando-os e isso fez com que meu volume de vendas também aumentasse. Da pandemia para cá, os supermercados e as compras online eu aumentar minhas vendas.
O POVO - Como são pensados os novos sabores de sorvete e quais são os próximos lançamentos?
Joselma – Existem muitas pessoas com intolerância e com alergia, então estamos falando muito dos produtos direcionados que hoje estão em alta. A gente já está conversando sobre o assunto e se Deus quiser, no próximo ano, 2023, a gente já pretende lançar alguns produtos nessas linhas certas.
A gente está pensando em novos sabores também. Nesta linha dos trufados já estamos testando para ficar junto com o mousse de limão e o açaí com chocolate branco. Acredito que esse ano ainda vai ser lançado.
O POVO - E a tecnologia é outro fator que está em alta. Como evoluir e associar a tecnologia aqui na pardal mantendo a tradição e o sabor de um produto que é tão icônico?
Joselma – Dá para associar sim. Com a mudança da marca eu fiquei com os meus produtos tradicionais - castanha, coco, milho verde, cajá, tapioca - eu mantive essa linha que a gente chama de original. E criamos linhas novas.
Próximo ano vai ser a linha zero e vamos só agregando. Os tradicionais têm que ter. Eu não posso ficar sem picolé de castanha para vender.
O POVO - E o que a senhora mais gosta?
Joselma - Eu gosto muito do de castanha, mas também tem dia que eu gosto de sentar para tomar um picolé de coco, porque é um coco natural, tem uns pedacinhos de coco e eu adoro. E quando ele sai da máquina ele é melhor ainda.
O POVO - A empresa ganhou força aqui em Fortaleza, mudou-se para o Eusébio e começou esse processo de expansão estadual. Quais regiões ainda faltam ser atingidas e quando isso vai acontecer?
Joselma - Eu ainda não sou forte no Cariri. Já faz três anos que eu luto lá para conquistar, mas a parceria que eu fiz com o Picolé São Geraldo me ajudou bastante. Ainda hoje eu vendo São Geraldo. Essa parceria melhorou em torno de 50% as vendas lá.
O que falta para eu conquistar é o Cariri. É uma região muito boa, muito próspera, mas infelizmente eu fui um pouco tarde, mas tudo no tempo de Deus. Eu acho que tinha que ter essa parceria com a São Geraldo.
O POVO - Quais os concorrentes de sorvete lá?
Joselma - Têm várias e também empresas da Paraíba, pois é mais perto para entrar para lá. E tem muita gente pequena que também está lá no mercado, mas mesmo assim o mercado dá para todos. Ainda vou conquistar.
O POVO – Qual o planejamento para os estados vizinhos? Sei que já está em Mossoró, no Rio Grande do Norte...
Joselma - Eu só quero ir forte para os outros estados quando eu terminar de conquistar aqui o Ceará. Ainda faltam algumas cidades do Cariri, aquelas que ficam mais perto da Paraíba e de Pernambuco que ficam um pouco distantes. Estou mais forte no Crato, no Juazeiro do Norte e naquelas cidade vizinhas.
O POVO - Rio Grande do Norte é próximo passo?
Joselma - Sim. Já estou em Mossoró, engatinhando, tenho uma loja lá também, e já estou também conquistando uns clientes por lá. Depois que fizer Mossoró vou para as cidades vizinhas e assim, quando pensa que não, já chega na Paraíba.
O POVO - Qual o balanço da Pardal deste ano?
Joselma - O início do ano foi muito difícil. Até junho foi muito difícil, porque teve aquela inflação louca, falta de produtos e de matéria-prima. Foi um jogo de cintura muito grande para eu manter o meu produto com a qualidade dele. Mas já passou.
O empreendedor pula muito obstáculo e esse já pulamos. De junho para cá tem melhorado muito e também a crise da matéria-prima sangrou e está tranquilo. De junho para cá a minha venda veio só aumentando. Graças a Deus eu não deixei de crescer.
O empreendedor na hora da crise tem que ser criativo e essas ideias ajudam a gente a crescer. Que foi do meu caso com a venda online e nos supermercados. Estimo crescimento de 15% a 20%.
O POVO - Para 2023 a senhora pensa em investimentos? Já tem um planos?
Joselma - No Interior a gente está pensando em investir em rádio, divulgar mais. Essas feiras que a gente fez foram muito boas, fez pessoal conhecer, e eu já estou pensando num projeto novo para participar das festas de padroeiros.
Porque na minha cidade tem a festa de padroeiro de São Sebastião. Seria no formato de um trailer viajando o Ceará nas festas de padroeiro, no segundo semestre. E estarei lá vendendo.
O POVO - A senhora vai pessoalmente?
Joselma - Eu quero. Eu amei vender picolé lá na Expocrato e convidar o pessoal para conhecer meu produto. Essas coisas me fazem feliz.
Eu gosto muito de conversar com clientes, lá eu me sentava e conversava com muita gente. É um aprendizado, trocando ideias. Eu gosto de estar no meio das minhas vendas, porque já vou embora com inspiração.
O POVO - As exportações começam no ano que vem? Por quais países?
Joselma - Tenho um projeto também. Meus filhos são muito jovens. Helena tem 22, Felipe tem 28 e Flávio, 33. Os mais jovens estão aqui me ajudando.
Quero também montar uma nova estrutura para eles, porque aqui eu já estou muito no setor comercial. Esse meu prédio está em um local muito bom, então eu quero tirar a minha empresa daqui e levar para outro lugar, mas já com uma estrutura melhor, voltada para exportação.
O POVO - Onde seria essa sede?
