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Território ampliado: Parque do Cocó ganhará mais nove hectares em Fortaleza
Reportagem Seriada

Território ampliado: Parque do Cocó ganhará mais nove hectares em Fortaleza

Parte das dunas que ainda sobrevivem no bairro Cidade 2000, no litoral de Fortaleza, serão anexadas ao Parque do Cocó. Dos 20 hectares que lá existem, nove farão parte do mapa floresta urbana protegida
Episódio 3

Território ampliado: Parque do Cocó ganhará mais nove hectares em Fortaleza

Parte das dunas que ainda sobrevivem no bairro Cidade 2000, no litoral de Fortaleza, serão anexadas ao Parque do Cocó. Dos 20 hectares que lá existem, nove farão parte do mapa floresta urbana protegida
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Uma notícia boa em meio à pandemia da Covid-19. O Parque do Cocó terá mais nove hectares de dunas acrescidos à sua poligonal, em Fortaleza. A área, onde iria ser construído um conjunto habitacional, fica no bairro Cidade 2000. Agora, a unidade de conservação e proteção integral passará a ter 1.580,29 hectares. De acordo com Artur Bruno, secretário do Meio Ambiente do Ceará (Sema), o decreto para incorporação da área está na Procuradoria do Estado e seguirá para o governador Camilo Santana (PT) assinar.

O POVO - O fechamento do Parque do Cocó, por causa da pandemia da Covid-19, trouxe alguma experiência de gestão ou ecológica que poderá ser replicada?

Artur Bruno - Percebemos que o fechamento do Parque tem feito com que alguns animais se aproximem mais das áreas de trilhas onde, normalmente, tem a ocupação humana diariamente. O Parque abria todos os dias. Refletimos com o gestor da unidade, Paulo Lyra, e iremos apresentar para o Conselho Gestor a proposta de fechar o Parque às segundas-feiras na área das trilhas. O espaço externo onde há quadra, calçadão e areninha permanecerá aberto. A gente não tinha pensado nisso antes, mas é uma experiência necessária para um certo repouso para a flora e fauna uma vez na semana.

Artur Bruno, secretario do Meio Ambiente do Ceará (Foto: Mauri Melo/O POVO).
Foto: MAURI MELO/O POVO
Artur Bruno, secretario do Meio Ambiente do Ceará (Foto: Mauri Melo/O POVO).

O POVO – Como equacionar a presença humana e a sustentabilidade?

Artur Bruno – A criação e a regulamentação do Parque têm três grandes objetivos: o primeiro é preservar/despoluir o rio Cocó. O segundo, preservar a flora e a fauna. E o terceiro é estabelecer a relação do uso público sustentável desses recursos naturais que a floresta exibe. A população usufrui dos ativos naturais, mas aprende a preservá-los com a educação ambiental. Nas áreas degradadas, estamos criando equipamentos de esporte e lazer para trazer a família, jovens, crianças e idosos para conviver com o Parque. Cada vez mais, vamos fazendo com que a população desenvolva o sentimento de pertencimento.

O POVO – O Plano de Manejo do Parque do Cocó está em andamento. Quais as questões que serão intangíveis para a existência da unidade de conservação?

Artur Bruno – Teremos, nos dias 26 e 27 deste mês, audiências públicas virtuais. A maior parte do Parque continuará intangível até porque ele é imenso. São 1.571,29 hectares e estamos ampliando mais nove hectares numa área de duna na Cidade 2000. Então, serão 1.580, 29 hectares. O Parque acompanha 20 km do rio Cocó, desde o limite com Itaitinga e Maracanaú até a foz entre as praias de Caça e Pesca e da Sabiaguaba. Portanto, algumas pequenas áreas serão de uso mais direto da população. O restante, a quase totalidade, é de preservação da fauna e da flora. Evidentemente, precisamos reflorestar várias áreas que foram destruídas pela sociedade em vários bairros.

"O governo desistiu porque mostramos que era uma duna, uma área de preservação e nós incorporamos esses nove hectares ao Parque"

O POVO – Os nove hectares eram de ocupação irregular?

