Logo O POVO+
Teatro Carlos Câmara: o futuro incerto à espera de (re)soluções
Reportagem Seriada

Teatro Carlos Câmara: o futuro incerto à espera de (re)soluções

Fechado desde 2020, o Teatro Carlos Câmara passa por mais uma reforma estrutural. Previsão de reabertura estimula reformulação de projetos de ocupação
Episódio 6

Teatro Carlos Câmara: o futuro incerto à espera de (re)soluções

Fechado desde 2020, o Teatro Carlos Câmara passa por mais uma reforma estrutural. Previsão de reabertura estimula reformulação de projetos de ocupação
Episódio 6
Tipo Notícia Por

 

"Aqui tem um teatro". A frase esteve exposta em um cavalete ordenado em frente ao Teatro Carlos Câmara (TCC) durante ocupação artística realizada em meados de 2016 pelo Grupo Máquina. A mensagem pode parecer óbvia à primeira vista, mas funcionou como chamada para um equipamento cultural que continuadamente recaí em períodos de invisibilidade. Situado no Centro de Fortaleza, mais precisamente na rua Senador Pompeu, o espaço atravessa mais uma reforma estrutural após encerrar as atividades presenciais, e abertas para o público, desde 2020.

Fachada do Teatro Carlos Câmara, localizado no Centro da Fortaleza, em um corredor turístico-cultural(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Fachada do Teatro Carlos Câmara, localizado no Centro da Fortaleza, em um corredor turístico-cultural

A manutenção, noticiada com exclusividade pelo Vida&Arte em 15 de setembro, direciona o orçamento de R$ 919.118, 97 para reparos como a pintura das fachadas, realização de piso externo, revisão das instalações elétricas e instalações de lógicas e demais modificações. De acordo com informações divulgadas pela Secretaria da Cultura do Estado (Secult - CE), o fechamento aconteceu em decorrência da pandemia da covid-19 e de "problemas na rede elétrica e na infraestrutura", que perduram até a presente data.

A Secult informou que as reparações começaram na terceira semana de setembro e a licitação deverá ser efetivada em 2024. As obras têm previsão de 90 dias e o funcionamento deve retornar no início do próximo ano, junto com documentação para "aquisição de equipamentos de iluminação, som e vestimenta cênica", assim como um "chamamento público para celebração de contrato de gestão". A partir do momento, seguindo o mesmo modelo utilizado para maior parte dos equipamentos da Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece), o TCC será gerido em parceria com uma organização social.

 

Além das demandas estruturais, o Teatro Carlos Câmara também pendula com divergências de gestão. Pela localidade, incorporada ao Centro de Turismo do Ceará (Emcetur), supõe-se uma integração das duas entidades. Entretanto, os encargos foram repassados durante anos entre os entes públicos.

Em nota, a Secult informa que há tratativas com a Secretaria de Turismo do Estado (Setur) para implementar políticas públicas em conjunto. Secretária do Turismo do Ceará, Yrwana Albuquerque afirma que houve uma reunião no dia 18 de setembro com o objetivo de discutir uma "proposta de articulação do turismo cultural" no Estado nos meses que estão por vir. "Uma das nossas políticas de gestão é a transversalidade. Portanto, mantemos sempre o diálogo com outras pastas para alcançar os objetivos planejados", explicou.

 

 

Por trás das coxias

A perspectiva é que o equipamento possa retomar o “movimento inter-humano” que um dia ocupou. Esta é a lembrança do ator, diretor e teatrólogo Ricardo Guilherme, referência no teatro e o primeiro ator a pisar no palco em questão. Em texto, o artista cita que tem a história entrelaçada com a do Teatro Carlos Câmara sintetizada em distintos momentos. Um deles antecede até mesmo a inauguração, em setembro de 1974, nos ensaios finais do "O Morro de Ouro", peça de estreia com texto de Eduardo Campos e atuação do grupo Comédia Cearense.

