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Rossi, Lira e o namoro entre Ciro e o DEM
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Rossi, Lira e o namoro entre Ciro e o DEM

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Quando um relacionamento entre duas pessoas começa a ficar sério, geralmente chega aquele momento potencialmente constrangedor - mas sempre importantíssimo na vida do casal - de um conhecer a família do outro. Ainda que não seja decisiva para a continuidade da relação, a aprovação daqueles mais próximos quase sempre acaba tendo algum peso na hora de definir se a coisa anda para frente ou não. Na última semana, foi a vez do grupo dos Ferreira Gomes no Ceará trazer Rodrigo Maia (DEM-RJ) para conhecer a "família" no Estado.

Metáforas à parte, passagem de Maia e de Baleia Rossi (MDB-SP) por Fortaleza na última quarta-feira foi, a preço de hoje, a mais clara e simbólica sinalização da crescente relação entre Ciro Gomes (PDT) e o DEM na política em escala nacional. Ciceroneados na capital cearense pelo próprio irmão de Ciro, o senador Cid Gomes (PDT), Maia e Rossi se reuniram com Camilo Santana (PT) e base governista em mostra pública de apoio para a candidatura do emedebista à presidência da Câmara dos Deputados. Dos 22 deputados cearenses, 12 compareceram, com promessa de que o governador e seus aliados buscariam diálogo com aqueles que declaram voto ao adversário de Rossi na disputa, Arthur Lira (PP-AL).

FORTALEZA, CE, BRASIL, 13.01.2021: Visita de Rodrigo Maia e Baleia Rossi no Palacio da Abolição, reunião com Camilo Santana e Deputados. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).
Foto: Aurelio Alves
FORTALEZA, CE, BRASIL, 13.01.2021: Visita de Rodrigo Maia e Baleia Rossi no Palacio da Abolição, reunião com Camilo Santana e Deputados. Em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO).

É simples: Maia quer eleger Rossi, Ciro quer cair nas graças de Maia. Não é de hoje que o primogênito Ferreira Gomes tenta, pelas "beiradas", construir uma relação sólida com o DEM de olho em uma aliança com o partido nas eleições presidenciais. Em 2016, o grupo do PDT puxou a sigla para perto, indicando sua figura mais popular no Estado, Moroni Torgan (DEM), para a vice de Roberto Cláudio (PDT) na disputa pela reeleição. Em 2018, Ciro insistiu na composição com o DEM, que acabou desmontada pela adesão deles à apagadíssima candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ao Planalto.

Acontece que, de lá para cá, muita coisa mudou no Brasil - e no DEM. Antes pulverizado entre diversas lideranças, o partido tem se concentrado cada vez mais nas figuras de Rodrigo Maia no Rio de Janeiro e de ACM Neto na Bahia. A sigla também tem caminhado cada vez mais em direção ao centro do espectro político, sendo muito mais palatável para Ciro, que tenta se vender como um candidato de centro-esquerda, uma aliança com esse "novo" DEM do que com o da época dos governos petistas, de discurso marcadamente conservador e reacionário. A prova disso é só lembrar o choque que foi a chegada de Moroni ao grupo pedetista cearense, sentimento que hoje dificilmente se repetiria da mesma forma.

Recentemente, Rodrigo Maia disse em entrevista ao Roda Viva que, mesmo com o apoio formal do Democratas a Alckmin, votou em Ciro em 2018. Dando de bandeja a ele uma mostra pública de apoio e promessa de militância do governador e da base de um dos estados mais populosos do Brasil, os Ferreira Gomes deixam claro para o Brasil que as intenções deles com o DEM são mais que um flerte de ocasião. Pelo menos, é o que estará registrado nos jornais.

Amigos amigos...

Acontece que não foi só Baleia Rossi que passou pelo Ceará na última semana. Um dia depois da passagem em Fortaleza do candidato de Rodrigo Maia na sucessão da Câmara, veio também à capital cearense na quinta-feira o candidato do governo Jair Bolsonaro na disputa, Arthur Lira (PP-AL). A agenda era a mesma do adversário, angariar apoios de olho na eleição e dar mostras de força. Nas falas oficiais, o nome do Centrão evitou se considerar um candidato da "direita radical" e tentou fugir da polarização entre Maia e Bolsonaro na disputa.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-01-2021: Deputados Federais Capitão Wagner, (PROS-CE) AJ Albuquerque (PP-CE), Arthur Lira (PP-Alagoas) e Domingos Neto (PSD-CE). Coletiva na Assembléia Legislativa do deputado Arthur Lira (PP-Alagoas), candidato à presidência da Câmara dos deputados..(Foto: Júlio Caesar / O Povo)
Foto: JÚLIO CAESAR
FORTALEZA, CE, BRASIL, 14-01-2021: Deputados Federais Capitão Wagner, (PROS-CE) AJ Albuquerque (PP-CE), Arthur Lira (PP-Alagoas) e Domingos Neto (PSD-CE). Coletiva na Assembléia Legislativa do deputado Arthur Lira (PP-Alagoas), candidato à presidência da Câmara dos deputados..(Foto: Júlio Caesar / O Povo)

...Negócios à parte

Para quem não acompanha a política local tão de perto, pode ter chamado a atenção na passagem de Lira pelo Ceará a presença de aliados próximos do governo Camilo Santana entre a equipe de recepção do deputado no Estado. Os guias turísticos incluíam desde Domingos Neto (PSD), filho do líder maior do PSD no Estado, o ex-conselheiro do TCM Domingos Filho, a AJ Albuquerque (PP), filho de Zezinho Albuquerque (PDT), atual secretário das Cidades do Ceará e ferreiragomista dos mais históricos e fiéis.

Camilo e Lira

Inicialmente, Camilo Santana teria tentado agradar e troianos nas passagens de Rossi e Lira pelo Ceará. Mesmo com preferência clara pelo preferido de Rodrigo Maia na disputa, o governador teria ventilado entre aliados a possibilidade de receber o candidato bolsonarista na visita a Fortaleza. O diálogo, no entanto, foi travado principalmente pela presença de um deputado na comitiva que recepcionou Lira no Estado: o oposicionista Capitão Wagner (Pros).

Santa polarização

Principal adversário político do grupo dos Ferreira Gomes no Ceará, Capitão Wagner acabou roubando a cena na visita de Arthur Lira, gerando novo aspecto da polarização entre grupos do Pros e do PDT. Apoiando o candidato do Centrão, Wagner faz também novo aceno à base de apoio bolsonarista no Estado. Em 2020, todas as principais lideranças que apoiam o presidente marcharam com o militar na disputa pela Prefeitura de Fortaleza, com o próprio presidente declarando voto a Wagner contra José Sarto (PDT).

Racha

Mesmo com a presença de Wagner dando peso político diferenciado para a situação da bancada cearense na eleição da Câmara dos Deputados, a divisão entre Rossi e Lira não reflete na base aliada do governo Camilo no Estado. A preço de hoje, vários aliados do petista estão com o candidato do bolsonarismo na disputa. O resultado sai em fevereiro.

 

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