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Plano de manejo fará estudo das pressões contra o Parque
Reportagem Seriada

Plano de manejo fará estudo das pressões contra o Parque

Segmentos sociais interessados no uso sustentável da floresta, do mangue e do rio Cocó estão dialogando e construindo pontes para conceber o plano diretor da unidade de conservação inserida na zona urbana de Fortaleza
Episódio 2

Plano de manejo fará estudo das pressões contra o Parque

Segmentos sociais interessados no uso sustentável da floresta, do mangue e do rio Cocó estão dialogando e construindo pontes para conceber o plano diretor da unidade de conservação inserida na zona urbana de Fortaleza
Episódio 2
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A sustentabilidade dos 1.571,29 hectares do Parque Estadual do Cocó vem sendo discutida entre representantes da sociedade civil e a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema). Desde janeiro deste ano, com a mediação e execução da Arcadis Design & Consultancy Brasil, oficinas de trabalho gestam a concepção do Plano de Manejo da maior unidade de conservação (UC) e de proteção integral esquadrinhada na Região Metropolitana de Fortaleza.

O Plano de Manejo do Cocó, explica Bruna Bianca Pasquini, coordenadora de projetos da Arcadis, é o documento técnico que estabelecerá o zoneamento e as normas que devem nortear a gestão na UC. Desde a lida com os recursos naturais à implantação das estruturas físicas necessárias no equipamento.

Até aqui, a Arcadis promoveu oficinas de escutas e diálogos entre diversos atores de mais de uma dezena de segmentos sociais interessados no uso sustentável da floresta, do mangue e do rio do Cocó.

Fez também um reconhecimento de campo e elaborou uma lista de pelo menos 30 pressões mais frequentes sofridas pelo território do Parque, que se desenha, principalmente, na área urbana da capital cearense nos municípios de Maracanaú e Itaitinga.

São degradações decorrentes, por exemplo, da ocorrência de obras no entorno imediato do Parque gerando escoamento de sedimentos para dentro da unidade de conservação e para o rio Cocó já assoreado.

Há na lista também o histórico problema do lixão do Jangurussu, que mesmo “desativado”, continua sendo uma chaga na poluição do manancial.

 

Corredores ecológicos

Um rosário de entraves. Como a falta de gestão de unidades de conservação municipais que fazem limites com o Parque do Cocó, que poderia estabelecer corredores ecológicos para conservação da fauna e flora sobrevivente.

É caso das abandonadas Arie de Relevante Interesse Ecológico das Dunas do Cocó (Arie) e do Parque das Dunas da Sabiaguaba, duas UCs ignoradas Prefeitura de Fortaleza.

Os dados sobre as pressões contra o Parque estão disponíveis para quem participou da primeira oficina de trabalho, em janeiro deste ano, no site Ações para preservação e recuperação do Rio Cocó. No próximo dia 26/5, ocorrerá uma nova rodada de diálogos e debates. Desta vez, informa Bruna Pasquini, o encontro será virtual.

Por causa da pandemia da Covid-19, a oficina de Diagnóstico do Plano de Manejo será via a plataforma Blue Jeans. Na ocasião, será apresentada a síntese dos problemas que terão de ser resolvidos depois da escrita e aprovação final do “plano diretor” do Cocó.

Antes da oficina, para afunilar o que é urgente no que se refere ao uso e a preservação da unidade de conservação, os participantes foram instigados a eleger, individualmente, cinco problemas/pressões que teriam de encabeçar a lista de prioridades para soluções.

 

Zoneamento do Parque

O próximo passo, depois da consolidação e aprovação do documento do Diagnóstico, será a definição do zoneamento do Parque. É a delimitação dos territórios dentro e na borda do Parque e a escrita legal do que é permitido ou não nessas áreas.

São discussão baseadas no que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e o Roteiro/2018 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Como o Cocó está inserido em uma zona urbana tem-se de buscar um equilíbrio e reduzir o impacto no uso da floresta. É preciso resguardar o ecossistema sobrevivente e, no paralelo, atender à população com demandas ligadas, por exemplo, ao lazer e ao esporte.

“É a definição dos espaços destinados ao uso público sustentável e o que é inegociável na unidade de conservação para garantir a permanência da biodiversidade. E, mesmo na utilização das áreas destinadas às pessoas, a população tem de aprender que não está usando uma praça qualquer. Que aquele equipamento é parte de uma floresta, de um mangue, de um rio, de um Parque protegido na cidade”, traça Bruna Pasquini.

O documento final do Plano de Manejo do Parque do Cocó será apresentado e submetido à aprovação até julho deste ano, caso os efeitos colaterais da pandemia da Covid-19 não estabeleçam mais guinadas no roteiro de trabalho previsto pela Arcadis Design & Consultancy Brasil e pela Secretaria do Meio Ambiente do Ceará.

Paralelo à elaboração do plano de manejo, também está sendo gestado um Pacto pela recuperação da bacia hidrográfica do rio que rebenta na serra da Aratanha, em Pacatuba.