Joselma - Aqui no Eusébio e já tenho um terreno. Para 2023 eu quero começar o projeto para em julho a gente começar a estrutura. Ficaria pronto em 2024. Vamos torcer para que sim que o nosso País continue crescendo para eu ir crescendo junto.
O POVO - Os primeiros países que a senhora vislumbra exportar seriam quais?
Joselma - Estou com vontade de conhecer Portugal e já pedi aos meus filhos para próximo ano a gente planejar uma viagem para lá.
O POVO - A Pardal é uma adepta da sustentabilidade e já adotou a energia solar na empresa. Quais as outras ações que a Pardal realiza nesse sentido?
Joselma - O terreno que eu comprei termina em um rio lá próximo estou pensando em fazer o meu pomar para plantar minhas frutas, principalmente o limão, a tangerina e o coco.
Já estava plantando num sítio, mas tive que vender, para meu esposo vir morar aqui. Com a água que uso eu já faço o reúso aqui no jardim, mas, com certeza, quando a produção aumentar eu vou precisar de uma área maior para aproveitar essa água.
O POVO - A senhora já realizou um sonho de ter essa marca tão forte como se tornou a Pardal e criar seus filhos por meio dela. O que deseja mais da vida?
Joselma - Agora o que falta é os filhos aprenderem a assumirem a empresa e eu ficar só de suporte para eles, porque eu quero que eles fiquem administrando enquanto eu ainda estiver viva. Pois se eles tiverem alguma dúvida estarei por perto para ensinar eles. Mas eu tenho certeza absoluta de que eles vão dar continuidade.
O POVO - A senhora já fez pensou em aposentadoria?
Joselma - Acredito que quando os meninos ficarem no setor novo eu vou ficar só orientando eles, mas também não vou me aposentar. Quero que eles cuidem para quando tiverem alguma dificuldade eu estar por perto, mas eu também não quero parar de trabalhar.
O empreendedor, o que ele mais gosta de fazer na vida é empreender, trabalhar, ter orgulho do que ele faz. Adoro ouvir os elogios que eu escuto muito dos cearenses que o meu produto é muito bom. Vou só botar o pé no freio, mas parar não.
Se Deus permitir eu vou até meus 80 anos trabalhando e ensinando, gosto muito de ensinar aos jovens que trabalham comigo. Isso foi uma lição que eu trouxe e eu quero levar até onde eu aguentar.
O POVO - Já tem um filho que seria o sucessor da senhora?
Joselma - A parte burocrática é muito do Flávio (não está atualmente direto na empresa) e Felipe está em diminuição de custos. Helena está junto do pessoal do marketing, mas ela também está trabalhando muito nas ações para levar a empresa para a frente. Eu acredito que eles vão tocar isso.
O POVO - O Flávio deve assumir o cargo de presidente?
Joselma – Acho que no futuro, quando ele organizar a empresa da esposa, vai ser um suporte dos meninos. Acho que eles quatro vão ficar se ajudando. A Fernanda está lá naquela minha primeira sede, no Benfica, e distribui (sorvetes) para vários bairros daqui de Fortaleza e vai até Maranguape.
O POVO - E como a senhora se sente sendo criadora de uma marca, que além de muito sabor, mexe com a memória afetiva das pessoas?
Joselma - É uma emoção. Fui criada muito na natureza, eu gosto muito de fazer o meu produto natural. Quando eu chego nos lugares que as pessoas elogiam eu fico feliz.
Eu cuido muito do meu produto, da minha marca, porque para mim é uma alegria quando eu encontro com jovens que dizem que lembram do meu produto, da infância, e que ainda continua bom. Para mim fazer esse produto é uma questão de felicidade.
O Povo - De que forma a Pardal contribui para o legado industrial e econômico do Ceará?
Joselma - É muito importante porque eu só tenho 98 empregos diretos, mas indiretos eu não sei nem quantos são. Tem muita gente vendendo picolé, colocando nos seus pequenos comércios.
Eu faço um produto de boa qualidade, tenho certeza de que eu levo um alimento muito bom para o povo do Ceará. É muita geração de emprego e renda. (Colaborou Bia Freitas)
Todo o contato foi feito diretamente com o marketing da Pardal e o meu primeiro contato com Joselma foi apenas no dia da entrevista.
Logo de cara, na primeira apresentação, seu jeito me pareceu bem familiar e de uma outra empresária, Luiza Helena Trajano.
Guardei a informação e depois de um tempo, com mais intimidade e a quebra do gelo inicial, resolvi comentar. Joselma adorou a comparação e já tinha ouvido de algumas pessoas.
Após acompanharmos a linha de produção, uma reunião com os filhos sobre comunicação e a entrevista profissional, dona Joselma convidou toda a equipe para degustação dos picolés.
Claro, que cada um tomou seu sabor predileto e experimentou outro. Depois, a próxima parada da equipe do Projeto Legados foi para a casa da filha Fernanda.
Fomos em um carro de Joselma. Na chegada à casa da primogênita conhecemos o esposo da dona Joselma, os demais filhos, noras e genros e os netinhos que se divertiram durante a pauta.
No caminho de volta à redação com a fundadora da Pardal, mais e mais papos sobre a vida e os negócios.
Essa entrevista exclusiva com a fundadora e presidente da Pardal, Joselma Oliveira, para O POVO dá sequência ao projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
Serão dez entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
No próximo episódio, 5 de dezembro, contaremos a história e o legado da senhor Luiz Roberto Barcelos, sócio-fundador da Agrícola Famosa.
Uma série de entrevistas especiais com grandes empresários que deixam legados para a sociedade e a economia do Ceará