Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
Da mineração em terras indígenas à contradição de Lula e o "lenga-lenga" do Ibama. Por onde começar a descrever a crise (e a desonestidade) política envolvendo a pauta ambiental?
Foto: EVARISTO SA / AFP
Presidente Lula (PT) pressiona Ibama para aprovar exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que compõe a Margem Equatorial
Dezenas de vídeos de agricultores descartando alimentos perfeitamente comestíveis preenchem minha timeline. O agronegócio quer aumentar o preço dos produtos ao apelar para a baixa oferta e alta demanda, dizem. Enquanto isso, 8,93 milhões de pessoas passam fome no Brasil.
Dias antes, o presidente da 30ª Conferência das Partes pelo Clima (COP30), André Correa do Lago, afirmou em entrevista à BBC News Brasil que “não há contradição” entre o governo Lula querer explorar o petróleo da Foz do Amazonas ao mesmo tempo em que se promove como uma liderança ambiental de combate à crise climática. “Preciso escrever sobre isso”, pensei.
Não houve tempo: logo, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), eleito também pelos discursos em defesa ao meio ambiente, ataca o Ibama. Diz que o órgão ambiental está de “lenga-lenga”, atrasando a autorização para explorar o petróleo da Margem Equatorial.
Preciso escrever sobre isso, penso novamente, enquanto edito o ótimo primeiro episódio da reportagem do O POVO+ sobre o uso de drones para pulverizar agrotóxicos no Ceará, assinado por Karyne Lane. Ainda bem que estamos falando sobre isso.
O golpe final é noticiado pelo InfoAmazonia: “Governo anuncia leilão para mais 47 blocos de petróleo na Foz do Amazonas”. Marcado para 17 de junho, a pressa é muita. No total, serão ofertados 332 blocos pelo país.
Parte da região marinha do Ceará também entra no negócio. Lembram do drama do vazamento de petróleo no litoral nordestino em 2019?
Foto: Leo Malafaia / AFP
Em 2019, durante vazamento de petróleo no litoral nordestino, Everton Miguel dos Anjos, de 13 anos, ajudou na retirada dos resíduos
No meio das notícias, minha pressão cai de tanto calor. Que calor, meu Deus. A quentura parece marcar a mim e a cada um dos brasileiros com os sintomas da exaustão corporal pela temperatura. Noutro dia, ele é substituído pelos alagamentos e inundações de chuvas bíblicas.
Será o aquecimento global antrópico, provocado pela queima de combustíveis fósseis, a causa da “lenga-lenga” do Ibama?
Não acredito que seja uma questão de crise política. Acho que é desonestidade mesmo. É a volta da lógica dos ditadores militares, que cortaram estradas pelo Brasil inteiro no sonho norte-americano de entupi-las de carros papa-gasolina.
Tudo vale em nome do desenvolvimento que nunca chega. 50 anos (para destruir o Brasil) em 5, gritavam os ditadores. E Lula parece dizer: Drill, baby, drill!
Há um desejo maldoso e muito masculino — ainda vou escrever sobre isso — em persistir na ideia de desenvolvimento pelo petróleo, em lutar pela manutenção da fome e da pobreza. Nos vídeos das minhas redes sociais, melancias quebram-se ao chão em cor vermelho sangue.
Como começar a explicar a verdadeira distopia que vivemos? O fascismo de volta, a validação e a midiatização do genocídio, a chuva de veneno? Como começar a explicar que o cerne é o estupro da natureza?
Acho que dessa vez minha coluna não vem com respostas. Apenas um grande desabafo de que precisamos escrever sobre isso, mesmo quando é tão difícil acompanhar a sequência interminável de absurdos. E você precisa ler.
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