Fanático em ser aprovado em universidades estrangeiras, Matheus Tomoto é um sonhador e apaixonado pela educação, a grande responsável pela mudança de sua vida. Cria da escola pública e nascido em uma família humilde, hoje atua oferecendo mentoria para milhares de brasileiros, conectando-os a diferentes oportunidades para estudar e trabalhar fora do País.
No currículo, Tomoto acumula passagens por instituições como Harvard e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), além do título de um dos jovens mais promissores com menos de 30 anos do Brasil, eleito pela Forbes. Idealizador da Universidade do Intercâmbio, agora também adiciona na bagagem a participação no UP Gamer+, programa de entrevistas durante partidas de jogos eletrônicos.
Além de uma jogatina de League of Legends: Wild Rift, ele compartilhou detalhes de sua trajetória e revelou ainda a principal dificuldade que impede a ida para universidades internacionais. Confira trecho da entrevista com Tomoto, que hoje acumula mais de 1 milhão de seguidores só no Instagram.
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O POVO - Você é do interior de Sorocaba, no São Paulo, e se mostrou para o Brasil há uns anos após ser aprovado em várias universidades estrangeiras. Mas como foi seu começo de carreira?
Matheus Tomoto - Eu brinco que eu era uma pessoa que tinha tudo para dar errado na vida. Venho da escola pública, de uma família super simples que em alguns momentos passou bastante necessidade. Só que mesmo assim sempre fui muito sonhador e pensava: “quero conquistar grandes coisas”. Mas como não tive acesso a uma boa educação, eu precisei criar meus caminhos.
Lembro que uma vez eu estava voltando para casa com minha mãe e uma vizinha estava jogando um monte de livros fora. Eu perguntei à minha mãe se eu podia pegar os livros, levar para casa e montar uma biblioteca… Isso com 14 anos, bem novinho. Depois, quando tinha 16 ou 17 anos, foram esses livros que eu usei para estudar para o vestibular. E deu bom, consegui passar em um vestibular no Brasil.
Não curti o curso, porque achei muito teórico e aquilo não fazia muito sentido para mim. Foi aí que decidi sair do Brasil e fui entender como funcionava o modelo de ensino nos Estados Unidos. Eu não tinha nada de inglês, porque na escola pública só aprendia o verbo “to be”, mas em quatro meses, estudando 16 horas por dia, consegui um nível interessante de fluência. Daí já fui com uma bolsa de 100% e em pouco tempo já consegui meu primeiro estágio no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O POVO - Quando você voltou para o Brasil?
Matheus Tomoto - Lá nos Estados Unidos eu encontrei uma nova paixão, que era a educação. Eu tive acesso a tanta coisa legal que eu fiquei muito surpreso com toda a estrutura que existia por lá. Foi aí que eu pensei: “poxa, e se eu levasse tudo isso para o Brasil, para outras pessoas que não têm acesso a esse tipo de informação?” Eu recusei uma bolsa de mestrado do MIT e decidi voltar para o Brasil para começar a trabalhar com educação.
Eu queria trazer os modelos internacionais para cá, só que daí eu percebi que era uma proposta muito complexa, né, cara. Eu queria de fato mudar a educação do Brasil. Imagina todo jovenzinho tendo acesso à educação de qualidade, mas percebi que era uma ideia bem complexa. Eu descobri que essa treta era bem maior do que eu achava que conseguia tocar, sabe. Foi um negócio muito ingênuo de minha parte. Foi aí que voltei para os Estados Unidos, pois consegui uma bolsa como pesquisador em Harvard e lá comecei a ajudar brasileiros que queriam ir para fora. Aí virou essa nova jornada na Universidade do Intercâmbio.
O POVO - Qual a principal dificuldade encontrada para quem quer estudar fora? É documentação, falta de vaga?
Matheus Tomoto - Sendo super sincero, a maior dificuldade não é o visto, não é a aprovação em si, não é a documentação. Acho que a maior dificuldade é o das pessoas acreditarem que podem ir. O que a gente está fazendo hoje é algo muito novo e muita gente não acredita que é possível, sabe, porque o modelo convencional é o que você paga para uma instituição intermediadora para conseguir um intercâmbio.
A gente levantou a bandeira de que seria possível as pessoas irem para intercâmbios gratuitos, economizando ou até mesmo com tudo pago com uma bolsa. A maior dificuldade é fazer o brasileiro acreditar que as oportunidades que surgem, de estudar em instituições reconhecidas ou trabalhar em grandes empresas, podem ser para ele. É um processo difícil.