Durante os ajustes finais, o diretor e dramaturgo Haroldo Serra percebeu que o pé alto do local estava revestido por janelas de vidro. "Ele falou: 'Como assim bota vidro? Vai atrapalhar a luminosidade'", enfatiza ao recuperar o fato durante entrevista com O POVO. O problema foi solucionado pela própria equipe, que pintou a vidraria de preto.

Cena da peça O Morro do Ouro, de Eduardo Campos(Foto: Acervo Ricardo Guilherme/Reprodução)
Foto: Acervo Ricardo Guilherme/Reprodução Cena da peça O Morro do Ouro, de Eduardo Campos

Este foi apenas um dos episódios que contornam as várias tramas repartidas nos camarins, e coxias. Ricardo acompanhou a movimentação para a criação do espaço, liderada por Haroldo em 1974, declarado como "o ano da Cultura" pelo governador César Cals. À época, o Theatro José de Alencar (TJA) passava por reformas e sofria com sobrecarga de eventos.

"Nós tínhamos uma interlocução com o governo para criar um outro teatro que fosse desafogar a pauta do TJA e também pudesse ter espetáculos de menor porte", explica. Com este propósito, o Teatro da Emcetur foi inaugurado em 4 de outubro do mesmo ano. Matéria veiculada pelo O POVO anunciava a abertura com capacidade para 230 lugares, em área construída com investimento de R$ 1.200.000,00.

O momento contou com a presença dos ministros das Justiças e das Comunicações, Armando Falcão e Euclides Qsandt de Oliveira; o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Mozart V. Russomano; o governador César Cals e o prefeito Vicente Fialho, além de outras autoridades.

 

Depoimentos e lembranças – Ricardo Guilherme

 

"Naquela época, a praça ainda tinha movimento de ônibus, a estação funcionava e também tinha público", compara o teatrólogo. A fruição artística do período proporcionou o aumento de coletivos ligados à arte, a exemplo da Massafeira, e de movimentos estudantis. A localização central do TCC o transformou em ponto de encontro e recepção para ações de grupos amadores. Porém, logo nas primeiras datas após a abertura, já eram registradas problemáticas. Uma forte chuva alagou a área e fez com que materiais fossem perdidos.

Depois, um incêndio de médio porte - causado pelo uso de objetos inflamáveis durante a encenação de um ato - sucedeu. "Além do problema de luminosidade, com vidreiros, houve também uma chuva grande. Aquela praça foi inundada, a Emcetur toda, com goteiras. Perdemos boa parte do cenário, tivemos que adiar a peça. O Teatro da Emcetur foi parcialmente, ainda na temporada de inauguração, desfeito pela água e pelo fogo”.

Os danos foram reparados e o teatro seguiu por sete anos com o mesmo padrão de funcionamento. Em julho de 1981, o local recebeu oficialmente o nome de Teatro Carlos Câmara em homenagem ao centenário do dramaturgo cearense. "O Carlos Câmara estaria fazendo 100 anos de vida (no ano de 1981). Fizemos uma grande exposição e propus oficialmente por escrito uma assinatura de vários artistas porque aquele teatro não tinha nome. Até hoje tenho pavor a teatro que não tem nome. Sempre lutei por isso, teatro tem que ter nome de teatro", argumenta Ricardo.

Já pelo final da década de 1980, com as reformas vigentes no TJA, no Ginásio Paulo Sarasate e no Centro de Convenções, o TCC obteve procura excessiva de cerimônias, o que motivou a primeira reforma estrutural no ano de 1989. Conforme informou matéria do O POVO, espectadores e realizadores culturais reclamavam de "ar condicionado quebrado, iluminação deficiente e péssimo serviço de som", além de "tábuas soltas, cortinas e cadeiras rasgadas, camarins e banheiros sem espelho".

