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Um país chamado favela: moradores assumem protagonismo nos negócios
Reportagem Seriada

Um país chamado favela: moradores assumem protagonismo nos negócios

No quarto e último episódio do especial Retomada da Economia, O POVO traz o panorama da desigualdade e da pobreza no Brasil e no Ceará. Além de como o cenário digital, o empreendedorismo e os negócios de impacto colaboram como solução para diminuir a falta de emprego e renda da população
Episódio 4

Um país chamado favela: moradores assumem protagonismo nos negócios

No quarto e último episódio do especial Retomada da Economia, O POVO traz o panorama da desigualdade e da pobreza no Brasil e no Ceará. Além de como o cenário digital, o empreendedorismo e os negócios de impacto colaboram como solução para diminuir a falta de emprego e renda da população
Episódio 4
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O brasileiro está ainda mais pobre nos últimos anos. Todos os fatores que vimos ao longo desta série de quatro episódios ocasionaram essa elevação.

Diante deste cenário, é urgente a criação de alternativas para a diminuição da desigualdade social e da pobreza no Brasil.

A necessidade fez com que a favela mostrasse que a economia local é forte e merece atenção das políticas públicas e das empresas privadas(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita A necessidade fez com que a favela mostrasse que a economia local é forte e merece atenção das políticas públicas e das empresas privadas

Os números oficiais, levantados antes da pandemia, e divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em meados de junho, apontam um leve recuo, entre 2019 e 2020, segundo os parâmetros do Banco Mundial.

Os índices de extrema pobreza e pobreza, foram de 6,8% para 5,7% e de 25,9% para 24,1%. Porém, se não forem considerados os auxílios complementados pelos programas sociais, neste período, a proporção de pessoas em extrema pobreza teria sido de 12,9% e a taxa de pessoas na pobreza subiria para 32,1%.

Vale a reflexão sobre a importância da manutenção e saúde financeira destes apoios para população de baixa renda.

 

Veja o rendimento familiar da pobreza por Unidade da Federação 

 

 

Brasil no mapa da fome mundial

 Outra triste notícia e realidade é que o Brasil voltou a fazer parte do mapa da fome, como aponta o último relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agriculturada (Fao) com Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado no início de julho de 2022.

São cerca de 61,3 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar moderada "Segundo a FAO, nesta classificação, as pessoas não tinham certeza sobre a capacidade de conseguir comida e, em algum momento, tiveram de reduzir a qualidade e quantidade de alimentos."  ou grave, ou seja, três em cada dez cidadãos.

Deste total, 15,4 milhões enfrentaram uma insegurança alimentar grave "Segundo o conceito da FAO, neste estágio, as pessoas que ficaram sem comida e passaram fome chegaram a ficar sem comida por um dia ou mais." , entre 2019 e 2021. Entre 2014 e 2016, a insegurança alimentar atingiu 37,5 milhões de pessoas, sendo 3,9 milhões na condição grave.

O relatório também mostra a desigualdade latente no País.

O número de pessoas pretas e pardas que convive com a insegurança alimentar é quase o dobro da população branca.

Nos últimos anos, esta realidade piorou com a chegada da pandemia e as favelas de todo Brasil tiveram que reagir por conta própria.

O nível de ocupação no Brasil teve o menor índice da série, 51%. Já a taxa de informalidade da população ocupada do País caiu de 41,4% para 38,8%.

Qual foi a saída encontrada pela população das comunidades? Empreender dentro do próprio território.

 

Veja o rendimento familiar da extrema pobreza por Unidade da Federação

 
 

Transformando problemas em oportunidades

 Foi justamente a necessidade, a falta de emprego ou o complemento de renda, que fizeram muitas destas pessoas, a grande maioria mulheres chefes de família, ter seu próprio negócio na comunidade, comenta o fundador do Data Favela, Renato Meirelles.

 

"Nos casos das mulheres também pela ausência de serviços públicos, de creches que impossibilitavam com que elas saíssem para trabalhar e passaram a empreender dentro da própria casa. Cozinhando ou costurando para fora." Renato Meirelles, fundador do Data Favela

Com isso, viram que a perspectiva de ganhar mais neste formato era maior do que com carteira assinada. O emprego formal está escasso, principalmente para aquelas pessoas de menor renda e com pouco acesso à tecnologia.

Se tem o lado bom, ganhar mais, também tem o ruim, pois a falta de capital de giro é um problema no empreendedorismo das favelas espalhadas pelo Brasil.

Na sua visão, também é o empreendedorismo que vai proteger os moradores de favela contra outras crises econômicas.

“É fundamental ter a presença do auxílio emergencial, mas para resolver de forma estrutural isso é necessário dar toda qualificação profissional que essas pessoas precisam para empreender e ter sucesso”, visualiza.

Nas comunidades de todo o País as barreiras e as questões individuais abrem espaço para o coletivo(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Nas comunidades de todo o País as barreiras e as questões individuais abrem espaço para o coletivo

Ele avalia que os negócios de impacto social são bastante interessantes porque vão além da filantropia. Fazem com que se tenha uma renda recorrente dentro da comunidade.

“Assim, a economia de toda a favela cresce. O dinheiro que entra fica lá, gera novos empregos lá dentro. Cria-se um círculo virtuoso”, destaca.

