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Ceará pulveriza áreas para crescer
Reportagem Seriada

Ceará pulveriza áreas para crescer

No terceiro episódio do Projeto Retomada da Economia, O POVO dialoga com os setores produtivos sobre as perspectivas para o Estado
Episódio 3

Ceará pulveriza áreas para crescer

No terceiro episódio do Projeto Retomada da Economia, O POVO dialoga com os setores produtivos sobre as perspectivas para o Estado
Episódio 3
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Conhecido por ter a capital como Terra do Sol, o Ceará possui cerca de 9,2 milhões de habitantes, sendo o terceiro mais populoso da região Nordeste e o oitavo do Brasil. Somente a Capital, Fortaleza, tem mais de 2,7 milhões de pessoas.

Sua vasta extensão, 148.894,447 km², dá a posição de quarto maior estado do Nordeste e possibilita um amplo leque de atividades e negócios que vão das tradicionais indústrias, espalhadas por diferentes cidades na Região Metropolitana e Interior, ao comércio e o setor de serviços em todos os 184 municípios.

Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado apontou crescimento de 6,63%, comparado ao ano anterior. O resultado foi impulsionado pela indústria e superou o desempenho nacional, que cresceu 4,6%.

Atualmente, o Ceará representa pouco mais de 2% do PIB nacional. Especialistas em economia acreditam que esse volume possa dobrar com a exploração de recursos naturais, como das energias renováveis.

A relação entre o PIB e a população é muito relevante para o desenvolvimento de um estado, pois o índice é o termômetro que indica se a economia está em crescimento ou retração naquela geolocalização. Por meio dos números é possível analisar, e entender, o comportamento de compra e consumo das pessoas.

Em 2021, o maior desempenho foi da indústria local, que cresceu 13,35% no período, enquanto a nacional cresceu apenas 4,5% no setor. Serviços registrou um crescimento de 5,96%, superior aos 4,3% registrados no Brasil. Apenas a agropecuária cearense apresentou uma redução de 4,71% no período.

Em valores correntes, o PIB per capita alcançou R$ 40.688,1 em 2021, no Estado. Apesar deste avanço real de 3,9% ante 2020, ainda não aconteceu a recuperação no padrão pré-pandemia. Todas as fichas estão depositadas em 2022, mesmo com as dificultades econômicas e o ano eleitoral.

A Cerbras tem unidade de produção no Distrito Indústrial em Fortaleza(Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo A Cerbras tem unidade de produção no Distrito Indústrial em Fortaleza

Mas o PIB é somente um pedaço da tradução da economia. Isso porque, mesmo com esse cenário, o Ceará ainda apresenta altos índices de pobreza e desigualdade social, fazendo contraponto com a concentração de riqueza em uma pequena faixa da população.

Mas, o Estado deu os primeiros passos para uma retomada econômica, após o início da pandemia do Covid-19, aproveitando os potenciais da natureza e explorando as energias renováveis e a economia do mar, além de incentivar os setores de serviço e comércio, o que inclui o turismo, vocação local.

O economista Davi Azim credita ao equilíbrio fiscal esse bom posicionamento da economia cearense. “Isso é importante para que exista a perspectiva de um ambiente atrativo para os investidores. O Ceará pode e deve atrair mais investimentos em diversos aspectos como a questão do turismo, dos serviços e as energias renováveis que é um forte ponto do Estado”, analisa.

Além do setor serviços, entre as áreas que o Ceará deve apostar para evoluir na retomada econômica estão, na visão de Azim, a siderurgia, em atividade no Pecém, por ser um polo de exportação e as divisas que entram no estado, e a indústrias dos calçados, também na exportação, e as frutas.

"Temos uma pauta exportadora ainda pequena, sem muita elevação. A grande realidade é que o Estado não tem uma industrialização forte. Temos atividades de serviços e comércio, mas pouquíssima industrialização" Davi Azim, Economista

 

Para isso, alerta para qualificação e mão de obra em educação e tecnologia especialmente para atender a demanda da indústria no interior do Estado.

No Ceará, entre as atividades que mais se destacaram em 2021 estão negócios relacionados ao comércio, fabricação de calçados de couro e de material sintético e confecção de peças de vestuário.

No vídeo abaixo, Davi Azim explica os passos da retomada econômica do Ceará e aponta caminhos para o crescimento do Estado.


