Utilizado no Brasil há mais de uma década, o QR Code, código de barras bidimensional que pode ser escaneado através das câmeras de celulares, ficou definitivamente conhecido do grande público durante a atual crise pandêmica, principalmente por conta das transmissões ao vivo - lives - solidárias, popularizadas por artistas para arrecadar doações.
Além de redirecionar o usuário para sites, e-mails ou contatos, a ferramenta também é bastante utilizada para efetuar pagamentos e funciona como uma importante aliada de diversos estabelecimentos no Brasil.
Em entrevista ao O POVO, Natália Miyabara, chefe de Produtos Financeiros da MovilePay, fintech do Grupo Movile que permite aos consumidores pagarem contas em restaurantes pelo QR Code no aplicativo do iFood, falou sobre a popularização da ferramenta no Brasil e como isso será importante para que as empresas tenham acesso a um meio de pagamento rápido e prático, que não exige qualquer tipo de contato, em uma realidade pós-crise. Ela aposta que a utilização do código seguirá crescendo e que as novas tecnologias também ganharão mais espaço.
O POVO - O QR Code passou a ser mais conhecido pelo grande público por conta das lives. a utilização deste mecanismo continuará em alta após a pandemia?
Natália - Acredito que sim. Quem tinha uma resistência inicial com o QR Code pode ter se motivado a testar para fazer uma doação, ou até mesmo testar com transações que podem ter valores mais baixos. Com isso, as pessoas vão se acostumando com a ferramenta e as facilidades que ela permite, e tendem a utilizá-la também no futuro, em outros momentos.
OP - Como era a utilização do QR Code antes da crise? Já é possível notar crescimento?
Natália - A Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) conduziu uma pesquisa em junho de 2019 na qual 82% dos lojistas já apontavam que pretendiam adotar aplicativos e QR Code como meio de pagamento. A pesquisa também apontava que 17% dos pagamentos já eram realizados via QR Code, mas ainda não tivemos acesso a pesquisas após o isolamento social.
OP - A questão da segurança ainda é uma barreira para pagamento via QR Code?
Natália - Um estudo realizado em janeiro deste ano pela Capterra, empresa que presta serviços de comparação entre softwares empresariais, mostrou que 57% dos consumidores consultados já pagaram usando QR Codes. Na mesma pesquisa, rapidez e facilidade foram as vantagens citadas por 71% e 75%, respectivamente como motivos para adotar essa tecnologia. Hoje, o uso do QR Code é feito de forma totalmente segura. Nosso desafio principal é do ponto de vista educacional, para superar a barreira de falta de informação e de fazer quem ainda não costuma usá-lo, enxergar a ferramenta como uma opção prática, segura e confiável de pagamentos.
OP - Qual o impacto que a utilização do QR Code pode trazer para as empresas?
Natália - O QR Code traz para os negócios a vantagem de ser um meio de pagamento rápido e prático para os consumidores. Essa tecnologia reduz filas, pois vários pagamentos podem ser feitos ao mesmo tempo, basta o consumidor escanear o QR Code. Outro benefício é ser a ferramenta que viabilizará o PIX (pagamento instantâneo), uma modalidade que acontece em tempo real, permitindo que pagamentos e transferências sejam realizados em questão de segundos. A expectativa é de que o PIX traga, tanto para os estabelecimentos como para os consumidores, não apenas segurança e rapidez, mas também custos menores nas transações.
OP - Há outras vantagens que se destacam para empresas e consumidores?
Natália - Para o estabelecimento, há a vantagem de um custo menor por transação, principalmente pensando na implantação do PIX em novembro deste ano. Além disso, esse meio de pagamento proporciona um controle mais simples das finanças e um prazo menor para recebimento do dinheiro. Para o consumidor, gera segurança na transação e diminui a necessidade de circulação com dinheiro físico. Em países como a Suécia e a China, o pagamento em dinheiro já não é mais uma realidade. E, principalmente nesta época de pandemia, o QR Code limita o contato necessário na hora de realizar um pagamento presencial.
OP - Para além do "comprar", o QR Code ganhou destaque por ser uma ferramenta de responsabilidade social. Essa é uma tendência que também deve continuar?
Natália - A medida que as pessoas entendem que a tecnologia é segura e pode faciitar seu dia a dia, tendem a adotá-la em diversas áreas, tanto para compras quanto para doações - um tema que tem sido muito abordado por conta da pandemia. As lives popularizaram o uso do QR Code, que já vinha crescendo bastante, e acredito que tanto organizações sociais quanto empresas podem se beneficiar do uso dessa tecnologia. É uma ferramenta que veio para ficar, por ser prática e confiável, e por abrir caminho também para a adoção de novas tecnologias de pagamento no futuro, como é o caso do pagamento instantâneo (PIX) que mencionei.
OP - Acredita que a automação e utilização de novas tecnologias ganharão mais espaço?
Natália - Acredito sim. A chegada de novas tecnologias, como, por exemplo, a expansão recente de fintechs e contas digitais, abre espaço para que parte da população que não tinha necessariamente acesso a estes serviços financeiros, os tenham de forma 100% digital. Na minha opinião, essas tecnologias ampliam, desburocratizam e criam um ambiente que pode proporcionar custos mais baixos para os mais diversos serviços, ao mesmo tempo que os tornam acessível a uma parte muito maior da população.
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