Uma pesquisa realizada pelo Data Favela, neste ano, identificou que o Brasil tem 13.151 favelas, número que dobrou na última década. São 5 milhões de domicílios em favelas, com 17,1 milhões de pessoas vivendo nelas.

 

Mapeamento das favelas no Brasil

 
 

Geração de riquezas nas comunidades

 Estima-se que os moradores movimentem R$ 180,9 bilhões em renda própria por ano. E 76% dos moradores têm ou tiveram ou pretendem empreender.

E 50% se consideram empreendedores e 41% têm o próprio negócio. Além disso, 57% abriram o negócio por falta de alternativas de renda.

Neste momento de falta de esperança em todas as classes sociais, a lição que vem das favelas é que não haverá mundo sem elas.

 

"Se quer construir um espaço melhor tem que incluir as favelas, do contrário nós vamos construir um mundo e um País dividido. Onde a elite, ao concentrar sua riqueza e renda sem dividir, vai ter que compartilhar tragédias." Preto Zezé, presidente nacional da Central Única das Favelas (Cufa)

 

Para ele, só a nomenclatura empreendedor é nova, pois todo mundo das favelas já “se virava, fazia os corres antes”. “É um conceito que se cria para explicar o que sempre foi a dinâmica da sobrevivência. Um novo modo de ver o dinheiro circulando", ressalta.

 

>> Assista ao vídeo

A potência da Favela

Abaixo vídeo com a entrevista com Preto Zezé que destaca a potência existente na favela, por meio da sua população que sempre buscou soluções, e não problemas, para as dificuldades do dia a dia.

 

Os moradores estão ON

 Após distribuírem mais de 4,5 milhões de chips durante a pandemia nas favelas brasileiras, a Cufa percebeu que muitas pessoas migraram para trabalhar com a internet, além de se cuminicar e estudar com o acesso à tecnologia.

Após esta constatação, e entidade está oportunizando pontos de internet dentro das comunidade.

O Barroso, bairro em Fortaleza que abriga uma favela, será um dos locais a receber a inovação. Zezé acredita que, com o endividamento das famílias, a tendência é que elas criem suas próprias atividades econômicas.

“A gente lutou por muito tempo para que as favelas fossem vistas como este lugar de oportunidade, mas não apenas que viessem com seus projetos e aplicassem aqui e, sim, que tivessem esse link e a participação da própria favela no desenvolvimento”, afirma o presidente nacional da Cufa.

No meio de tantas desigualdades sociais, as mulheres tomam para si o protagonismo de gerir as famílias(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves No meio de tantas desigualdades sociais, as mulheres tomam para si o protagonismo de gerir as famílias

Um dos projetos da organização é o Mulheres da Cufa. Preto Zezé se empolga falando sobre a inteligência e a capacidade de mobilização e gestão dessas pessoa. "Nenhum projeto vai ser exitoso se não tiver mulheres na ponta, na elaboração, na execução e na gestão".

Para estimular e dar visibilidade neste momento esse potencial das favelas, foi criado o Expo Favela, que aconteceu em São Paulo, e contou com participantes de todo Brasil, incluindo do Ceará.

Para ele foi histórico ver as pessoas de fora desta realidade vendo a favela como protagonista, bonita, potente e inteligente.

 

Capacitação de líderes e qualificação para o trabalho

 

Em Fortaleza, na sede recém-inaugurada da Cufa, no bairro Barroso, acontecem reuniões e treinamentos para comunidade(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Em Fortaleza, na sede recém-inaugurada da Cufa, no bairro Barroso, acontecem reuniões e treinamentos para comunidade

Esse é momento para trabalhar as potências e as competências que a favela acumulou nestes mais de dois anos e a nova sede da Cufa, no Barroso, quer dialogar com as tecnologias e com a nova dinâmica da economia por meio de projetos de capacitação, em parceria com outros órgãos, como o Sebrae e o Banco do Nordeste, que estão sendo lançados durante este ano.

Um deles é o Universidade Paralela, para formação de lideranças destes territórios; outro é o Emprega Favela, que pretende conectar as oportunidades de empregabilidade e geração de renda entre as favelas e empresas, marcas e serviços.

O Acelera Favela vai desenvolver e apoiar as carreiras culturais e artísticas; já o Favela Business, criará ambientes de negócios em parceria com empresas e governos, focados na geração e compartilhamento justo de lucro, com a favela.

Carlos Magno, dono do Mercadinho Qualidade, no bairro do Barroso, acompanhou toda a mobilização da Cufa durante o isolamento social para que todos tivessem comida no prato(Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Carlos Magno, dono do Mercadinho Qualidade, no bairro do Barroso, acompanhou toda a mobilização da Cufa durante o isolamento social para que todos tivessem comida no prato

Há 11 anos no Barroso, Carlos Magno, dono do Mercadinho Qualidade, apoia essas ações da Cufa e acredita que na pandemia elas foram fundamentais para a população que vive ali naquele território.

"O projeto do cartão para usar nos mercados ajudou muitas mães de famílias daqui. E a distribuição da cesta básica também, a fila era grande eu via daqui", registra.

Para quem deseja empreender, ele aconselha estudar para entender do negócio, pois ele mesmo viu as compras da população local diminuir nos últimos meses e teve de criar alternativas.

"Hoje, ninguém faz mais aquelas compras grandes, o ticket médio é bem menor e as pessoas levam só o que precisam", destaca o comerciante.