 

Cariri atrai micro, pequenas e médias empresas de calçados

O setor industrial de calçados tem ganho força no Ceará(Foto: Arquivo / O POVO ONLINE )
Foto: Arquivo / O POVO ONLINE O setor industrial de calçados tem ganho força no Ceará

A atividade calçadista tem atraído muitas empresas, além de empregos, na região do Cariri. Especificamente nos municípios próximo ao Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha (Crajubar). Por lá, há um número atrativo de micro, pequenas e médias empresas de calçados.

Outro polo do mesmo segmento está localizado na região do Litoral Oeste, nos municípios de Apuiarés, General Sampaio, Irauçuba, Itapajé, Itapipoca, Pentecoste, Tururu e Uruburetama. Já em Sobral, a Grendene proporciona uma alta geração de empregos.

O Ceará é um dos principais polos têxteis do País e tem produções espalhadas por muitas regiões. Entre elas na Região Metroplitana de Fortaleza:

 

Azim defende a importância de o planejamento orçamentário do Estado incluir a regionalização. “Investimentos devem ser cirúrgicos e mais equilibrados entre as regiões, destacando o desenvolvimento endógenos e respeitando as vocações” declara e cita como exemplo a agricultura, a caprinocultura e a piscicultura. Além de equipamentos turísticos em outras cidades fora da Capital.

Já a energia elétrica, geração e distribuição, fábrica de cervejas, de refrigerantes, de cimento, de automóveis, moagem de trigo e fábrica de derivados e produção de gás são de alto valor agregado e que demandam bastante mão de obra e podem empregar a população e fazer a cadeia produtiva e econômica gigarem com um velocidade maior.

Bares e restaurantes empregam muitas atividades econômicas no setor de serviços(Foto: Bárbara Moira)
Foto: Bárbara Moira Bares e restaurantes empregam muitas atividades econômicas no setor de serviços

Setor tradicional e conhecido por toda a população, o segmento de serviços no Ceará cresceu, de janeiro a junho deste ano, 17,6% ante igual período do ano passado, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É mais que o dobro do registrado no País na mesma base de comparação (8,8%).

O resultado cearense é puxado principalmente pelos serviços prestados às famílias (19,5%), seguido por serviços de informação e comunicação (19,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (9%) e Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (7,4%).

 

 

Turismo e comércio auxiliam na retomada

Venda de tecidos, artigos de vestuário e calçados puxaram a alta em abril deste ano(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Venda de tecidos, artigos de vestuário e calçados puxaram a alta em abril deste ano

As atividades turísticas cearenses, vocação natural do Estado, que sofreram com a restrição de circulação no início da pandemia, cresceram 61,5% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2021. Também acima do indicador nacional (45,2%).

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em convênio com o Ministério do Turismo, divulgada no último dia 6 de julho, apontou o Ceará, por exemplo, como o oitavo destino mais procurado no País em 2021.

Conforme o estudo, das 12,3 milhões de viagens computadas no ano passado, 4,2% tinham como destino o Ceará. E o gasto médio por turista, por dia de viagem no Estado, foi de R$ 216, acima da média nacional de R$ 204.

Segundo Régis Medeiros, presidente da Associação da Indústria de Hotéis do Estado do Ceará (ABIH-CE), a expectativa para esta primeira temporada com maior relaxamento nas condições sanitárias da pandemia deve ser boa, assim como foi maio e junho. 

"Temos muita demanda reprimida depois de dois anos sem as pessoas viajarem... As pessoas não estão indo para fora do País na mesma intensidade que 2019, assim o turismo brasileiro vai ser ainda mais forte no segundo semestre " Régis Medeiros, presidente da ABIH-CE

 

A única questão que ainda limita uma ocupação 100% são os altos custos das passagens aéreas, a reboque da alta dos combustíveis. Porém para compensar alguns voos extras foram colocados e novos destinos vindo como de Cuiabá, Curitiba, Campo Grande e Porto Alegre, entre outros.

Régis ainda destaca que assim como a Bahia, o Ceará conseguiu expandir seu fluxo de visitantes não apenas para a Capital, mas para outras praias dos litorais Leste e Oeste, além do Interior e serras.

Para que esse resultado acontecesse, o titular da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará (Setur), Arialdo Pinho, revela que desde 2021 o Ceará tem apostado em promover seus pontos turísticos tanto nacionalmente, como internacionalmente. 