O POVO - Existem grandes diferenças entre as instituições lá fora? Tem alguma que o ingresso é mais fácil e outras em que é mais difícil?
Matheus Tomoto - Acho que não tem essa de mais fáceis ou mais difíceis. É muito interessante essa pergunta porque tem um conceito lá fora, que não é muito utilizado no Brasil. Aqui você pensa: “ah, vou para a USP, para a Unicamp, etc”, que é um pensamento muito voltado para o rótulo. Lá fora não tem muito disso. Óbvio que tem o status e orgulho do “vou para Harvard”, mas isso é mais no sentido de personalidade. É como se fossem casas do Harry Potter, que são definidas pela personalidade do aluno e da instituição.
Isso é o mais importante, mas que no Brasil ninguém fala isso. Aqui, se você quer seguir na vida acadêmica, o ideal é tentar uma universidade pública. Se quer entrar logo no mercado de trabalho, vai para uma universidade que tem o foco nisso. Então as universidades de fora são boas e a grande maioria oferece bolsas de até 100% para brasileiros. Não tem uma preferida, então a galera pode ir para aquela que mais curtir.
O POVO - Então é possível sonhar em acessar uma universidade lá fora independentemente de seu rótulo?
Matheus Tomoto - Independentemente, cara. E a gente está num momento do mundo muito legal, porque ter acesso a uma boa universidade hoje no Brasil é complexo. Tanto que a gente vê quem que passa nas melhores do País: a grande maioria é de quem teve algum tipo de privilégio, mesmo que esse privilégio tenha sido de uma família que conseguiu dar um bom ensino médio com toda a dificuldade.
Quando a gente pega o modelo internacional, a gente pega um modelo que diminui esse gap social, e é isso que ninguém conta, mas é por isso que a gente levanta essa bandeira. Hoje é mais simples um aluno de escola pública passar em uma universidade boa nos Estados Unidos do que passar na USP, no Brasil. Hoje, em 2022.
“Ah, mas eu não tenho inglês…” Muito do inglês você consegue desenvolver dentro de casa, sozinho com Duolingo, com YouTube, com aplicativos. E quando você não tem o inglês 100%, as universidade fazem uma imersão antes de você entrar nas aulas.
Aí a pessoa se preocupa com o visto. Não, pô, quando você tem uma aprovação, é praticamente garantido o seu visto. Você passa em uma universidade, recebe uma carta de aceite e com ela a galera vai te aprovar na hora do visto.
O POVO - Durante o processo ainda aqui no Brasil de construção de sua trajetória, quando você percebeu que ir para fora poderia mudar sua vida?
Matheus Tomoto - É interessante que quando a gente vai crescendo, vão mudando nossas dores e nossos sonhos. Quando eu tinha 15 anos e comecei a fazer um curso técnico no Senai, meu objetivo era ter um salário de R$ 800 a R$ 1 mil por mês, porque achava que isso era muito dinheiro. Com 17 ou 18 anos, pensei em fazer uma faculdade e depois de formado iria ganhar uns R$ 2 mil a R$ 2,5 mil. Era a minha meta.
O que me pegou foi entrar na faculdade, ficar três anos me esforçando, acordando 4 horas da manhã para entregar currículo e não ser aceito em nada… Então o que me pegou não foi um sonho, mas uma dor muito grande de me sentir um nada, me sentir um lixo. Foi quando eu pensei: será que em outro país eu vou ter mais facilidade de crescer? Foi aí que surgiu a ideia, que deu certo.
O POVO - Você descobriu esse universo que existia através da educação e começou a compartilhá-lo com outras pessoas que passam a ganhar novos sonhos. Como você se sente em relação a isso?
Matheus Tomoto - Cara, eu acho que é isso que me dá prazer de viver. Não é todo mundo que vai passar em Harvard com bolsa de 100%, mas tem outros intercâmbios tão bons quanto ou que para a pessoa é muito relevante para o currículo dela. Hoje eu tenho um ritual, eu sou bem disciplinado, bem metódico, em que eu acordo cedo e a primeira coisa que faço é entrar na minha comunidade de alunos e dar uma olhada num mural de conquistas que temos. Todo dia tem pelo menos um brasileiro falando que foi aceito em tal bolsa, em tal intercâmbio. Ver isso já me dá gás para o meu dia inteiro. Eu penso que meu trabalho vale a pena.
Programa de entrevistas com personagens que transitam peço mundo digital durante uma partida de jogo eletrônico