 

Mulheres são exemplo de garra e força ao empreender

 Indo nessa linha de capacitação, com exclusividade para as mulheres, nasceu, no contexto pandêmico, a Vem Cá Mulher, solução em educação empreendedora que ajuda mulheres a empreender com mais coragem e autonomia.

A ideia, de três cearenses, venceu, neste ano, a edição do Lab NIP, iniciativa de A Banca, Artemisia e FGVcenn, que formam a Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (Anip).

“O sentimento é de alegria, gratidão e foco na missão. O que acreditamos temos capacidade de realizar e construir, colaborativamente, e impactar ainda muito mais vidas de outras mulheres”, celebra Camila Floz de Liz.

Os negócios de impacto se tornaram instrumentos poderosos para contribuir no combate às desigualdades e a favor da superação de desafios socioambientais do nosso tempo, avalia DJ Bola, presidente-fundador de A Banca e um dos idealizadores do Anip.

 

"Neste momento crítico que estamos é preciso fomentar iniciativas para combater o aumento da pobreza e das desigualdades, aprofundadas pela pandemia e crise. Diante do agravamento dos desafios, atrelado ao aumento do desemprego, temos que fomentar inovações sociais e lançar um olhar mais inclusivo para os negócios, sobretudo os de impacto socioambiental e de periferia." DJ Bola, presidente-fundador de A Banca e um dos idealizadores do Anip

 

Segundo ele, o que vimos nos últimos anos foi o surgimento de novos empreendedores em territórios periféricos, onde se encontra essa mesma população que está em situação de pobreza e sofre diversas desigualdades.

Esses empreendedores conhecem os desafios e seus públicos de perto, sendo peças valiosas para apoiar na resolução de desafios locais.

DJ Bola, presidente-fundador de A Banca, é um dos idealizadores da Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (NIP)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação DJ Bola, presidente-fundador de A Banca, é um dos idealizadores da Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (NIP)

 

Acesso à tecnologia transforma vidas

Desde criança, o estudante de sistemas e mídias digitais e game designer, Daniel Portela, 18, gosta de jogos.

Depois de terminar as tarefas do colégio, era sagrado jogar. Ele afirma que os jogos o ajudaram em momentos difíceis da vida, assim como trouxeram muito aprendizado.

“O impacto que os jogos tiveram na minha vida foi imensurável e hoje trabalho para conseguir impactar as pessoas da mesma forma. E, assim, trazer felicidade e conhecimento de forma lúdica a quem está jogando”, revela.

Ele participou das duas edições do SebraeDevelopers e se surpreendeu com os conteúdos aprendidos, que impactaram seu projeto e ajudou a expandir seu conceito de negócio.

“Esses conhecimentos são utilizados até hoje para construir planejamentos de versões, cronograma, gerenciamento de escopo e propostas de design”, exemplifica o jovem.

O jovem Daniel Portela, 18, revela com satisfação as mudanças que os jogos trouxeram para sua vida e hoje quer multiplicar os ensinamentos(Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo O jovem Daniel Portela, 18, revela com satisfação as mudanças que os jogos trouxeram para sua vida e hoje quer multiplicar os ensinamentos

 

Para quem está começando na área, ele orienta: “Não tenham medo de errar e explorem, experimentem e criem jogos pequenos para estudar, descubram com o que você tem mais afinidade e torne essa experiência divertida”, diz.

O Sebrae Developers é um programa do Sebrae Ceará que capacita jovens, ajudando-os a conhecerem e darem os primeiros passos na indústria de desenvolvimento de games, uma das indústrias criativas que mais crescem no mundo.

Há três anos, o programa foi implementado em Fortaleza, Juazeiro do Norte, Sobral e na região do Sertão Central, beneficiando 300 jovens.

Já em 2021, foi desenvolvido na Capital beneficiando 398 alunos. Para 2022, a expectativa é levar o programa para todo o Estado, em uma parceria com a Associação de Desenvolvedores do Estado do Ceará (Ascende Jogos).

Após estudar no Sebrae sobre games, Daniel Portela montou uma equipe que desenvolve jogos(Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo Após estudar no Sebrae sobre games, Daniel Portela montou uma equipe que desenvolve jogos

Iniciativas como estas transformam a vida dos jovens para sempre e dão a oportunidade de terem uma profissão ou um negócio próprio.

“É um programa que promove o empreendedorismo e que atende a jovens que tiveram pouco acesso à tecnologia. Mas com as capacitações conseguem se desenvolver e mudar a realidade deles, de suas famílias e, até mesmo, do território onde residem”, considera o articulador da Unidade de Gestão dos Ambientes de Inovação do Sebrae-CE, Herbart Melo.

Além do crescimento individual, o programa contribui com o desenvolvimento da indústria de games no Ceará. Segmento capaz de gerar emprego e renda, principalmente para os jovens.

"Queremos ajudar o Ceará a se tornar o estado gamer do País. Para isso, levamos capacitações para todo o Estado e, ainda, este ano queremos também realizar um evento nacional”.

 

Área de Games no Ceará

 

Empreender é a saída para falta de emprego formal

 Saindo um pouco do universo das favelas e adentrando a outros espaços do Ceará, a tendência em fazer negócios de casa, usando apenas o smartphone, também prevalece neste momento em que o Estado resgitra mais de 400 mil pessoas sem carteira assinada.

