Apostar inclui riscos, pois não há possibilidade de ter certeza absoluta sobre o que exatamente acontecerá nos eventos esportivos. Com isso, muitos apostadores utilizam estratégias para minimizar os riscos de perda e ao mesmo tempo conseguir um bom lucro.
O universitário Mateus Moura, 25, costuma apostar, constantemente, desde o dia 15 de julho de 2019, motivado por amigos que eram experientes na área. Até o momento, vem tendo lucros significativos com a prática.
Mateus iniciou a empreitada com R$ 250 e investindo R$ 40 em assessorias de apostas, que indicavam quais eram os melhores caminhos a serem trilhados. O apostador foi orientado a apostar em qual seria o número de escanteios dos jogos e em corrida de galgos (espécie de cachorro). Com isso, seu investimento dobrou em 15 dias.
Porém, a partir do mês de agosto, ele adotou outro método de aposta, o “cashout”. Essa metodologia procura por linhas desajustadas, ou seja, pagamentos que não correspondem à realidade, quando, por exemplo, o pagamento para uma aposta em um favorito é menor do que o jogo em um azarão. Seria o caso do site de apostas pagar mais para uma vitória do Ferroviário do que para o Barcelona, da Espanha, em um hipotético confronto entre as equipes. Nesse caso, ele e um grupo de aproximadamente 200 pessoas pagam alguém para analisar esses desajustes e avisar todos.
“Quando acontece essa modificação de linha, quando você entra nela e ela cai, a casa de aposta tem um sistema chamado cashout. Ela te oferece uma porcentagem em cima do que você apostou para que você encerre a aposta antes de ir para o jogo. A casa oferece 20% do valor em cima do que você arriscou. Então, se eu joguei R$ 500, ela vai me oferecer R$ 100 (a mais) sem eu nem ir para o jogo”, detalha. Com o cashout, como explica Mateus, o capital de R$ 500 foi multiplicado por 12 e chegou a R$ 6 mil ao final de setembro.
O universitário Victor Mandarino, 21, é outro bom exemplo de sucesso nas apostas esportivas. Ele iniciou no ramo com R$ 1 mil em maio de 2019, com auxílio de um “tipster” - pessoa que dá dicas sobre apostas. O estudante investiu em futsal e futebol de areia.
“Acordava todo dia (incluindo finais de semana) às 4h30min para não perder nenhuma entrada. Após ele subir um pouco o preço, decidi sair da consultoria e fiquei fazendo por conta própria. Foram duas semanas bem conturbadas, porque eu não sabia quem era bom no mercado, até que conheci um tipster de cashout”, comenta. Com o novo método, ele multiplicou por nove seu investimento inicial e atualmente acumula R$ 9 mil.
Clubes cearenses devem ser afetados pela regulamentação, visto que suas marcas são exploradas diretamente nas apostas. Além disso, sites de aposta devem estar mais presentes no patrocínio das agremiações
Quando se fala sobre apostas esportivas, os principais influenciadores são os agentes que promovem o esporte. No futebol, modalidade mais popular no Brasil, os clubes, com suas marcas, engajamentos e desempenhos, atraem milhões de apostadores, que enxergam nos times uma forma de unir a paixão com ganhos financeiros. No Estado, os principais clubes, Ceará e Fortaleza, são exemplos de engajamento nos principais sites de aposta, visto que estão na elite do futebol nacional. Com isso, a regulamentação afetaria diretamente os clubes.
O Fortaleza foi o primeiro clube do Brasil a ter estampado na sua camisa um patrocínio relacionado a sites de aposta. Isso foi possível após o Governo promulgar uma lei que permite tal atividade, em 2018. A NetBet, que possui sede em Malta, firmou contrato de um ano com o Tricolor do Pici, em 2019. O patrocínio era institucional, de exposição e ativação da marca da casa de apostas.
O presidente do Leão, Marcelo Paz, acredita que a regulamentação da atividade pode trazer benefícios para os clubes. “Pode beneficiar os clubes, de forma que eles passem a ter um percentual de cada aposta, porque as marcas dos clubes serão utilizadas pelas empresas. Os clubes de certa forma geram um atrativo para que os torcedores possam apostar. Então isso precisa ficar bem definido”, comentou.