"Começamos em março do ano passado com a chegada da vacina e, hoje, já estamos com dados iguais ou superiores aos de 2019, que foi o melhor ano do turismo para o Ceará" Arialdo Pinho, secretário do Turismo

 

Ele confirma a construção de 90 pousadas em diferentes municípios do litoral e o primeiro Vila Galé Collection, hotel boutique da rede no País, que se instalará no Cumbuco, em 2023. "A partir do ano que vem, devemos voltar a crescer cerca de 18% anualmente no turismo cearense", considera o secretário da Setur.

Em relação aos voos com o Ceará já foram retomados com Portugal e França. Para setembro está previsto o fretado (charter) "Voo não é regular, ou seja, o público em geral não pode comprar a passagem aérea. O fretamento normalmente é realizado por uma operadora de turismo ou um resort. E as passagens normalmente são vendidas pelas operadoras e agências de viagem, na forma de pacote" com a Polônia, em parceria com a agência de turismo polonesa Rainbow.

Em outubro serão realizados voos com Miami, nos Estados Unidos, com a Latam e a Gol; novembro com a Gol para Buenos Aires, na Argentina.

Já para dezembro será em parceria com a Air Europa para Madri, na Espanha, e com a KLM para Amsterdã, na Holanda. E, em janeiro de 2023, com a Gol para Orlando, também nos Estados Unidos. 


 

Comércio diversifica atividades no crescimento

Apesar da inflação alta pressionar o consumo e do nível alto de endividamento das famílias, as vendas do comércio no Ceará tem recuperado um bom fôlego neste ano.

Alta de 6,6 % no primeiro semestre deste ano, no comparativo com igual período de 2021. Enquanto no Brasil, o aumento foi de 1,4% nesta base de comparação.

Chama a atenção a retomada das vendas de tecidos, artigos de vestuário e calçados (17,2%), segmento que possui bastante peso na economia cearense.

Também foi expressiva a recuperação do segmento de livros, jornais, revistas e papelaria (18,4%). Em seguida aparecem as vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (8,4%), combustíveis e lubrificantes (5%), e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (0,7%).

Já o segmento de hipermercados e supermercados, que esteve bastante aquecido durante a pandemia, neste ano, tem registrado crescimento mais modesto (0,4%), até por conta da base de comparação mais alta. .

Dos oito segmentos incluídos na pesquisa do IBGE, dois ainda estão no vermelho no acumulado do ano: móveis e eletrodomésticos (-9,3%) e artigos de uso pessoal e doméstico (-2,8%).

No varejo ampliado, que inclui os segmentos de veículos e material de construção, as vendas subiram 0,3% no primeiro semestre de 2022, ante igual período do ano anterior.

Para Azim, o comércio não tem ainda uma grande perspectiva de crescimento. Temos ainda uma inflação que está corroendo os salários e o poder aquisitivo da população e o governo usa a ferramenta de aumentar a Taxa Selic poque ela desestimula crédito. Produção e consumo são afetados”, explica.


 

Retomada industrial ainda é irregular, mas setor mantém otimismo

A Pesquisa Industrial Mensal (PIM Regional) mostrou uma retração da produção industrial cearense de 5,1% no primeiro semestre deste ano. Queda mais acentuada que a média brasileira (-2,2%).

Desde setembro de 2021, o Estado vem registrando quedas na produção. Depois dos crescimentos entre janeiro e agosto do ano passado. Neste ano, o desempenho tem sido bastante irregular.

A produção industrial cearense apontou, em abril, recuo de 1,5% no mês e de 9% no acumulado deste ano(Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo A produção industrial cearense apontou, em abril, recuo de 1,5% no mês e de 9% no acumulado deste ano

Desde setembro de 2021, o Estado vem registrando quedas na produção. Depois dos crescimentos  entre janeiro e agosto do ano passado. No acumulado dos últimos doze meses até abril, registra queda de 3,7%. Neste comparativo, a média nacional é de um recuo de 0,3%.

O melhor mês foi fevereiro, com alta de 6,1%, após queda de 7,9% no mês anterior. Em março houve alta de 3,8%, queda em abril (-1,3%), para subir de novo em maio (3%) e cair em junho (-1,4%).

Apesar do cenário, o vice-presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), André Montenegro, avalia que a retomada, quando comparada aos dois anos anteriores, está bem nítida.