Apenas com um equipamento alguém vira empreendedor e passa a fazer negócio, diz o diretor técnico do Sebrae, Alci Porto.

 

"Esse fator levou as pessoas a ter uma velocidade maior, somando-se a isso a desburocratização através desse ambiente digital. O registro passou a ser simples, isso no passado era impossível. Aqui rapidamente pode-se abrir uma empresa. O Ceará é uma referência nacional." Alci Porto, diretor técnico do Sebrae

 

A Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec) lidera o convênio Empreendedor Digital com outras oito juntas brasileiras para promover essa aceleração, digitalização e desburocratização na abertura de empresas.

Para desonerar a constituição de empresas de baixo risco, aquelas cujos serviços não oferecem risco ambiental, sanitário e urbano de grande impacto, a junta lançou, em abril, o Empresa Mais Simples que abre uma empresa pelo portal.

 

Empreender é alternativa à falta de emprego formal

 


 

Fonte de renda para sobreviver

 Foi justamente essa facilidade virtual que auxiliou a população, mesmo no período de reclusão da pandemia, a abrir empresas e conseguirem uma fonte de renda para sobreviver.

Para a presidente da Jucec, Carolina Monteiro, é preciso utilizar mecanismos que promovam efetividade o fluxo de processos. "O serviço público lida com as necessidades e sonhos da população, empreender é gerir um sonho”, ressalta.

O diretor do Sebrae afirma que houve uma mudança nos últimos anos. O emprego foi substituído pela tecnologia, em muitos casos, principalmente na indústria.

A automação, a indústria 4.0 e a internet das coisas criaram um novo ambiente feito por tecnologias.

"Além de que tínhamos, até um passado recente, o emprego de carteira assinada. Sem um emprego formal, as pessoas ficaram na informalidade e na maioria das vezes sem nenhuma atividade. A saída foi empreender”, detalha.

Entre as profissões do futuro, para qualquer faixa etária, tecnologia é essencial para ter destaque na carreira(Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O Povo Entre as profissões do futuro, para qualquer faixa etária, tecnologia é essencial para ter destaque na carreira

Isso criou um estímulo empreendedor nos bairros das grandes cidades brasileiras, a exemplo de Fortaleza, que tem hoje 70% das empresas que se registram no Estado da Região Metropolitana. O que alavancou foram as áreas de serviço e comércio, especialmente.

 

Ocupação profissional proporciona autonomia e autoestima

 Além da parte financeira, as empresas que estão surgindo no momento seguem uma nova dinâmica econômica, pautada pelo propósito. O lucro deve ser consciente e respeintando questões sociais, ambientais e de governança, que contemplam a sigla ASG "ASG é a sigla para Ambiental, Social e Governança, do correspondente em Inglês ESG (Environmental, Social and Governance)." .

“As mulheres que hoje prestam serviços viviam apenas com o auxílio do (antigo) Bolsa Família (hoje Auxílio Brasil). Hoje, complementam sua renda e isso traz autonomia e, principalmente, autoestima”, revela a CEO do negócio de impacto Giardino Buffet, Natália de Sousa Martins. 

 O Giardino Buffet além de proporcionar uma ocupação gera autonomia e autoestima para as participantes(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O Giardino Buffet além de proporcionar uma ocupação gera autonomia e autoestima para as participantes

 

O projeto nasceu a partir de um trabalho realizado pelo Movimento Saúde Mental, na comunidade do bairro Bom Jardim, na Escola de Gastronomia Autossustentável, em parceria com o curso de Gastronomia, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A união de todos estes agentes proporcionou um negócio social que oferece serviço de buffet, em que o lucro é revertido para a sustentabilidade do Movimento Saúde Mental, gerando impacto social direto e indireto na comunidade do Bom Jardim.

Natália Martins cuida pessoalmente da horta dao buffet que funciona no Bom Jardim(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Natália Martins cuida pessoalmente da horta dao buffet que funciona no Bom Jardim

De acordo com a CEO, o objetivo do projeto é oferecer oportunidades de trabalho e geração de renda, preferencialmente para mulheres, com propósito de solucionar a falta de emprego e a desigualdade social.

Contribuindo, assim, para a redução da pobreza no território do Bom Jardim alinhadas com três Objetivos de Desenvolvimento Social (ODS): igualdade de gênero; trabalho decente e crescimento econômico; e redução das desigualdades.

O grande diferencial é o trabalho com a gastronomia e a terapia, tendo a cozinha como lugar de cura.

Quem faz parte deste projeto é a gastrônoma e chef de cozinha, Geórgia Goiana, 44. Ela recebeu o convite da própria Natália para estar à frente do buffet, pois havia sido professora de cursos de gastronomia lá.

“Na implementação do buffet havia a necessidade de uma chef e que fosse mulher. O trabalho iniciou em outubro de 2021 com um evento para um apoiador do Movimento de Saúde Mental. A partir daí, só cresceu a lista de contratos”, relembra sobre o início.

Com alegria e prazer a chef de cozinha Gergiana Goiana multiplica seus conhecimentos com a equipe(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Com alegria e prazer a chef de cozinha Gergiana Goiana multiplica seus conhecimentos com a equipe

A rotina está bem intensa, sempre com eventos semanais como coffee breaks, almoços, jantares, eventos corporativos. Para Geórgia, o buffet hoje é uma parte da renda, já que também é personal chef e realiza consultorias para o setor gastronômico e dá aulas.