Carlos Câmara tem um troféu que leva seu nome que é entregue como forma de homenagem aos destaques do Teatro Cearense(Foto: Teatro Plural)
Foto: Teatro Plural Carlos Câmara tem um troféu que leva seu nome que é entregue como forma de homenagem aos destaques do Teatro Cearense

Neste primeiro momento, o período de reclusão deveria se estender apenas até o ano de 1990, mas acabou sendo prolongado até 2012, em um conflito de gestão entre a Secult e a Secretaria de Turismo do Estado (Setur). Reportagem de 21 de outubro de 1999 apontava que ambas as instituições não entravam em comum acordo sobre a gerência do equipamento.

Segundo o então coordenador do Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor Edilson Soares, já tinham sido feitos tantos projetos de recuperação do teatro que ele já tinha "perdido as contas", com propostas que solicitavam nomes como as duplas de arquitetos Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo e Francisco Veloso e Ricardo Rodrigues.

A situação pareceu próxima da reversão em 5 de setembro de 2012, quando o governador Cid Gomes anunciou uma "virada cultural" a partir da reabertura de organizações culturais, com investimento de mais de R$ 118 milhões. O comunicado oficial foi realizado na reinauguração do TCC, que havia recebido cerca de R$ 8 milhões para ajustes. Mesmo com a mudança estrutural, com ampliação da capacidade - agora com suporte para 368 assentos -, expansão da caixa cênica e a construção de um segundo piso, o ponto permaneceu sem receber atrações, somente com ensaios da Orquestra Eleazar de Carvalho.

O local teve que passar por novas intervenções e apenas foi reaberto em 27 de março de 2014, no Dia Mundial do Teatro. Nota divulgada no O POVO na mesma data, intitulada "Teatro (re)aberto", detalhou programação com coroação do rei e da rainha do Maracatu Vozes da África, apresentação do Quarteto Cearense e performance da dançarina Raíssa Martins. Também teve a apresentação "Carlos Câmara em Três Tempos: do autor ao teatro, do teatro ao futuro" com Ricardo Guilherme, Marcelo Costa, Rafael Martins e Thiago Arrais. O encerramento ficou por conta do espetáculo "Meire Love", do grupo Bagaceira.

 

Palco e plateia do Teatro Carlos Câmara

Fachada do Teatro Carlos Câmara

 

As modificações chegaram até o nível de administração, com transferência da responsabilidade da Secretaria do Turismo (Setur) para a Secult-CE. Todavia, o contexto do entorno também foi alterado. "A cidade cresceu", justifica Ricardo. "Uma coisa é você estar no teatro nos em 1970, outra é nos anos 2000 ou hoje, em 2023. Até 2000 e lá vai, tinha outro tipo de população, outro tipo de intervenção policial e ainda era perigoso. Não tinha estacionamento, ônibus, bicicleta. Imagina um grupo que ganha uma ocupação, como vão fazer ocupação? Acredito que hoje deve ter outra estrutura, mas acho que ainda com problemas", opina o diretor.

Ele reitera que uma das suas últimas participações no espaço foi em 2016, com o debate "Vai, Carlos" e uma pequena temporada do solo "De Olhos Abertos". "Fui chamado para alguns espetáculos e debates lá, fico muito feliz. Mas hoje o teatro está irreconhecível, não tem mais nada do que tinha. Quando estou lá, não me sinto parte do teatro, pelo menos na parte de fora, no hall... Quando estou dentro, no palco, eu lembro de (do Teatro Carlos Câmara) de 1974".

Ricardo Guilherme, dramaturgo, ator e diretor de teatro(Foto: RODRIGO CARVALHO em 27/02/2020)
Foto: RODRIGO CARVALHO em 27/02/2020 Ricardo Guilherme, dramaturgo, ator e diretor de teatro

As décadas trouxeram variações de modelos de atuação e, desde 2014, a instituição usa editais de ocupação destinados a grupos e coletivos teatrais, fórmula popularizada no País durante o governo de Leonel Brizzola no Rio de Janeiro (1983 - 1987). "Acho que é um modelo bacana de gerenciamento, sem ser a partir de um grupo de gestores ligados ao governo, mas dar oportunidade para as pessoas do teatro. Esse modelo democratiza. Agora, não sei em que nível, depois de ganhar, não pode ser um 'presente de grego'", questiona.

