O cinema cearense tem ganhado bastante destaque nos últimos anos, com produções próprias alcançando grandes bilheterias. Esse sucesso é celebrado, mas os olhos e as expectativas estão lá na frente, acompanhados de uma sensação de que ainda existe um longo caminho a ser trilhado. Para isso acontecer, a educação e ensino teórico e técnico precisam ser trabalhados localmente, e é isso que Bruno Albuquerque tem feito.
Criador do portal Sociedade Brasileira de Cinema (SB Cinema), ele é fortalezense e oferece pela internet cursos, aulas e dicas de como desvendar a sétima arte. Nas redes sociais, é um verdadeiro sucesso. Somente no TikTok, por exemplo, suas publicações já ultrapassaram a marca de 4 milhões de curtidas.
Amante, crítico e produtor de cinema, Bruno Albuquerque é o mais novo convidado do UP Gamer+. Durante combates de MultiVersus, ele “apanhou” do Pernalonga, opinou que as produções locais podem e devem se ampliar e alcançar outros gêneros e ainda mencionou a necessidade do Estado para fazer com que o cinema cearense e nacional consiga prosperar.
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O POVO - Como o cinema entrou na sua vida? Houve algum incentivo da família?
Bruno Albuquerque - Foi uma coisa bem natural, bem espontânea. Sempre tive uma paixão muito grande por contação de história, que começou nas histórias em quadrinhos, depois foi para literatura e para o cinema. Eu assistia filmes com o meu pai e quando acabava eu ficava querendo mais, uma continuação. Meu pai então inventava historinhas para eu poder saciar essa vontade de saber mais sobre os personagens, sobre aquelas histórias. Sempre tive a vontade de entrar no storytelling, digamos assim. Acho que foi isso que mais me chamou atenção no cinema.
Também desde criancinha, minha mãe comentava que quando acabava o filme eu chorava, ficava chorando e ela não entendia. Ela foi conversar com uma psicóloga que disse que era como se, na minha cabeça, eu entrasse no filme e não quisesse sair dele. Seria por isso que eu pedia para meu pai continuar contando a história para mim.
Quando fiquei mais velho, em 2008 criei meu primeiro blog de cinema, onde comecei a escrever. Em 2014, eu estava no ensino médio, fiz 18 anos e queria trabalhar com alguma coisa. Foi então que um amigo que era fotógrafo me chamou para fazer vídeos para casamentos, aniversários de 15 anos, essas coisas. Eu topei, e comecei a gravar e a pegar gosto. Só que eu percebi que queria outro segmento, de parte mais criativa e que se aproximasse do cinema. Anos depois, comecei a investir na minha produtora, a Screen Filmes, e deu tudo certo. Em 2018 fiz meu primeiro filme, o curta Reverberação.
O POVO - Como a SB Cinema surgiu?
Bruno Albuquerque - A SB surgiu com um primeiro curso que é o “Decifrando o Cinema”, de análise fílmica para entender como a linguagem do filme se comunica com o espectador, como ela influencia a ter certas emoções quando estamos assistindo e por aí vai. Foi o curso mais vendido até hoje, tem cerca de 3 mil alunos. Depois criamos cursos de roteiro, de iluminação, e vários outros, da prática à teoria.
O POVO - Existe mercado para o cinema aqui no Ceará?
Bruno Albuquerque - Sim, tanto na área do cinema em si, como na área de produções audiovisuais para clientes e empresas locais. Estou falando isso por experiência própria, pois acabei de produzir meu primeiro filme com apoio de edital, e no Brasil não tem para onde correr, a gente faz cinema com apoio de edital. Digo com pesar pois queria que o cinema estivesse caminhando com as próprias pernas, mas ainda vai demorar muito para a gente chegar em um nível de outros países. Então é primordial que a gente tenha investimento público neste momento, como também é importante que a gente produza filmes de gêneros e propostas diferentes, que seja o mais plural possível para diversificar o mercado.
Existe uma indústria, sim, mas muito atrelada aos editais. Passamos dois anos aí totalmente às cegas, sem edital, praticamente nenhum, por causa das questões políticas que se abateram no nosso País. Agora as coisas estão começando a se retomar com a aprovação de duas leis importantíssimas: a Lei Aldir Blanc 2 e a Lei Paulo Gustavo.
O POVO - É fácil fazer cinema por aqui?
Bruno Albuquerque - Eu diria que não, mas não pelos motivos que as pessoas costumam achar. Claro, temos todos os problemas de investimento, de falta de mão de obra qualificada. Faltam profissionais aqui no Ceará, em termos de quantidade. Temos excelentes profissionais, mas que já estão abarrotados de trabalho. Mas eu descobri uma dificuldade que eu não imaginava que eu fosse ter que enfrentar.
A gente gravou algumas cenas do curta-metragem “Sistema Isolado” na rua. Cara, foi muito difícil gravar porque a população não entendia que estávamos gravando um filme. Estavam atrapalhando direto. Também para conseguir algumas locações foi uma dificuldade, os responsáveis, como dizemos aqui no Ceará, “botavam muito boneco” para liberar o espaço. Então tem uma resistência de uma maneira que eu não esperava encontrar.
O POVO - Então o que falta para o cinema local seja essa maturidade do mercado?
Bruno Albuquerque - Eu tenho uma opinião um tanto polêmica em relação a isso. Acho que não produzimos tantos filmes apelo de público como poderíamos produzir. Nada contra você ter filmes experimentais, históricos ou com apelo para discussão social. Longe de mim querer que esse tipo de filme não exista, mas quero que existam filmes com apelo de público. Eu vou perguntar, mas já sei qual vai ser a resposta. Qual filme cearense com apelo de público que você viu no cinema? Cine Holliúdy.
Daí o que está acontecendo com o Halder Gomes? Está abarrotado de trabalhos, e de forma muito merecida. São produtos que têm apelo de público muito forte, mas é um gênero que eu diria que já está garantido, que é a comédia. Grande parte das comédias nacionais tendem a ser um sucesso de público. Então queria que a gente começasse a ter outros tipos de filmes, de outros gêneros. Pesquisas indicam que o gênero favorito do brasileiro é ação, então porque os filmes nacionais não produzem filmes de ação? Precisamos fazer mais filmes assim porque o público quer.
Ainda existe o estigma de que o cinema nacional não é bom. O cinema brasileiro é excelente, mas entendo porque o público tem essa percepção. Os bons filmes nacionais chegam nessas pessoas.
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