Porém, ele pontua que ela deve ser feita com cuidado, visando a evitar os malefícios que podem surgir a partir disso. “Eu acho que não tem que ter pressa nessa regularização. Tem que se fazer mecanismos para que evite vício, controle de volume de apostas. Evitar ao máximo qualquer esquema de manipulação de resultados, porque isso acabaria com o brio do futebol”, disse.
O Ceará foi procurado pela reportagem, mas preferiu não se posicionar sobre o assunto.
O universo de apostas esportivas abrange quatro vertentes de apostadores. Em comum, a busca por faturar dinheiro arriscando no esporte. Entretanto, há diferenças nos perfis dos personagens envolvidos no meio virtual dos sites que movimentam milhões através de competições nas inúmeras modalidades. O POVO entrevistou um tipster, especialista que trabalha para um grupo de investidores com o intuito de qualificar as apostas, elevar os rendimentos e diminuir os riscos.
O cearense Eberson Martins, 47 anos, é formado em Administração e trabalha como supervisor logístico em Fortaleza. Ele também é tipster e atua para um grupo de investidores da Inglaterra. Especialista no futebol, o profissional dá importantes dicas e indica os caminhos em busca de apostas que rendam alto retorno. Em entrevista ao O POVO, ele explica a função e as quatro vertentes de apostadores e dá orientações para iniciantes (veja no infográfico).
O caso de Eberson se encaixa na terceira vertente de apostadores. "Ele é um apostador profissional. Só que trabalha para grupos de investidores que apostam. Mas por que o tipster não investe nele mesmo? A resposta está no volume de capital. Na maioria das vezes é mais vantajoso trabalhar para um grupo de investidores ganhando comissão em cima do retorno deles", comenta.
Segundo Eberson, o tipster é especialista em uma ou mais modalidade esportiva. O administrador conta que a maioria dos profissionais deste mercado trabalha para um grupo de investidores através de comissões para no futuro ter a própria banca e capital para investir nas apostas. "O tipster tem conhecimento técnico para o retorno de outras pessoas, mas não tem muito capital."
Eberson é especialista no futebol brasileiro. O grupo inglês contratou o cearense para que ele possa indicar as melhores apostas nos jogos do País. "Eles não têm nível de informação para fazer o investimento e buscam os tipsters. Somos uma espécie de analista para estes grupos."
Geralmente, os contratos dos tipsters com os grupos de investidores são feitos dentro de um período semestral ou anual. A comissão é dada em cima do resultado final dos investimentos após o tempo acordado. Um profissional razoável fatura em média de 4 mil a 6 mil euros.
Em nível profissional, além do tipster, há o trader, quarto tipo de apostador. Este especialista atua numa casa de apostas com a operação da bolsa esportiva. "Eles trabalham dentro da Betfair, que patrocina a Libertadores. Ela é casa de aposta, mas o grande diferencial é que tem bolsa esportiva. Quando você entra no site, pode escolher entre a casa de apostas ou a bolsa", conta.
Os traders compram e vendem cotações e negociam durante o jogo. Os profissionais ganham comissões a partir das operações realizadas.
Mas nem só profissionais investem nos sites de apostas esportivas. A primeira vertente é o apostador recreativo, que busca diversão e dinheiro a curto prazo. Eberson alerta que este tipo de investidor, a longo prazo, acaba sendo vítima das casas. "A casa de aposta obviamente não quer ter prejuízo. Sabe que você ganha no período de um a três meses, mas no final de um período médio ou longo acaba vendo esse dinheiro ir para as casas."
Eberson iniciou nas apostas como diversão. O primeiro contato foi em junho de 2016. No período em que foi apostador recreativo, ele também teve prejuízo. "Com este perfil (de apostador), as casas sempre ganham", afirma.
Por último, a categoria do apostador profissional, considerada a segunda vertente. "Ele busca lucro no médio e longo prazo. Não tem imediatismo de ganhar. Ele faz apostas durante o ano e verifica o quanto aumentou o seu capital. Ele colocou X e, em dezembro, tem X mais 20%. Isso interessa pra ele. Terminou o ano com lucro."
Este tipo de apostador, conforme Eberson, se especializa, analisa equipes, estatísticas, lê jornal, procura saber o máximo sobre os times e os campeonatos para fazer o investimento com o menor risco. (Lucas Mota)
Esta série de reportagens mostra em detalhes como funciona o universo das apostas que movimenta o esporte no Brasil.