O motivo, segue o ator, é porque não há recursos suficientes. "Estou falando da mentalidade. Não tem recurso, empregabilidade, apoio, para fazer com que uma peça fique lá em cartaz. É uma política pública macro e conectada. Em outras palavras, para ser esse modelo, não sei se dinheiro vai mudar. Tem que estar preocupado não só com o teatro, mas com o público, tem que ter as estruturas e as condições. Acho que do ponto de vista mais ético, o bonito é ser assim", sustenta.

 

 

Modelos de ocupação

A primeira agrupação teatral a ocupar o espaço foi o Pavilhão da Magnólia, que esteve no equipamento cultural durante nove meses entre 2014 e 2015. "A ocupação já tinha um pensamento da Secretaria de ser (destinada) a teatro, dança e música. A gente precisava locar equipamento de som, equipamento de luz, a vestimenta cênica. O teatro só tinha a carcaça", define o ator Nelson Albuquerque. Isto porque além da estrutura física do teatro, a instituição continha uma equipe de cinco pessoas e não dispunha de ferramentas básicas para suportar atrações. Nelson inclui, também, a falta de um camarim e de recepção.

Ator Nelson Albuquerque(Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Ator Nelson Albuquerque

Todos os demais elementos, desde a poda das árvores até o cronograma de atividades, foram desenvolvidos pelo grupo. "A gente foi entendendo o entorno e fez uma série de solicitações em termos de estrutura. Para ver como o pessoal saía e entrava, para ver um local para que as pessoas pudessem ter um lanche. A gente solicitou à Autarquia Municipal de Fortaleza (AMC) uma parada do Bicicletar próximo e uma parada de ônibus", relata.

O artista flexiona que o acúmulo de demandas deixou ainda mais perceptível que, para além de uma programação, o funcionamento de um teatro exige diálogo entre a Secult - CE e demais pastas. "Fazer uma ocupação pública num espaço público numa cidade como Fortaleza precisa ser feito em conjunto. A gente apresentou uma série de soluções, mas a gente precisava de outros órgãos. Nesse sentido, a gente sentia falta não só da direção do teatro, mas do próprio secretário de dialogar com outros espaços e com a comunidade. São uma série de detalhes que as pessoas não vêem a olho nu". 

Mesmo com os entraves enfrentados nos nove meses, Nelson considera que a ocupação foi boa - "não como a gente desejava, mas não tão ruim como parecia ser na primeira experiência" -. As ações foram expandidas por nove meses e incluiram atividades para crianças, além de peças, festas e feiras. "Tinha ocupação no BNB, no Passeio Público, e a gente fez uma para integrar. À medida que a gente foi compreendendo e tomando volume, a própria cidade foi acompanhando". O coletivo, que já vinha de outra ocupação no Teatro Universitário Chico Anysio, necessitou direcionar parte dos R$ 45 mil para reivindicações de comunicação, iluminação e segurança.

O planejamento prosseguiu no âmbito administrativo, com decisões acerca de tratados financeiros. "A gente assumia alguns pagamentos. A gente precisou parar a nossa vida, a nossa agenda de grupo e contratar pessoas para que pudesse acontecer minimamente como precisava acontecer. A gente sentia falta do secretário nessas pontes", complementa.

