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Na Tabuba, estrutura de barraca foi engolida e muros de mansões arrancados
Reportagem Seriada

Na Tabuba, estrutura de barraca foi engolida e muros de mansões arrancados

"Desde 2011 começaram essas marés mais altas e o mar não parou mais de cavar aqui", diz proprietário de barraca na Tabuba, que acumula prejuízos. Mansões têm obras para recuperar muros derrubados pelo avanço das ondas

Na Tabuba, estrutura de barraca foi engolida e muros de mansões arrancados

"Desde 2011 começaram essas marés mais altas e o mar não parou mais de cavar aqui", diz proprietário de barraca na Tabuba, que acumula prejuízos. Mansões têm obras para recuperar muros derrubados pelo avanço das ondas
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Quando seu Dino (Raimundo Nonato Félix Cavalcante), de 52 anos, comprou a barraca Sabor do Mar, em agosto de 2008, o mar da praia da Tabuba estava mais de 120 metros longe do seu estabelecimento. Ele havia trabalhado por muitos anos como garçom na região do Cumbuco. Recebeu a oferta de compra e mirou o investimento como vantajoso.

O negócio foi promissor por alguns anos, até as ondas começarem a lhe cobrar a presença ali. A cada lua cheia aparecia um aviso, o mar ia escavando, chegando mais perto. Em agosto do ano passado, toda a estrutura física da barraca foi abocanhada numa maré mais forte.

O mar engoliu balcão, cozinha, terraço coberto onde ficavam mesas e cadeiras para os clientes, palhoças da parte externa. As instalações precisaram ser recuadas e a entrada foi demolida. “Desde 2011 começaram essas marés mais altas e o mar não parou mais de cavar aqui”, descreve. Nessa época, ele se viu obrigado a custear um paredão de pedras em frente à barraca. Pagou R$ 70 mil. A obra não adiantou.

Raimundo Nonato Felix, dono da barraca Sabor do Mar, na Tabuba, parcialmente destruída pelo avanço do mar
Foto: Fábio Lima/O POVO
Raimundo Nonato Felix, dono da barraca Sabor do Mar, na Tabuba, parcialmente destruída pelo avanço do mar

Na Tabuba, a barraca de seu Dino é um dos pontos mais flagrantes do avanço do mar na orla de Caucaia. Seguindo mais a oeste, duas mansões tiveram os muros arrancados pelas ondas em maio de 2019. Numa delas, os coqueiros tiveram as raízes expostas e o jardim ficou vulnerável. Na casa ao lado, além de coqueiros que havia dentro e fora do terreno da propriedade terem sido arrastados, o muro de 80 metros caiu. A erosão chegou perto de alcançar a piscina. Beirou a borda e levou parte do gramado.

 

A muralha estava sendo refeita, em dezembro, quando O POVO esteve no local. “Estou aqui (trabalhando) desde 1991. Aí em frente tinha uns 150 metros de praia. Sumiu em 20 anos”, relembra o caseiro, que pede para não informar o nome. A obra do muro se estendeu até meados de março, quando foi finalizada. É uma parede de concreto, com uma barreira de pedras à frente para amenizar a energia das ondas.

Maré tão grande como a de 2019 ainda não voltou a acontecer. Mas sempre está nas possibilidades. Os donos de uma casa próxima tentaram erguer um paredão de pedras, mas a obra foi embargada porque teria sido executada sem licenciamento. As ondas derrubaram a ponta do muro.

 


Seu Dino até teve receio, ainda em dezembro, de que a entrevista poderia atrapalhar a frequência de clientes de sua barraca, mas entendeu que sua fala também serviria de alerta. O desenho antigo dos pavimentos da Sabor do Mar, a partir da marcação das paredes, ainda pode ser visto no chão. A situação o obrigou a redimensionar o negócio. A barraca chegou a ter 17 funcionários, em dias mais fartos. Estava com apenas seis em dezembro. 

Isso foi antes dos dias e da rotina serem completamente tomados pelo medo e pela certeza da Covid-19. Em abril de 2020, em pleno período de isolamento social e a obrigatoriedade de fechar o estabelecimento para tentar frear o avanço da Covid-19, o local está ainda mais afetado pela ausência de clientela. Nenhuma maré grande voltou a bater perto da estrutura da barraca, mas sempre é esperado qualquer novo fenômeno meteorológico.

Dino morava no local com a família, mas optou por se mudar como medida de segurança ainda em 2019. Mantinha, até o início de 2020, um vigilante à noite para cuidar do patrimônio. “Acredito que esse mar não tem mais como parar. Do jeito que vem desde 2011 não para mais, não”, sentencia. Em abril, O POVO voltou ao local e o lugar estava trancado por cadeados. Não havia ninguém por perto. O coronavírus veio agravar o que já estava difícil. 

Muro de contenção, concluído em março passado, tem dois metros de altura, e tenta conter o avanço do mar sobre uma casa de veraneio na praia da Tabuba
Foto: Fabio Lima
Muro de contenção, concluído em março passado, tem dois metros de altura, e tenta conter o avanço do mar sobre uma casa de veraneio na praia da Tabuba

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