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"Ganhei o mundo com os esportes eletrônicos", diz cearense Otavio "NighTT" Melo
Reportagem Seriada

"Ganhei o mundo com os esportes eletrônicos", diz cearense Otavio "NighTT" Melo

Três vezes finalista de competições internacionais, Otavio "NighTT" Melo é treinador de uma equipe canadense de PUBG Mobile. Radicado no Ceará, ele conta das dificuldades de se tornar profissional de e-sports, mas avalia que o Nordeste é um celeiro que revela grandes jogadores
Episódio 9

"Ganhei o mundo com os esportes eletrônicos", diz cearense Otavio "NighTT" Melo

Três vezes finalista de competições internacionais, Otavio "NighTT" Melo é treinador de uma equipe canadense de PUBG Mobile. Radicado no Ceará, ele conta das dificuldades de se tornar profissional de e-sports, mas avalia que o Nordeste é um celeiro que revela grandes jogadores
Episódio 9
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Treinador profissional de um dos jogos mais populares do cenário competitivo, o paulista radicado no Ceará Otavio “NighTT” Melo (@nighttx__) é um dos personagens que contribuem para o desenvolvimento dos esportes eletrônicos no Brasil. Responsável por treinar a equipe canadense Lazarus de PUBG Mobile "No fim deste texto, veja vídeo de como funciona o jogo PUBG Mobile" , ele começou nos games aos 9 anos e depois disso conta que ganhou o mundo com o trabalho desenvolvido com o celular na mão.

Profissional desde 2018, ele conta que a região nordestina é um verdadeiro celeiro de bons atletas de e-sports, no entanto, a falta apoio ainda reina. Além da carência de organizações fortes com equipes competitivas, por estas terras ainda existe muita gente conservadora. “Você falar que vai viver de esportes eletrônicos, uma maioria vai falar que você é um vagabundo”, reflete.

Resultado disso é que os talentos nordestinos acabam sendo “exportados para outros estados”, comenta Otavio “NighTT”, que é três vezes finalista de competições internacionais de PUBG Mobile. Entre um pausa e outra da longa rotina de estudos e treinamentos, ele participou do UP Gamer+ e contou sobre sua carreira, desafios e perspectivas. Confira trecho da entrevista.

 

 

O POVO - Hoje você é coach (treinador) de PUBG Mobile. Como é a sua atuação?

Otavio “NighTT” Melo - Eu costumo muito falar pro pessoal que ser técnico nos jogos eletrônicos é a mesma coisa que ser técnico em qualquer outro esporte. Então a gente faz escalação de jogador, faz treinamento, faz aquecimento, passa estratégia, como em qualquer outro esporte. É a mesma área de atuação.

No meu caso em si, como são esportes eletrônicos, é um jogo de celular, o PUBG Mobile. Nele temos um mapa com 64 pessoas jogando ao mesmo tempo, de regiões diferentes, com o objetivo de ser o sobrevivente. Acontece um mata-mata durante esse tempo e você, ou o seu time, precisa sobreviver. É bem dinâmico.

Otavio "NighTT" Melo foi três vezes finalista de competição mundial de PUBG Mobile(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Otavio "NighTT" Melo foi três vezes finalista de competição mundial de PUBG Mobile

OP - Como começou a sua trajetória profissional nos games?

Otavio “NighTT” Melo - Eu comecei profissionalmente com o PUBG Mobile. Foi uma história bem engraçada, porque, na verdade, um amigo meu estava estudando para o vestibular e tinha deixado o computador de lado porque era muito viciado em jogos. Daí ele me convidou para baixar esse jogo no celular e a gente começou a jogar. Ele acabou parando por causa dos estudos, e eu continuei jogando.

Eu fui me destacando, crescendo e me apaixonando cada vez mais pelo jogo. Depois de mais ou menos um ano, surgiu o primeiro convite para representar uma organização e ganhei o mundo aí com os esportes eletrônicos.

OP - Qual foi a diferença de você estar somente jogando para passar a competir profissionalmente?

Otavio “NighTT” Melo - Quando a gente passa para o nível profissional, tem muito tempo de estudo, além de práticas, então é uma coisa que a gente dedica de dez a doze horas por dia. A gente acorda, começa a aquecer, a jogar, depois tem uma pausa e continua. Assim vai todos os dias, não tem fim de semana, a gente tem campeonato sexta, sábado e domingo, as férias são complicadas de ter. É um ritmo que não para.

OP - Qual a grande diferença de jogar casualmente e transformar essa atividade em uma profissão?

Otavio “NighTT” Melo - Os jogos, no geral, têm aquela linha muito tênue de você ser um viciado nos games e você ser realmente profissional, viver daquilo, representar uma organização, dar resultados. A gente tem obrigações e cobranças justamente por ser um ambiente extremamente competitivo. Então não é só jogar por jogar, a gente tem que estudar, tem que saber o porquê das coisas e se aprofundar. Acaba se tornando uma coisa bem complexa.

Profissional de PUBG Mobile, Otavio "NighTT" Melo é paulista radicado no Ceará(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Profissional de PUBG Mobile, Otavio "NighTT" Melo é paulista radicado no Ceará

OP - Hoje os grandes players estão no Sudeste. Existe alguma questão que impede o crescimento do cenário aqui no Nordeste?

Otavio “NighTT” Melo - O problema não é nem relacionado à região, por aqui temos ótimos jogadores. Mas a gente acaba sendo um grande celeiro de jogadores, criando talentos e exportando para outros estados. Tem muita gente de Fortaleza ou de outras cidades do Nordeste que vai para o eixo Rio-São Paulo-Sul, que é onde ficam as grandes organizações, as grandes equipes que investem. Então assim, se a gente tivesse um maior investimento, como os times nacionais, com certeza a gente conseguiria ter muito mais impacto. Em vez de investir nisso, a gente acaba exportando nossos talentos, então acaba não ficando tão evidente para a gente falar que tem um nome forte quando se fala de e-sports, enquanto que São Paulo tem 15 organizações gigantescas.

OP - Você acredita que a própria região desconheça a dimensão dos esportes eletrônicos?

Otavio “NighTT” Melo - Acho que é uma combinação de fatores. Primeiro, porque aqui no Nordeste, no geral, ainda tem muita gente conservadora. Você falar que vai viver de esportes eletrônicos, uma maioria vai falar que você é tipo um vagabundo, que não quer fazer nada na vida e só ficar jogando no computador. Mas não sabe que hoje em dia os esportes eletrônicos movimentam mais dinheiro do que as indústrias do cinema e da música juntas.

Em segundo lugar, é um mercado que tende a crescer cada vez mais e ser o futuro, porque você ver que a molecada hoje em dia não está afim mais de ver futebol ou basquete, mas que quer ver o campeonato de League of Legends (LOL), de Free Fire, de Counter-Strike. Num cenário de daqui a 15 ou 20 anos, cada vez mais os esportes convencionais vão diminuir e os esportes eletrônicos vão crescer. É uma tendência natural. Quanto mais cedo você investir e se estabelecer, maiores as chances de você ter sucesso lá na frente.

Então como somos uma região bem conservadora, muita gente acaba não enxergando isso, pensando que não compensa arriscar porque “já já vai acabar”. Mas eu vejo que é muita falta de conhecimento, não é nem ignorância em si.

 

 

Veja como funciona o PUBG Mobile

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