 

"Essas medidas novas, como a de conter um pouco a inflação e a redução do ICMS, deixam o setor mais otimista, pois com a queda na bomba influencia no transporte, no frete e escalona em toda cadeia" André Montenegro, vice-presidente da Fiec
 

 

Assim, ele considera que a indústria está trabalhando bem ainda em todas as áreas e não avalia nenhuma que esteja mal. Como setores fortes atualmente, André frisa a construção civil, que é uma das locomotivas da economia brasileira por empregar bastante e ter muitos sindicatos. "Alavanca tudo, setor de serviços, transportes e outros", informa Montenegro.

Na análise do empresário, o setor de cerâmica é visto numa boa situação atual, assim como da linha branca, que envolve fogão e geladeiras, refrigerador. Mas considera que a pandemia, que ainda estamos, e os comprometimentos da falta de alguns produtos na cadeia de insumos, ainda não estão regularizados.

A todo vapor é como ele enxerga o setor de energias renováveis, "pois o presidente Bolsonaro disse em econtro nacional com as indústrias que o Nordeste tem capacidade de ter um grande projeto" para produzir energias ao equivalente a 50 Itaipus. 

"Hoje, quem tem energia tem poder. E o hidrogênio verde aí despontando para uma grande solução de energias renováveis do mundo. Aqui, no Ceará, ficamos na frente, inclusive já com protocolos de intenção assinados" André Montenegro, vice-presidente da Fiec

 

Ele destaca que o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, tem feito um trabalho excepcional e de acolhimento das demandas das indústrias, mantido um bom relacionamento governamental e realizado muitas parcerias.

"Destaco a agenda ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governaça) que a Fiec saiu na frente. Os negócios futuros só serão feitos com base em empresas que pratiquem ESG. O mundo já está fazendo essa exigência lá fora e aqui dentro muitas empresas aderiram. Quem não tiver encaixado não vai mais trabalhar. É igual aquela onda da qualidade total que já passamos", finaliza Montenegro.

 

 

Ceará precisa de emprego para a volta do consumo

Datas comemorativas são esperança para o comércio e o turismo para alavancar a retomada(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Datas comemorativas são esperança para o comércio e o turismo para alavancar a retomada

Para falar do presente e projetar o futuro, o 1º vice-presidente da Fecomércio no Ceará, Cid Alves, reforça a importância de olhar o passado, mais precisamente no início da pandemia, quando o comércio fechou as portas dos seus negócios.

Para os dias de hoje, ele observa a atividade produtiva movimentando tudo o que pode, uma geração maior de empregos, um recolhimento maior de impostos e uma confiança maior da população.

"É verdade que existe uma inflação no Brasil e no mundo, uma consequência natural da pandemia, mas ainda assim vejo o cenário com otimismo. Esse otimismo também pode ser justificado por medidas assistencialistas e de incentivo ao consumo que vêm dando resultado" Cid Alves, 1º vice-presidente da Fecomércio no Ceará
 

Ele pondera que as duas medidas caíram como uma injeção de ânimo ao setor produtivo. No fim deste ano, ele avalia que 2022 será lembrado como o ano da retomada, "quem sabe algo semelhante com o que ocorreu em 2019, quando os índices tiveram um resultado bastante acentuado, com gráficos quase que verticais. É bem provável que o comércio, serviço e turismo alcance cifras até maiores que naquele ano".

Ele cita, como exemplo, datas relevantes para o comércio e para o turismo em nosso Estado e Região:

 

Ou seja, há uma confiança interna muito grande e, caso não haja influência externa que afete o mercado, 1º vice-presidente da Fecomércio acredita que conseguira um fôlego.

"Tudo isso, além de gerar receita, espero que também consiga impulsionar uma abertura de vagas de trabalho. A geração de emprego é o principal ponto para falar de retomada e o momento pode ser favorável a isso. Com o emprego, o dinheiro volta a girar, a confiança e o crédito também passam a ter uma alta e todo o mecanismo que envolve o setor terciário ganha", finaliza.

Porém, o momento ainda é de cautela, pois o que dados oficiais mostram é que, em cinco anos, a inflação oficial do Brasil fez o real perder 30% de seu poder de compra e o País ter a terceira maior inflação entre as grandes economias, conforme revelou relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Associações e estabalecimentos comerciais promovem campanhas para estimular ações(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Associações e estabalecimentos comerciais promovem campanhas para estimular ações

Mas pela movimentação nas ruas e as vendas no comércio, Cid frisa que a economia está fluindo bem e o dinheiro está circulando no País.

