Oscar 2021: "Os 7 de Chicago" busca comunicação fácil a partir de abordagem "meio-termo"
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Oscar 2021: "Os 7 de Chicago" busca comunicação fácil a partir de abordagem "meio-termo"
"Os 7 de Chicago" pode ser vencedor conciliatório do Oscar 2021. Produção da Netflix recupera julgamento político dos anos 1960 para ecoar temas contemporâneos
Um aspecto crucial para a boa repercussão inicial do drama histórico "Os 7 de Chicago" quando de sua estreia, em outubro de 2020, foi o cenário político dos Estados Unidos, que estava a um mês da realização das eleições presidenciais daquele ano. Recuperando um julgamento histórico do país ocorrido em 1968, em meio a protestos contra a guerra do Vietnã e ao movimento dos direitos civis, o longa dirigido e escrito por Aaron Sorkin despontou como um representante possível do "espírito do tempo". Hoje, com a aproximação da cerimônia do Oscar - onde disputa em seis categorias -, não é dos maiores favoritos, mas pode se beneficiar da forma de votação do prêmio e despontar como um vencedor mais conciliatório.
O julgamento no qual o filme se debruça é fruto de um protesto inicialmente pacífico contra a guerra do Vietnã durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, movimentação que acabou tornando-se violenta após ação policial. Com os conflitos, um grupo de manifestantes acabou preso sob acusação de conspiração e incitação à revolta contra o governo dos EUA.
"Os 7 de Chicago" acompanha o desenrolar do julgamento e também os antecedentes. Enquanto os procuradores agem pela condenação e o juiz parece disposto a garanti-la, o processo ganha proporções midiáticas e grupos que passam a apoiar os réus, que vão do Pantera Negra Bobby Seale ao comediante Abbie Hoffman, passando pelo ativista anti-guerra Tom Hayden e o pacifista David Dellinger. Em tom grandioso e dramatizando questões e momentos da história real, o filme busca criar um discurso de empatia, democracia e revolução.
Esta intenção é desenvolvida a partir da multiplicidade de abordagens, contrabalanceando momentos de linguagem mais "pop", roupagem "cool" e humor com outros menos estilizados e mais emocionais. De uma maneira ou de outra, há frases feitas e diálogos montados, recursos que Sorkin utiliza para facilitar a comunicação junto ao público.
Uma grande atração de "Os 7 de Chicago" são as interpretações e os embates entre os atores. A produção pode ser descrita como um "filme de elenco". Não surpreende que a estratégia da Netflix foi a de submeter todos os atores como coadjuvantes na temporada de premiações.
Somente um, Sacha Baron Cohen, conseguiu indicação, mas o filme chegou, pouco mais de uma semana atrás, a ganhar o SAG - prêmio dos atores - de Melhor Elenco. Nele, há nomes como Eddie Redmayne, Jeremy Strong, John Carroll Lynch, Yahya Abdul-Mateen II, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt e Frank Langella.
Algumas das representações são mais próximas do caricatural, como a de Langella no papel do juiz, mas é possível perceber que a persona é mais fortemente estabelecida pelo roteiro do que pelo registro do intérprete. Em verdade, apesar do exagerodaconstrução, o ator é um dos destaques do longa.
Mesmo com as tintas carregadas, o roteiro vem sendo reconhecido em premiações, tendo vencido o Globo de Ouro e garantido indicação no prêmio da Academia. Sorkin é um nome mais conhecido pelo trabalho como roteirista, sendo vencedor do Oscar por "A Rede Social", em 2011, e tendo levado a segunda indicação já no ano seguinte por "O Homem Que Mudou o Jogo".
A estreia na direção veio em 2017 com "A Grande Jogada", pelo qual também foi indicado ao Oscar de Roteiro Adaptado. "Os 7 de Chicago" é a segunda inserção dele como diretor, mas, de novo, o reconhecimento direto veio somente no roteiro. Neste ano, apesar de ter marcado presença nas disputas anteriores na categoria de direção, Sorkin não conseguiu a indicação ao Oscar.
Figura divisiva do cinema estadunidense, o diretor tem detratores fortes que questionam a forma com que estrutura os roteiros e as escolhas de direção. Em "Os 7 de Chicago", é possível entender que ele cumpre bem as "caixinhas" do que é um "bom filme" - com tema atual e forte, que emociona e diverte, tem importância política etc. -, mas não imprime maior personalidade.
Talvez por isso, porém, o filme consiga ter ressoado tão bem desde o lançamento. Com drama envolvente, boas atuações, ritmo quase episódico e boa comunicação com o público, ele pode se beneficiar do tipo de votação do Oscar, o "voto preferencial". Nele, os votantes não escolhem somente um filme como o melhor, mas sim ordenam todos os indicados em uma lista de acordo com as próprias preferências.
Na apuração, é possível que um filme com mais menções como 2º ou 3º lugares prevaleça frente a um que, ainda que bastante votado em 1º lugar, seja divisível e também conste muito entre os últimos. É uma lógica que privilegia o "meio-termo", noção que se aproxima de "Os 7 de Chicago".
Os 7 de Chicago
Já disponível na Netflix
Indicações comentadas
Melhor Filme Pelo sistema de votação do Oscar, o filme pode ser beneficiado enquanto “meio-termo”, ainda que o favoritismo siga com “Nomadland” e, um pouco atrás, “Minari” e “Bela Vingança” venham ganhando tração
Melhor Ator Coadjuvante A vitória de Sacha Baron Cohen já pareceu certa há algumas semanas. No entanto, desde a entrada tardia de Daniel Kaluuya na disputa (com “Judas e o Messias Negro”), o favoritismo mudou de lugar
Melhor Roteiro Original Vencedor da categoria no Globo de Ouro, é a mais provável vitória do filme no Oscar. No entanto, o forte “Bela Vingança” vem prevalecendo em outras premiações prévias.
Melhor Edição Os cinco indicados são, também, postulantes a Melhor Filme. Podem ser favorecidos "Os 7 de Chicago", "Nomadland" e "O Som do Silêncio" por terem sido indicados, também, no principal prêmio da categoria
Melhor Fotografia Disputando com filmes como “Mank” e “Nomadland”, acaba sendo um dos menos prováveis vencedores da categoria
Melhor Música Original A categoria não tem um claro favorito e a disputa pode embolar, mas as canções de "Rosa e Momo" e "Uma Noite em Miami" despontam com mais força
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