“Quando vejo a evolução de cada uma delas, quando falam que querem aprender comigo, que estão se encantando pela gastronomia... são experiências de vida que elas apresentam a partir das suas próprias conquistas. Dizem que não querem parar e querem buscar mais e mais”, celebra.

 

Empresas estão investindo em projetos com propósitos

 A Giardino Buffet, assim como outros projetos espalhados por comunidades de Fortaleza, é acelerada pela Somos UM, ou seja, tem o seu projeto apoiado, auxiliado estruturalmente e impulsionado financeiramente.

A CEO da Somos Um, Ticiana Rolim, analisa que a lógica do capitalismo foi muito eficiente em gerar riqueza, mas nada eficiente em distribuir.

É aí que entra o que a nova economia, que gera maior equilíbrio e justiça na distribuição dessa riqueza.

"É óbvio que a gente já sabe que aumentar o Produto Interno Bruto (PIB), aumentar a bolsa, abrir mais empresas ou gerar mais empregos não interferem diretamente na distribuição de renda, nem na diminuição da desigualdade”, declara.

Ticiana Rolim, CEO da Somos UM, convida todos para olharem para a desigualdade como o maior desafio da humanidade hoje, ao lado das questões ambientais.(Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Ticiana Rolim, CEO da Somos UM, convida todos para olharem para a desigualdade como o maior desafio da humanidade hoje, ao lado das questões ambientais.

Ela continua dizendo que o que vai interferir é o nível de consciência com o qual cada um está tomando de decisões.

“A gente precisa olhar para a desigualdade como o maior desafio da humanidade hoje, junto à questão do desequilíbrio ambiental. A pandemia foi um catalisador daquilo que já era necessário. Ela veio escancarar ainda mais o que já estava na nossa cara e não estávamos enxergando. A gente precisa agir urgente. E é isso que a Somos UM vem fazendo”, relata.

 

 Conheça os projetos da Somos UM

 

Capitalismo mais justo e equilibrado

 A proposta é ter um capitalismo mais justo e equilibrado, que distribui renda e que não existe apenas para gerar lucro e, sim, para resolver problemas socioambientais, sobretudo.

"Não estou fazendo apologia à pobreza, nem falando que é necessário exterminar o lucro. Mas que ele não deve ser só o objetivo final de uma empresa, porque quando você decide que o objetivo final de uma empresa é gerar lucro, você não está olhando para o impacto que ele gera na cadeia", diz Ticiana.

Segundo ela, os investidores vão exigir cada vez mais relatórios de impacto. Os jovens não vão mais ficar na sua empresa se ela não tiver um propósito e não estiver resolvendo problemas sociais ou ambientais.

As empresas não vão conseguir reter talentos. Os clientes, cada vez mais, não vão comprar “o que" se faz, mas sim o “como” e “o porquê” se faz.

 

Cooperativismo: valorização do coletivo

 A retomada da economia e o posicionamento dos negócios no Brasil também passam pela força cooperativista que tem como principal ponto de destaque a valorização do coletivo.

Isso vale para todas as modalidades de cooperativas, desde as de crédito até as ligadas à produção de alimentos, informa o economista e CEO da Eu me banco, Fabio Louzada.

“Hoje, elas são importantes no processo de retomada da economia porque unem pessoas com ideais e necessidades em comum, e isso possibilita que negócios se tornem mais viáveis. As cooperativas incentivam e, ao mesmo tempo, viabilizam um ambiente de negócios mais saudável, provendo o suporte”, declara Louzada.

 

Negócios de impacto ajudam a gerar renda nas comunidades

 

Karen Fernanda encontrou na empresa Corre Aqui sua terceira ocupação para complementar a renda familiar (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Karen Fernanda encontrou na empresa Corre Aqui sua terceira ocupação para complementar a renda familiar

A moradora e designer de unhas do bairro Potira, em Caucaia, Karin Nascimento, 38, viu no Facebook uma postagem do negócio de impacto Corre Aqui com uma vaga para fazer faxinas e se inscreveu há cerca de dois anos.

Nos dias atuais, ela continua conciliando as unhas com as limpezas nas residências, chega a ter quatro faxinas em algumas semana, e incrementa em 10% sua renda mensal. Karin tem ainda uma terceira ocupação que é ser agente funerária.

“A faxina contribui muito para a minha renda, pois é algo certo. A cliente entra em contato com o Corre Aqui e contrata um prestador do nosso casting e a Nathalia agenda a faxina. Desejo muito que eles abram uma filial em Caucaia”, conta.

Nathália Bayer, CEO da Corre Aqui, encontrou neste projeto uma forma de valorizar o ser humano pessoalmente e profissionalmente(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Nathália Bayer, CEO da Corre Aqui, encontrou neste projeto uma forma de valorizar o ser humano pessoalmente e profissionalmente

“Nascemos a partir de um problema social e fomos percebendo que o nosso real propósito é possibilitar a melhoria de vida para cada pessoa. Gerando renda, o desenvolvimento pessoal e a valorização das habilidades pessoais e profissionais, sempre em busca da igualdade de oportunidade e inclusão produtiva”, revela Nathália Bayer, CEO da Corre Aqui.

O negócio acontece de maneira online, onde os profissionais se cadastram de forma gratuita e passam por etapas de verificação até o momento de estarem disponíveis para realizar serviços como faxina, elétrica e hidráulica para clientes de toda cidade.