Artur Bruno – Os nove hectares já eram do Governo do Ceará. Ficam naquela duna, atrás da última rua do bairro Cidade 2000. Ali, tem uma duna de 20 hectares, nove já eram do governo. Na época do governo Cid Gomes (PDT), a ideia era fazer lá um conjunto habitacional para o pessoal que foi retirado da comunidade do Trilho por causa das obras do Veículo Leve sob Trilhos (VLT). O governo desistiu porque mostramos que era uma duna, uma área de preservação e nós incorporamos esses nove hectares ao Parque. Estamos só aguardando um decreto que está na Procuradoria do Estado para liberar e governador assinar. Serão 1.580,29 hectares.

O POVO – Geralmente, quando se fala do Parque do Cocó, a primeira referência é à área das trilhas que fica no miolo mais assistido de Fortaleza. O que mudará para o restante da unidade de conservação com o Plano de Manejo?

Artur Bruno – Todas as áreas de lazer e de esportes que estão sendo construídas foram propostas pelo concurso de ideias (realizado em 2018). Ampliamos a área de esportes do Adahil Barreto e melhoramos a da Padre Antônio Tomás quando criamos a areninha (que proporcionou a desativação de um campo de futebol no interior do Parque na Engenheiro Santana Júnior). Vamos criar uma areninha e uma quadra poliesportiva, parque infantil e academia de ginástica na Raul Barbosa num terreno dois hectares no São João do Tauape. Vamos reformar uma área de esporte vizinha ao Batalhão de Policiamento Ambiental, também na Raul Barbosa (Lagamar). Na BR-116, onde há 20 anos foi feita uma praça e, hoje, está completamente destruída (antiga favela do Gato Morto), iremos fazer uma areninha, dois quilômetros de calçadão e outros equipamentos. Na Sabiaguaba, numa área desmatada na CE-010, iremos fazer uma areninha e uma brinquedo/praça. E em outra área degradada, no Dendê, iremos fazer uma praça Mais Infância e uma areninha. Ao todo, são oito áreas degradas ou desmatadas que serão estruturadas com lazer e esporte.

"O Plano de Manejo do Cocó, juntamente com o Conselho Gestor do Parque, vai nortear que equipamentos podem conviver com o Parque"

O POVO – Mas essas obras se adequarão ao Plano de Manejo?

Artur Bruno – Evidente que o Plano de Manejo dará muitas ideias, muitas sugestões. Há uma ideia com a comunidade tradicional da Sabiaguaba, a Casa de Farinha, de se trabalhar o turismo ecológico. Há proposta de construção de um píer para que se possa receber visitas. O Plano de Manejo do Cocó, juntamente com o Conselho Gestor do Parque, vai nortear que equipamentos podem conviver com o Parque. E estamos fazendo reflorestamento, foram plantadas 20 mil árvores nos últimos três anos.

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O POVO – E a dragagem do rio?

Artur Bruno – A dragagem está sendo feita por uma empresa que foi licitada pela Secretaria das Cidades. É no trecho entre a avenida Paulino Rocha (na Boa Vista) até a avenida Engenheiro Santana Júnior. Uma parte foi feita, mas, com as chuvas e a pandemia, o ritmo diminuiu. No segundo semestre, nós deveremos lançar o Pacto pelo Cocó. A ideia é envolver a sociedade cearense, sobretudo da área metropolitana, com essas ações e a preocupação com a sustentabilidade do Parque. Serão convidadas as universidades, as federações de empresários, associações de trabalhadores, prefeituras e ONGs. Envolveremos os 14 bairros por onde perpassa o Cocó e mais os trechos de Maracanaú e Itaitinga. A proposta é também trabalhar em torno da recuperação dos 45 quilômetros da bacia hidrográfica do Cocó, desde a nascente até a foz. É um plano de recuperação, saneamento e reflorestamento do Cocó e de seus afluentes.

* Em 18 de junho de 2017, O POVO publicou o especial Parque do Cocó - os desafios pós-demarcação, que trouxe o vídeo abaixo. 

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