 

Os entraves do Parque do Cocó

 

Mapa das Pressões no Parque do Cocó em Fortaleza(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Mapa das Pressões no Parque do Cocó em Fortaleza

01
Presença de obras no entorno imediato do Parque do Cocó, gerando escoamento de sedimentos (erosão) para dentro do território e para dentro do rio Cocó (assoreamento) assoreamento (exemplos: vias paisagísticas e Projeto Rio Cocó)

02
Depósito de lixo e entulho dentro e no entorno

03
Lançamento de esgoto sem tratamento para dentro do Parque e direto no rio Cocó

04
Presença de mais de 1.200 imóveis no interior do Parque

05
Construções irregulares dentro da unidade de conservação (UC)

06
Presença de imóveis para fins de serviço e comércio dentro do Parque

07
Ocorrência de pesca irregular no rio Cocó

08
Ocorrência de caça

09
Retirada de lenha e desmatamento

10
Ocorrência paredões de som nas praias da Sabiaguaba e Caça e Pesca

11
Poluição sonora – shows e eventos – dentro e no entorno do Parque

12
Presença do lixão Jangurussu nas margens do rio Cocó

13
Ocorrência de fogueiras/fogo/incêndio

14
Realização de churrasco dentro do Parque

15
Realização de sandboard e escorrega nas Dunas de Sabiaguaba

16
Subida nas Dunas de Sabiaguaba para admirar o pôr do sol

17
Utilização de fogos de artifício dentro da UC

18
Pisoteamento da vegetação e ninhos em áreas sensíveis à fauna

19
Instalações e uso das trilhas

20
Trânsito motorizado (carro, veículos 4x4, quadriciclo, barco, jetsky) dentro do Parque

21
Presença de espécies da flora exóticas e invasoras

22
Presença de espécies da fauna exóticas (gato, cachorro, cavalo, boi, porco)

23
Drenagem urbana conduzindo água, lixo e espécies exóticas sazonalmente

24
Dragagem do rio Cocó com abertura de acesso, desmatamento, alteração do ambiente aquático e depósito de sedimento e lixo removido na margem do rio

25
Áreas violentas no entorno do Parque (dificultando o acesso a determinadas áreas)

26
Roubo das cercas/grades do PEC

27
Ausência de sinalização informativa e educativa no entorno e interior da UC

28
Pouca comunicação à população sobre a criação, tamanho e finalidade do Parque

29
Existência de campos de futebol na unidade de conservação

30
Pouca inserção dos serviços públicos nas comunidades tradicionais


Sobre o Parque Cocó

 

O Parque Cocó é uma unidade de conservação estadual. Está localizado na extensão dos municípios de Maracanaú e Fortaleza, no Ceará. Com 1.571, 29 hectares é o maior parque, em zona urbana, da região Norte e Nordeste do Brasil e o quarto na América Latina.
Em Fortaleza, onde está o maior fragmento do Parque do Cocó é a área mais frequentada. A cartografia registra uma floresta de manguezal e uma área de dunas. O Parque segue o curso do rio Cocó que nasce na serra da Aratanha, em Pacatuba, e desemboca no Atlântico na praia da Sabiaguaba.
Em Fortaleza, estão localizadas as trilhas abertas à visitação. Na avenida Sebastião de Abreu são pelo menos nove: a dos Guaiamuns (principal), a trilha do Rio, as das Duas Lagoas, a trilha do Túnel, a trilha dos Pica-paus; a trilha do Catavento/Lavadeiras, a do Lago das Ninfeias, trilha dos Piqueniques e a trilha do Adahil Barreto.
Depois de 40 anos de luta do movimento ambientalista em Fortaleza, o governador Camilo Santana legalizou as poligonais do Parque do Cocó. Em 4 de junho de 2017, a unidade de conservação foi oficializada e protegida da pressão imobiliária.
O Parque do Cocó se integrou, desde junho de 2017, ao Sistema Nacional de Unidades de Conservações do ICMBio. No que restou da floresta de manguezal, em meio a área urbana de Fortaleza, existe pelo menos um animal na lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente em risco de extinção: o guaiamum (Cardisoma guanhumi).
Em 2011, O POVO publicou dois cadernos especiais de reportagens: Expedição Cocó 1 – aves e o Expedição Cocó 2 – outros bichos. O repórter Demitri Túlio fez o primeiro levantamento de aves da área da Sebastião de Abreu e Adahil Barreto, tendo catalogado, na época, mais de 80 espécies. Entre elas, o Arapaçu-grande (Dendrocolaptes platyrostris). Um registro importante para uma área muito degradada pela urbanização.
Sábados, domingos e feriados, o Parque do Cocó oferece passeios de barco da ponte da avenida Sebastião de Abreu a Engenheiro Santana Júnior. E da Sebastião de Abreu à praia da Sabiaguaba (agendado). Informação: (85) 98527 8216 / 99205 3948 (Araújo) e @navegacao_coco


 

 

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