Ao solicitar um serviço, o contratante recebe o perfil do profissional que irá atendê-lo, para gerar conexão e segurança.

O pagamento é realizado para a Corre Aqui que repassa 70% do valor para o profissional. Em uma das etapas do cadastro ele monta um perfil do profissional, com foto e uma breve descrição, informa como gosta de ser chamado, o que gosta de fazer em seu tempo livre e suas experiências anteriores.

Essa é uma das formas que a CEO encontrou de apresentar o ser humano e não apenas o profissional.

Ao fazer o cadastro do serviço que deseja prestar no Corre Aqui, a pessoa pode colocar informações pessoais e como prefere ser chamada(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Ao fazer o cadastro do serviço que deseja prestar no Corre Aqui, a pessoa pode colocar informações pessoais e como prefere ser chamada

“A empresa durante os momentos críticos da pandemia foi uma conexão muito importante entre os clientes e os profissionais. Ter alguém que conseguisse clientes para as pessoas que buscavam trabalho fez toda a diferença”, relata Nathália.

Por outro lado, os clientes, que são captados por canais como site, Instagram e WhatsApp têm a segurança no profissional contratado.

Para Nathalia este tipo de iniciativa contribui para melhorar os índices de desigualdade social e diminuição da pobreza.

 

"Os negócios de impacto social positivo surgem a partir de problemas sociais latentes, se aumentamos a renda das pessoas, por exemplo, melhoramos o seu acesso a serviços básicos, como alimentação, saúde e educação." Nathália Bayer, CEO da Corre Aqui

 

Desta forma, o dinheiro deixa de circular apenas em alguns bairros da cidade e passa para dentro das comunidades, possibilitando acesso a locais, serviços e produtos, aumentam-se as oportunidades e a qualidade de vida.

“É possível sim resolver problemas sociais e continuar gerando dinheiro, dessa forma passamos a ser sustentáveis e conseguimos aumentar o alcance do nosso impacto”, observa a CEO do Corre Aqui.

 

Um sonho de mundo melhor só é possível com a união da sociedade, iniciativa pública e privada

 Com o propósito de impulsionar as empresas a fazer parte de um movimento de mudança, de uma construção por um mundo melhor para todos, surgiu há nove anos, no Brasil, o Sistema B.

“Somos líderes de negócios engajados numa rede global, atuante no País e no mundo, definimos os padrões, políticas e oferecemos ferramentas para que os negócios mudem sua forma de operar, sua cultura e a estrutura de como consumir”, informa Haroldo Rodrigues, sócio Fundador da investidora in3 New B Capital S. A.

Além disso, o Sistema B certifica empresas que atingem os mais padrões de impacto positivo, trazendo uma nova lógica para o mercado, entendendo e mostrando que é possível alinhar lucro e propósito.

As ações do Sistema B estão voltadas para o fortalecimento da cultura de avaliação de impacto.

Para o especialista, não há dúvida de que se vive um novo tempo, repleto de transformações para a humanidade, onde a busca de conexão se dá com o nível de consciência nunca visto.

 

"O futuro precisará recriar soluções e reinventar melhores caminhos para todos, pessoas e planeta, fazendo com que os negócios ampliem suas perspectivas para além das medições financeiras e passem a considerar seus impactos financeiros, sociais e ambientais. Ser uma empresa B Certificada é ser protagonista desse momento de mudanças. " Haroldo Rodrigues, sócio Fundador da investidora in3 New B Capital S. A

 

Uma Empresa B deve se comprometer a ter altos padrões de gestão e transparência, gerar benefícios sociais e ambientais, assim como fazer uma alteração no estatuto social, em que se comprometa a ser uma empresa para o mundo e não do mundo.

 

>> Ponto de vista

Como superar a pobreza e a desigualdade?

Por Lauro Chaves Neto *

 

O economista Lauro Chaves acredita que a redução da desigualdade só será alcançada se houver uma priorização das políticas públicas(Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO O economista Lauro Chaves acredita que a redução da desigualdade só será alcançada se houver uma priorização das políticas públicas

A questão da pobreza e da desigualdade é um dos principais gargalos do Brasil. Nenhum país ou território consegue se tornar desenvolvido sem reduzir as desigualdades, combater a pobreza e eliminar a pobreza extrema.

Se socialmente essa problemática assola a dignidade e as aspirações dos excluídos, economicamente ela limita tanto o mercado consumidor como o mercado de trabalho.

O Brasil de hoje é muito diferente daquele de três ou quatro décadas atrás. Desde então, houve uma forte e saudável redução da pobreza.

Pode-se dizer que, na nossa história recente, passamos por três grandes ciclos de queda no número de brasileiros em situação de pobreza: o primeiro ocorreu com a transição democrática/Plano Cruzado; o segundo, com a estabilidade econômica pós-Plano Real de FHC (Fernando henrique Cardoso) e o terceiro, com as políticas inclusivas de Lula.

Infelizmente, erros nas políticas econômicas desde 2010, a recessão de 2014-2016 e os efeitos econômicos da pandemia foram determinantes para reverter parte significativa desses avanços anteriores.

Ressalte-se que a métrica usada pelo Banco Mundial considera pobreza extrema aqueles que vivem com até US$ 1,90 por dia, por outro lado, são considerados pobres os que vivem com menos de US$ 5,50 diários.