Mesmo diante de todas as dificiculdades de alta taxas de juros, desemprego, desvalorização do real e queda no poder de compra, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, Assis Cavalcante, informa que a retomada econômica está bem visível no comércio.

"Já percebemos um fluxo maior de pessoas nas lojas, no Centro e dentro do shopping centeres. Isso realmente é uma realidade, o varejo está se recuperando e está crescendo" Assis Cavalcante, presidente da CDL de Fortaleza

 

Nestas primeiras duas grandes datas para o varejo no primeiro semestre, os setores que mais se desenvolveram e cresceram foram o de calçados, roupas e bijuterias, segundo pesquisa feita Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL).

Em relação ao tíquete médio, a pesquisa mostrou que ficou em torno de R$ 193 no Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho. "Notamos que o pessoal investiu mais chegando na média de R$ 213. Como são dois presentes, subiu para R$ 420. Foi um resultado muito bom e estamos realmente preparados agora para as férias e demais datas", diz.

Por atrair muitos turistas em todos os meses do ano, mais especialmente na alta temporada, a esperança ainda é maior para os lojistas quem vêm realizando campanhas em datas comemorativas e agora nas férias. O sorteio Campanha Centro Premiado, que foi de 1° a 11 de julho, acontece em 21 de julho.

 

 

Setor de energias renováveis tem atraído investimentos

Ceará têm atributos para atrair grandes investidores internacionais e ser referência em hidrogênio verde(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Ceará têm atributos para atrair grandes investidores internacionais e ser referência em hidrogênio verde

Se tem um setor no Estado que vai bem é o de energias renováveis. Constantemente ele tem retomado o processo de atração de investimentos e, mais recentemente, com a oportunidade propiciada pelo hidrogênio verde (H2V), houve uma intensificação.

Isso por dispor de condições únicas para a produção de hidrogênio verde, que é um vetor energético que deve contribuir fortemente na descarbonização do planeta, tão necessária e urgente. O conjunto de atributos positivos do Ceará tem sido percebido por grandes investidores internacionais.

"No processo de transição energética, cada vez mais os combustíveis fósseis serão substituídos por energia limpa, como eólica e solar, e quando não for possível diretamente, pelo hidrogênio verde, produzido a partir dessas mesmas fontes" Joaquim Rolim, coordenador do Núcleo de Energia Renovável da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec)

 

Ele acredita que teremos, em um futuro cada vez mais próximo, a energia como um dos grandes pilares de desenvolvimento para o Ceará.

Isso porque frisa que o dever de casa para que a atração de investimentos se concretize tem sido feito, pelo Governo do Estado e empreendedores parceiros com, por exemplo, participação em eventos nacionais e internacionais.

E este ano promete mais duas apostas, que serão o Fiec Summit, dias 3 e 4 de agosto, com foco no Hidrogênio Verde; e o ProEnergia, dias 28 e 29 de setembro, mais abrangente, cuja temática é a transição energética.

Além disso, no dia 12 de maio foi assinado pelo Governo do Estado o Decreto nº34.733, que institui o Plano Estadual de Transição Energética Justa do Ceará – Ceará Verde. O conjunto de ações que tem sido implementado, e os que virão, para Joaquim, "nos permitem afirmar que estamos no caminho certo".

Quanto às questões e problemas do dia a dia, como a alta tarifa de energia, o que ele afirma é que trata-se de um tema complexo, com muitas variáveis envolvidas. "Isso requer uma lupa para avaliar com detalhes o porquê temos uma tarifa tão elevada para o consumidor e um dos menores custos na produção de energia, comparando-se com outros países", considera.

Mas o fato é que há mais presença da energia limpa e renovável, mais barata, e cria-se benefícios para o consumidor, que inclusive tem a possibilidade de gerar sua própria energia, e ter um retorno do investimento.

 

 

Ceará precisa avançar na universalização de água e esgoto

Caixas d'água do Benfica serão requalificadas pela Cagece a partir do início de 2023(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Caixas d'água do Benfica serão requalificadas pela Cagece a partir do início de 2023

Talvez não tenha outro recurso natural com tanta transversalidade e essencialidade para o dia a dia de qualquer sociedade do que a água. A presença ou falta dela influencia desde a fisiologia do nosso corpo até o fator de desenvolvimento econômico ou de pobreza de regiões e pessoas.