Palco e plateia do Teatro Carlos Câmara(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Palco e plateia do Teatro Carlos Câmara

Nelson pontua que o momento foi válido para a experiência de gestão do coletivo, visto que o Pavilhão leva as práticas como bagagem. "A gente também abriu horizontes para as outras ocupações. Quando a gente olhava, financeiramente, não compensava. Também tinham muitos entraves burocráticos que a gente enfrentou e quem chegou depois pegou mais amaciado, não que tenha sido fácil", sustenta.

Os obstáculos enfrentados pela instituição são os mesmos confrontados pelos demais instrumentos culturais da região. Como define o artista, "todos os problemas do Centro são os problemas do Carlos Câmara". Albuquerque enfatiza que é um gerenciamento contínuo e congruente. "A gente não tem muito o que propõe teatros como Dragão do Mar, TJA, B. de Paiva. A gente tem que ter um pensamento compondo a linguagem, o pensamento do espaço, da temporada, a programação é apenas mais um detalhe no pensar de um teatro", elabora.

 

 

O teatro e o social

Entre novembro de 2016 e maio de 2017, aconteceu a ocupação do Teatro Máquina. O coletivo propôs sessões de cineclube, apresentações musicais e teatrais, festas e feiras, oficinas e debates. "Numa ocupação naquele teatro tem várias questões que devem ser consideradas. Parte do entorno fecha muito cedo, às 16 horas, a partir disso a gente fez uma análise para poder imaginar como poderia ser a operação", explica o ator Levy Mota, integrante do grupo teatral.

O artista destaca que a estratégia escolhida teve como base o diálogo com a realidade vivida e que teve como ponto uma série de características específicas. A inspiração veio de espaços próximos, a exemplo do Centro Cultural Banco do Nordeste (BNB), à época com funcionamento na rua Senador Pompeu e com bom montante de público.

Teatro Carlos Câmara e uma saga desde a inauguração em setembro de 1974(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Teatro Carlos Câmara e uma saga desde a inauguração em setembro de 1974

A comunicação também foi outro ponto bem trabalhado pelo coletivo. O material de divulgação reunia imagens e textos que faziam alusão aos moradores do entorno. Um exemplo mencionado por Levy é um folder impresso. Em um lado, tinha uma foto de alguém dos arredores, no outro, a programação. "A gente sensibilizava àquelas pessoas para dizer que ali tinha um teatro com programação gratuita feita para elas, para que elas se sintam convidadas. A gente foi adaptando (a programação) ao longo da experiência. De modo geral, a gente fez uma ocupação muito feliz", considera.

Um meio que também foi aprimorado foi o contato com os funcionários públicos do espaço, a exemplo dos seguranças, e dos moradores da comunidade do Moura Brasil. "Gerir um teatro e espaço público envolve um monte de coisa que não está no âmbito da programação artística, envolve a parte social que estaria mais ligada à assistência social à segurança", sinaliza Levy.

Um aspecto reverberado é a falta de estacionamento na época, um dos principais impedimentos para visitantes. "No geral, a gente tinha um bom diálogo com a Secult. Com a Emcetur a gente quis uma parceria para que a gente pudesse usar o estacionamento, mas a gente nunca conseguiu. A gente percebe que, idealmente, essas Pastas deveriam dialogar bem mais para que o Teatro pudesse funcionar".

Uma aproximação concreta entre os entes possibilitaria melhor aproveitamento do estilo, que parece promissor para o artista. "Política pública não se faz em seis meses. As ocupações deveriam acontecer, pelo menos, a médio prazo. Dois anos seria bom para experimentar, o ideal é que fosse até 4 ou 5 anos, para de fato ver uma mudança ali, para que as pessoas consigam conhecer o teatro. Acho que o Carlos Câmara, tem a característica popular do teatro. Ele tem sido, e deve ser de forma mais contundente, um teatro para o povo. Isso não significa um simplismo ou reducionismo estético, tem a ver com a escuta, formação e comunicação", reitera.

