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O cinema brasileiro no rosto de atrizes do Ceará
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Arthur Gadelha é crítico de cinema do O POVO, ex-presidente da Aceccine e membro da Abraccine. Acompanha as estreias nacionais e os passos do cinema cearense, cobrindo eventos internacionais como Cannes, Gramado, Globo de Ouro e Oscar. Nessa coluna, propõe uma escrita mais imersiva com análises e reflexões pessoais, trazendo também bastidores de filmes, festivais e premiações, além de refletir sobre o papel da crítica de arte no mundo

Arthur Gadelha arte e cultura

O cinema brasileiro no rosto de atrizes do Ceará

2025. Não poderia ter um ano mais interessante para se deparar com tantos rostos cearenses – no cinema, no streaming e na TV
Primeira fileira da esquerda para direita: Fátima Macedo, Noá Bonoba, Ana Luiza Rios, e Geane Albuquerque; segunda fileira da esquerda para direita: Amandyra, Larissa Góes, Jupyra Carvalho e Margot Leitão (Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Primeira fileira da esquerda para direita: Fátima Macedo, Noá Bonoba, Ana Luiza Rios, e Geane Albuquerque; segunda fileira da esquerda para direita: Amandyra, Larissa Góes, Jupyra Carvalho e Margot Leitão

Na semana passada eu abri o Instagram e o mesmo rosto apareceu para mim três vezes, em publicações sequenciadas, como se fosse seleção de um trabalho curatorial. Mas não, foi uma mistura de coincidência com inevitabilidade que me fez ver Fátima Macedo, três vezes, como se me dissesse silenciosamente que dela eu não poderia fugir.

Um rosto escondido nas sombras ameaçadoras de “A Praia do Fim do Mundo”, suspense marítimo de Petrus Cariry em que ela vive uma filha perdida da mãe. Um rosto enlutado ainda sem morte de “Manas”, drama da Mariana Brennand, história em que ela dá vida a uma mãe ferida diante da filha.

Um rosto dourado pelo sol do sertão em “Guerreiros do Sol”, novela da Globoplay que engata uma fábula própria sobre o cangaço no nordeste brasileiro. Fátima está por detrás de todos esses rostos.

Na semana seguinte, ela apareceu de novo. Além de estar no elenco de “Pssica”, nova série da Netflix produzida no Pará, surgiu ao lado de Margot Leitão em “Peixe Morto”, curta-metragem de João Fontenele que venceu o Prêmio Canal Brasil no 35º Cine Ceará, semana passada.

Eu estava na premiação do 18º For Rainbow, no Cinema do Dragão, quando Margot venceu o seu primeiro prêmio de atriz da carreira, então pelo filme “Raposa”, que ela codirigiu com João. Um ano depois ela estava lá na tela do São Luiz, de novo.

Nesta mesma edição do Cine Ceará, outros dois rostos foram reverenciados pela plateia – um deles pertence a Noá Bonoba, a Madalena emblemática de “Morte e Vida Madalena”, novo filme do Guto Parente que foi exibido no encerramento do festival.

Noá Bonoba em "Morte e Vida Madalena"(Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Noá Bonoba em "Morte e Vida Madalena"

Como primeiro longa-metragem que protagoniza, Noá constrói uma personagem com drama e humor diante de um conflito: lidar com a gravidez do primeiro filho e com a direção de um filme do seu falecido pai, que não lhe pertencia, mas que de repente virou sua obrigação.

O outro é de Geane Albuquerque, atriz que conheci no palco do teatro com “Tchau, Amor”, peça de Andreia Pires, lá no Teatro do Dragão do Mar.

Anos mais tarde, me deparava com seu rosto disfarçado sob maquiagem, cabelo e roupas dos anos 1970 na fábula grave de “O Agente Secreto” - seu papel é breve, tem umas três falas no máximo, mas não passa despercebida. Depois ela passou de novo na comédia circular “Fogos de Artifício”, também da Andreia, que concorreu na Mostra Brasileira de Curtas.

Lá em Cannes, em maio, fui surpreendido com outro bastante familiar: Ana Luiza Rios, protagonista de um dos curtas-metragens do Directors’ Factory Ceará Brasil. O programa realizado em parceria da Quinzena dos Cineastas e o Governo do Ceará reuniu quatro cineastas do Brasil e quatro internacionais para a produção.

Ana Luiza Rios em "Ponto Cego"(Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Ana Luiza Rios em "Ponto Cego"

Em “Ponto Cego”, dirigido pela cearense Luciana Vieira e pelo cubano Marcel Beltrán, Ana Luiza empresta seu rosto à tela grande para dar vida a uma grande agonia pautada pela aflição e pelo silêncio.

Para se ter uma ideia de como seu rosto soa familiar para a cinefilia cearense, basta lembrar que nos últimos anos ela esteve em Mais Pesado é o Céu (2023), A Filha do Palhaço (2022) e “Cabeça de Nego” (2020). Isso sem citar os curtas, como “Cáustico” (2023) e “Marco” (2019).

Tão longe de Fortaleza, às 10h da manhã num cinema de rua da França, de repente me deparo com seu rosto e volto para casa.

Nessa mesma coletânea, o curta-metragem “A Vaqueira, A Dançarina e O Porco”, de Stella Carneiro e Ary Zara, fez uma junção fascinante: Amandyra e Jupyra Carvalho, que haviam brilhado em 2024 com “Greice” e “Motel Destino”, respectivamente, formam um casal lésbico que foge de cavalo pelas ruas escuras da cidade para encontrar a liberdade.

Outro rosto que voltou neste ano foi Larissa Góes, atriz que fui ver de fato em “Meninas do Benfica” (2022), série da Roberta Marques gravada em Fortaleza que se passa no contexto das manifestações em junho de 2013.

Fátima Macedo e Larissa Góes em "Praia do Fim do Mundo"(Foto: Divulgação/Assessoria)
Foto: Divulgação/Assessoria Fátima Macedo e Larissa Góes em "Praia do Fim do Mundo"

Ela já tinha estado em obras televisivas, como a novela “Velho Chico” (2016) e o especial de Natal “Baião de Dois” (2018). Em 2025, ela volta praticamente ao lado da Fátima participando também de “Guerreiros do Sol” e “Praia do Fim do Mundo”.

Todos esses rostos foram surgindo de forma muito natural e, de repente, cruzaram-se no mesmo ano: na televisão, no streaming e no cinema.

Percebo que é um jeito delicado de perceber que estamos num lugar eletrizante do espaço-tempo para fazer e assistir cinema, no Ceará, como se essas atrizes viessem do futuro para nos dizer o óbvio: delas, não escaparemos.

Foto do Arthur Gadelha

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