Desta forma, o atual presidente do Conselho de Administração da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), que já atuou como titular na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e como secretário do Governo do Ceará, André Facó, reforça que nunca é demais reforçar a importância de sua conservação.

Isso porque somente 2,5% de toda água existente no planeta é doce e nem 1% encontra-se em estado líquido em locais mais acessíveis, como rios, lagos ou em fontes subterrâneas.

"A forma como utilizamos a água e a devolvemos para o meio ambiente na forma de esgoto é fator determinante na sustentabilidade, em suas diversas perspectivas, de qualquer sociedade" André Facó, presidente do Conselho de Administração da Copasa

 

No Ceará, conforme dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2020, os números são de aproximadamente 60% da cobertura de água, 30% em atendimento de esgoto.

Observando o atendimento urbano, a cobertura é de 76% para abastecimento de água, 38% para esgotamento sanitário. Não quer dizer que estas pessoas não tenham algum tipo de solução individual, mas sim, que mesmo que tenha algum, esta pode não ser adequada.

"Vale ressaltar que ter a rede de água e esgoto não quer dizer que o serviço tenha a qualidade necessária para que o saneamento básico possa trazer os resultados de melhoria da saúde e qualidade de vida da população", observa Facó.

E com a aprovação do novo marco legal do Saneamento, foi estabelecido como principal objetivo, até 2033, que 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% a tratamento e coleta de esgoto.

Para alcançar esse novo panorama no Brasil, deverão ser investidos entre R$ 500 e 700 bilhões, respectivamente números do Plano Nacional do Saneamento Básico (2019) e estudo realizado pela KPMG em parceria com o Portal do Saneamento Básico (ABCON), contabilizando tanto as obras de expansão de novos sistemas de água e esgoto como de reposição dos ativos já existentes.

Já no Ceará, o mesmo estudo da KPMG estima que os investimentos para universalização sejam de aproximadamente R$ 23 bilhões. Distribuídos em novas obras de mananciais (açudes), adutoras de água e linhas de recalque e interceptores de esgoto, estações de tratamento de água e esgoto, redes de água e esgoto, reposição ou recuperação de estruturas e equipamentos já existentes.

"O desafio para o País é enorme, tendo em vista o ritmo de investimentos até 2021, que se mantido somente iria garantir a universalização em 2055. Ou seja, a expectativa de crescimento dos investimentos em água até 2033 deverá ser quase oito vezes maior do que o crescimento observado nos últimos 16 anos" André Facó, presidente do Conselho de Administração da Copasa

 

O executivo ainda esclare que a cada ano sem termos a universalização dos diversos serviços de saneamento básico, notadamente água e esgoto, inúmeros benefícios em diversas áreas econômicas e sociais deixam de gerar ganhos que contribuiriam para o crescimento nacional.

 

 

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Realidade do Ceará na retomada econômica

Por Ricardo Coimbra *

Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE).(Foto: Divulgação/ Corecon-CE)
Foto: Divulgação/ Corecon-CE Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE).

Após dois anos do início da pandemia da Covid-19, a economia do Estado do Ceará projeta uma perspectiva de retomada solida e consistente ao longo dos próximos ciclos. E isso se deve não só ao bom resultado na retomada economia estruturada após os dois grandes ciclos da pandemia e seus lockdowns, onde a economia cearense teve crescimento superior ao nível nacional, como em 2021 de 6,63% contra 4,6% do nacional.

Como também, sendo determinante, para esse cenário, a capacidade de atração do Estado, em função de seu equilíbrio fiscal, como diferencial não só na potencialidade de investir, e ainda, determinante na atração de novos projetos de investimento com a aposta em setores inovadores como o das energias renováveis solar e eólica e o da economia do mar; e a implementação do hub de hidrogênio verde, dentre outros.

Com participação de mais de 70% do PIB cearense, o segmento de serviços vem se fortalecendo, onde no ano de 2021 teve um crescimento de 5,96% e devendo manter o ritmo de recuperação com a retomada mais consistente das atividades de entretenimento e turismo - com o retorno das festividades, eventos sociais e coorporativos.