 

 

“Vital para a arte de Fortaleza”

Além do Pavilhão da Magnólia e do Teatro Máquina, outros três grupos ocuparam o Teatro Carlos Câmara: Teatro Novo & Ato Produções (2015), Projeto É O Gera (2017) e a Ocupação Tradição, do Cariri a Fortaleza (2019). "Depois das duas primeiras ocupações, a gente deixou mais aberto. Lançamos os editais e os coletivos apresentavam as ideias, o que queriam fazer durante sete meses, por exemplo", desenvolve o ator e diretor do equipamento, Fernando Piancó. O profissional rememora que este foi o primeiro palco que atuou depois de chegar do Recife, em Pernambuco, no ano de 1974.

"Na época, o Centro era muito movimentado, todos os cinemas funcionavam e as pessoas tinham esse costume de passear na Cidade, era uma outra conjuntura", recorda ao listar que o equipamento também recebia ensaios de artistas como aqueles que compunham o Pessoal do Ceará, com Fagner, Belchior e Amelinha. "Também teve um papel importante na ditadura militar (1964 - 1985), serviu de reuniões de pessoas para traçar movimentos, informes e até peças que versavam esse tema. Tinha uma importância muito significativa no contexto da cena local".

No cargo de direção desde 2014, quando ainda atuava por meio da Coordenadoria de Ação Cultural da Secretaria da Cultura do Estado, Fernando também perpassa pelos altos e baixos vividos durante esses anos à frente do local. "Muitos desses momentos foram de dificuldade, como em qualquer gestão, mas tiveram momentos brilhantes", tendo em conta a multiplicidade de pessoas e linguagens que passaram pelas programações. Como já mencionado, este foi o movimento até a reclusão em março de 2020, causada pela pandemia. "Quando já tínhamos lançado o edital da sexta ocupação e o processo de licitação dos equipamentos, com a chegada de equipe no teatro, parou tudo. A gente só conseguiu terminar a ocupação de maneira virtual, as pessoas começaram a produzir em vídeo", conta.

 

Histórico no O POVO

 

O período fechado também agravou problemas na edificação. "Teve uns dois anos seguidos de um ótimo inverno, com muita chuva, e foi muito terrível para a gente. Desde então, as atividades envolvem movimentações pontuais. "Eu brinco dizendo que o teatro está fechado, mas funcionando. Está funcionando a parte administrativa, atendendo grupos pequenos e apresentações. O (diretor) Allan Deberton fez os últimos ensaios do filme "O Melhor Amigo" - com previsão de estreia para o segundo semestre de 2024- no teatro. Depois o (diretor) Pedro Diógenes fez algumas gravações dentro do teatro, que também está servindo de base para o novo filme. Tem muita demanda", constata.

Fernando Piancó, que chegou a assumir a direção do TCC em 2017(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Fernando Piancó, que chegou a assumir a direção do TCC em 2017

A procura é um dos motivos pelo qual Piancó argumenta que o projeto tenha continuidade e esteja, ainda no início do ano, disponível para a população. "Fortaleza tem pouco teatro, juntando público e privado, e tem produção. O teatro parado não pode, nós temos que voltar a funcionar plenamente, não tem mais desculpa". Para ele, a retomada é como a jogada de uma pedra na lagoa, que vai se reverberando. "O TCC tem que trabalhar com a comunidade do Moura Brasil, com o pessoal que mora no Centro, com as pessoas de diversos bairros que visitam o Centro. Vai servir muito com esse corredor cultural", acrescenta.

A expectativa é que tenha "boas notícias" em relação ao progresso da reforma ainda neste ano. Também é esperado que seja alcançada a aproximação com a Emcetur, visto que ambas as instituições estão em reuniões e tratativas para parcerias futuras. "O funcionamento do Teatro Carlos Câmara é vital para a arte de Fortaleza. Minha perspectiva não é nem de sonhador, é de pessoa da gestão, artista e criador. O Estado tem capacidade e deve fazer".

O que você achou desse conteúdo?