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Pequeno passo de dinossauro, gigante passo de uma humana
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Repórter do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste

Catalina Leite ciência e saúde

Pequeno passo de dinossauro, gigante passo de uma humana

Para inaugurar essa coluna sobre ciência e meio ambiente, um viva aos primeiros passos e às descobertas científicas
Tipo Opinião
Reconstituição da situação em que as pegadas do novo icnogênero Sousatitanosauripus robsoni foram produzidas. (Foto: Lucas Mateus e Matheus Gadelha)
Foto: Lucas Mateus e Matheus Gadelha Reconstituição da situação em que as pegadas do novo icnogênero Sousatitanosauripus robsoni foram produzidas.

Um dos locais mais mágicos do roteiro fóssil do Brasil é o Vale dos Dinossauros, no oeste da Paraíba. O local preserva no solo pegadas milenares tão importantes que merecem até nome científico.

Convenhamos, é muito empolgante ver o esqueleto de dinossauros e pterossauros brasileiros, mas as pegadas têm um gostinho a mais. São a prova cabal de que esses animais passaram pelas mesmas estradas que nós, usufruindo de uma vida dinâmica e agitada, diferente da estática dos ossos nos museus.

A região ficou ainda mais especial com a recente descoberta da doutoranda Zarah Trindade Gomes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ainda no mestrado, ela descreveu um novo agrupamento de pegadas de um Titanosauriforme, um tipo de dinossauro pescoçudo "saurópode" que caminhou pelas margens de um lago na região do município de São João do Rio do Peixe (PB) há mais de 125 milhões de anos.

O conjunto de sete pegadas de “mãos” e “pés” preserva com surpreendente riqueza um momento intermediário na evolução desses animais. Naquela época, eles ainda davam passos curtinhos, como os parentes mais antigos deles, mas já tinham mãos sem garras, coisa que viria a ser padrão para quando esses dinossauros alcançassem alturas gigantescas no fim do período Cretáceo.

Zarah Gomes, autora da pesquisa, ao lado das pegadas. O saurópode dono da pista deveria ter 3,3m na altura do quadril e entre 12m e 15m de comprimento.(Foto: Aline Ghilardi)
Foto: Aline Ghilardi Zarah Gomes, autora da pesquisa, ao lado das pegadas. O saurópode dono da pista deveria ter 3,3m na altura do quadril e entre 12m e 15m de comprimento.

A descoberta publicada na revista científica Historical Biology não só contribui para o avanço da construção do quebra-cabeça evolutivo dos dinossauros, mas reforça a importância paleontológica do Nordeste a nível mundial. Todos os estados da região guardam vestígios fósseis muito bem conservados de diferentes eras geológicas, e têm sido pontos chave para a construção do conhecimento científico da área. Não é à toa que nossos fósseis são tão disputados pelo Norte global…

O detalhe mais querido dessa história talvez seja o nome dado à pegada: Sousatitanosauripus robsoni. O segundo nome é uma homenagem a Robson Araújo Marques, conhecido como "o guardião do Vale dos Dinossauros”. Ele faleceu em 2021, aos 77 anos, após anos de colaboração na descoberta de pistas de dinossauros e na proteção e divulgação do patrimônio paleontológico do local.

Além de Zarah, a pesquisa teve a participação da mestranda Rebecca Erickson (UFRN) e da orientadora Aline Ghilardi (UFRN), juntamente com o pesquisador associado à Universidade Regional do Cariri (Urca), Tito Aureliano.

O pesquisador Tito Aureliano ao lado do guardião do Vale dos Dinossauros, Robson Araújo Marques.(Foto: Tito Aureliano)
Foto: Tito Aureliano O pesquisador Tito Aureliano ao lado do guardião do Vale dos Dinossauros, Robson Araújo Marques.

Escolhi essa notícia para inaugurar esta coluna de Ciência e Meio Ambiente por motivos quase egoístas. Antes de tudo, apresento-me: meu nome é Catalina Leite e sou repórter especializada em ciência, meio ambiente e clima do O POVO+. Comecei no jornalismo científico em 2020, acompanhando o início (e, três anos depois, o fim) do caso Ubirajara jubatus, um fóssil do Cariri cearense traficado nos anos 1990 para a Alemanha. Por isso, nada melhor do que começar com uma coluna sobre paleontologia.

Desde então, minha cobertura de ciência sempre esteve pautada pelo decolonialismo, pelo regionalismo, pela questão de gênero e pela compreensão de que a ciência também é cultura. São quatro “checks” na história compartilhada hoje. Abracei a cobertura de meio ambiente e clima, também apoiada nesses valores, e aqui estamos nós.

A inauguração desta coluna é um passo pequeno para um dinossauro, mas gigante para esta humana. Assumo o compromisso de quinzenalmente falar com vocês sobre ciência e meio ambiente de maneira crítica, descontraída e atual.

A ideia é promover debates sobre ciência, ética, cultura e ambientalismo, além de trazer novidades científicas variadas. Por aqui, todo conhecimento é válido e tudo pode ser uma oportunidade para admirar e refletir sobre o fazer científico. Se é o que você procura, basta acionar o sininho e vir conversar na próxima coluna!

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