E, ainda, o incremento de diversas rotas aéreas reestabelecidas pelas companhias dado o crescimento da demanda, e que já ultrapassa em voos regionais, para o estado, em mais de 150% no primeiro quadrimestre deste ano em relação a 2021, onde a expectativa é que esse número seja ainda maior ao longo do ano de 2022, dada a retomada mais intensiva dos voos internacionais.

Quanto à agropecuária, estadeverá ter uma boa recuperação em relação aos períodos anteriores, dado que em 2021 teve uma retração de 4,71%. Sendo beneficiada, principalmente, pela boa quadra chuvosa com recuperação nos aportes hídricos, que ainda poderão dar suporte aos projetos de irrigação no segundo semestre.

No que se refere ao setor industrial, os setores mais tradicionais da economia local como têxtil, metalmecânico, de confecções e da construção civil devem manter bons resultados. Onde, no ano passado a indústria cearense teve um crescimento de 13,35%. Levando a um cenário de que a economia cearense possa crescer acima de 1,5% em 2022 e bem acima da projeção nacional de 0,5%.

* Ricardo Coimbra é mestre em Economia e conselheiro Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE) e da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec-BR)

 

 

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Ceará e o seu crescimento econômico

Por Pedro Jorge Ramos Vianna *

Pedro Jorge Ramos Vianna  Economista e professor titular aposentado da UFC pjrvianna@hotmail.com (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Pedro Jorge Ramos Vianna Economista e professor titular aposentado da UFC pjrvianna@hotmail.com

O crescimento econômico exige a existência de três fenômenos, entre outros: a existência de recursos naturais ou de conhecimento; o empreendedorismo e a vontade política voltada para o crescimento.

No caso do Ceará, sou de opinião que o empreendedorismo foi o segundo fator mais importante para o seu crescimento econômico. O Ceará é a terra de grandes empreendedores que criaram empreendimentos de amplitude nacional, como os Grupos Queiroz, Hapvida, Dias Branco, Pague Menos, Brisanet, e mais alguns outros.

Mas, ainda segundo minhas observações, o setor mais importante para o crescimento econômico do Estado – e por extensão – de Fortaleza foi o setor público.

Aqui entra o terceiro fator: a vontade política voltada para o crescimento. No campo estritamente estadual podemos verificar que no período mais recente, a partir dos anos sessentas do século passado, o Ceará foi governado por dois grandes expoentes da política cearense: Virgílio de Morais Fernandes Távora e Tasso Ribeiro Jereissati.

O primeiro foi o grande responsável pela eletrificação do Ceará; e pela criação do primeiro Distrito Industrial no Estado, localizado na Mesorregião Metropolitana de Fortaleza; o segundo, pelas políticas de austeridade fiscal e pela política de investimento público aqui implantada.

A ele se deve o Complexo Porto-Industrial do Pecém, também situado na mesma mesorregião e a modernização do aeroporto de Fortaleza. Foi, portanto, a junção desses fatores que propiciaram ao Estado, o crescimento econômico que hoje se verifica.

Entretanto muito há, ainda, por fazer. A dependência do Estado por verbas públicas federais é, ainda, muito grande. Vale salientar que a grande maioria dos municípios cearenses tem nas transferências federais, sua maior fonte de receitas.

Também no campo social, essa dependência é alarmante. Veja-se que, em 2022, 1.284.591 famílias cearenses vivem em situação de extrema pobreza. Todas elas fazem parte do Cadastro Único, para recebimento de auxílio social. Fortaleza é a terceira cidade do País em número de pessoas constantes desse Cadastro.

Assim, grande parte da renda da população cearense, principalmente da fortalezense, é proveniente das transferências federais.

* Pedro Jorge Ramos Vianna é professor catedrático da Universidade Federal do Ceará (UFC) aposentado 

  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante, Fátima Sudário e Regina Ribeiro
  • Edição de Design Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho e Cinthia Medeiros
  • Edição de Fotografia Júlio Caesar
  • Texto Carol Kossling
  • Identidade Visual Isac Bernardo
  • Recursos Digitais Beatriz Cavalcante
  • Fotografias Aurélio Alves, Fco Fontenele,Fernanda Barros, Samuel Setubal/ Especial para O POVO, Barbara Moira (em 15/11/2021)
  • Recursos audiovisuais Luana Sampaio (Roteiro e assistência de produção), Carol Kossling (Reportagem), Fernanda Barros (Direção de Fotografia), Eduardo Azevedo (Montagem e finalização)
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