 

"Já a desigualdade normalmente compara a riqueza dos diferentes extremos da sociedade. Por exemplo, aquela dos 1%, 10% mais ricos com a dos 50% mais pobres. Reduzir a pobreza e, principalmente, a extrema pobreza, foram êxitos conseguidos no Mundo e no Brasil pós-Real, principalmente nos 16 anos de FHC e Lula; porém obter sucesso na redução da Desigualdade é tarefa bem mais complexa." Lauro Chaves Neto, economista

 

A desigualdade brasileira caiu nos períodos democráticos, de 1945 a 1964 e, em menor proporção, na fase atual, ao passo que cresceu tanto no Estado Novo quanto no Regime Militar.

O Prêmio Nobel de Economia James Heckman coloca o foco na educação e na distribuição de habilidades para se obter sucesso na redução das desigualdades e não na redistribuição de renda.

Já a pobreza extrema deve ser combatida com um Programa de Renda Mínima.

A desigualdade só cai, radicalmente, com grandes choques externos e marcos históricos, essa hipótese é conhecida como Jencks-Piketty.

Essa redução da desigualdade só será alcançada se houver uma priorização das políticas públicas dentro de uma normalidade institucional, que incentive os valores democráticos, somente assim o Brasil poderá resgatar essa injustiça histórica.

* Lauro Chaves Neto é professor da Unidade Estadual do Ceará (Uece), PHD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona e Conselheiro Federal de Economia

 

>> Ponto de vista

O papel das cooperativas e das empresas de impacto

Por Arthur Igreja *

 

Arthur Igreja frisa que nunca houve um cenário tão positivo para a conscientização sobre a importância dessas organizações como agora.(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Arthur Igreja frisa que nunca houve um cenário tão positivo para a conscientização sobre a importância dessas organizações como agora.

Economia circular, colaborativa, compartilhada. ESG e objetivos sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas. Recentemente, uma série de fatores trouxeram destaque para estes temas.

Interessante notar que todos estão intimamente presentes no DNA do cooperativismo e das empresas de impacto.

Nunca houve um cenário tão positivo para a conscientização sobre a importância dessas organizações como agora.

O cooperativismo no Brasil ainda é tímido em comparação com economias mais desenvolvidas como EUA, Canadá e, principalmente, Europa.

A nova economia é fundamentalmente diferente da visão que imperava nas últimas décadas. Na verdade, vivemos a era do ESG, a Sustentabilidade Econômica, Ambiental (Environment), Social e Governança.

Se no passado o resultado final (econômico) era o principal fator para determinar o sucesso de uma organização, agora, consumidores e sociedade passaram a valorizar o ‘’como’’ tal resultado foi alcançado, quais foram as escolhas, impactos, tanto positivos quanto negativos, em suma, quais os valores que nortearam a execução da estratégia.

É importante também destacar que esse foco está longe de ser ideológico. Organizações pautadas pelo compromisso com resultados positivos comprovadamente geram mais resultados, fidelização e aumentam, assim, sua longevidade e expansão.

 

"Ao invés de se estabelecer em uma região, desenvolver negócios e reverter os resultados para acionistas que têm pouca ou nenhuma ligação com uma determinada localidade, essas organizações são capazes de multiplicar a geração de valor local, gerar prosperidade e sustentar a capacidade de viabilizar ações sociais relevantes." Arthur Igreja, especialista em Finanças, Inovação e Tendências

 

Um traço comum nas regiões que apresentam melhores indicadores sócio-econômicos é a forte presença do cooperativismo, associativismo e empresas de impacto.

Precisamos ir além do cooperativismo de crédito e agroindustrial. Com criatividade e governança é possível estabelecer esse arranjo para virtualmente qualquer setor da economia.

Um modelo em que os naturais conflitos entre diferentes stakeholders de um negócio não existem já que todos participam e se beneficiam ativamente do empreendimento.

Especialmente em um país como o nosso - com desigualdades sociais importantes - o cooperativismo se apresenta como uma via para o futuro.

Além disso, com a geração de oportunidades locais é possível criar condições para que áreas distantes dos grandes centros se tornem atrativas para as novas gerações, impulsionando ainda mais o crescimento que já acontece mais no interior do que nas capitais nos últimos 20 anos.

Para que essa visão se aproxime da realidade é preciso comunicar cada vez mais, explicar o que são cooperativas e empresas de impacto, ir além dos fóruns onde apenas participam aqueles que já fazem parte desse meio.

Grande parte da sociedade ainda não tem consciência destes modelos e de seu potencial.

A melhor parte é que a cada dia temos mais casos de sucesso, e é imprescindível aprender com quem está na vanguarda.

Uma vez mais, temos uma longa trajetória pela frente, mas que, certamente, frutificará mudanças tão necessárias para o Brasil.

* Arthur Igreja é especialista em Finanças, Inovação e Tendências. TEDx speaker, autor, palestrante e cofundador da plataforma AAA Inovação.

 

>> Ponto de vista

Uma visão de futuro justa e inclusiva com a transição sistêmica

Por Célio Fernando Bezerra Melo *

 

O economista Célio Fernando acredita que a retomada da economia cearense está construída em pilares bem fundados que exigem resiliência e adaptação a um mundo em constante transformação para se tornar justo e inclusivo(Foto: Barbara Moira)
Foto: Barbara Moira O economista Célio Fernando acredita que a retomada da economia cearense está construída em pilares bem fundados que exigem resiliência e adaptação a um mundo em constante transformação para se tornar justo e inclusivo

A adaptação aos novos tempos tem sido o principal desafio da humanidade. Em casa, nas empresas e para os governos a aceleração do futuro gerou oportunidades e ameaças instantâneas, de difícil mensuração e, consequentemente, de atitude a ser tomada.

Crises de todas as ordens, mudanças climáticas, redução da biodiversidade, geopolíticas e geoeconômicas.

Uma mudança de época que representa o rito de passagem de uma sociedade observada anos a fio nos contextos histórico-culturais do processo civilizatório. Os horizontes se mostram até mais largos.

Dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), segundo o relatório Panorama Social da América Latina, apontam para o aumento da extrema pobreza da ordem de cinco milhões de pessoas.

A crise sanitária agravou a frágil proteção social. O pragmatismo de curto prazo não se mostrou sustentável na Riqueza das Nações, sejam públicas ou mesma privadas. A volatilidade das bolsas, termômetros economia de mercado são reveladoras.

Essa é uma transição sistêmica que traz a busca de novas formas de energia e combustíveis de baixo carbono, alterando a matriz fóssil, combinado a inovações que alteram os modos de produção, emprego e renda.

A reconversão do mercado de trabalho, capacitações, busca de entendimento e conhecimento das tecnologias embarcadas, redefinem a inserção do capital humano no sistema.

Movimentos que introduziram em compromissos e redes internacionais como a Climate Just Alliance a pouco mais de uma década para abordar as questões de sustentabilidade e das desigualdades, principalmente em organizações não governamentais.

A ONU ampliou o Pacto Global, em 2015, com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, fortalecendo a Agenda 2030.

Essas compreensões ofereceram ao Ceará uma perspectiva no pensamento de médio e longo prazo, constitucionalizando o seu Planejamento Estratégico Estadual de Longo Prazo em um grande Pacto dialogado com a Sociedade.

Foram definidos programas como o “Renda do Sol”, de microgeração distribuída, buscando uma inclusão socioprodutiva aos mais vulneráveis e adaptado ao momento e movimento do Estado do Ceará como Meca das Energias Renováveis, na transição energética Justa com foco no hidrogênio verde.

Acordos que vem sendo definidos com horizontes temporais até 2034. A direção é mais estrutural e na esteira cadeias produtiva interconectada, como veículos elétricos, por exemplo.

No entanto, exigem mão de obra cada vez mais qualificada. A educação Profissional também se alinha com plataformas a distância e tentam encontrar formas de abreviar as tensões do analfabetismo funcional e digital.

 

""A transformação da sociedade em mundo digital tem redefinido até mesmo as formas de aprendizagem, veículos e instrumentos, e o ecossistema aluno-professor-família ora presencial, híbrido e virtual. A resiliência socioeconômica reluta mais uma vez diante das ondas pandêmicas e preservação da saúde mental, pelos traumas e dores, de perdas e lutos, de um ente querido ao emprego."" Célio Fernando Bezerra Melo, economista

 

Setores tradicionais também se reorganizam nessa ordem de competividade global e diferenciais. O desenvolvimento Territorial do Ceará 2050 se comunica com os clusters de desenvolvimento sustentável e de inovação nas 14 macrorregiões de planejamento do Estado, inserindo principalmente jovens do ensino médio e universitários em ambientes de desenvolvimento de culturas empreendedoras.

O Inova Governo se integra ao Ceará Digital, em ações de curto, médio e longo prazo nos melhores serviços ao cidadão, simplificação e melhoria do ambiente de negócios.

A Visão de Futuro referenciada em objetivos e metas, nos programas prioritários, com horizontes mínimos de 20 anos.

O exercício da reunião da academia, setor produtivo, governo e Sociedade avançam no diálogo em uma governança democrática, projeto de Estado e não somente de um governo.

A sustentabilidade econômica, ambiental e social exigem mudanças estruturais que requerem tempo e continuidade das ações estruturais.

A retomada da economia cearense está construída em pilares bem fundados que exigem resiliência e adaptação a um mundo em constante transformação para se tornar justo e inclusivo, alcançando os mais vulneráveis.

Sejam sempre bem-vindas às críticas e as opiniões com apontamentos para as soluções, pluralidade e o entendimento do pluriverso podem construir uma sociedade mais justa.

* Célio Fernando Bezerra Melo é economista e vice-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) Brasil

  • Edição OP+ Beatriz Cavalcante, Fátima Sudário e Regina Ribeiro
  • Edição de Design Cristiane Frota
  • Edição e coordenação do Núcleo de Imagem Chico Marinho e Cinthia Medeiros
  • Edição de Fotografia Júlio Caesar
  • Texto Carol Kossling
  • Identidade Visual Isac Bernardo
  • Recursos Digitais Beatriz Cavalcante
  • Fotografias Thais Mesquita, Aurelio Alves, Samuel Setubal/Especial para O POVO, Fernanda Barros, Barbara Moira (em 21/12/2020)
  • Recursos audiovisuais Luana Sampaio (Roteiro e assistência de produção), Carol Kossling (Reportagem), Aurélio Alves (Direção de Fotografia), Eduardo Azevedo (Montagem e finalização)
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